Capítulo 2

Malik 

— Lili, minha princesa, você tem a certeza? Você quer que eu vá para aí? Compro alguns testes e fazemos — eu suo frio e o meu reflexo no espelho mostra um homem com o olhar desesperado.

Como é que eu não ficaria desesperado se ela está grávida de outro homem? Eu devia ser o pai dos filhos dela e não um qualquer. 

— Eu já fiz isso, Mal, três testes na verdade, todos deram positivo. Fiz até um mais aprimorado, que detalha as semanas e estou de 3 semanas — essa informação b**e com o tempo que ela estava com um mal-estar constante — VOU TER UM BEBÉ!

— Estou tão feliz por você, minha vida. Você já falou com o Connor?

— Ainda não, tivemos mais uma discussão ontem e ele saiu de casa, mandou uma mensagem a dizer que dormiu na casa da mãe e que foi direto para o  trabalho e eu fiz o teste agorinha. Você é o primeiro a saber, mas assim que ele chegar eu conto — ela fala com o tom tão triste, o meu coração fica apertado, essa mulher merece toda felicidade do mundo e não esse tormento. — Talvez eu faça alguma surpresa ou vou simplesmente contar.

Dói demais, o meu coração está aflito, parece que tem alguém o esmagando com uma luva repleta de picos, feitos exclusivamente para me ver sangrar. Mas tudo isso parece ser culpa minha, parece não, tenho a certeza de que é tudo culpa minha. Nunca consigo expressar o que  sinto de verdade, pelo menos não com ela. 

Esse filho deveria ser meu, eu deveria ser o pai dessa criança, mas nunca tive a coragem de dizer à mulher que amo, sim amo, o que sinto. Fui só mais um covarde e agora estou vendo ela construir a sua vida com outra pessoa. 

— Pensa com calma, minha vida, e assim que ele voltar para casa me avisa, tá bom?

— Certo! Vou avisar, preciso me preparar para sair também, tenho muita coisa para organizar no café, chegaram os livros que encomendei. 

Esse sempre foi o nosso maior ponto de união, livros, nós amamos livros. Quando éramos mais novos passávamos horas sentados debaixo da figueira que até hoje está no quintal dos pais dela, passávamos tanto tempo lá que o senhor Flyin, pai da Malia,  decidiu montar um banco grande ao redor da árvore, todo acolchoado e largo o suficiente para que pudéssemos deitar e descansar aí mesmo. 

Fomos crescendo e ambos seguimos pelo caminho das letras, hoje eu trabalho como gerente editorial e ela agencia autores e é dona de uma livraria café. A editora Hadrian sempre foi a nossa maior meta de trabalho quando entrámos para a universidade, sempre cobrávamos um ao outro, em questão de tudo enquanto ainda estudávamos para que pudéssemos ir juntos e conseguimos esse feito.

Nós nunca ficamos afastados, nunca experienciamos a distância, eu sempre fiz parte da vida dela tal como ela sempre fez da minha.

— Vou esperar, enquanto isso, vou continuar tomando banho porque tenho reunião às oito horas. Vida, não exagera, come, bebe água — essa peste tende a esquecer essas coisas e no final do dia sempre tem dor de cabeça e de estômago.

— Tá bom, popo.

Popo

Essa é uma expressão coreana que significa basicamente beijinhos. Pelo menos, é uma das tantas que ela me obrigou a aprender, ela é uma grande fã da cultura coreana e acabei por cair na onda também. Tudo por causa dela.

À medida que tiro a roupa, sinto uma dor se espalhando por todo o corpo, e neste momento, prometo a mim mesmo não voltar a beber, ainda que as pessoas insistam. Acabou essa coisa de beber ou na próxima vez acabarei em um hospital. 

Tomo banho rapidamente, faço skincare, me visto e saio do quarto com o sapato na mão, apenas para dar de cara com um banquete, perfeito para recuperar. Por conta do casamento do meu irmão mais novo, os meus pais vieram passar a semana na cidade, depois da aposentadoria eles preferiram ir para a casa de campo da nossa família, foi um presente do meu pai para a minha mãe após o nascimento do meu irmão mais velho e eles escolheram logo a minha casa para ficar, porque agora dos três filhos, eu sou o único solteiro. Felizmente, não tenho nada que reclamar, nada é melhor que a comidinha da mãe.

— Bom dia, mãe, bom dia, pai — dou um beijo na testa da minha mãe e bato no ombro do meu pai.

— Bom dia filho, senta connosco e come antes de ir trabalhar — diz a minha mãe agora em seu estado de mãe carinhosa.

— Nada melhor que o caldo da tua mãe para curar a ressaca —  meu pai diz isso cheio de sorrisos depois de dar um beijo na testa da minha mãe quando se junta a nós na mesa.

Começo a comer como um selvagem, sujando o meu rosto sem me importar, mas tomando cuidado para que nada caia na minha roupa. Não posso correr o risco de me atrasar, assim como não posso perder a oportunidade de aproveitar essa comida maravilhosa. Que saudade da comida da velhinha.

— Hoje com certeza vai ser o meu melhor dia em meses, bem que você podia cozinhar mais coisas e deixar tudo congelado antes de ir embora, mãe — levanto da mesa, vou sentar no colo dela do outro lado da mesa e vou beijando o rosto dela enquanto ela tenta a todo custo me empurrar do seu colo.

— Sai de cima de mim, seu animal, olha o teu tamanho, eu ensinei todos vocês a mesma coisa, como é que só um sabe cozinhar? 

Um fato é que ela criou os 3 filhos para saberem viver sozinhos, sabemos fazer todas as coisas domésticas, além de coisas que como ela diz são coisas que homens devem fazer, mas cozinhar é o forte apenas de William, meu irmão mais velho. Daniel e eu não pegamos nada desse dom, mas pelo menos eu sei fazer um arroz, Daniel sabe fritar um ovo decente, mas com muita sorte. Então, sempre que nos reunimos, William cozinha, eu trato da bebida e Daniel cria o resto do ambiente.

Como rapidamente ainda sentado no colo dela e vou direto para a editora, perdendo o privilégio de aproveitar mais o tempo com ela. Para mim, esses momentos com ela são muito importantes uma vez que eles moram no campo.

Ser gerente editorial não oferece um estilo de vida exorbitante, mas dá para viver confortavelmente, entretanto, a minha vida sempre foi muito confortável com os meus pais e sempre gostei de dinheiro, por isso, desde novo que faço investimentos, vendo produtos, e procuro colocar o meu dinheiro em coisas que vão me render de certa forma, como o café da Malia por exemplo, é no formato livraria-café e eu sou sócio. 

Outra coisa é que sempre gostei de carros grandes, afinal de contas sou um homem grande e preciso ficar relaxado e confortável no meu carro.

São 07:40 quando chego na editora, vou direto para a sala de reuniões e  os primeiros clientes chegam pontualmente, ambas reuniões correram muito bem, mas durante todo o dia eu só pensava na Malia, gostaria que ela não estivesse  passando por essa situação. 

Sempre desejei a minha Lili toda felicidade do mundo mesmo que eu não fosse corajoso o suficiente para me dedicar e ser a razão da alegria dela, mas ver que aquele em quem ela confiou a vida tem sido um tormento pra ela é deveras desgastante.

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