Capítulo 1

Malik 

Dias atuais

— Ai, ai, ai. Levantei, acordei, estou vivo — mesmo com essas palavras,  não paro de sentir os golpes da almofada sobre a minha cabeça. — Para, mulher, ai, a minha cabeça.

Com tantas maneiras de acordar uma pessoa que existem, ela foi justamente escolher usar a agressividade para o fazer. Parece que não posso dormir em paz nem mesmo na minha casa. Qualquer pessoa mais frágil do que eu, estaria morta com aqueles golpes.  

— Esqueceu que tem trabalho? — Escuto a voz da minha amada mãe, que neste momento não acho que seja tão amada assim, aos berros e a dor na minha cabeça só aumenta. Não devia ter bebido tanto na noite passada e se soubesse que ela me acordaria desse jeito, de certeza teria moderado. — Levanta dessa cama agora, menino estúpido. São quase 8 horas, sua peste.

Levanto num rompante quando ouço o horário ser dito, eu preciso estar na editora antes das 8, tenho 2 reuniões marcadas logo pela manhã e a primeira será logo às 8 horas. Se eu atrasar, correrei o risco de perder o meu emprego e não posso me dar ao luxo de o perder. 

Mesmo estando meio desesperado, lembro que conheço muito bem a minha mãe e ela jamais me deixaria acordar tão perto da hora de trabalho, então  paro e decido verificar o horário no telefone, constatando a verdade.

Como ela ousava mentir para mim desse jeito? Parece que ela está preparada para ver o filho ter um ataque cardíaco só de pensar em perder o emprego. Por que essa mulher tem a terrível mania de adiantar as horas quando informa aos outros? Ela não pode ser como uma pessoa normal e dizer a hora real? Continuo com o telefone na mão, alternando o meu olhar entre ele e a minha mãe, me deparando a cada olhar, com o seis marcado em ponto grande no centro da tela de bloqueio. . 

Como é que alguém pode fazer isso com uma pessoa que só precisa de uma boa noite de sono antes de ir trabalhar? Ou com alguém que andou bebendo. 

— Seis da manhã, mãe, seis da manhã. Porquê? Volto a sentar na cama com os cotovelos apoiados nos joelhos e repouso a minha cabeça nas mãos.

— Ninguém mandou beber como um condenado num domingo à noite, sabendo que você tem trabalho na segunda de manhã. Se você não tivesse bebido eu não precisaria vir aqui. Vamos, levanta — ela b**e palmas, grita e antes de sair, pega na almofada e atira contra mim uma última vez.

Começo a achar que ela gosta de me ver sofrer desse jeito, ficando desesperado pelas horas de sono que perdi ou até mesmo quando o meu coração acelera por uma das suas mentiras. Está cada vez mais difícil confiar nessa mulher quando o assunto é horário. 

Normalmente, eu acordo seis e meia da manhã até porque preciso estar no trabalho às 8,  portanto ainda tenho 30 minutos de sono.Deito na cama para dormir pelo menos os 28 ou 27 minutos que sobraram, mas parece que o mundo está contra mim hoje, não é possível, quem liga para uma pessoa com ressaca às seis horas da manhã?

Atendo sem olhar quem é e me arrependo amargamente porque a primeira coisa que me recebe assim que o faço é:

—Malik, bom dia, luz do dia! 

Desligo a chamada vendo que é a Malia, meu querido raio de sol, que nesse momento, quero matar, então ela ligou de novo. Não posso nem pensar em desligar porque sei que ela vai reclamar disso depois. 

— Não grita — foi a primeira coisa que eu disse assim que atendi, já sabendo quem era.

— Eu te mato se você voltar a desligar quando eu ligo, não simula uma de maluco comigo — ela detesta que desliguem na cara dela.

— Mas vocês duas fizeram um complô ou algum tipo de combinado para me atormentar? Estou com uma ressaca horrível, a minha cabeça vai explodir e vocês aos gritos.

— Eu disse que você ficaria assim, ninguém torra o fígado num domingo sabendo que trabalha na segunda-feira.

Resmungo baixinho, sem vontade nenhuma de receber um sermão de uma pessoa tão irresponsável quanto eu. A minha cabeça latejando já é o sinal óbvio de que devia ter me acalmado na hora de beber ou talvez nem pensar em beber em primeiro lugar. 

— Motivo da ligação, por favor — olho para o relógio já eram 06:10, com certeza o soninho foi descartado. — Vai falando, vou tomar banho. 

Levanto e vou ao banheiro, andando devagar e quase tropeçando no vento. Tenho o costume de dormir apenas com as calças de pijama, mas acho que ontem estava realmente muito alto, porque dormi com a roupa que vesti para sair, uma calça jeans e uma camisa preta. Tudo está completamente amassado, inclusive a minha cara. O meu cabelo está completamente embaraçado.

— Acho que estou grávida… não… eu realmente estou grávida. 

Eu simplesmente gelo. O meu corpo fica paralisado perante aquela notícia e  sobe um arrepio da minha coluna até ao topo da cabeça. Como assim a minha Malia estava grávida de outro homem? Isso não está certo. 

— Mal!? Você ouviu o que eu disse?

Não consigo formular nenhuma palavra. O meu cérebro decidiu me abandonar por completo, como se não tivesse passado anos estudando maneiras de aprimorar  a minha comunicação em todas as situações. 

Como devo reagir?  Grito, desesperado, mostrando a minha vontade de quebrar os ossos do responsável por isso ter acontecido? Não posso fazer isso, apesar de querer muito. Finjo que estou feliz por ela, mostro a minha tristeza, fico exaltado? O que eu faço? 

Vou deixar a parte da exaltação para quando terminar a chamada, assim não terei que dar explicações para ninguém. Incluindo Malia. 

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