Theo voltou e sentou-se no banco, recostando a cabeça no estofado e evitando me olhar. Percebi quando afrouxou um pouco a gravata e pareceu tenso.— Eu... Achei que já tivesse feito aquilo... Inúmeras vezes. — Ainda olhava para frente.— Não... Eu nunca tinha beijado. Fui um pouco atrasada nisto.— Pedi ajuda... Porque achei que...— Se eu soubesse o que fazer, não teria batido meus dentes nos seus... — Não consegui evitar o riso.Apesar da tensão, Theo começou a rir também.— Eu... Só espero que tenha de alguma forma podido lhe ajudar. E que tenha... Ensaiado, repetido e aprimorado. — Sorri.— Sim, professora. Acho que passei nesta lição.— Acho que eu vou precisar fazer o teste e dar a minha nota final.Os olhos dele se arregalaram na minha direção. Comecei a rir, sentindo meu corpo trêmulo:— Não achou que eu estava falando sério, não é mesmo?— Eu... Não sei. Nunca sei exatamente o que esperar de você.— O pior?— Não... Eu não quis dizer isto.Abri a porta do carro e saí, respira
— Ela nunca vai embora?— Vai todos os dias... E volta à noite.— Ela vai trabalhar ou vai para casa?— Um pouco de cada coisa. Ela não trabalha todos os dias. Só quando tem alguma sessão de fotos que a chamam.— Então vocês estão praticamente morando juntos?— Eu não vejo desta forma... Ao menos não até agora, com a sua pergunta.— Vai casar com ela?— Eu... Não sei. É meio recente.— E quando não for mais tão recente? Vai pedir a mão dela?— Eu... Não sei... — Ele pôs as mãos na cabeça, confuso.— Me desculpe, Theo. Não quis pressioná-lo.— Quem deveria estar fazendo esta pressão era ela e não você, Maria Lua.— Não vou mais fazer isso, prometo. Mas em troca, quero que me diga quando pensar em pedir a mão dela.— Por quê?Porque quero estar bem longe neste dia.— Porque sou sua irmã... E quero ser a primeira a saber. — Foi o que balbuciei, completamente diferente do que pensei.Assim que chegamos no apartamento dele, Theo passou a chave na porta e senti o cheiro de comida vindo da c
Nunca fui o tipo de pessoa de fugir de uma briga e preferir chorar no quarto. Sequei as lágrimas rapidamente, pondo a guia em Gatão. Saí do quarto e fui em direção à sala, percebendo que os dois discutiam.Eles pararam assim que me viram. Meus olhos foram na direção das partes íntimas de Theo e percebi que o botão de sua calça estava aberto e o zíper no meio do caminho... Ou não tinha dado tempo de deslizar até o final... Ou de subir, depois de já ter descido o suficiente.Não teve como eu disfarçar aquele olhar de curiosidade sobre o que tinha acontecido de fato naquela sala entre os dois. Málica perguntou, agora menos doce e gentil:— Já desfez suas malas? Ou ainda espera que eu faça isso? Está na hora de você entender que eu e Theo estamos juntos. E vamos nos casar. E sinceramente, jamais pensei ter que me explicar sobre isso a você. Cheguei a imaginar que pudesse ter problemas com sua mãe... Mas você? É só a irmã. Eu não sou empregada nesta casa. Só cozinho para agradar Theo, porq
Lembrei do quanto Theo era satisfeito por Málica cozinhar:— Será que sua esposa poderia me ensinar a fazer este frango? Eu posso pagar, é claro!— Não precisa pagar. — Ele riu novamente. — Madalena iria adorar ensiná-la.— Podemos marcar então?— Assim que você quiser. Eu trabalho um dia sim e dois não. Faço turnos de 24 horas.— Trabalha 24 horas de uma vez? Isso... É horrível. Eu sinto muito. Deve denunciar. Posso ajudá-lo a fazer isso. Talvez não compreenda muito bem, Greg, mas se chama “trabalho escravo” o que estão fazendo com você. Eu lamento muito e vou ajudá-lo, prometo.Ele riu:— Não é trabalho escravo. Eu gosto do que faço e a remuneração aqui é boa. Trabalho um dia e descanso dois.— Não é justo, Greg!Gatão pulou, pondo as patas nas minhas pernas, pedindo mais comida. Dei um dos pedaços da minha mão, dos guardados, para ele, que lambeu a boca depois de engolir.Olhei para a televisão novamente, atenta ao próximo concorrente e Gregory pôs o pote de frango na minha perna:
Abri os olhos com a sensação de sequer tê-los fechado em algum momento daquela noite. As batidas da cama na parede duraram bem pouco e se Theo gozava tão rápido jamais me satisfaria como mulher. Sempre achei que ele era um fraco, já que nem beijar sabia. Certamente fodia como um idiota tapado, beijando e dizendo coisas bonitas no ouvido, fazendo qualquer mulher perder o tesão, de tão doce e apaixonado que deveria ser. Por sorte eu gostava de homens que falavam obscenidades e que me faziam gozar várias vezes na mesma noite, e que sim, faziam a cama bater na parede, mas por horas e não minutos.Sempre achei que Dimitry era mais gostoso... E bom de cama. E... Que gostava de verdade de mim.Nem lembro que horas adormeci. Mas Gatão estava feliz ao meu lado, tanto que me lambeu a boca. Sorri e lhe disse:— Reze para conseguirmos um voo em breve, Gatão. E eu nem sei se aceitam cachorros no voo comum. E não quero ter que pedir para papai alugar um jatinho de novo. Vou me resolver sozinha.Meu
— Não... Não tem sido. Aliás, tem sido tudo, menos duro. Me pego pensando se você consegue... Ser duro. Afinal... Foram menos de dez minutos. Será que... Não conseguiu levantar? — Arqueei a sobrancelha, provocante.— Você não vale nada, raio de sol.— “Você está longe de ser meu raio de sol”! Lembra desta frase? Certamente não, porque você a disse e não a escutou. Acha que não tenho sentimentos? Que não bate um coração aqui? — Toquei meu peito. — Estou cansada de ser tratada desta forma por você.Theo passou a mão no rosto, nervosamente. Depois pegou meus ombros e se aproximou a ponto de nossos narizes quase se tocarem. Nossos olhares ficaram fixos um no outro e então ele perguntou:— O que você quer de mim? — A voz dele foi fraca e quase gentil. — Me... Enlouquecer?Não falei nada. Fechei os olhos e comprimi meus lábios, interiormente rezando para Deus me conter. A ponta do nariz dele finalmente tocou o meu e o senti, tão perto como não estivemos há muito tempo. As mãos de Theo desce
Quando percebi, estava tomando banho pela segunda vez em menos de uma hora. Gatão me observava pelo box de vidro, parecendo entender o que se passava comigo.Abri a porta de vidro e convidei:— Ei, Gatão, que acha de tomar um banho?Ele me ignorou por completo, virando o rosto e fazendo menção de sair. Corri e o puxei pela guia, o trancando comigo. Retirei a coleira e o coloquei sob a água morna. No início o cachorrão resistiu. Mas depois percebeu que um banho não era tão ruim assim. Principalmente quando regado a shampoos e cremes condicionadores de qualidade.— Este shampoo é para deixar o loiro menos amarelado e dá brilho... — Passei por seus pelos o líquido viscoso e que já fazia bolhas enormes. — Nossa tonalidade é parecida... A diferença é que o meu é artificial e o seu natural. — Observei os fios brancos acinzentados dele.Passado o banho, Gatão foi para o secador. Como ele era gigantesco, demorei mais tempo que o previsto. Quando terminei de me vestir novamente, com uma roupa
Engoli em seco. Como ele me maltratava com as palavras. Será que Theo sabia o quanto aquilo me feria? Eu chegava a pensar que doía mais do que dor física.Respirei fundo e mirei na direção da parede envidraçada que mostrava a paisagem ensolarada do dia que fazia lá fora. Eu poderia estar em tantos lugares... E minha escolha era estar ao lado dele. E por algum motivo, mesmo sabendo que deveria partir, eu não conseguia. Era como se minhas pernas se recusassem a deixar aquele lugar, aquele apartamento minúsculo, aquela vida tão cheia de limitações.— O que quer que eu faça hoje, chefe? — Sorri, tentando me acalmar.Lidar com Málica não seria fácil. Ela se fazia de vítima e como sempre fui taxada de forte e insensível, estava em desvantagem. Era hora de contra-atacar.— Podemos sentar e eu lhe mostrar o projeto da venda das maquiagens e cosméticos nas farmácias e drogarias? — sugeriu.— Claro!Fomos para sala dele e comecei a ouvir suas ideias e projetos já montados. Vê-lo tão empolgado,