Capítulo 3

Malia 

O amor devia ser leve para todas as pessoas, não pesado, não incômodo e muito menos perturbador. Ele devia ser a melhor coisa para vida de todas as pessoas e não a que mais as destrói. 

Sempre sonhei com um amor leve, cheio de sinceridade e cumplicidade, daqueles que vemos nos filmes, e apesar de saber bem que na vida nem tudo são flores e as pessoas não são iguais, mas ainda acho que não é errado desejar viver um amor assim, um amor reconfortante, que aquece o peito e deixa o coração tranquilo. 

O amor devia mover pessoas, encher corações, devia ser igual para todos os envolvidos, não muito para uns e pouco ou nada para outros. Quando era mais jovem, pensava que todos relacionamentos eram iguais aos dos meus pais, pensava que todos amavam da mesma forma e do mesmo jeito, que dedicavam o seu tempo ao outro.

Se passei toda a minha vida vendo o amor saudável dos meus pais, como vim parar nessa armadilha a qual estou presa até hoje? É tão devastador pensar que alguém que queria um amor grande, um homem que fosse dedicado a ela, se contentou com tão pouco, ao ponto de se acostumar com as migalhas recebidas.

Estou com o mesmo homem desde os meus 14 anos, foi o meu único namorado, o único homem com quem estive toda vida, aquele que pensei amar com todas as minhas forças, ao ponto de me deixar de lado inúmeras vezes, e isso tudo durante 15 anos juntos. 

Foi com ele que tive a minha primeira vez, foi ele o meu primeiro beijo e, sendo honesta, a nossa relação sempre foi uma coisa linda de se viver, pelo menos até quando entrei para o mercado de trabalho aos 23 anos. Os meus pais acompanharam todo o relacionamento e a dada altura pediram que eu terminasse com ele, acho que eles previram o meu sofrimento antes mesmo eu me atentasse, mas eu já estava tão presa a ele, completamente perdida na ilusão de um amor tão maravilhoso quanto o deles, e mantendo a idéia que se não fosse ele ninguém mais me aceitaria que preferi manter o relacionamento.

Comecei a ganhar mais dinheiro que ele, a conquistar as minhas coisas, todas pelo meu esforço e a cada dia me sentia feliz comigo, realizada, afinal de contas, estava realizando os meus sonhos e me desenvolvendo de todos os modos possíveis. 

Porém, para ele,  eu fazia isso para humilhá-lo, ele dizia que eu só queria que as pessoas soubessem o quanto eu era bem resolvida e passar a imagem de que ele dependia de mim, mas não era nada disso que eu queria, quis apenas conquistar as minhas coisas, fazer o meu nome ser reconhecido pelo meu trabalho árduo e dedicação.

O auge de tudo aquilo foi quando quase desisti do trabalho na editora assim que fomos morar juntos, somente porque ele achava péssimo que eu trabalhasse tanto, dizendo que eu devia me concentrar nas coisas domésticas e estar sempre a disposição dele. Se não fosse pelo Mal que ralhou comigo horrores por conta disso, eu teria desistido.

Falando nele, Malik Arbor, meu melhor amigo desde que me conheço como gente, é um tópico muito sensível no meu relacionamento, George simplesmente não o suporta, sempre se mostrou desconfiado de nós os dois e já chegou a dizer que eu o traía com o Mal, eu devia era ter feito isso mesmo na altura e dado um pé na bunda desse jumento. Não estaria vivendo esse amor doentio. 

Eu devia era ter dito ao Malik na altura que gostava dele, mas ver o tipo de meninas que o cercavam sempre me deixou nervosa, tenho quase a certeza de que ele não olhava para mim de outro jeito além da amizade e por isso resolvi guardar os meus sentimentos e mudar o meu foco para outra pessoa. Além de que o Mal sempre me tratou por apelidos carinhosos, ele só chama o meu nome todo se eu causei algum problema, e ele precisa ser grave.

Mas agora o mais importante, como contar ao homem que eu acho que tem amantes, sim, amantes, que estou grávida e que finalmente quero me separar dele?

Não quero mais ser humilhada, maltratada por alguém a que eu jurei amor e que também o jurou a mim. Não quero que o meu bebé cresça sem amor por conta da relação conturbada dos pais, mas também não quero sair e ficar sozinha, sei que sempre recebo amor dos meus pais, dos meus amigos, do Mal, da família dele inclusive, mas gostaria de não ter que ficar sozinha. Não sei o que fazer. 

— Desculpa — sobressalto ao ouvir alguém falar comigo, estava tão aérea que não percebi a cliente falar comigo.

— Sim, no que posso ajudar?

— O meu namorado adora livros de fantasia, utopia e tudo isso e eu não sou propriamente conhecedora da matéria, uma amiga disse que vocês têm ótimas recomendações por isso estou aqui.

O Portal do corvo de Anthony Horowitz, é o primeiro livro da série “ O poder dos cinco” e é um livro de fantasia cheio de suspense. É muito bom e nós aqui temos a série completa, garanto que vocês voltarão para pegar os demais livros — Malik responde atrás da moça, com o sorriso largo e perfeito de sempre e pela cara da mocinha o tal namorado é bem capaz de ficar solteiro.

— Então eu vou levar esse mesmo, vocês podem embalar para presente?— Ela já não falava comigo e sim com o meu bom amigo. A mulher, com certeza, vai ter um torcicolo se continuar a olhar para o Malik, oh homem alto.

— Pode aguardar um instantinho que estará pronto o seu pedido — ele sorri e dá a volta ao balcão ocupando o meu lugar no caixa sem tirar o bendito sorriso do rosto e como sempre faz, embala o pedido com maestria e termina o atendimento da moça.

— Com certeza, ela será a nossa mais nova cliente — cruzo os meus braços próximo ao peito e ele sorri enquanto tira o blazer e prende o seu crachá na camisa. 

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