Capítulo 4

Ian Massarov

Não importa quantas pessoas eu salve, não importa quantas já salvei, isso não vai me tirar a culpa, o peso que eu carrego, mesmo que eu extermine da face da terra todos os carniceiros que entram na vida das pessoas para destruí-las, nada disso me faz sentir mais digno. Não fui capaz de salvá-la, ela era só uma criança, sem proteção, à mercê do poderio de um homem adulto, se é que aquilo pode ser chamado de homem, quando me lembro da cena meu estômago se revolta e a bile sobe. 

"Melhor sair daí''. Meu subconsciente aconselha, estou pilotando minha envenenada, uma PGM V8, ganho velocidade e meu coração acelera com a alta carga de adrenalina, não tenho lar, vivo no mundo, mas minha última parada é sempre o Brasil.

Entro na casa, um clube que eu frequento em Los Angeles, tenho uma casa em Long Beach, a verdade é que tenho casas espalhadas pelo mundo inteiro, e mesmo assim não tenho lar, um lugar para aconchegar.

Sentado no banco do bar, não preciso chamar por atendimento, logo uma bela bartender vem falar comigo, a vejo parar por alguns segundos impactada pela minha aparência, ela vem com um sorriso enorme.

— O que o senhor deseja... — Sugestiva, ela joga o cabelo para trás deixando o decote às mosta.

— Por enquanto... Só um scotch escocês por favor.— Faço meu pedido e pisco um olho, ela suspira fundo e me serve a bebida forte, tomo em um único gole e me sinto queimar por dentro.

Uma morena com seios enormes me encara, a pouca luz me faz parecer mais ameaçador, um mafioso, o que chama a atenção das mulheres, alguns olhares, um sorriso de canto, algumas insinuações, e sem que digamos nada um ao outro, subimos para a parte reservada para aproveitar o que a casa tem de melhor a oferecer.

Escolhemos um quarto de vidro, e antes de começar impomos nossos limites.

O quarto é reservado a apenas um casal, mas quem está do lado de fora assiste o que acontece dentro, não gosto de ménage com outro homem participando, posso fazer com mais de duas mulheres, a morena leva a mão à alça do seu vestido, e estalo minha língua, e nego com o dedo.

— Tsc... tsc... Ajoelhe-se ao lado da cama. — Ela não diz nada, apenas cumpre a ordem, sinto sua energia de antecipação e sei que está louca para ser dominada.

Todos que frequentam essa casa já sabem das regras, é um clube seleto.

Constantemente é pedido os exames sorológicos para detectar doenças sexualmente transmissíveis, é indispensável o uso do preservativo que está disponível em lugares estratégicos.

Checo os aparelhos que vou usar, e caminho até a morena que está ajoelhada aos pés da cama, de costas, junto seus cabelos, olho a pele do seu pescoço livre de marcas, faço que vou me aproximar, mas me afasto.

Sinto seu suspiro, mas não faço nem falo nada, apenas tiro minha camisa, e desabotoou o primeiro botão da calça.

— Tire seu vestido... pela cabeça. — Sou prontamente atendido e um pensamento inoportuno me toma...

"Isso já está perdendo a graça"

— Levante-se e venha até aqui.

Estou cansado dessa coisa mecânica onde eu mando e elas só obedecem sem questionar, eu gosto de ter o controle, mas às vezes ter o controle de tudo e sobre tudo cansa, mas eu sei o que a morena espera então faço tudo sem dizer nada, a satisfaço, mas estou longe de me sentir satisfeito.

*******

Não sei que porra foi aquela que aconteceu ontem, depois do sexo bruto com a morena, desci para o bar e tomei mais algumas doses, não bebi demais, afinal eu preciso estar sempre alerta, tenho inimigos nos quatro cantos do planeta.

Não gostaria de ser pego com a guarda baixa, então sempre ando armado, mesmo nos clubes, eu sempre entro com minha PT 838 calibre 380, estou sozinho na cama, nada anormal, afinal não saio mais de uma vez com uma mulher, trazer elas para casa seria assinar seu atestado de óbito em alguns dias, ou semanas, isso já aconteceu uma vez e não quero que aconteça nunca mais.

Meu telefone toca em algum lugar, já até sei quem é, mas assim que pego o aparelho a ligação cai, fico um pouco nostálgico ao ver o sorriso do Ben para um bebê de oito meses que engatinha em um grande tapete sobre uma grama verdinha, atendo:

— Fala ex-putão... — Ao fundo escuto a voz da minha cunhada.

— Acho bom mesmo que seja ex... — Não sei se vocês conhecem a Léia mas quem a conhece sabe que ela é uma mulher maravilhosa, e é perfeita para o Ben, ver o amor deles faz meu peito se encher de uma esperança que eu sempre chuto para longe da minha mente.

— Fala putinha, semana que vem é aniversário dos gêmeos...

Aahh não, estava esquecendo o aniversário dos meus sobrinhos, o Tony se parece comigo só faltou os olhos serem verdes.Eu sempre tiro sarro do Ben pelo filho dele ser mais parecido comigo que com ele, a lembrança faz um sorriso brotar em meus lábios.

— Cara não prometo nada... Você sabe, tirei dois dias de folga, mas a qualquer hora aparece uma nova missão... — ouço seu suspiro.

— Mas prometo que se eu não tiver trabalho na próxima semana irei... Vou conversar com o meu chefe, ele anda satisfeito comigo, depois que eu apreendi aquele pessoal da facção... Mas eu ainda me sinto frustrado por não ter pego o Harrisson... Aquele filho da puta... — Sei que esse é um assunto delicado para o meu amigo então tento mudar de assunto.

— E nossa esposa como vai...— faço a brincadeira de sempre.

— Nossa esposa o quê seu arrombado, vai procurar uma pra você que essa é só minha. — Começo a gargalhar.

— Calma benzinho... — Meu amigo detesta diminutivo.

Os bebês começam a gargalhar também, a Geovana toma o celular do pai que também está sentado no tapete e começa a fazer uns barulhinhos com a boca como se estivesse falando alguma coisa e o Benjamim se levanta sozinho, o que rende algumas palminhas por parte da mãe, ele tenta bater palmas também e cai sentado no chão, e a última coisa que vejo é o meu amigo pedir o telefone para a bebê que inconsciente coloca o dedinho no botão de desligar, logo o telefone toca novamente e atendo sem ver.

— Fala putinha... — do outro lado da linha alguém limpa a garganta.

— Aham... aham... não sei com quem você anda e nem quero saber... Então antes de atender o telefone verifique a chamada... — Ih fudeu, é o meu chefe.

— Senhor... Desculpa, eu estava falando com meu amigo... — ele suspira e percebo que as coisas não andam nada boas.

— Quero você em minha sala em... Trinta minutos, acabou a folga.

— Sim senhor... — ele desliga o telefone.

A pior parte do meu trabalho é não poder criar raízes, se precisam de mim na Rússia hoje, é para lá que eu vou, se precisam de mim no Iraque lá que eu tenho que estar, estou ficando cansado disso, antes era muito divertido quando eu tinha vinte anos, mas agora aos trinta e dois está cansativo, até o sexo não está sendo o mesmo, ontem vi aquele quarto sem cor, não tinha vida lá... Não pense nisso, esquece isso Ian...

Tomo uma ducha rápida, coloco um terno, e me arrumo como se trabalhasse como advogado em um escritório, bem que aquele velho escroto falou.

“Um dia você vai se arrepender por não me ouvir… Vai se cansar dessa vida louca que leva, vai querer criar raízes, e quando o chefe ligar vai querer m****r ele tomar no cú, escuta seu pai garoto.”

É outro pensamento que eu deleto, não vale a pena, chego exatamente em cima do horário, e meu superior me olha.

— Fecha a porta Massarov... Sabe aquele pessoal daquela transportadora suspeita... Aquela que você esteve investigando há algum tempo no Brasil...daquele empresário... 

Ele sabe do meu interesse nesse caso, então está aí o motivo para tanta enrolação.

— O Harrisson Hayes... — Meu sangue ferve de ódio por esse miserável.

— Sim, sim... Parece que ele está transportando bem mais que iguarias, e peças de arte, quero que você vá ao Brasil e descubra se ele está transportando pessoas ilegalmente. — Ele suspeita de tráfico humano e eu tenho certeza que aquele verme é traficante de pessoas, armas e muito mais.

— Parece que você estava certo... Eles voltaram a agir, leve seus homens de confiança, quero tirar isso a limpo...

— Sim senhor... — Saio da sala dele e vou direto para a minha sala, ligo para os caras...

— Ian… Não faça nada por enquanto, reúna provas.

Quatro dias depois estou desembarcando em território nacional brasileiro.

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