OlíviaAo entrar no táxi, percebo que os dois copos de vodka que bebi foram suficientes para me deixar um pouco bêbada. Encosto a cabeça no vidro do carro e me permito chorar. Por que, após tanto tempo, ele ainda mexe comigo? Talvez seja como Samantha disse: o que faltou entre nós foi conversar. Essa falta de informação me fez remoer essa dor do abandono por tantos anos. Fico me perguntando por que ele não demonstrou interesse em nosso filho nem por um segundo.Bom, se ele não quiser saber dele, não vou insistir. Samuel sempre foi meu filho! Mesmo sabendo que a falta de uma figura paterna afeta ele, sempre dei o meu máximo para que ele nunca sentisse sozinho.— Senhora, está tudo bem? — Meus pensamentos são interrompidos ao perceber que o motorista já parou onde eu pedi.— Chegamos.— Desculpe! Está sim, obrigada por perguntar. Se puder esperar um pouquinho aqui, prometo que não vou demorar. — Falo secando minhas lágrimas.— O tempo que precisar, consegue descer? — Acho que estou com c
Fiquei por duas horas no hotel, e o sentimento que estou sentindo agora não desejo para ninguém. Me arrumei, fiz uma maquiagem leve para disfarçar a cara de choro e saí.Entrei no elevador de cabeça baixa, com o sentimento de que fui usada.Duas mulheres aparentemente com uns 60 anos entraram e ficaram me olhando de cima a baixo, como se soubessem o que foi feito naquele quarto. Já estava constrangida com os olhares delas, aquele silêncio estava insuportável, até que elas se olharam e uma delas falou.— Ele já foi mais cavalheiro com as meninas com quem passa a noite. — A senhora com um sorriso simpático falou baixinho, não o suficiente para que não fosse ouvida.Me mexi, mostrando meu desconforto. A outra, com o rosto mais sério, colocou a mão no meu ombro como se estivesse querendo me dar conforto ou algo do tipo, mas tudo o que fez foi me fazer sentir mais arrasada.— Você me parece diferente das outras. Não fique assim, não é a primeira nem a última que se entrega para o homem err
Desço em direção à cozinha, coloco a pipoca para estourar. Depois de pronta, pego uns chocolates e subo. Quando entro no quarto, ele está sentado perto da janela. Pablo tirou a camiseta branca e ficou só de regata.— Quando ele se tornou tão bonito? — Falo baixinho, comigo mesmo.Entro confusa com os meus pensamentos, puxo suas mãos fazendo-o sentar na cama e me sento ao seu lado. Ele coloca um filme chamado "Espírito". Por que é que eu resolvi assistir isso? Cada cena é um frio na barriga e um medo percorre a espinha. Acho que até a minha alma resolveu sair de medo.— Se continuar a apertar a minha mão, não vou tê-la daqui a alguns minutos. — Ele fala rindo. Sua voz sai um pouco rouca, calma.— Desculpa! É que estou com medo. Não dá para colocar um desenho animado? Já sei, as Meninas Super Poderosas, Pica-Pau ou até mesmo a Galinha Pintadinha? — Falo tampando os meus olhos com a mão enquanto o a mulher do filme grita.— Você é hilária. — Ele fala rindo. — Vamos assistir o que quiser.
Ouço falas e risos e reconheço de quem são: Samantha e seu marido Hugo, as meninas Drica e Emilly, todos na mesa nos esperando.Samuel sai correndo para dar um abraço na minha irmã e no Hugo.— Dormiu bem, amor? — Minha irmã pergunta para Samuel, sentando-o no colo dela.— Sim, o padrinho me fez dormir com o cafuné dele. Até a mamãe dormiu sorrindo essa noite. Olha, ela está feliz.— Sorrindo, é? Realmente, pequeno Samuel, sua mãe está sorrindo muito esses dias. — Hugo me encara, fazendo insinuações sobre o Pablo.— Não começa, Hugo. — Falo rindo, me sentando ao lado do Pablo.Paro para pensar e realmente estou percebendo que ultimamente o Pablo anda me encarando e fazendo coisas que antes não fazia, como no dia antes de sair. Ele nunca ficou tão perto e falando aquelas coisas. Olha eu aqui pensando no que ele me causou com suas indiretas. Nunca senti tantos sentimentos relacionados a uma única pessoa, e o pior é não saber diferenciá-los.Meus pensamentos são cortados com a voz da Sam
OlíviaEu só posso ter salgado a santa ceia, não é possível. Estou com um misto de sentimentos: tristeza, decepção, raiva, dúvidas. Busco o pouco de dignidade que ainda me resta, se é que ainda tenho, depois da noite que passei com ele.Se a intenção dela é esfregar na minha cara que ela vai se casar com quem me abandonou, ela conseguiu, mas não vou dar esse gostinho para eles. Entro na sala de reunião quase fugida para que minha irmã não veja o que está acontecendo, pois se ela ver o Zaian, o barraco está armado.— Sente-se — falo, apontando para a cadeira.Raquel parece uma múmia falando, articulando com as mãos, se esfregando em Zaian. Ele, por sua vez, está imóvel, sem reação, sem palavras. Parece que só o corpo dele está aqui, a mente está bem longe.Coloco uns vídeos dos casamentos que já organizei, só para ter uma ideia e para eles decidirem, já que ela não gosta de nada que eu falo.— Esse foi do filho do embaixador da Itália, acredito que foi o maior desafio até hoje. — mostr
Samuel vem correndo me abraçar, pego-o no colo e logo vejo minha mãe entrar correndo.— Desculpa filha, você sabe como é o Sa... o que está acontecendo aqui? — Minha mãe para na porta e o sorriso que ela estava se desmancha.Raquel se aproxima da minha mãe e dá um abraço, minha mãe fica petrificada, ela não retribui seu abraço.— Tia, que bom te ver aqui, vim com minha amiga organizar meu casamento com o homem da minha vida! Não vou apresentar, pois a senhora o conhece bem, não é mesmo?— Garota, que merda você tem na cabeça? O que pensa em ganhar fazendo isso com a minha filha? — Minha mãe fala com a voz alterada, Raquel da um passo para trás.— Mãe, por favor...— tento acalmar a situação.— Que tipo de amiga é você? Bem que a Drica tentou me alertar, você estava de olho nesse inútil.— minha mãe fala com indignação e raiva.— Senhora, eu posso explicar. — Zaian tenta se explicar, minha mãe está visivelmente alterada, não deixa ninguém falar.— Você, cala a boca, maldita hora que acei
Pablo fecha a cara, eu nunca vi essa expressão no seu rosto. Sua voz é baixa, mas dá para sentir o quanto ele está irritado.— O que lhe importa, Zaian? Que loucura é essa que você está insinuando? Você sabe que as coisas não funcionam assim. — Pablo fala encarando de frente o Zaian.— Você pode ser um juiz, que está mostrando usar da sua influência para tirar proveito dessa situação, mas esquece que eu também estudei direito e sei de lei, tanto quanto você! Então não me venha com esse papo de que pode tirar o Samuel dela! Foi você que abandonou a Olívia no dia do seu casamento, e qual foi a desculpa? Se for para levar a justiça, vamos ver quem sai ganhando nessa. Você causou danos a ela por anos, eu presenciei cada momento de desespero dela, segurei na mão dela quando a dor do parto a atingiu, e você, Zaian, onde estava? Ela nunca escondeu o Samuel, eu vi a Olívia olhar para a porta daquele apartamento todos os dias, na esperança de você voltar. Saiba que, quando a sua mãe ligava, ela
OliviaE assim passaram 4 meses, quase todos os dias Zaian vem ver o meu príncipe ou leva ele consigo. Fizemos um teste de DNA para que não haja dúvidas de nenhuma das partes, já que Raquel insistia em dizer que ele não era o pai. Com o resultado positivo, Zaian registrou o Samuel em seu nome.A louca da Raquel bate o pé dizendo que quer que eu faça o seu casamento, e para ser bem sincera, não vejo empecilho para não realizar isso. O único problema é que Zaian não desiste, fica insistindo para voltarmos, muitas vezes me controlando. Liga um milhão de vezes para saber onde estou, e confesso que isso está me incomodando. Algo em mim mudou, acredito que fiquei tantos anos dizendo que o amava, me culpando por tudo o que aconteceu, que agora não vejo mais nós dois juntos.Não sei o que sinto em relação a ele, mas sei que não é amor. Ficar perto dele já não me causa aquele friozinho na barriga como antes. Acho que estou magoada por ele simplesmente não ter lutado por nós. Sei dos seus medos