Malia
O amor devia ser leve para todas as pessoas, não pesado, não incômodo e muito menos perturbador. Ele devia ser a melhor coisa para vida de todas as pessoas e não a que mais as destrói.
Sempre sonhei com um amor leve, cheio de sinceridade e cumplicidade, daqueles que vemos nos filmes, e apesar de saber bem que na vida nem tudo são flores e as pessoas não são iguais, mas ainda acho que não é errado desejar viver um amor assim, um amor reconfortante, que aquece o peito e deixa o coração tranquilo.
O amor devia mover pessoas, encher corações, devia ser igual para todos os envolvidos, não muito para uns e pouco ou nada para outros. Quando era mais jovem, pensava que todos relacionamentos eram iguais aos dos meus pais, pensava que todos amavam da mesma forma e do mesmo jeito, que dedicavam o seu tempo ao outro.
Se passei toda a minha vida vendo o amor saudável dos meus pais, como vim parar nessa armadilha a qual estou presa até hoje? É tão devastador pensar que alguém que queria um amor grande, um homem que fosse dedicado a ela, se contentou com tão pouco, ao ponto de se acostumar com as migalhas recebidas.
Estou com o mesmo homem desde os meus 14 anos, foi o meu único namorado, o único homem com quem estive toda vida, aquele que pensei amar com todas as minhas forças, ao ponto de me deixar de lado inúmeras vezes, e isso tudo durante 15 anos juntos.
Foi com ele que tive a minha primeira vez, foi ele o meu primeiro beijo e, sendo honesta, a nossa relação sempre foi uma coisa linda de se viver, pelo menos até quando entrei para o mercado de trabalho aos 23 anos. Os meus pais acompanharam todo o relacionamento e a dada altura pediram que eu terminasse com ele, acho que eles previram o meu sofrimento antes mesmo eu me atentasse, mas eu já estava tão presa a ele, completamente perdida na ilusão de um amor tão maravilhoso quanto o deles, e mantendo a idéia que se não fosse ele ninguém mais me aceitaria que preferi manter o relacionamento.
Comecei a ganhar mais dinheiro que ele, a conquistar as minhas coisas, todas pelo meu esforço e a cada dia me sentia feliz comigo, realizada, afinal de contas, estava realizando os meus sonhos e me desenvolvendo de todos os modos possíveis.
Porém, para ele, eu fazia isso para humilhá-lo, ele dizia que eu só queria que as pessoas soubessem o quanto eu era bem resolvida e passar a imagem de que ele dependia de mim, mas não era nada disso que eu queria, quis apenas conquistar as minhas coisas, fazer o meu nome ser reconhecido pelo meu trabalho árduo e dedicação.
O auge de tudo aquilo foi quando quase desisti do trabalho na editora assim que fomos morar juntos, somente porque ele achava péssimo que eu trabalhasse tanto, dizendo que eu devia me concentrar nas coisas domésticas e estar sempre a disposição dele. Se não fosse pelo Mal que ralhou comigo horrores por conta disso, eu teria desistido.
Falando nele, Malik Arbor, meu melhor amigo desde que me conheço como gente, é um tópico muito sensível no meu relacionamento, George simplesmente não o suporta, sempre se mostrou desconfiado de nós os dois e já chegou a dizer que eu o traía com o Mal, eu devia era ter feito isso mesmo na altura e dado um pé na bunda desse jumento. Não estaria vivendo esse amor doentio.
Eu devia era ter dito ao Malik na altura que gostava dele, mas ver o tipo de meninas que o cercavam sempre me deixou nervosa, tenho quase a certeza de que ele não olhava para mim de outro jeito além da amizade e por isso resolvi guardar os meus sentimentos e mudar o meu foco para outra pessoa. Além de que o Mal sempre me tratou por apelidos carinhosos, ele só chama o meu nome todo se eu causei algum problema, e ele precisa ser grave.
Mas agora o mais importante, como contar ao homem que eu acho que tem amantes, sim, amantes, que estou grávida e que finalmente quero me separar dele?
Não quero mais ser humilhada, maltratada por alguém a que eu jurei amor e que também o jurou a mim. Não quero que o meu bebé cresça sem amor por conta da relação conturbada dos pais, mas também não quero sair e ficar sozinha, sei que sempre recebo amor dos meus pais, dos meus amigos, do Mal, da família dele inclusive, mas gostaria de não ter que ficar sozinha. Não sei o que fazer.
— Desculpa — sobressalto ao ouvir alguém falar comigo, estava tão aérea que não percebi a cliente falar comigo.
— Sim, no que posso ajudar?
— O meu namorado adora livros de fantasia, utopia e tudo isso e eu não sou propriamente conhecedora da matéria, uma amiga disse que vocês têm ótimas recomendações por isso estou aqui.
— O Portal do corvo de Anthony Horowitz, é o primeiro livro da série “ O poder dos cinco” e é um livro de fantasia cheio de suspense. É muito bom e nós aqui temos a série completa, garanto que vocês voltarão para pegar os demais livros — Malik responde atrás da moça, com o sorriso largo e perfeito de sempre e pela cara da mocinha o tal namorado é bem capaz de ficar solteiro.
— Então eu vou levar esse mesmo, vocês podem embalar para presente?— Ela já não falava comigo e sim com o meu bom amigo. A mulher, com certeza, vai ter um torcicolo se continuar a olhar para o Malik, oh homem alto.
— Pode aguardar um instantinho que estará pronto o seu pedido — ele sorri e dá a volta ao balcão ocupando o meu lugar no caixa sem tirar o bendito sorriso do rosto e como sempre faz, embala o pedido com maestria e termina o atendimento da moça.
— Com certeza, ela será a nossa mais nova cliente — cruzo os meus braços próximo ao peito e ele sorri enquanto tira o blazer e prende o seu crachá na camisa.
MaliaSe existe uma coisa que esse homem fez certinho foi ter entrado num ginásio, porque saímos de um Malik 1,98m magricela, para 1,98 m de puro músculo e testosterona. Ele já era perseguido antes de estar desse jeito, então tenho a certeza que aumentou o número de mulheres que querem ou ter algum relacionamento com ele ou somente um caso de uma noite, assim como aumentaram as que acham que sou namorada dele e até as que acham que estão em uma competição comigo, por pensarem que eu sou a amante assumida dele, isso mesmo, amante. Cruzes.— Perfeito, mais dinheiro para as nossas contas — ele diz isso com os braços para o alto como uma criança. Vem até mim e me abraça deixando um beijo na minha testa. — Sabe, minha vida, toda dor que sinto na coluna é por tua causa — ele sempre reclama, mas parar de beijar a minha testa não faz.— Simplesmente não sou culpada dos meus 1,67 e da tua mania de beijar a minha testa, meu filho — volto a abastecer as vitrines que era o que estava fazendo ante
Malia— E como foi o teu dia? — Pergunto quando ele termina de comer. Eu ainda estou na metade do meu prato.— Foram duas reuniões de manhã, uma com um autor que está no ranking de mais vendidos na amazon e tem tudo para dar certo na editora. Depois te passo o contato dele para que comecem a trabalhar — ele passou a mão no cabelo que deixou crescer nos últimos meses e fez permanente para que ele ficasse ondulado e olha para o telefone pousado na mesa. — A outra foi só para acertar o próximo romance que vamos lançar. O resto foi revisão atrás de revisão. Estou verdadeiramente cansado. — Então vamos embora, por favor, preciso descansar também — termino de comer, vendo ele arrumar as coisas para irmos embora.Quando entramos no carro, não me demoro a baixar o banco e puxar o meu tapa olho que está sempre guardado aqui no carro pra mim, é a maneira perfeita de descansar até chegar em minha casa. Noto as luzes acesas e sei que George está em casa, então hesito em sair do carro e Malik per
Malia“Você devia procurar uma clínica que fazer o aborto”“Encontrei na internet uma receita que vai nos ajudar a ficar livres dessa criança”“Conheci alguém que faz esse trabalho ao domicílio”Passei toda a semana ouvindo comentários desse género. Ele falava aquilo cada vez que cruzava comigo e tudo o que eu queria era me livrar dele. Queria que tudo aquilo acabasse. Por que preciso passar por isso? Por que não posso simplesmente ser feliz como outras mulheres grávidas são? Parece que é impossível isso acontecer para mim. Não houve nenhum dia em que a minha cabeça não latejou, tirando o meu foco de tudo o que devia fazer e me desconcertando muito mais. Os meus olhos arderam durante todos esses dias, me obrigando a passar água fria neles e até mesmo gelo. E no meio disso tudo, fiz o que sempre faço quando estou estressada, comprei livros. Quinze livros para ser mais exata, sei que vão me dar parte do descanso que preciso e pelo menos fazer com que a minha cabeça fique bem mais cal
MaliaA minha mãe entra no quarto com uma travessa de bolo de chocolate, e antes mesmo dela chegar, a minha barriga ronca e consigo sentir o bolo úmido se derreter na minha boca. Assim como acontece com todos os bolos dela. Quando cheguei, ela estava na cozinha, fazendo o bolo, afinal de contas, eles dois são velhos que adoram doce, formigas quase reformadas. Devia ligar para os rapazes e contar que tem bolo de chocolate, nós sempre lutamos por esse bolo quando éramos crianças e mesmo agora fazemos isso. Seria muito bom escutar o tom de voz deles perdendo o brilho, no momento que eu contasse tudo para eles. Pego na travessa com uma vontade imensa e como com uma colher, nem espero pelo prato que o meu pai foi pegar, é como pegar toda a minha infância e colocar numa travessa, que saudade desse bolo. — Mãe, acho que vou morar com vocês novamente, mas só se você fizer esse bolo todos os dias.Mesmo sem ver a minha boca, consigo sentir o quanto ela está suja, coberta pela cobertura mar
MalikAs meninas marcaram um brunch e podiam muito bem ter pago garçons, mas não, a mão de obra barata é sempre a melhor. Malia, Andreia e Teresa são amigas desde a universidade, Adam namora a Teresa desde o primeiro ano, e Thomas pediu a Andreia em namoro no ano passado, após anos na friendzone. Fiquei extremamente feliz vendo aquilo acontecendo com ele, afinal de contas pelo menos um que saiu de lá.Fomos obrigados a trabalhar como garçons não remunerados, com direito a roupas iguais, calça social preta, camisa preta e gravata laço rosa. Elas podiam ter pagado alguém, mas não, decidiram que seríamos nós, ao invés de nos chamarem para participarmos com elas. Quando chego a casa dos Hawthorne, pensando que teria que esperar que a Lili ficasse pronta, me deparo com ela na porta já pronta. Malia entra rápido no carro, mantendo um sorriso em seu rosto. O vestido rosa que ela usa vai até o meio das coxas grossas que tanto adoro, mesmo observando tudo à distância, sem poder tocar nelas.
MalikJá tive todo tipo de sonhos com essa mulher e não posso dizer que eram os mais puros e bem-intencionados. Na minha cabeça, já comi essa mulher em todas as posições possíveis, mas ficaria imensamente feliz se tudo acontecesse na vida real.O mais triste nisso tudo é olhar para ela e perceber que esse brilho tem se apagado pouco a pouco, que toda aquela essência maravilhosa e energia ilimitada estejam esgotadas. A cada dia que passa, ela se torna mais estranha, triste e meio vazia, e isso me mata aos poucos. Sempre acabou comigo. Não sei mais que artimanhas, truques, planos usar para que ela deixe esse idiota, que tudo o que faz é sugar a vida dela, a deixando exausta da vida e sem o brilho que ela costumava ter. E é justamente nesses momentos que penso no quanto ela seria feliz se estivesse comigo. Não confio naquele idiota para nada, e por causa disso faço questão de levá-la à casa sempre, tratar com muito carinho, mimá-la e sempre me esforço para que aquele idiota perceba que
Malia— Deixa que te mostro bem quem é a bruxa, seu filho da mãe — Andy grita a última parte, mais alto do que alguma vez vi vi ela fazendo, e tudo porque nessa altura, o Malik já está praticamente fora da casa— Sou mesmo filho da minha mãe, agora, se você não tem mãe isso é um problema teu, minha filha — nesse momento a Andy faz outro arremesso, que não falha e bate certinho na cabeça dele. — Ai, Thomas, desiste dessa bruxa pelo bem da tua vida, isso é um ser do mal, eu te amo tanto, Tommy, não posso perder você desse jeito — ele rasteja em direção aos rapazes e abraça os joelhos do Tommy, choramingando.— Mas também, Mal, custava deixar a Lili beber? Te falta amor à vida — ele tenta chutar o Mal, mas escorrega e cai nele no mesmo momento em que a Tessa resolveu puxar o cabelo do meu amado amigo.— Sinceramente, passaram tantos anos, mas parece que vocês continuam todos umas crianças e o Mal ficou pior, é capaz de um dia quando ficarem grávidas pegarem ranço do Mal e as crianças na
MaliaO meu reflexo no espelho em nada se compara ao que outrora foi. Sempre me achei muito bonita, sempre gostei de ver em mim a luz, o brilho que as pessoas diziam ver, mas agora, agora parece que tudo morreu. Não tenho mais o brilho que costumava carregar e que as pessoas costumavam apreciar, não tenho mais o brilho que via no espelho todos os dias, sendo intensificado pelo sorriso enorme que estava sempre preso nele. Porém, agora não tenho nada disso. Perdi alguns quilos nesses anos, nada alarmante ou problemático. Sou boa com maquiagem e por isso sempre que estou com um aspecto cansado me esforço para o esconder, reforçando a maquiagem ao ponto de tornar as minhas emoções irreconhecíveis. Eu não quero incomodar ninguém com a vida que escolhi, preciso saber lidar com isso, e apesar de contar algumas coisas para a minha mãe, ainda é difícil falar sobre tudo, ainda mais quando tudo o que ela fez foi me alertar sobre as escolhas que estava fazendo. Com certeza, seria uma grande co