Capítulo 5

Malia

— E como foi o teu dia? — Pergunto quando ele termina de comer. Eu ainda estou na metade do meu prato.

— Foram duas reuniões de manhã, uma com um autor que está no ranking de mais vendidos na a****n e tem tudo para dar certo na editora. Depois te passo o contato dele para que comecem a trabalhar — ele passou a mão no cabelo que deixou crescer nos últimos meses e fez permanente para que ele ficasse ondulado e olha para o telefone pousado na mesa. — A outra foi só para acertar o próximo romance que vamos lançar. O resto foi revisão atrás de revisão. Estou verdadeiramente cansado.

— Então vamos embora, por favor, preciso descansar também — termino de comer, vendo ele arrumar as coisas para irmos embora.

Quando entramos no carro, não me demoro a baixar o banco e puxar o meu tapa olho que está sempre guardado aqui no carro pra mim, é a maneira perfeita de descansar até chegar em minha casa. Noto as luzes acesas e sei que George está em casa, então hesito em sair do carro e Malik percebe. 

— Respira fundo, estarei a uma chamada se precisares de mim, vida — dá um beijo na minha testa, respiro fundo e saio do carro.

Por que os dias não podem ser sempre assim para mim? Seria muito melhor se tivesse ficado com alguém que me trata tão bem quanto ele ao invés de ficar com alguém que se sente intimidado pelas minhas conquistas e prefere me ver miserável do que bem. 

A primeira coisa que percebo são as coisas espalhadas pela sala, ele sentado no sofá  com o teste na mão e com uma cara nada boa. Começo a cogitar a ideia de ligar para Malik naquele mesmo momento, ele não deve estar tão longe assim. 

— Que brincadeira é essa? De quem é esse teste? — Ele pergunta sem olhar para mim, num tom de pura irritação. — QUE PORCARIA É ESSA? — Me assusto com o grito dele e dou um passo para trás. A cada passo que ele dava para frente,  eu recuava, me mantendo longe o suficiente dele, até porque é óbvio o quão alterado ele está.  — Eu espero sinceramente que esse teste não seja teu.

— Eu… eu…nós…nós, sempre fizemos sexo sem nenhuma prevenção, aconteceu, eu não tinha como controlar. 

Eu falo baixo, gaguejando, sentindo o meu corpo tremendo por completo e com os olhos cheios de lágrimas. Eu não queria chorar, queria ser forte, por mim, por esse bebê, mas as gotas de água escorrem sem que eu perceba.

— E OS REMÉDIOS? A DROGA DOS REMÉDIOS?

George atira o teste na parede atrás de mim e avança mais um passo, ficando a poucos centímetros de mim. Meu coração b**e ainda mais forte, imaginando o pior para aquele momento. As minhas mãos tremem, enquanto mantenho os olhos nele. No último ano tem sido essa a minha vida, discussões, eu sendo a culpada de tudo, me sentindo cada vez mais exausta e vendo a minha energia ser arrancada por uma pessoa tão podre quanto ele.

— Como pode uma pessoa ser tão estúpida, eu não quero filhos, nunca quis. Não quero criança nenhuma na minha casa, tirando a minha paz, sempre deixei isso muito claro, mas nem para os seus ouvidos servem — quando diz isso, George aperta a minha cabeça entre as mãos e pressiona contra a parede.

Essa é a verdadeira causa das minhas constantes dores de cabeça. Talvez a falta de comida e de água aumentem, mas é sempre George o maior provocador delas. Ele não pode me bater porque apesar da pele negra, eu ainda sou alguns tons mais clara e toda marca é visível. Porém, isso podia mudar a qualquer momento e  só de pensar nisso, sinto inveja de todas as mulheres decididas e corajosas o suficiente para saírem de relacionamentos assim com a cabeça erguida. 

Uma vez ele apertou o meu braço com demasiada força e ficou a marca certinha da mão dele, bem como um hematoma que permaneceu no lugar por semanas. Fui obrigada a usar roupas de mangas longas, e ali ele percebeu que corria risco e por isso passou a apertar a minha cabeça ou puxar o meu cabelo, que como ele dizia “já parece um ninho, um puxão não faz diferença”.

— É bem capaz dessa criança nem ser minha e sim do teu amado Mal — um gemido de dor escapa de mim quando ele aperta mais a minha cabeça e puxa o meu cabelo ao mencionar o nome do Malik. — Do jeito que ficam juntos não me admiraria que ele te comesse naquele café ou na editora não é? Afinal tu és o tesouro dele, certo?

George pressiona o meu corpo contra a parede e puxa a minha cabeça batendo uma, duas, três vezes contra a parede. As lágrimas já correm livremente pelo meu rosto, escorrendo pelo meu pescoço. A minha voz fica perdida no fundo da minha garganta e os meus pulmões falham. Respirar se torna difícil e sinto o meu corpo pesado. 

— Essa criança não vai nascer, amanhã eu procuro uma clínica ou alguém que possa fazer isso e depois vai ficar tudo bem, meu amor. O nosso amor vai continuar igual e de quebra não vamos precisar suportar o choro de ninguém — ele solta o meu corpo devagar e eu acabo no chão, sem forças para levantar, sem coragem para falar, sem força para agir.

Fico deitada ali, pelo que pareceram horas. Quando finalmente levanto,  todo meu corpo dói. Não tenho mais lágrimas para derramar. Só quero sair daqui, eu também não queria esse bebé, mas acreditei que ele seria uma salvação, que seria a nossa reconciliação, finalmente eu teria o meu sonhado casamento ao fim de 15 anos, nós seríamos todos felizes. Eu só queria ser feliz, é errado pedir tanto por isso?

Fico debaixo do chuveiro até sentir o meu corpo melhor, me enrolo numa das toalhas que deixo no quarto de banho mesmo e vou ficar na sala. Não quero entrar no quarto, não quero fazer barulho, não quero uma nova situação.

Ligo a TV e ponho dorama. Adoro assistir dorama água com açúcar, daqueles extremamente fofos e românticos. Gosto de ler romances, porque isso a minha vida tem de menos, então nada como viver os romances alheios.

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