Pensando na reação da minha irmã e do Pablo, caminho com as pernas trêmulas. Tenho a leve impressão de que Pablo sabia que alguma coisa estava errada, por isso aquele papo estranho de "o importante é que ele chegou".
Enrolo o meu vestido para não correr o risco de enroscar nos meus pés e logo chego na frente da igreja onde ele estava. As portas estavam fechadas com todos os convidados dentro, nos esperando. Avisto no topo da escada o amor da minha vida. Ao me ver, percebo que ele ficou nervoso e começa a afrouxar a gravata e abrir alguns botões da camisa. Subo os degraus sorrindo, para esconder o medo que estava sentindo. — Amor... — Falo parando na sua frente. Zaian me olha de cima a baixo. Ele segura na minha cintura, me puxando com vontade contra o seu corpo e me beija devagar, como se quisesse gravar o nosso beijo. Sua língua parecia estar em sintonia com a minha. — Nossa. — sussurro com ele terminando o beijo. Ele coloca a testa na minha e suspira pesadamente. — O que faz aqui, amor? Já era para entrarmos, o padre deve estar querendo nos expulsar. — Olívia!— Enfim ele fala depois de uns minutos me encarando. Olho nos seus olhos e estranho o tom da sua voz. Ele nunca me chamou de Olívia, somente de amor ou pequena e olha que nem sou baixa. — Fala, amor, o que foi? Aconteceu alguma coisa? Estou começando a ficar preocupada. — Vim avisar que eu não vou me casar com você! — Zaian diz se afastando de mim, tento encontrar seus olhos, porém é inútil, ele não consegue me encarar. — Ah, para amor, isso não é hora de brincar.— Começo a rir um pouco sem jeito, pensando que ele está brincando. Mas meu sorriso se desfaz quando vejo que ele está falando sério. Sinto tudo rodar, como se tivessem me dado um forte soco no estômago.— Me diz que isso é uma brincadeira de mal gosto? — Não! Só vim aqui por respeito a você. Estou indo embora hoje, na verdade agora, mas antes quero me despedir. — O que? Não estou te entendendo. Me explica o que está acontecendo? — Peço perdão, Livy. Eu não tive a intenção de te magoar... — Não teve?— Pergunto um pouco alterada.— Só me diz por que? O que eu fiz de errado? — Mal dava para entender o que estava falando, minha voz sai falha e um pouco baixa. Tento encarar os seus olhos, mas ele desvia novamente. — Amor, se quer adiar o casamento, não tem problema. Eu converso com os convidados, só não diz que não quer se casar comigo, por que eu não vou acreditar! Até hoje de manhã estávamos fazendo planos das nossas viagens... — Para! — Ele diz firmemente interrompendo minha fala.— Não quero adiar nada. Já disse que não vou me casar com você, nem hoje, nem nunca. Nada fará com que eu mude de ideia. — Não consigo entender. Como de uma hora para outra você muda assim? Não tem sentido isso. Me diz por que? Sei que aconteceu alguma coisa. — Quer a verdade? — Claro, é o mínimo que eu espero de você. — Eu não quero me casar. Sou novo, tenho muita coisa pela frente, pessoas para conhecer. E me ver amarrado em você não vai me deixar chegar onde eu quero. — É sério isso? De uma hora para outra você decidiu isso? — Sim! E outra, eu não te amo mais. Fico em silêncio tentando assimilar tudo, estou em negação, eu não quero acreditar que isso realmente esteja acontecendo. Minha cabeça não está raciocinando direito. Levo minha mão no seu rosto, mas ele desvia. Abaixo e coloco minha na minha barriga. — Para onde você vai? — Não importa! Não tenho nada que me prenda aqui. Estou indo. Siga a sua vida, Olívia e seja feliz. — Claro que tem algo que te segure aqui. Não precisa ficar comigo se não quiser, mas... — Já disse! Nada me fará voltar atrás — diz ele virando as costas e descendo alguns degraus da escada. — Amor... por favor me escuta. — Ele para e olha para trás. — Eu estou grávida! — Falo tentando controlar a minha respiração que está cada vez mais acelerada.— Você não precisa ficar comigo, mas nosso filho tem direito de crescer ao seu lado. — Adeus, Olívia.— Zaian fala como se não acreditasse no que eu disse.— Não precisa me esperar, nunca mais voltarei te ver, mas se caso seu destino voltar a cruzar com o meu, faça de conta que não me conhece. — Zaian... Você ouviu? Eu estou esperando um filho seu!— Repito pensando que ele não tinha ouvido. — Para, Olívia, isso já está ficando chato. — Não faz isso com a gente, não faz isso comigo, por favor.— Digo um pouco desesperada. Ele olha nos meus olhos, que mal consigo ver direito, pois as lágrimas atrapalhavam enxergar, sem falar mais nada ele desce as escadas correndo. Penso em ir atrás, mas paro sem acreditar que isso aconteceu de verdade. Em poucos minutos, observo o homem que me jurou amor entrar no carro e acelerar, me sento em derrota, levo minhas mãos no peito, uma dor angustiante me atinge, começo a chorar sem conseguir controlar, e ali depois de anos me vejo novamente destruída.— Por que isso está acontecendo comigo, por quê? — sussurro, buscando respostas, mas não encontro. Somente as suas palavras ficam ecoando na minha mente. Meus pensamentos estão confusos, meu coração está despedaçado. Tudo o que queria era que tudo isso não passasse de um pesadelo. Olho em direção a porta da igreja e volto a chorar ainda mais. Se não bastasse ser abandonada no altar, ainda por cima tenho que enfrentar a multidão de pessoas que viveram nos prestigiar. Me sinto envergonhada, humilhada. A certeza de que todos vão olhar para mim com pena, torna as coisas ainda piores. Para mim, nada parece fazer sentido, e a dor em meu peito é insuportável. Não sei como vou conseguir superar tudo isso.Debruço sobre as minhas pernas, sem me importar se toda essa maquiagem vai borrar o meu vestido, e choro alto, desesperada, pois não sei o que está acontecendo. O meu peito dói como há muito tempo não doía.Após longos minutos chorando, a imagem do meu pai erguendo o meu queixo aparece na minha mente, como se fosse um filme. As suas palavras me fazem levantar.— (Lembrança) Eu te ensinei a ser forte, não deixe ninguém molhar esses lindos olhos de novo. Vou estar com você, não importa como, mas sempre que precisar, estarei ao seu lado.Sentindo aquele vento fresco secar as minhas lágrimas, e em meio a esse pesadelo, acabo sorrindo. Isso sempre acontece. Falo que o vento é meu melhor amigo, pois só ele me faz sentir um pouco mais tranquila. Pensando no meu pai, em tudo que passei, decido que não vale a pena chorar. Ele não se importou com o seu próprio filho, e isso eu não vou perdoar. E se depender de mim, ele nunca terá contato com meu bebê.Passo a mão no meu rosto, limpando um pouco
Após alguns minutos na praia, Pablo e eu entramos no carro e fomos para a festa. Troquei de roupa e vesti um vestido simples. Todos sabiam que eu estava forçando uma felicidade que já não sentia mais.No fim da festa quis ficar sozinha, tranquei-me no apartamento que foi escolhido por nós dois. Cada móvel, cada foto, tudo estava como sonhávamos, daí nesse momento que caiu a fica, ele me abandonou no altar, não se importou comigo, não se importou com o nosso filho.Ainda não consigo entender o porquê dele ter me deixado. Sei que algo aconteceu, eu o conheço. Zaian nunca me machucaria assim, ele não conseguia encarar meus olhos e isso ele nunca fez por mais difícil que tenha sido a situação.Com os dias passando não consegui me levantar, fiquei isolada do mundo, me lamentando todos os dias. Olhava minha barriga crescendo, meu filho se mexendo, e eu chorava cada vez mais. Minhas amigas e Pablo me dão todo apoio necessário, só que eu não fazia força para sair daquela depressão que me afund
Estou na frente do computador mais uma vez, pensando em buscar informações sobre o Zaian. Nunca mais ouvi falar nele. Será que ele se formou? Será que tem alguém na sua vida? O que aconteceu de tão grave que ele me deixou no dia que nós planejamos? Fico me torturando, querendo respostas.Todo ano, desde o nascimento do meu filho Samuel, eu faço um vídeo com cada momento importante: seus aniversários, seus primeiros passos, suas primeiras palavras.Sempre que penso no Zaian, fico mal, pois ele perdeu o amor maior, o amor mais puro que ele poderia encontrar: o amor do nosso filho. Deixo sempre esses vídeos salvos em um pen-drive, caso algum dia eu o veja e ele queira saber do nosso filho, ver os momentos que ele perdeu. Sim, estou sendo contraditória. Disse que ele não iria saber do Samuel, mas meu filho insiste tanto em saber quem é seu pai, o porquê de não morarmos com ele. Eu não consigo responder e acabo chorando, pois nem eu sei a resposta.Fecho o notebook e me concentro no meu de
Fico encarando ele por alguns segundos, até que Drica finge uma tosse. Depois disso começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Me despeço e entro no meu carro. Passo para comprar um brinquedo para o meu filho. No caminho para casa, fico pensando em como o olhar do Pablo é intenso. Me sinto estranha perto dele, mas é um estranho bom. Nem com Zaian me sentia assim. Ele consegue fazer o meu rosto corar só com o seu olhar. Eu sei que ele quer muito mais do que amizade. Ele deixa claro nas suas atitudes. Teve um tempo em que ele até tentou se afastar. Foi quando ele tentou ficar com a última namorada. Isso faz uns 3 anos. Mas acabamos não conseguindo ficar longe um do outro. Depois disso, não tem um dia em que não nos falamos, apesar de saber do seu interesse em mim, nossa amizade é linda, ele me protege, me ouve e secou e ainda seca todas as minhas lágrimas.Chego em casa e vejo o meu príncipe sentado na porta me esperando, como ele faz todos os dias.— Mamãe.— ele grita e fica pulan
Samuel era homem de sucesso no auge dos seus 35 anos, um belo empresário que, por onde passa, não deixa de ser notado. Como diz aquele ditado, há pessoas que tudo que tocam vira ouro, e com ele não é diferente. Seus projetos sempre foram muito bem recebidos no mercado. Com uma rede de roupas de grife, ele levava seus desenhos e projetos já prontos para os melhores estilistas do país.Ele era casado com a única mulher que foi capaz de despertar o amor naquele homem. Apesar de se envolver com muitas mulheres, nenhuma delas foi capaz de ir além da cama com ele.Cecília e Samuel se conheceram na faculdade, ficaram algumas vezes, se formaram e cada um seguiu seu caminho. Acontece que Samuel nunca esqueceu o que sentiu perto dela. Por mêses procurou notícias por amigos em comum, mas nunca soube do seu paradeiro. Até que, numa bela tarde, reencontrou-a em uma das suas lojas, provando alguns vestidos. Desde então, aqueles olhos verdes se cruzaram com os dela, e estão juntos há 5 anos. Cecília
Daquele dia em diante, não havia mais tristezas no olhar de Cecília. Sua vida parecia ser um conto de fadas. A cada semana que passava, a felicidade reinava na casa daquele casal.Samuel era completamente apaixonado pela família. Com a fortuna garantida, ele afastou-se dos negócios e dedicou-se a ver o crescimento de sua amada filha. Cada aprendizado das meninas era motivo de comemoração, principalmente da caçula. Os primeiros passos de Olívia foram uma festa entre eles. A primeira palavra balbuciada fez aquele homem com a postura toda poderosa desmoronar. Sua primeira palavra foi "papai". A primeira foto em cima do cavalo, a linha na agulha que a pequena tentou colocar, pois ela via seu pai criando vestidos feitos por suas mãos e começou a se interessar.Dia após dia, Olívia ocupava um espaço na vida dele que ninguém mais poderia ocupar.No aniversário de 7 anos da pequena Olívia, não poderia faltar uma grande festa para comemorar.Seu vestido da Bella foi feito pelas mãos de Samuel.
Samuel entra no quarto depois de muito tempo chorando. Olivia estava deitada, um tanto preocupada, pois fazia algum tempo que seu pai não vinha vê-la, e sentir a presença dele transmitia calma.Samuel vê sua menina ali, deitada numa cama fria, ligada a vários aparelhos. Ele senta na poltrona e Olivia vira a cabeça para que seus olhos encontrem os dele.— Pai, que bom que voltou. Estou com tanto medo. — Olivia tenta falar pausadamente. Sua respiração está cada vez mais lenta.— Meu amor, não tenha medo. Estou aqui com você, só para você. — Mesmo querendo demonstrar força, as lágrimas que ele tanto segurou para não derramar na sua frente foram em vão. Elas caíam uma atrás da outra. Ele aperta a mão da sua menina, levando-a para um leve beijo, e treme ao sentir o quanto está gelada. — Está com frio, minha vida?— Não sei, papai. Eu já não sinto mais nada.Nesse momento, Samuel chorou feito uma criança, abraçado em sua filha. Cecília tenta de todo jeito acalmar o seu marido, mas é inútil.
Olho para minha mãe emocionada, nunca tinha ouvido essa versão da minha infância, tudo que meu pai fez, com tantos detalhes, foi forte demais. Tudo que meu pai fez por mim, foi me proteger, me amar como nunca imaginei um amor, assim. Meu pai me deu a vida e eu vou honrar ela.Olho para minha mãe que chora de soluçar, igual uma criança.— Obrigada, mãe, por ter me contado. Um dia minha amiga me disse que eu não havia sido uma criança desejada. Mas ouvindo a senhora contar os detalhes de tudo que ele fez por mim e pela Samantha, não tem como acreditar no que Raquel falava.— Minha menina, você era a garotinha mais amada do mundo, então não deixe que ninguém te diga ao contrário. Agora vai, pois quero te ver bem gata.Vou para o meu quarto tomo um banho e começo a me arrumar, escovo os meus cabelos, encontro um vestido preto que imita o couro, um pouco mais justo do que costumo usar. Faz tanto tempo que não saio sem ser para trabalhar, que nem sei mais como me vestir para uma balada.Dou