Estou na frente do computador mais uma vez, pensando em buscar informações sobre o Zaian. Nunca mais ouvi falar nele. Será que ele se formou? Será que tem alguém na sua vida? O que aconteceu de tão grave que ele me deixou no dia que nós planejamos? Fico me torturando, querendo respostas.
Todo ano, desde o nascimento do meu filho Samuel, eu faço um vídeo com cada momento importante: seus aniversários, seus primeiros passos, suas primeiras palavras.Sempre que penso no Zaian, fico mal, pois ele perdeu o amor maior, o amor mais puro que ele poderia encontrar: o amor do nosso filho. Deixo sempre esses vídeos salvos em um pen-drive, caso algum dia eu o veja e ele queira saber do nosso filho, ver os momentos que ele perdeu. Sim, estou sendo contraditória. Disse que ele não iria saber do Samuel, mas meu filho insiste tanto em saber quem é seu pai, o porquê de não morarmos com ele. Eu não consigo responder e acabo chorando, pois nem eu sei a resposta.Fecho o notebook e me concentro no meu desenho, mas acabo desistindo, pois quando fico com a cabeça pilhada, não consigo criar algo bom. Minha irmã me observa do vidro do seu escritório, ela levanta e vem até minha sala.— Posso entrar? — ela fala me olhando com receio.— Claro!— No que tanto pensa, minha vida? — ela fala me analisando enquanto caminha na minha direção.Em poucos minutos, ela fica atrás de mim. Estou sentada de frente para minha mesa e logo sinto seus braços envolvendo meus ombros. Ela me abraça carinhosamente e encosta seu rosto no meu.— Ainda buscando respostas?— Você me conhece como ninguém, não é? — Falo, deixando um beijo em seu rosto.— Sem dúvidas! Você é minha melhor amiga, minha melhor irmã, melhor sócia. E eu conheço quando esse coração está aflito. Se aceita um conselho dessa sua chata irmã, se tem vontade de saber dele, vai atrás! Se ainda o ama como parece, isso responde você não consegue seguir em frente. Faz o que o seu coração manda! Mas posso ser sincera?— Como sempre foi!— Eu sinto que você já não o ama mais, penso que você está ferida por não saber o que realmente aconteceu, Livy. Para você se dar a oportunidade de ser feliz, você tem que fechar esse ciclo que você mesma criou. Eu sei o quanto amava ele, mas será que vale a pena se fechar? Você está deixando de ver o cara mais incrível que está do seu lado, por viver no passado. Se liberta, meu amor. Você merece alguém que compartilhe os seus medos com você, que no primeiro problema não desista. Eu te amo, e não quero te ver como anos atrás.— Samy fala e suspira fundo.— Me promete, Livy, que não vai deixar ninguém machucar esse coração? Ele é valioso demais.Me levanto sem conseguir falar nada. Cada palavra me fez ver que não fui só eu que sofri naqueles meses, mas todos eles, principalmente a minha irmã e a minha mãe, que tiveram muitas vezes que me dar banho abraçadas comigo, pois eu já não tinha força nem para ficar em pé. Estava me afundando cada vez mais num abismo criado por mim, e para lá eu juro que não volto mais. Na minha.ha vida, só tenho que agradecer aos meus amigos, minha mãe e o amor da minha vida, minha irmã, pois sem eles provavelmente nem estaria mais aqui.— Prometo, vocês nunca mais vão me ver machucada como naqueles dias. Eu te amo, Samantha, e não vou deixar que o passado me assombre novamente — Falo olhando nos seus olhos, limpando as suas lágrimas que borravam o seu lindo rosto.Ficamos mais um tempo no escritório conversando, mas dessa vez era sobre coisas felizes: nosso trabalho, a coisa mais gostosa da minha vida que é o Samuel. Samantha tem um amor por ele, que é como se fossem ligados de alguma forma.Dizem que meu pai era assim comigo desde que eu saí do hospital, que sou grata a Deus por ter me dado a melhor família do mundo.Hoje estava tranquila no ateliê, vim à clínica veterinária cuidar de um cachorrinho atropelado. Infelizmente, a pessoa que o atropelou fugiu, mas ainda existem pessoas boas que olham para os pequenos animais. Ela trouxe-o até a clínica e explicou o ocorrido. Tivemos que fazer uma cirurgia e agora é esperar para ver sua recuperação.Depois de um dia de trabalho, troco com minha sócia. Ela é a que mais atende na clínica, pois tenho que me desdobrar no ateliê e aqui. Fizemos um acordo: venho só quando é plantão. Às vezes, acontece de me ligarem de madrugada para cuidar de um pet e sempre estou disponível.Estou saindo em direção ao estacionamento quando encontro as meninas e o Pablo.— Oi amor da minha vida. — Emily vem me dando um abraço.— Nossa, por que sua calça está com sangue?— Oi gente, fiz uma cirurgia de emergência agora pouco. Nem tinha percebido que pingou. Mas vem cá, o que fazem aqui?— Viemos te chamar para o novo barzinho que abriu. — Drica fala me entregando um panfleto.— Eu passo, não vou não. Estou cansada e vocês sabem que não gosto muito de sair. — Respondo devolvendo o papel.— Por favor, diz que vai. A Fernanda vai comigo, pelo amor de Deus. Ela disse que só vai se você for. — Emilly fala com carinha de cachorrinho abandonado.— Não sei...— Não tem essa de "não sei". Passamos para te pegar. A vida não é só trabalho, Olívia. Você tem que começar a reagir e se divertir. — Pablo fala me encarando.— Tem o Samuca, eu quero ficar com meu filho...— Vamos, Olívia. Faz cinco anos que você não sai para lugar nenhum. O horário que vamos, ele estará dormindo. — Drica fala, colocando-se na minha frente.Conforme eles vão falando ao mesmo tempo, tentando me convencer, lembrei da promessa que fiz para Samantha. Eu vou seguir minha vida. Já passou da hora de pensar em mim, apesar de não saber por onde começar.— Ok, vocês venceram!— Falo revirando os olhos frustrada pela insistência.— Aleluia! Vou ligar para a Fernanda.— Mas já vou avisando que, se estiver chato, volto para casa e deixo vocês lá.— Não vai estar. Quem sabe você não dá uns beijos na boca? Já está até criando teia de aranha, olha. — Drica fala brincando. Ela sabe que minhas tentativas de ficar com alguém foram um fracasso. Sempre que tentava, o cara era mais idiota do que parecia.— Escuta o que estou falando, esse mau humor que vive com você, é falta daquilo.— Adriana! — falo a repreendendo.— Que coisa besta de se diz.— Brinco.— Bom, espero vocês em casa.— O Guilherme também vai? — Pablo pergunta para Drica.— Sim, ele disse que sim.— Que bom. Faz 14 horas que não vejo a Patrícia. — Falo rindo.— Ela é bem doida. — minhas amigas falam juntas.— Mas também, o jeito que o Guilherme olha para Olívia, eu também ficaria paranóico. — Pablo fala, me encarando.— Oras, você fica perdendo tempo. Outro vai chegar na frente. — Emilly fala rindo.Fico encarando ele por alguns segundos, até que Drica finge uma tosse. Depois disso começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Me despeço e entro no meu carro. Passo para comprar um brinquedo para o meu filho. No caminho para casa, fico pensando em como o olhar do Pablo é intenso. Me sinto estranha perto dele, mas é um estranho bom. Nem com Zaian me sentia assim. Ele consegue fazer o meu rosto corar só com o seu olhar. Eu sei que ele quer muito mais do que amizade. Ele deixa claro nas suas atitudes. Teve um tempo em que ele até tentou se afastar. Foi quando ele tentou ficar com a última namorada. Isso faz uns 3 anos. Mas acabamos não conseguindo ficar longe um do outro. Depois disso, não tem um dia em que não nos falamos, apesar de saber do seu interesse em mim, nossa amizade é linda, ele me protege, me ouve e secou e ainda seca todas as minhas lágrimas.Chego em casa e vejo o meu príncipe sentado na porta me esperando, como ele faz todos os dias.— Mamãe.— ele grita e fica pulan
Samuel era homem de sucesso no auge dos seus 35 anos, um belo empresário que, por onde passa, não deixa de ser notado. Como diz aquele ditado, há pessoas que tudo que tocam vira ouro, e com ele não é diferente. Seus projetos sempre foram muito bem recebidos no mercado. Com uma rede de roupas de grife, ele levava seus desenhos e projetos já prontos para os melhores estilistas do país.Ele era casado com a única mulher que foi capaz de despertar o amor naquele homem. Apesar de se envolver com muitas mulheres, nenhuma delas foi capaz de ir além da cama com ele.Cecília e Samuel se conheceram na faculdade, ficaram algumas vezes, se formaram e cada um seguiu seu caminho. Acontece que Samuel nunca esqueceu o que sentiu perto dela. Por mêses procurou notícias por amigos em comum, mas nunca soube do seu paradeiro. Até que, numa bela tarde, reencontrou-a em uma das suas lojas, provando alguns vestidos. Desde então, aqueles olhos verdes se cruzaram com os dela, e estão juntos há 5 anos. Cecília
Daquele dia em diante, não havia mais tristezas no olhar de Cecília. Sua vida parecia ser um conto de fadas. A cada semana que passava, a felicidade reinava na casa daquele casal.Samuel era completamente apaixonado pela família. Com a fortuna garantida, ele afastou-se dos negócios e dedicou-se a ver o crescimento de sua amada filha. Cada aprendizado das meninas era motivo de comemoração, principalmente da caçula. Os primeiros passos de Olívia foram uma festa entre eles. A primeira palavra balbuciada fez aquele homem com a postura toda poderosa desmoronar. Sua primeira palavra foi "papai". A primeira foto em cima do cavalo, a linha na agulha que a pequena tentou colocar, pois ela via seu pai criando vestidos feitos por suas mãos e começou a se interessar.Dia após dia, Olívia ocupava um espaço na vida dele que ninguém mais poderia ocupar.No aniversário de 7 anos da pequena Olívia, não poderia faltar uma grande festa para comemorar.Seu vestido da Bella foi feito pelas mãos de Samuel.
Samuel entra no quarto depois de muito tempo chorando. Olivia estava deitada, um tanto preocupada, pois fazia algum tempo que seu pai não vinha vê-la, e sentir a presença dele transmitia calma.Samuel vê sua menina ali, deitada numa cama fria, ligada a vários aparelhos. Ele senta na poltrona e Olivia vira a cabeça para que seus olhos encontrem os dele.— Pai, que bom que voltou. Estou com tanto medo. — Olivia tenta falar pausadamente. Sua respiração está cada vez mais lenta.— Meu amor, não tenha medo. Estou aqui com você, só para você. — Mesmo querendo demonstrar força, as lágrimas que ele tanto segurou para não derramar na sua frente foram em vão. Elas caíam uma atrás da outra. Ele aperta a mão da sua menina, levando-a para um leve beijo, e treme ao sentir o quanto está gelada. — Está com frio, minha vida?— Não sei, papai. Eu já não sinto mais nada.Nesse momento, Samuel chorou feito uma criança, abraçado em sua filha. Cecília tenta de todo jeito acalmar o seu marido, mas é inútil.
Olho para minha mãe emocionada, nunca tinha ouvido essa versão da minha infância, tudo que meu pai fez, com tantos detalhes, foi forte demais. Tudo que meu pai fez por mim, foi me proteger, me amar como nunca imaginei um amor, assim. Meu pai me deu a vida e eu vou honrar ela.Olho para minha mãe que chora de soluçar, igual uma criança.— Obrigada, mãe, por ter me contado. Um dia minha amiga me disse que eu não havia sido uma criança desejada. Mas ouvindo a senhora contar os detalhes de tudo que ele fez por mim e pela Samantha, não tem como acreditar no que Raquel falava.— Minha menina, você era a garotinha mais amada do mundo, então não deixe que ninguém te diga ao contrário. Agora vai, pois quero te ver bem gata.Vou para o meu quarto tomo um banho e começo a me arrumar, escovo os meus cabelos, encontro um vestido preto que imita o couro, um pouco mais justo do que costumo usar. Faz tanto tempo que não saio sem ser para trabalhar, que nem sei mais como me vestir para uma balada.Dou
Raquel e eu nos conhecemos desde que eu tinha 11 anos. Nos tornamos amigas e chegamos a fazer o primeiro estágio da faculdade juntas. Creio que ela tenha hoje 30 anos. Sempre a levava em casa, mas com o tempo perdemos o contato.— Está acompanhada? — ela pergunta olhando em volta para ver se estou com alguém.— Estou com os meus amigos, mas eles estão um pouco ocupados lá em cima.— Nossa, você não mudou nada, continua de vela!— Ela fala rindo.— Fiquei sabendo que você abriu uma empresa aqui, é verdade?— Sim, faz 3 anos. Desde então, moro aqui. — Nossa, você está linda. Nem parece que teve filho. Até que está bonita ainda.— Ela diz e não sei por que, senti um pouco de sarcasmo.— A maternidade é muito mais do que o corpo. Eu poderia estar pesando 30 quilos a mais e continuaria ser a mesma. — Respondo tentando não demonstrar a minha frustração.Odeio essa expressão, como se depois que nos tornamos mães, ficássemos acabadas. Lógico que o nosso corpo muda, é uma vida que carregamos por
ZaianVocês devem estar me odiando, né? Não tiro a razão de vocês, por 5 anos, também me odiei.Bom, para vocês entenderem o que aconteceu, vamos ter que voltar alguns dias antes do casamento que não aconteceu.Cinco anos atrás...— Nossa, como sai tanto sangue, né? — Olívia fala olhando para a bolsa de sangue.— Sim, bastante. Mas é muito importante a doação de sangue, minha princesa. Sempre que posso, venho doar.— Concordo. Com a doação, poderemos estar salvando uma vida! — ela responde, tentando ignorar a agulha no meu braço.Estamos na clínica do pai da nossa amiga Raquel. Conheci ela através da Livy, e agora tudo o que eu e ela vamos fazer, Raquel quer estar junto. Já sou conhecido na clínica, venho aqui a cada dois meses para doar sangue, mas não sabia que a clínica era dos pais da Raquel.— Pode esperar lá fora — diz a enfermeira com cara de poucos amigos, olhando para Olívia.— Mas eu queria ficar.— Tudo bem, só fique em silêncio, por favor. Aqui é um hospital, não a cantina
Olho para ela com raiva, minha cabeça parece que vai explodir.— Desce do carro, Raquel!— Mas...— Não quero ser grosso, mas por favor, sai daqui! — Falo, interrompendo sua fala.Abaixo minha cabeça, debruçado no volante, tentando me controlar, pois minha vontade é entrar naquela clínica e quebrar tudo. Raquel abre a porta e a b**e com força. Travo as portas e choro de raiva, tristeza. Eu vou perder a mulher da minha vida por um erro de uma enfermeira.Seco as minhas lágrimas e vou à frente da igreja, após conversar com a minha cunhada e ela implorar para que eu não deixe Olívia nesse momento. Ela entra para chamar a minha pequena. Ela está vindo com a carinha de preocupada. Deus, como ela está linda, muito mais perfeita do que imaginei. Quando ela se aproxima com aquele sorriso lindo, a beijo com tanta dor que há em mim. Olho nos seus olhos e digo que não vou mais me casar. Aquilo doeu em mim, mas eu não posso prendê-la a um homem doente. Ela não merece ser abandonada. Mas minha cabe