Juan Carlos As duas saíram da cozinha, deixando para trás um silêncio cheio de significados, e eu fiquei ali, imóvel, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Lavei a louça mecanicamente, enquanto minha mente vagava em círculos, repetindo as cenas do dia. Rosa... Nina... O que tudo isso realmente significava?Quando terminei, meus passos me levaram, quase inconscientemente, até o quarto de Nina. Parei na porta e, sem querer interromper, observei as duas em um momento que parecia fora do tempo, como se ali, naquele instante, nada mais no mundo importasse.Rosa estava sentada na cama, cantando suavemente para Nina, sua voz era pura ternura, cheia de uma doçura que parecia acalmar até as tempestades mais ferozes dentro de mim.— Meu anjinho, meu anjinho... — Rosa cantava, sua voz tão delicada, tão cheia de amor, que me fez questionar como alguém poderia não se apaixonar por ela, por essa alma tão generosa.Nina, já quase entregue ao sono, murmurou com uma voz tão pequena e inoc
Demorei a conseguir dormir naquela noite. Passei horas olhando para as fotos que tirei à tarde, mas uma em especial me encantou: uma em que eu estava com a Nina. A imagem capturava um instante de pura felicidade, como se naquele momento nada mais no mundo importasse. A expressão de alegria dela iluminava a foto, e me peguei sorrindo sozinha. Sem pensar duas vezes, coloquei-a como papel de parede do meu celular. Era como ter um pedacinho de amor sempre comigo.Essa menina me encanta em todos os sentidos. Faz tanto tempo que não me sinto amada, que não sinto que pertenço a algum lugar. Mas, com ela, tudo parece diferente. Nina me olha como se eu fosse essencial, como se eu fizesse parte do mundo dela. E isso assusta. Porque eu sei que ela não é minha, mas meu coração se recusa a aceitar.Mais tarde, recebi uma ligação da Ramona. Ela queria me contar sobre o dia dela, algumas coisas da escola, e acabamos conversando por horas. No meio do papo, contei sobre Juan e Nina, e até mencionei Ch
ROSAO dia estava agitado, mas nada superava a alegria de ver Nina tão feliz e animada.- Mamãe, tem mais papel, por favor? - ela pediu, desviando o olhar para mim por um instante antes de se voltar para seu desenho.Sorri e peguei uma folha para ela, observando enquanto sua mãozinha desenhava com concentração. Ele olhou para ela e depois para mim, seus olhos refletindo um brilho curioso.Nina tem os cabelos lisos e uma franjinha que emoldura seu rostinho delicado. Loira, com os olhos verdes idênticos aos da minha mãe, ela não se parece muito comigo fisicamente, mas o vínculo entre nós é inegável. O amor que nos une é visível em cada gesto, em cada toque.A aula transcorria normalmente, até que ele se aproximou para ver o desenho de Nina. Eu não conseguia acreditar que ele era meu professor. Como ele não me disse nada?- Que desenho bonito! - ele elogiou, se abaixando ao lado dela.Nina sorriu, orgulhosa de sua criação.No papel, havia duas casas, cada uma com dois bonecos dentro. No
Juan Carlos A porta se abriu, e meu coração acelerou antes mesmo que eu pudesse entender o porquê. Era só a Rosa, minha vizinha, minha amiga. Mas, ainda assim, quando a vi ali, tão arrumada, tão linda, senti algo apertar dentro de mim. O perfume dela invadiu o ar entre nós, doce e quente, e antes que eu pudesse processar qualquer pensamento, ela se inclinou e depositou um beijo leve na minha testa.Foi rápido. Um toque fugaz de lábios contra minha pele. Ainda assim, fez meu estômago revirar de um jeito que não fazia sentido. Mas qualquer ilusão que meu corpo estivesse tentando criar desmoronou com as palavras dela:— Somos só amigos.Uma frase simples, mas que soou como uma flecha certeira. Uma flecha envenenada.Antes que eu conseguisse reagir, Rosa sorriu e passou por mim, indo embora para o que, sem dúvida, parecia um encontro. O vestido justo, os cabelos perfeitamente arrumados, o perfume marcante... Sim, ela estava saindo para ver alguém que definitivamente não era "só um amigo"
Juan Carlos Acordei um pouco mais tarde do que o normal, e a primeira coisa que vi ao sair do quarto foi Nina sentada no sofá, concentrada no desenho que passava na televisão. Ela nem percebeu minha presença até que depositei um beijo suave em sua testa.— Bom dia, princesa.Ela sorriu sem desviar os olhos da tela, claramente envolvida na animação. Fui direto para a cozinha preparar o café da manhã. Fiz panquecas, porque sabia que ela adorava, e voltamos para a sala para comer juntos. O apartamento estava silencioso, e, por algum motivo, senti a ausência de Rosa.Era estranho pensar assim, porque, afinal, ela não morava aqui. Mas, de alguma forma, nos últimos tempos, ela tinha se tornado uma presença constante em nossas vidas.Depois do café, dei um banho na Nina e tomei o meu. Nos arrumamos e saímos para almoçar em um restaurante próximo ao condomínio. Foi um momento tranquilo, apenas eu e ela, e, como sempre, minha filha tagarelava sem parar.— Papai, sabia que a mamãe me falou que
Rosa FernandezO amor que eu sinto pela Nina... não sei explicar. Não é apenas um afeto ou carinho, é algo que toma conta de mim, como se estivesse gravado na minha alma. E quanto mais tento me afastar desse sentimento, mais ele se enraíza.Ela é minha. Eu sei que não deveria pensar assim, mas não consigo evitar.Saí do quarto, ainda perdida nesses pensamentos, e levei um pequeno susto quando ouvi a voz de Juan.— Amei a história.Coloquei a mão no peito, tentando acalmar os batimentos acelerados.— Não sabia que você estava aí — murmurei, caminhando até a sala. Ele me seguiu, parecendo hesitante.— Vou deixar a porta aberta para você sair com mais facilidade — avisou.— Certo... — inspirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. Mas eu não era boa nisso. Então, deixei sair tudo de uma vez, sem filtro. — Juan, ontem, quando saí, acabei confirmando o que eu já sentia... que a Nina é minha filha. Sei que deveria ter te contado a verdade, mas eu não consegui. Eu sei que, no papel,
RosaO despertador vibrou discretamente ao meu lado, e eu abri os olhos devagar. O quarto ainda estava escuro, mas minha mente já estava desperta, tomada por uma inquietação familiar.Hoje não era um dia qualquer.Passei a mão pelo lençol antes de alcançar minha prótese, sentindo o peso frio do metal contra a pele. Mesmo depois de anos, a primeira coisa que fazia todas as manhãs era sentir a ausência.Mas hoje não era dia para me prender a isso.Levantei-me, ajustando a prótese com movimentos rápidos e precisos. Peguei minha bolsa e saí para o apartamento de Juan. O ar da manhã estava fresco, e a rua ainda silenciosa, como se o mundo inteiro estivesse respirando fundo antes de um grande momento.A porta estava encostada, como sempre. Entrei sem fazer barulho, e o ambiente familiar me acolheu. A mesa da sala ainda tinha alguns brinquedos espalhados, e um cobertor infantil estava esquecido no sofá. Pequenos detalhes que me lembravam que, por mais que eu tentasse manter o controle, minha
Rosa Fomos andando com a Nina no meio de nós dois. O caminho até a escola era curto, e a brisa da manhã parecia mais fria contra minha pele do que o normal. Talvez fosse o nervosismo. Meu primeiro dia como professora naquela escola e, apesar da experiência, uma insegurança antiga me rondava. Mantive a postura firme, como se fosse apenas mais uma manhã comum.Quando chegamos ao portão da escola, abaixei-me para dar um beijo na testa da Nina. Juan, sempre com seu jeito protetor, segurou minha mão e a beijou de leve, como se quisesse me passar confiança.— Meu amorzinho, preciso ir até a diretoria primeiro. Você e o Juan vão para o pátio descobrir em qual turma você ficou. Eu te amo muito. — Depositei mais um beijo nela, tentando esconder o aperto no peito.— Boa sorte, Rosa. — Juan me lançou um sorriso de lado e soprou um beijo no ar. — Vai dar tudo certo. Você é ótima, tenho certeza de que vai se dar bem com seus alunos. E, por favor, se acontecer qualquer coisa, me ligue.— Obrigada.