Malik
Dias atuais
— Ai, ai, ai. Levantei, acordei, estou vivo — mesmo com essas palavras, não paro de sentir os golpes da almofada sobre a minha cabeça. — Para, mulher, ai, a minha cabeça.
Com tantas maneiras de acordar uma pessoa que existem, ela foi justamente escolher usar a agressividade para o fazer. Parece que não posso dormir em paz nem mesmo na minha casa. Qualquer pessoa mais frágil do que eu, estaria morta com aqueles golpes.
— Esqueceu que tem trabalho? — Escuto a voz da minha amada mãe, que neste momento não acho que seja tão amada assim, aos berros e a dor na minha cabeça só aumenta. Não devia ter bebido tanto na noite passada e se soubesse que ela me acordaria desse jeito, de certeza teria moderado. — Levanta dessa cama agora, menino estúpido. São quase 8 horas, sua peste.
Levanto num rompante quando ouço o horário ser dito, eu preciso estar na editora antes das 8, tenho 2 reuniões marcadas logo pela manhã e a primeira será logo às 8 horas. Se eu atrasar, correrei o risco de perder o meu emprego e não posso me dar ao luxo de o perder.
Mesmo estando meio desesperado, lembro que conheço muito bem a minha mãe e ela jamais me deixaria acordar tão perto da hora de trabalho, então paro e decido verificar o horário no telefone, constatando a verdade.
Como ela ousava mentir para mim desse jeito? Parece que ela está preparada para ver o filho ter um ataque cardíaco só de pensar em perder o emprego. Por que essa mulher tem a terrível mania de adiantar as horas quando informa aos outros? Ela não pode ser como uma pessoa normal e dizer a hora real? Continuo com o telefone na mão, alternando o meu olhar entre ele e a minha mãe, me deparando a cada olhar, com o seis marcado em ponto grande no centro da tela de bloqueio. .
Como é que alguém pode fazer isso com uma pessoa que só precisa de uma boa noite de sono antes de ir trabalhar? Ou com alguém que andou bebendo.
— Seis da manhã, mãe, seis da manhã. Porquê? — Volto a sentar na cama com os cotovelos apoiados nos joelhos e repouso a minha cabeça nas mãos.
— Ninguém mandou beber como um condenado num domingo à noite, sabendo que você tem trabalho na segunda de manhã. Se você não tivesse bebido eu não precisaria vir aqui. Vamos, levanta — ela b**e palmas, grita e antes de sair, pega na almofada e atira contra mim uma última vez.
Começo a achar que ela gosta de me ver sofrer desse jeito, ficando desesperado pelas horas de sono que perdi ou até mesmo quando o meu coração acelera por uma das suas mentiras. Está cada vez mais difícil confiar nessa mulher quando o assunto é horário.
Normalmente, eu acordo seis e meia da manhã até porque preciso estar no trabalho às 8, portanto ainda tenho 30 minutos de sono.Deito na cama para dormir pelo menos os 28 ou 27 minutos que sobraram, mas parece que o mundo está contra mim hoje, não é possível, quem liga para uma pessoa com ressaca às seis horas da manhã?
Atendo sem olhar quem é e me arrependo amargamente porque a primeira coisa que me recebe assim que o faço é:
—Malik, bom dia, luz do dia!
Desligo a chamada vendo que é a Malia, meu querido raio de sol, que nesse momento, quero matar, então ela ligou de novo. Não posso nem pensar em desligar porque sei que ela vai reclamar disso depois.
— Não grita — foi a primeira coisa que eu disse assim que atendi, já sabendo quem era.
— Eu te mato se você voltar a desligar quando eu ligo, não simula uma de maluco comigo — ela detesta que desliguem na cara dela.
— Mas vocês duas fizeram um complô ou algum tipo de combinado para me atormentar? Estou com uma ressaca horrível, a minha cabeça vai explodir e vocês aos gritos.
— Eu disse que você ficaria assim, ninguém torra o fígado num domingo sabendo que trabalha na segunda-feira.
Resmungo baixinho, sem vontade nenhuma de receber um sermão de uma pessoa tão irresponsável quanto eu. A minha cabeça latejando já é o sinal óbvio de que devia ter me acalmado na hora de beber ou talvez nem pensar em beber em primeiro lugar.
— Motivo da ligação, por favor — olho para o relógio já eram 06:10, com certeza o soninho foi descartado. — Vai falando, vou tomar banho.
Levanto e vou ao banheiro, andando devagar e quase tropeçando no vento. Tenho o costume de dormir apenas com as calças de pijama, mas acho que ontem estava realmente muito alto, porque dormi com a roupa que vesti para sair, uma calça jeans e uma camisa preta. Tudo está completamente amassado, inclusive a minha cara. O meu cabelo está completamente embaraçado.
— Acho que estou grávida… não… eu realmente estou grávida.
Eu simplesmente gelo. O meu corpo fica paralisado perante aquela notícia e sobe um arrepio da minha coluna até ao topo da cabeça. Como assim a minha Malia estava grávida de outro homem? Isso não está certo.
— Mal!? Você ouviu o que eu disse?
Não consigo formular nenhuma palavra. O meu cérebro decidiu me abandonar por completo, como se não tivesse passado anos estudando maneiras de aprimorar a minha comunicação em todas as situações.
Como devo reagir? Grito, desesperado, mostrando a minha vontade de quebrar os ossos do responsável por isso ter acontecido? Não posso fazer isso, apesar de querer muito. Finjo que estou feliz por ela, mostro a minha tristeza, fico exaltado? O que eu faço?
Vou deixar a parte da exaltação para quando terminar a chamada, assim não terei que dar explicações para ninguém. Incluindo Malia.
Malik — Lili, minha princesa, você tem a certeza? Você quer que eu vá para aí? Compro alguns testes e fazemos — eu suo frio e o meu reflexo no espelho mostra um homem com o olhar desesperado.Como é que eu não ficaria desesperado se ela está grávida de outro homem? Eu devia ser o pai dos filhos dela e não um qualquer. — Eu já fiz isso, Mal, três testes na verdade, todos deram positivo. Fiz até um mais aprimorado, que detalha as semanas e estou de 3 semanas — essa informação bate com o tempo que ela estava com um mal-estar constante — VOU TER UM BEBÉ!— Estou tão feliz por você, minha vida. Você já falou com o Connor?— Ainda não, tivemos mais uma discussão ontem e ele saiu de casa, mandou uma mensagem a dizer que dormiu na casa da mãe e que foi direto para o trabalho e eu fiz o teste agorinha. Você é o primeiro a saber, mas assim que ele chegar eu conto — ela fala com o tom tão triste, o meu coração fica apertado, essa mulher merece toda felicidade do mundo e não esse tormento. —
Malia O amor devia ser leve para todas as pessoas, não pesado, não incômodo e muito menos perturbador. Ele devia ser a melhor coisa para vida de todas as pessoas e não a que mais as destrói. Sempre sonhei com um amor leve, cheio de sinceridade e cumplicidade, daqueles que vemos nos filmes, e apesar de saber bem que na vida nem tudo são flores e as pessoas não são iguais, mas ainda acho que não é errado desejar viver um amor assim, um amor reconfortante, que aquece o peito e deixa o coração tranquilo. O amor devia mover pessoas, encher corações, devia ser igual para todos os envolvidos, não muito para uns e pouco ou nada para outros. Quando era mais jovem, pensava que todos relacionamentos eram iguais aos dos meus pais, pensava que todos amavam da mesma forma e do mesmo jeito, que dedicavam o seu tempo ao outro.Se passei toda a minha vida vendo o amor saudável dos meus pais, como vim parar nessa armadilha a qual estou presa até hoje? É tão devastador pensar que alguém que queria um
MaliaSe existe uma coisa que esse homem fez certinho foi ter entrado num ginásio, porque saímos de um Malik 1,98m magricela, para 1,98 m de puro músculo e testosterona. Ele já era perseguido antes de estar desse jeito, então tenho a certeza que aumentou o número de mulheres que querem ou ter algum relacionamento com ele ou somente um caso de uma noite, assim como aumentaram as que acham que sou namorada dele e até as que acham que estão em uma competição comigo, por pensarem que eu sou a amante assumida dele, isso mesmo, amante. Cruzes.— Perfeito, mais dinheiro para as nossas contas — ele diz isso com os braços para o alto como uma criança. Vem até mim e me abraça deixando um beijo na minha testa. — Sabe, minha vida, toda dor que sinto na coluna é por tua causa — ele sempre reclama, mas parar de beijar a minha testa não faz.— Simplesmente não sou culpada dos meus 1,67 e da tua mania de beijar a minha testa, meu filho — volto a abastecer as vitrines que era o que estava fazendo ante
Malia— E como foi o teu dia? — Pergunto quando ele termina de comer. Eu ainda estou na metade do meu prato.— Foram duas reuniões de manhã, uma com um autor que está no ranking de mais vendidos na amazon e tem tudo para dar certo na editora. Depois te passo o contato dele para que comecem a trabalhar — ele passou a mão no cabelo que deixou crescer nos últimos meses e fez permanente para que ele ficasse ondulado e olha para o telefone pousado na mesa. — A outra foi só para acertar o próximo romance que vamos lançar. O resto foi revisão atrás de revisão. Estou verdadeiramente cansado. — Então vamos embora, por favor, preciso descansar também — termino de comer, vendo ele arrumar as coisas para irmos embora.Quando entramos no carro, não me demoro a baixar o banco e puxar o meu tapa olho que está sempre guardado aqui no carro pra mim, é a maneira perfeita de descansar até chegar em minha casa. Noto as luzes acesas e sei que George está em casa, então hesito em sair do carro e Malik per
Malia“Você devia procurar uma clínica que fazer o aborto”“Encontrei na internet uma receita que vai nos ajudar a ficar livres dessa criança”“Conheci alguém que faz esse trabalho ao domicílio”Passei toda a semana ouvindo comentários desse género. Ele falava aquilo cada vez que cruzava comigo e tudo o que eu queria era me livrar dele. Queria que tudo aquilo acabasse. Por que preciso passar por isso? Por que não posso simplesmente ser feliz como outras mulheres grávidas são? Parece que é impossível isso acontecer para mim. Não houve nenhum dia em que a minha cabeça não latejou, tirando o meu foco de tudo o que devia fazer e me desconcertando muito mais. Os meus olhos arderam durante todos esses dias, me obrigando a passar água fria neles e até mesmo gelo. E no meio disso tudo, fiz o que sempre faço quando estou estressada, comprei livros. Quinze livros para ser mais exata, sei que vão me dar parte do descanso que preciso e pelo menos fazer com que a minha cabeça fique bem mais cal
MaliaA minha mãe entra no quarto com uma travessa de bolo de chocolate, e antes mesmo dela chegar, a minha barriga ronca e consigo sentir o bolo úmido se derreter na minha boca. Assim como acontece com todos os bolos dela. Quando cheguei, ela estava na cozinha, fazendo o bolo, afinal de contas, eles dois são velhos que adoram doce, formigas quase reformadas. Devia ligar para os rapazes e contar que tem bolo de chocolate, nós sempre lutamos por esse bolo quando éramos crianças e mesmo agora fazemos isso. Seria muito bom escutar o tom de voz deles perdendo o brilho, no momento que eu contasse tudo para eles. Pego na travessa com uma vontade imensa e como com uma colher, nem espero pelo prato que o meu pai foi pegar, é como pegar toda a minha infância e colocar numa travessa, que saudade desse bolo. — Mãe, acho que vou morar com vocês novamente, mas só se você fizer esse bolo todos os dias.Mesmo sem ver a minha boca, consigo sentir o quanto ela está suja, coberta pela cobertura mar
MalikAs meninas marcaram um brunch e podiam muito bem ter pago garçons, mas não, a mão de obra barata é sempre a melhor. Malia, Andreia e Teresa são amigas desde a universidade, Adam namora a Teresa desde o primeiro ano, e Thomas pediu a Andreia em namoro no ano passado, após anos na friendzone. Fiquei extremamente feliz vendo aquilo acontecendo com ele, afinal de contas pelo menos um que saiu de lá.Fomos obrigados a trabalhar como garçons não remunerados, com direito a roupas iguais, calça social preta, camisa preta e gravata laço rosa. Elas podiam ter pagado alguém, mas não, decidiram que seríamos nós, ao invés de nos chamarem para participarmos com elas. Quando chego a casa dos Hawthorne, pensando que teria que esperar que a Lili ficasse pronta, me deparo com ela na porta já pronta. Malia entra rápido no carro, mantendo um sorriso em seu rosto. O vestido rosa que ela usa vai até o meio das coxas grossas que tanto adoro, mesmo observando tudo à distância, sem poder tocar nelas.
MalikJá tive todo tipo de sonhos com essa mulher e não posso dizer que eram os mais puros e bem-intencionados. Na minha cabeça, já comi essa mulher em todas as posições possíveis, mas ficaria imensamente feliz se tudo acontecesse na vida real.O mais triste nisso tudo é olhar para ela e perceber que esse brilho tem se apagado pouco a pouco, que toda aquela essência maravilhosa e energia ilimitada estejam esgotadas. A cada dia que passa, ela se torna mais estranha, triste e meio vazia, e isso me mata aos poucos. Sempre acabou comigo. Não sei mais que artimanhas, truques, planos usar para que ela deixe esse idiota, que tudo o que faz é sugar a vida dela, a deixando exausta da vida e sem o brilho que ela costumava ter. E é justamente nesses momentos que penso no quanto ela seria feliz se estivesse comigo. Não confio naquele idiota para nada, e por causa disso faço questão de levá-la à casa sempre, tratar com muito carinho, mimá-la e sempre me esforço para que aquele idiota perceba que