Minha mão pequena bate no vidro escuro do carro, que brilha ao sol do meio-dia, um homem de sorriso maldoso e olhar malicioso, cabelos brancos bem penteados, aparece na janela.
— Te dou tudo que quiser... É só entrar...Te dou até um banho, pra ficar...
Com o tempo eu aprendi o que cada olhar significava, observando os homens que apareciam lá em casa então eu corro para o mais distante possível, mas quando percebo meus passos estão me levando de volta para o inferno não tenho nem como me arrepender, pois ouço gritos desesperados do Báh, sinto a sua dor. Estou em frente à porta que se abre com violência..."
Sinto meu corpo sacolejar, e acordo suada, perdida, eu já deveria ter me acostumado, aos pesadelos vívidos em minha memória, que estão sempre lá, esperando um momento, um cochilo então ela invade meus sonhos e os transformam em pesadelos cruéis.
— Sil... Sil... Acorda... Estamos atrasados...— Levanto-me num salto e olho o garotinho de cinco anos e sorriso maroto de garoto inteligente.
Ele adora me acordar cedo, e me sorrir banguela, é nessas horas que eu ganho meu dia, minha semana.
Dou banho em Daniel, o responsável por me acordar antes das seis da madrugada, com seus olhos azuis incríveis e cabelos loiros.
Que nunca me perguntou por que somos diferentes, já até bateu num coleguinha que lhe disse que eu não sou sua irmã, ele me olha como se eu fosse a pessoa mais incrível do mundo.
Minha mãe... Ah esse nome se tornou tão doce em meus lábios que a primeira vez que falei, repeti e repeti tantas vezes, ela sempre diz a ele que eu sou uma super heroína que eu venci o monstro e também a morte, então ele me pergunta sempre quais são meus super poderes.
— Atravessa paredes? Solta lasers pelos olhos?
Estamos quase entrando na van escolar enquanto sou bombardeada por perguntas, sou uma garota fechada, mas com meu irmão eu não consigo manter a capa que criei para me proteger, eu não sei como, mas a doutora Olívia Mendes para falar a verdade eu sei como eles conseguiram ultrapassar essa parede que eu criei, foi com muito amor, paciência e carinho, ela e o homem que hoje em dia chamo de pai, o doutor Jonathan Mendes ou John. Eu não tinha chances de ser adotada por uma família se fosse parar no abrigo de menores, as ruas e a prostituição eram um inevitável destino, alguns anos depois veio o Daniel, mesmo calada eu senti medo de perder o amor e o carinho deles, mas quando aquele bebezinho, fofinho de olhos azuis foi posto em meu colo eu o amei, como amava meu irmão.
Vocês devem estar se perguntando: Onde está o Escobar? Você não voltou para buscar ele? Voltei sim, voltei e volto todas as noites mesmo que em pesadelos, quando eu cheguei lá acompanhada da polícia e da doutora Olívia, que eu não conseguia mais soltar a mão, sempre senti nela a segurança que tanto precisava e eu só me sentia calma com ela por perto, encontraram apenas um cadáver carbonizado de uma mulher, dívida de drogas, o crime não perdoa, e sem calcular as consequências que isso poderia trazer um dia, a declararam morta, sem exames de DNA, simplesmente pela identidade na bolsa próximo ao corpo.
Eu, eu não senti nada, só um alívio na alma, o peso dos meus ombros foram retirados, e então pude suspirar tranquila, só para me desesperar alguns minutos depois ao descobrir que o Escobar não estava mais lá, me desesperei e gritei por meu irmão, mas de nada adiantou, a vizinha disse a um dos policiais que um carro grande o havia levado, e rogo a Deus até hoje que ele não tenha sido vendido.
Desço da van escolar e seguro a mão do Dan, o deixo em sua sala e vou para minha escola que fica ao lado, as garotas saem da frente quando eu passo, elas sabem o que pode acontecer se cruzarem o meu caminho, eu fui formada na escola do terror por nome de barraco, por isso nunca precisei bater em ninguém para impor respeito e distância, aprendi a mostrar um olhar frio e cruel quando precisei, infelizmente aprendi com a melhor como suscitar o medo nas pessoas.
Não mostro minhas fraquezas, para ninguém além da minha mãe, sento em minha cadeira e retiro meu caderno de matemática, coloco de volta e pego o de português, sou dedicada aos meus estudos, minhas notas e meu comportamento exemplar me fizeram avançar rapidamente de turma.
Nunca falo sem ser convidada, não tenho amigos, não socializo e também considero o popular da turma um idiota que se escora nas sem cérebro, que se dizem caidinhas por ele, na minha opinião isso tudo é fogo, só querem um motivo pra sair com os caras, mas não julgo, elas não tem culpa dos meus traumas, são só adolescentes.
Faço minha rotina de sempre, busco o Daniel na sala dele e pegamos a van escolar, chego em casa e a Nice está no fogão, nossa mãe a contratou antes mesmo de eu chegar aqui, mesmo depois de muitas terapias e tratamentos eu ainda não confio em muitas pessoas, mesmo a Nice me tratando bem, nunca vi nada em seu olhar que me causasse desconforto ou desconfiança.
— Quer ajuda aí Nice?! — ela me dirige o olhar de sempre, um olhar terno quase maternal ao ouvir minha voz calma.
— Não querida, pode ir estudar, daqui a pouco te chamo pra almoçar. Balanço os ombros indiferente e subo os pequenos degraus, encontro Dan no meio do quarto espalhando seus brinquedos.
— Já sabe, não é? — faço a pergunta de sempre.
— Sim Sil, juntar e guardar tudo assim que terminar.
Lanço-lhe um dos meus raros sorrisos em resposta, Daniel é um garoto muito esperto às vezes eu fico boba com sua inteligência.
— Dan vamos tomar um banho para almoçar. — Eu cuido dele, não por imposição dos meus pais, mas porque o amo, quando minha mãe falou em contratar uma babá eu fui totalmente contra, tive medo de alguma delas machucarem meu bebê, sempre que cuido do Dan peço a Deus que alguém esteja cuidando do meu Báh.
Nosso pai de vez em quando vem em casa almoçar com a gente, então quando a porta da frente é aberta e eu o vejo abraçado a minha mãe que chora copiosamente em seus braços eu corro em sua direção, ela me vê e percebe a dor que sinto a vendo chorar, ela me agarra e me abraça como se eu fosse seu bote salva vidas, Dan que estava almoçando distraído vê o choro da mãe e corre para nós. Ainda não sei o que houve, só sei que minha alma também sangra com seu sofrimento, eu não poderia não amar essa mulher, ela foi muito corajosa adotando uma pré-adolescente e me arrancando da escuridão em que fui jogada, ela me amou primeiro.
Ela nos abraça e nos aconchega em seu colo no sofá da sala que não chega nem perto do conforto dos seus braços.
— Eu preciso de vocês hoje, grudem em mim.
— Não precisa nem pedir mãe — respondo feliz por ter uma mãe de verdade, eu nunca imaginei que era o início de um tormento, mas fazia ideia da gravidade ao ver as lágrimas nos olhos de John, mas não perguntei nada apenas me aconchego no meu lugar favorito, Dan também veio e ficou calado, mas eu sei que ele está estranhando o choro da nossa mãe.
Mais uma vez a vida é uma cadela comigo, nunca vou me achar digna de ser feliz, pois ela me arranca tudo de bom que aparece em minha vida e mais uma vez me arrasta pela lama, aquela mesma lama fedida daquele barraco, não sei quantas rasteiras vou ter que levar para desistir de vez. Incontáveis, esses são os números de rasteiras que essa puta barata me deu. Quantas vezes tenho que me lembrar de suas últimas palavras para não voltar para a escuridão, me agarro a elas sempre que fraquejo, sempre que minhas pernas travam e meus pés tentam parar, quando eu só quero ficar em minha cama e nunca mais sair, eu me lembro.“Você é forte, Sil, nunca vi nada e nem ninguém mais forte que você, estarei lá por você aonde quer que esteja, levante-se e olhe sempre para a frente.“— Serei forte e Sil, aguentarei o máximo que puder, por vocês, meus fi
Chego em casa da faculdade, e passo direto para o escritório do meu pai, um espaço amplo onde ele põe em dia seus estudos, preciso conversar com ele, tenho que arrumar um emprego e também quero procurar um lugar para morar, afinal sou uma mulher de vinte e dois anos, não posso ficar a vida inteira em sua aba, e também sinto que estou atrapalhando seu namoro com a Andréa, ela sempre que me vê torce o nariz como se sentisse um mau cheiro, sei que ele está lá esse horário, mas antes de bater à porta escuto uma conversa alterada entre ele e a Andréa.— Você não pode continuar sustentando essa mulher John, isso não tem cabimento!Escuto a voz zangada do senhor John e me encolho diante dos gritos da sua resposta que não escuto bem.— Enquanto ela era menor, tudo bem... se ela fosse realmente sua filha eu até poderia aceitar, mas ela é uma mulher e está mais que comprovado que ela não é sua filha! — ela diz indignada.— ELA É MINHA FILHA SIM! — ele grita. — E ENQUAN
Ian MassarovNão importa quantas pessoas eu salve, não importa quantas já salvei, isso não vai me tirar a culpa, o peso que eu carrego, mesmo que eu extermine da face da terra todos os carniceiros que entram na vida das pessoas para destruí-las, nada disso me faz sentir mais digno. Não fui capaz de salvá-la, ela era só uma criança, sem proteção, à mercê do poderio de um homem adulto, se é que aquilo pode ser chamado de homem, quando me lembro da cena meu estômago se revolta e a bile sobe."Melhor sair daí''. Meu subconsciente aconselha, estou pilotando minha envenenada, uma PGM V8, ganho velocidade e meu coração acelera com a alta carga de adrenalina, não tenho lar, vivo no mundo, mas minha última parada é sempre o Brasil.Entro na casa, um clube que eu frequento em Los Angeles, tenho uma casa em Long Beach, a ver
Pés descalços, saltam uma, duas poças de lama, como se brincasse de amarelinha, mas em minha vida não há espaço para brincadeiras, meu corpo inteiro dói, já me acostumei a dor, feridas nos joelhos já não são mais uma novidade, procuro por algo que não sei o que é, num instante o cenário muda, ainda estou procurando algo, olho embaixo da pequena cama que um dia teve espaço para comportar meu corpo inteiro, hoje sou maior que ela, tenho que me encolher ao máximo para dormir nela, ouço a porta da frente se abrir num baque, seguida por um grito.— Sílvia, cadê você sua ratinha! Espero que tenha ido atrás do meu dinheiro, se eu não tiver um pouco de sossego você também não terá...Sua voz enrolada me diz que ela bebeu e fumou, sempre que ela fuma aquela coisa fedida ela me castiga até se cansar, ela me castiga até cansar mesmo nas poucas horas que está sóbria. Saio devagar do meu esconderijo, me arrependo assim que sinto duas mãos pegarem meu pescoço...— Acorda sua rat
Hoje estou mais ansiosa que os outros dias, é o dia da audiência do processo contra a doutora Andréa, por isso tive uma noite de cão. Cubro minhas olheiras com maquiagem, calço meu salto alto, já vestida, aviso meu pai que já chegou que estou descendo.— Bom dia filha, ansiosa para o que está por vir?! — Ele nem imagina que eu não dormi a noite inteira.— Bom dia pai, sim estou muito ansiosa, desde ontem para ser sincera.Ele me conforta— Vai dar tudo certo, você vai ver, estou do seu lado, a justiça está do seu lado, não há o que temer. Ela será julgada não só pela discriminação racial, mas também por desacato à autoridade, enfim a Rute também está cuidando disso. — ele fica vermelho ao falar da Tenente Rute, isso traz um sorriso aos meus lábios.&
Estou sentada no banquinho do bar observando a louca da Andressa, suada dançando com um cara alto e forte, ela rebola e se esfrega no rapaz que não fica para trás e aproveita para passar a mão em seu corpo, desvio minha atenção para outro casal que se agarra num canto do salão, permaneço no lugar, mas sou logo arrastada pela Andressa que tenta me ensinar os passos de uma dança, eu fico dura e não me solto.— Espera aqui que eu vou buscar uma pílula de coragem pra você, você vai se soltar rapidinho... — Ela grita no meu ouvido e sai empurrando as pessoas, minutos depois ela volta e antes que eu negue ela me olha com uma careta, tomo coragem e engulo a bebida que desce rasgando.Parece que ficou mais fácil dançar minutos depois de tomar aquela bebida, estou sorrindo à toa, e já aprendi alguns passos com a Andressa, não sei como ela
Abro os olhos, sinto que estou em uma cama muito confortável, estou em minha cama, abraço os travesseiros, mas percebo que não estou em casa assim que abro meus olhos, assustada me sento rapidamente, uma leve vertigem me faz fechar os olhos.— A bela acordou, espero que goste dos seus novos aposentos... — Me assusto com a voz masculina marcante. Olho para o dono da voz, calada estava, muda fiquei.Um homem ruivo, com uma regata masculina estilo exército, na cor preta, calça jeans azul, tatuagens em um dos braços, não tive coragem de olhar em seus olhos, ele é grande... O que eu estou fazendo? Saio da cama como se ela estivesse pegando fogo, corro em direção à porta, mas não chego nem perto, bato de frente a uma parede de músculos, levanto meu rosto e sinto o ar faltar, seus olhos são inacreditáveis de tão verdes, em conjunto com seus cabelos vermelhos poucas e pequenas sardas dão a ele um ar místico, nem parece real, seu olhar é diferente, é quente, mas também vejo um tr
Assim como fora ordenado, três dias após a conversa com meu superior, parti para o Brasil com minha equipe, aqui não é como os filmes de ação que um agente se faz de todo poderoso e sai a procura do inimigo, aqui quem trabalha sozinho elimina a si mesmo.Antes mesmo de vir para o Brasil eu contatei uma agente da polícia brasileira, que estava seguindo a pista do Harrisson e descobrimos que ele estava de olho nas universitárias, eles escolhem jovens aparentemente muito sozinhas, sem família para reclamar um desaparecimento.Hoje é o aniversário dos gêmeos, estou em frente ao espelho, penteio meus cabelos com as mãos, coloco um relógio, abro dois botões da camisa, passo meu perfume, para uma festa infantil estou muito bem.Alguns minutos aqui e já sinto o açúcar correr em minhas veias, é tanta doçura, as crianças são lindas, o amor deles é lindo, meu telefone toca.— Boate Night Life's.— É uma boate que a maioria do público são jovens un