Sílvia Mendes
Alguns dias após estamos a caminho do hospital para buscar o John, eu o Dan, Báh e Aline, que está calada, o carro é grande e cabe a todos. Báh se mudou de vez para São Paulo, ele o Dan e o senhor John se tornaram amigos muito rápido, o Dan está praticando jiu jitsu e já colocou o amigo da Alice para correr, o que achei super engraçado, mas tive uma conversa muito séria com ele sobre isso e prometeu que não vai interferir da próxima vez, o Ian está misterioso, às vezes seu telefone toca e ele sai de perto para atender, eu não queria mas estou criando as temidas pulguinhas atrás da orelha, mas, por outro lado ele anda muito romântico, saímos para jantar algumas vezes e descobrimos a cada dia que passar algo em comum, o que me deixa um pouco mais segura, só nos afastamos de verdade quando eu s
Sílvia MendesA noite vem, estou em meu antigo quarto na casa do meu pai, trouxe de vez minhas coisas para cá, vim para ficar de olho nele, mas neste momento estou cuidando de mim, massageio meus cabelos, passo um batom marrom, que destaca meus lábios finalizando a maquiagem, pego o vestido vermelho sangue, sobre a cama passando com cuidado pela cabeça, após vestir calçar os saltos e me olho no grande espelho do closet, estou me sentindo bela, empino meu nariz, e sorrio. Estou indo jantar no restaurante da Nat, eu e meu lindo noivo, vamos nos encontrar lá, o motorista está vindo me buscar, escuto uma leve batida na porta, e autorizo a entrada do meu irmão, conheço até a forma que ele bate na porta.–Sua carona chegou... Uau, você está gata demais maninha, quero uma foto.Dan se aproxima, posiciona a câmera do celular e, lá está nosso sorriso gravado na tela do aparelho, estou ansiosa, o Ian já pediu que eu levasse minhas coisas para
Sílvia MendesNa sala de descanso penso em meu noivo e no casamento que está próximo, e no quanto foi rápido minha contratação nesse hospital público, minha vida aos poucos está entrando nos eixos, cada dia que passa eu agradeço a Deus por me guiar até aqui, por ter me tornado alguém melhor, apesar das circunstâncias do meu nascimento e da minha criação até a pré adolescência; cinco dias após o pedido do Ian no restaurante da Nat, eu não poderia estar mais feliz, ele queria me levar para algum lugar mas pedi que adiasse por causa do meu doutorado e mestrado em cardiologia neonatal, infanto-juvenil, agora além de cuidar dos corações dos bebês também cuidarei das crianças e adolescentes, e estou cada dia mais apaixonada pelo que faço.O sinal da emergência soa e saio correndo para a ala neonatal, a equipe de enfermagem desesperada com a bebê recém nascida que foi abandonada ontem pela mãe, a bebê está tendo uma parada cardiorr
Ian MassarovVer minha linda mulher naquela sala olhando com tanto amor para as incubadoras me fez perceber que ela vai se ser uma mãe maravilhosa, ela parece passar mais tempo olhando para uma caixa transparente de acrílico, com um bebê cheio de fios ele parece com dificuldade não se mexe mas sabemos que está vivo pelo monitor cardíaco infantil, ela não me vê, mas eu fico aqui babando pela mulher maravilhosa que carregará meu sobrenome e tem meu coração para sempre.–Qual é o seu? – Uma voz calma me tira dos pensamentos, olho para a Sil e ela ainda está próximo ao bebê que recebe uma atenção especial dela.–É aquele? – A mulher parece surpresa vestida de branco e com o olhar meigo.–Isso é maravilhoso, ela foi abandonada pela mãe, e vai pra adoção, se conseguir sobreviver, ela vai sobreviver, a doutora Sílvia está cuidando dela.–Não, ela não é minha...Foi quando minha mulher olhou através do vidro e me viu, seu sorri
Sílvia MendesEu estou em choque, morando há algumas semanas com meu noivo seria natural se eu chegasse um dia do trabalho e dissesse: Tô grávida!Mas fui eu a surpreendida, ainda estou sem acreditar, tocando cada roupinha, cada brinquedinho, em seu quartinho rosinha e aconchegante que já possui o cheirinho de bebê limpinho.Olhando o bercinho a realidade bate com força total, serei mãe de uma criança totalmente diferente de mim, uma criança que vai precisar de cuidados e muita atenção, mas uma criança forte que luta para sobreviver, mas também sei tudo que iremos enfrentar, o preconceito não pode vencer o amor e eu já amo aquele ser pequeno e forte, vou preparar minha filha para as piadas, vou mostrar a ela que o mais importante ela já tem que é o amor de uma família, ando até a porta do banheiro e lá encontro uma banheira e me imagino dando banho na Gabi, e uma ansiedade bate, a ansiedade de ter ela aqui. Deitados entre os lençóis após
–Mamãe massucou meu bacinho...Me levanto da espreguiçadeira na rapidez que minha barriga de oito meses permite, um pouco assustada com o choro da minha pequena dramática, estava tentando relaxar um pouco para, quem sabe o bebê ficar tranquilo e abrir as pernas na ultrassonografia.–Minha princesa machucou... Deixa mamãe dar um beijo pra sarar.Sopro e beijo o pequeno arranhão vermelho, e ela para de chorar no mesmo instante, minha bebê já está com dois anos, um ano após a chegada da Gabi, meu marido que na época era meu noivo me sequestrou, se vocês me perguntarem se eu me assustei, eu vou dizer... Sim e não foi pouco, com a ajuda de toda a
–Mamãe massucou meu bacinho...Me levanto da espreguiçadeira na rapidez que minha barriga de oito meses permite, um pouco assustada com o choro da minha pequena dramática, estava tentando relaxar um pouco para, quem sabe o bebê ficar tranquilo e abrir as pernas na ultrassonografia.–Minha princesa machucou... Deixa mamãe dar um beijo pra sarar.Sopro e beijo o pequeno arranhão vermelho, e ela para de chorar no mesmo instante, minha bebê já está com dois anos, um ano após a chegada da Gabi, meu marido que na época era meu noivo me sequestrou, se vocês me perguntarem se eu me assustei, eu vou dizer... Sim e não foi pouco, com a ajuda de toda a
Ando pela viela da comunidade, passos ligeiros, pernas finas, minhas sandálias gastas não são suficientes para impedir que meus pés toquem a água suja de esgoto a céu aberto que escorre dos barracos de vários moradores, ratos disputam espaço com cachorros, crianças, eu sou mais uma no meio de tantas, a cada passo o coração acelera nos ouvidos, a cada passo me aproximo do inferno, eu preferia não ter nascido ou ter nascido em outra família, mas quem protegeria meu pequeno se eu não existisse? Talvez esse seja meu propósito na vida, impedir que meu irmão passe por tudo que estou passando, ou pelo menos evitar parte do seu sofrimento.O Tum... tum... tum... do meu coração não impede que eu escute o choro das crianças dos barracos, a música funk que a Jucélia escuta todos os dias, os gritos de socorro da vizinha que apanha do marido bêbado, mas da mesma forma que para mim, o socorro não vem para ela também.Meu corpo tem algumas marcas, porém poucas superficiais, o negro da
Minha mão pequena bate no vidro escuro do carro, que brilha ao sol do meio-dia, um homem de sorriso maldoso e olhar malicioso, cabelos brancos bem penteados, aparece na janela.— Te dou tudo que quiser... É só entrar...Te dou até um banho, pra ficar...Com o tempo eu aprendi o que cada olhar significava, observando os homens que apareciam lá em casa então eu corro para o mais distante possível, mas quando percebo meus passos estão me levando de volta para o inferno não tenho nem como me arrepender, pois ouço gritos desesperados do Báh, sinto a sua dor. Estou em frente à porta que se abre com violência..."Sinto meu corpo sacolejar, e acordo suada, perdida, eu já deveria ter me acostumado, aos pesadelos vívidos em minha memória, que estão sempre lá, esperando um momento, um cochilo então ela invade meus sonhos e os transf