Fico encarando ele por alguns segundos, até que Drica finge uma tosse. Depois disso começamos a conversar sobre coisas aleatórias. Me despeço e entro no meu carro. Passo para comprar um brinquedo para o meu filho. No caminho para casa, fico pensando em como o olhar do Pablo é intenso. Me sinto estranha perto dele, mas é um estranho bom. Nem com Zaian me sentia assim. Ele consegue fazer o meu rosto corar só com o seu olhar. Eu sei que ele quer muito mais do que amizade. Ele deixa claro nas suas atitudes.
Teve um tempo em que ele até tentou se afastar. Foi quando ele tentou ficar com a última namorada. Isso faz uns 3 anos. Mas acabamos não conseguindo ficar longe um do outro. Depois disso, não tem um dia em que não nos falamos, apesar de saber do seu interesse em mim, nossa amizade é linda, ele me protege, me ouve e secou e ainda seca todas as minhas lágrimas.Chego em casa e vejo o meu príncipe sentado na porta me esperando, como ele faz todos os dias.— Mamãe.— ele grita e fica pulando.— Olha, vovó, a mamãe chegou!Abro um sorriso com a alegria dele. Ele vem correndo e pula no meu colo. Minha mãe para na porta balançando a cabeça com um sorriso no rosto.— Oi amor, como você passou o dia hoje?— Eu brinquei com o pulguinha, quebrei o espelho da vovó com a bola. Você acredita que ela gritou comigo? E ainda disse que vai me deserdar. Mamãe, o que é isso, deserdar? Ah! Veio uma mulher e me abraçou chorando e disse que você não podia ter feito isso com ela.— Espera, qu... quem? — Falo nervosa.— A Katrina veio ver como você está. Nem sei como ela descobriu que estamos morando aqui. Ela começou a conversar comigo, depois fez um monte de perguntas para o Samuca. E onde ela juntou que 2 + 2 é igual a 4. — Minha mãe me responde com a voz um pouco nervosa.— Percebi que ela não tinha a menor ideia da existência do meu neto.— Droga!— Não pode falar essa palavra, mamãe, é muito feio.— Samuel me repreende cruzando os bracinhos.— Verdade, filho, me desculpa.Entro com ele no quarto para trocar de roupa, após brincarmos um pouco no jardim. Subimos para tomar banho e assistir a um filme. Mal prestei atenção na TV, só pensava na Katrina. Será que ela veio para ficar ou já morava aqui? Será que o Zaian não falou da minha gravidez? Como ele fez tão pouco caso do nosso filho? E eu querendo que ele conheça o pai, parando a minha vida, não conseguindo me envolver de verdade com ninguém.— Mamaezinha.— Oi, amor?— Eu tô com soninho. — Ele fala coçando os olhos.— Pode dormir, vidinha.— Te amo, mamãe.— Também te amo, amor. — Falo abrindo os meus braços.Ele se aconchega neles e, com os meus carinhos, ele dorme. Arrumo ele na cama, dou um beijinho na sua testa, desligo a TV e vou para o quarto da minha mãe.— Ele dormiu, filha?— Dormiu, mãe. O que ela tanto falou?— Que vem conversar com você e que não adianta você fugir.— Eu nunca fugi, ele que foi embora sem se importar com o seu filho. Como eu ia adivinhar que ele não havia lhe contado? Ninguém tem direito de me julgar, ninguém!— Ninguém vai deixar eles te julgarem, filha.— Mãe?— Sim?— Posso ir numa festa com as meninas e o Pablo? Agora mais do que nunca, preciso sair um pouco.— Que pergunta, vai se divertir. O meu neto está dormindo, e você sabe o quanto eu amo ele.— A senhora me liga se ele acordar?— Para quê?— ela fala revirando os olhos.— Mãe!— A menina teimosa, isso você puxou do seu pai, sem dúvidas, anda, vai se arrumar, solta esses cabelos que só vive presos, passa um batom, você esqueceu de viver filha, se dê a oportunidade de conhecer alguém, ou dê a oportunidade para alguém que esteve sempre do seu lado, dê a oportunidade de ser realmente feliz. Mesmo que seja sozinha filha, não se feche para a vida!Fico olhando ela, sei o que ela está insinuando, mas se isso for um erro? E se eu perder a coisa mais linda que já aconteceu na minha vida, que é a amizade do Pablo? Eu sei o que ele quer, mas é o que eu quero? Apesar de deixar claro suas intenções, ele nunca deu o primeiro passo, só fica me olhando com aqueles olhos verdes penetrantes.— Tá bom mãe, vou me arrumar, mãe?— Antes de sair dou um passo para trás.— Eu te amo muito. — Falo dando um abraço apertado nela.— Também te amo filha.— Mãe... antes de ir. Me conta como o papai era? Está chegando a data do aniversário dele. E quero sentir ele perto de mim de novo.— Seu pai sempre esteve com você, quando sentir sua falta, coloque a mão aqui...— Ela fala pousando a mão na minha cicatriz que tenho no meio do meu peito.— Em cada batida do seu coração, é como se ele ainda estivesse aqui.— Eu sei... é que ele me faz tanta falta.— Para nós todas filha. Eu também nunca consegui seguir em frente desde a sua morte.— Me sento e limpo os seu olhos que caiam lágrimas sem parar.— O que quer saber?— De tudo. Pela primeira vez que saber do meu nascimento. Eu fui uma criança desejada por vocês dois?— Claro que sim, muito.— Ela fala desviando por um segundo seu olhar.— Você está mentindo, eu te conheço e sei que essa desviada de olhar fala muito mais que as palavras que saem da sua boca. Me conta por que eu fui rejeitada por ele.Samuel era homem de sucesso no auge dos seus 35 anos, um belo empresário que, por onde passa, não deixa de ser notado. Como diz aquele ditado, há pessoas que tudo que tocam vira ouro, e com ele não é diferente. Seus projetos sempre foram muito bem recebidos no mercado. Com uma rede de roupas de grife, ele levava seus desenhos e projetos já prontos para os melhores estilistas do país.Ele era casado com a única mulher que foi capaz de despertar o amor naquele homem. Apesar de se envolver com muitas mulheres, nenhuma delas foi capaz de ir além da cama com ele.Cecília e Samuel se conheceram na faculdade, ficaram algumas vezes, se formaram e cada um seguiu seu caminho. Acontece que Samuel nunca esqueceu o que sentiu perto dela. Por mêses procurou notícias por amigos em comum, mas nunca soube do seu paradeiro. Até que, numa bela tarde, reencontrou-a em uma das suas lojas, provando alguns vestidos. Desde então, aqueles olhos verdes se cruzaram com os dela, e estão juntos há 5 anos. Cecília
Daquele dia em diante, não havia mais tristezas no olhar de Cecília. Sua vida parecia ser um conto de fadas. A cada semana que passava, a felicidade reinava na casa daquele casal.Samuel era completamente apaixonado pela família. Com a fortuna garantida, ele afastou-se dos negócios e dedicou-se a ver o crescimento de sua amada filha. Cada aprendizado das meninas era motivo de comemoração, principalmente da caçula. Os primeiros passos de Olívia foram uma festa entre eles. A primeira palavra balbuciada fez aquele homem com a postura toda poderosa desmoronar. Sua primeira palavra foi "papai". A primeira foto em cima do cavalo, a linha na agulha que a pequena tentou colocar, pois ela via seu pai criando vestidos feitos por suas mãos e começou a se interessar.Dia após dia, Olívia ocupava um espaço na vida dele que ninguém mais poderia ocupar.No aniversário de 7 anos da pequena Olívia, não poderia faltar uma grande festa para comemorar.Seu vestido da Bella foi feito pelas mãos de Samuel.
Samuel entra no quarto depois de muito tempo chorando. Olivia estava deitada, um tanto preocupada, pois fazia algum tempo que seu pai não vinha vê-la, e sentir a presença dele transmitia calma.Samuel vê sua menina ali, deitada numa cama fria, ligada a vários aparelhos. Ele senta na poltrona e Olivia vira a cabeça para que seus olhos encontrem os dele.— Pai, que bom que voltou. Estou com tanto medo. — Olivia tenta falar pausadamente. Sua respiração está cada vez mais lenta.— Meu amor, não tenha medo. Estou aqui com você, só para você. — Mesmo querendo demonstrar força, as lágrimas que ele tanto segurou para não derramar na sua frente foram em vão. Elas caíam uma atrás da outra. Ele aperta a mão da sua menina, levando-a para um leve beijo, e treme ao sentir o quanto está gelada. — Está com frio, minha vida?— Não sei, papai. Eu já não sinto mais nada.Nesse momento, Samuel chorou feito uma criança, abraçado em sua filha. Cecília tenta de todo jeito acalmar o seu marido, mas é inútil.
Olho para minha mãe emocionada, nunca tinha ouvido essa versão da minha infância, tudo que meu pai fez, com tantos detalhes, foi forte demais. Tudo que meu pai fez por mim, foi me proteger, me amar como nunca imaginei um amor, assim. Meu pai me deu a vida e eu vou honrar ela.Olho para minha mãe que chora de soluçar, igual uma criança.— Obrigada, mãe, por ter me contado. Um dia minha amiga me disse que eu não havia sido uma criança desejada. Mas ouvindo a senhora contar os detalhes de tudo que ele fez por mim e pela Samantha, não tem como acreditar no que Raquel falava.— Minha menina, você era a garotinha mais amada do mundo, então não deixe que ninguém te diga ao contrário. Agora vai, pois quero te ver bem gata.Vou para o meu quarto tomo um banho e começo a me arrumar, escovo os meus cabelos, encontro um vestido preto que imita o couro, um pouco mais justo do que costumo usar. Faz tanto tempo que não saio sem ser para trabalhar, que nem sei mais como me vestir para uma balada.Dou
Raquel e eu nos conhecemos desde que eu tinha 11 anos. Nos tornamos amigas e chegamos a fazer o primeiro estágio da faculdade juntas. Creio que ela tenha hoje 30 anos. Sempre a levava em casa, mas com o tempo perdemos o contato.— Está acompanhada? — ela pergunta olhando em volta para ver se estou com alguém.— Estou com os meus amigos, mas eles estão um pouco ocupados lá em cima.— Nossa, você não mudou nada, continua de vela!— Ela fala rindo.— Fiquei sabendo que você abriu uma empresa aqui, é verdade?— Sim, faz 3 anos. Desde então, moro aqui. — Nossa, você está linda. Nem parece que teve filho. Até que está bonita ainda.— Ela diz e não sei por que, senti um pouco de sarcasmo.— A maternidade é muito mais do que o corpo. Eu poderia estar pesando 30 quilos a mais e continuaria ser a mesma. — Respondo tentando não demonstrar a minha frustração.Odeio essa expressão, como se depois que nos tornamos mães, ficássemos acabadas. Lógico que o nosso corpo muda, é uma vida que carregamos por
ZaianVocês devem estar me odiando, né? Não tiro a razão de vocês, por 5 anos, também me odiei.Bom, para vocês entenderem o que aconteceu, vamos ter que voltar alguns dias antes do casamento que não aconteceu.Cinco anos atrás...— Nossa, como sai tanto sangue, né? — Olívia fala olhando para a bolsa de sangue.— Sim, bastante. Mas é muito importante a doação de sangue, minha princesa. Sempre que posso, venho doar.— Concordo. Com a doação, poderemos estar salvando uma vida! — ela responde, tentando ignorar a agulha no meu braço.Estamos na clínica do pai da nossa amiga Raquel. Conheci ela através da Livy, e agora tudo o que eu e ela vamos fazer, Raquel quer estar junto. Já sou conhecido na clínica, venho aqui a cada dois meses para doar sangue, mas não sabia que a clínica era dos pais da Raquel.— Pode esperar lá fora — diz a enfermeira com cara de poucos amigos, olhando para Olívia.— Mas eu queria ficar.— Tudo bem, só fique em silêncio, por favor. Aqui é um hospital, não a cantina
Olho para ela com raiva, minha cabeça parece que vai explodir.— Desce do carro, Raquel!— Mas...— Não quero ser grosso, mas por favor, sai daqui! — Falo, interrompendo sua fala.Abaixo minha cabeça, debruçado no volante, tentando me controlar, pois minha vontade é entrar naquela clínica e quebrar tudo. Raquel abre a porta e a b**e com força. Travo as portas e choro de raiva, tristeza. Eu vou perder a mulher da minha vida por um erro de uma enfermeira.Seco as minhas lágrimas e vou à frente da igreja, após conversar com a minha cunhada e ela implorar para que eu não deixe Olívia nesse momento. Ela entra para chamar a minha pequena. Ela está vindo com a carinha de preocupada. Deus, como ela está linda, muito mais perfeita do que imaginei. Quando ela se aproxima com aquele sorriso lindo, a beijo com tanta dor que há em mim. Olho nos seus olhos e digo que não vou mais me casar. Aquilo doeu em mim, mas eu não posso prendê-la a um homem doente. Ela não merece ser abandonada. Mas minha cabe
Depois de um ano sozinho, resolvi tentar encontrar alguém para amar, mas era impossível. Toda mulher que se aproximava, eu procurava os detalhes que só encontro na Olívia, mas nenhuma tinha o seu perfume, beijos, o seu gosto.Passei a ficar com mulheres apenas por prazer, cada dia uma diferente, e a cada dia me afundava mais pensando que outro homem estava com a Olivia, que ela havia esquecido o nosso amor.— Por que você não consegue me ver como mulher? — Raquel diz, me olhando nos olhos.Ela tenta me seduzir todos os dias, até fiquei com ela algumas vezes, mas nunca a levei para a cama. Hoje ela está mais ousada, observo-a se aproximando e desamarrando o seu casaco, lentamente deixando-o escorregar sobre o seu corpo. Ela está completamente nua.— Vista isso. — Falo desviando meu olhar, mas é impossível. Não dá para negar que ela é uma mulher linda, seu corpo tem o desenho perfeito.Ela se aproxima beijando meu pescoço. Estou sem camisa, não esperava sua visita, mesmo sabendo que ela