ROSAO dia estava agitado, mas nada superava a alegria de ver Nina tão feliz e animada.- Mamãe, tem mais papel, por favor? - ela pediu, desviando o olhar para mim por um instante antes de se voltar para seu desenho.Sorri e peguei uma folha para ela, observando enquanto sua mãozinha desenhava com concentração. Ele olhou para ela e depois para mim, seus olhos refletindo um brilho curioso.Nina tem os cabelos lisos e uma franjinha que emoldura seu rostinho delicado. Loira, com os olhos verdes idênticos aos da minha mãe, ela não se parece muito comigo fisicamente, mas o vínculo entre nós é inegável. O amor que nos une é visível em cada gesto, em cada toque.A aula transcorria normalmente, até que ele se aproximou para ver o desenho de Nina. Eu não conseguia acreditar que ele era meu professor. Como ele não me disse nada?- Que desenho bonito! - ele elogiou, se abaixando ao lado dela.Nina sorriu, orgulhosa de sua criação.No papel, havia duas casas, cada uma com dois bonecos dentro. No
Juan Carlos A porta se abriu, e meu coração acelerou antes mesmo que eu pudesse entender o porquê. Era só a Rosa, minha vizinha, minha amiga. Mas, ainda assim, quando a vi ali, tão arrumada, tão linda, senti algo apertar dentro de mim. O perfume dela invadiu o ar entre nós, doce e quente, e antes que eu pudesse processar qualquer pensamento, ela se inclinou e depositou um beijo leve na minha testa.Foi rápido. Um toque fugaz de lábios contra minha pele. Ainda assim, fez meu estômago revirar de um jeito que não fazia sentido. Mas qualquer ilusão que meu corpo estivesse tentando criar desmoronou com as palavras dela:— Somos só amigos.Uma frase simples, mas que soou como uma flecha certeira. Uma flecha envenenada.Antes que eu conseguisse reagir, Rosa sorriu e passou por mim, indo embora para o que, sem dúvida, parecia um encontro. O vestido justo, os cabelos perfeitamente arrumados, o perfume marcante... Sim, ela estava saindo para ver alguém que definitivamente não era "só um amigo"
Juan Carlos Acordei um pouco mais tarde do que o normal, e a primeira coisa que vi ao sair do quarto foi Nina sentada no sofá, concentrada no desenho que passava na televisão. Ela nem percebeu minha presença até que depositei um beijo suave em sua testa.— Bom dia, princesa.Ela sorriu sem desviar os olhos da tela, claramente envolvida na animação. Fui direto para a cozinha preparar o café da manhã. Fiz panquecas, porque sabia que ela adorava, e voltamos para a sala para comer juntos. O apartamento estava silencioso, e, por algum motivo, senti a ausência de Rosa.Era estranho pensar assim, porque, afinal, ela não morava aqui. Mas, de alguma forma, nos últimos tempos, ela tinha se tornado uma presença constante em nossas vidas.Depois do café, dei um banho na Nina e tomei o meu. Nos arrumamos e saímos para almoçar em um restaurante próximo ao condomínio. Foi um momento tranquilo, apenas eu e ela, e, como sempre, minha filha tagarelava sem parar.— Papai, sabia que a mamãe me falou que
Rosa FernandezO amor que eu sinto pela Nina... não sei explicar. Não é apenas um afeto ou carinho, é algo que toma conta de mim, como se estivesse gravado na minha alma. E quanto mais tento me afastar desse sentimento, mais ele se enraíza.Ela é minha. Eu sei que não deveria pensar assim, mas não consigo evitar.Saí do quarto, ainda perdida nesses pensamentos, e levei um pequeno susto quando ouvi a voz de Juan.— Amei a história.Coloquei a mão no peito, tentando acalmar os batimentos acelerados.— Não sabia que você estava aí — murmurei, caminhando até a sala. Ele me seguiu, parecendo hesitante.— Vou deixar a porta aberta para você sair com mais facilidade — avisou.— Certo... — inspirei fundo, tentando encontrar as palavras certas. Mas eu não era boa nisso. Então, deixei sair tudo de uma vez, sem filtro. — Juan, ontem, quando saí, acabei confirmando o que eu já sentia... que a Nina é minha filha. Sei que deveria ter te contado a verdade, mas eu não consegui. Eu sei que, no papel,
RosaO despertador vibrou discretamente ao meu lado, e eu abri os olhos devagar. O quarto ainda estava escuro, mas minha mente já estava desperta, tomada por uma inquietação familiar.Hoje não era um dia qualquer.Passei a mão pelo lençol antes de alcançar minha prótese, sentindo o peso frio do metal contra a pele. Mesmo depois de anos, a primeira coisa que fazia todas as manhãs era sentir a ausência.Mas hoje não era dia para me prender a isso.Levantei-me, ajustando a prótese com movimentos rápidos e precisos. Peguei minha bolsa e saí para o apartamento de Juan. O ar da manhã estava fresco, e a rua ainda silenciosa, como se o mundo inteiro estivesse respirando fundo antes de um grande momento.A porta estava encostada, como sempre. Entrei sem fazer barulho, e o ambiente familiar me acolheu. A mesa da sala ainda tinha alguns brinquedos espalhados, e um cobertor infantil estava esquecido no sofá. Pequenos detalhes que me lembravam que, por mais que eu tentasse manter o controle, minha
Rosa Fomos andando com a Nina no meio de nós dois. O caminho até a escola era curto, e a brisa da manhã parecia mais fria contra minha pele do que o normal. Talvez fosse o nervosismo. Meu primeiro dia como professora naquela escola e, apesar da experiência, uma insegurança antiga me rondava. Mantive a postura firme, como se fosse apenas mais uma manhã comum.Quando chegamos ao portão da escola, abaixei-me para dar um beijo na testa da Nina. Juan, sempre com seu jeito protetor, segurou minha mão e a beijou de leve, como se quisesse me passar confiança.— Meu amorzinho, preciso ir até a diretoria primeiro. Você e o Juan vão para o pátio descobrir em qual turma você ficou. Eu te amo muito. — Depositei mais um beijo nela, tentando esconder o aperto no peito.— Boa sorte, Rosa. — Juan me lançou um sorriso de lado e soprou um beijo no ar. — Vai dar tudo certo. Você é ótima, tenho certeza de que vai se dar bem com seus alunos. E, por favor, se acontecer qualquer coisa, me ligue.— Obrigada.
RosaSaí da escola exausta. O dia tinha sido longo, e o peso do cansaço pressionava meus ombros. Mas assim que entrei na sorveteria e os vi sentados na nossa mesa, alguma coisa dentro de mim se acalmou. Como se, mesmo sem perceber, eu estivesse prendendo a respiração o dia inteiro e só agora conseguisse soltar o ar.Cheguei por trás devagar, observando os dois sem ser notada por alguns segundos.A cena diante de mim era estranha e, ao mesmo tempo, acolhedora. Nina, com as perninhas balançando de um lado para o outro, falava animadamente sobre algo para Juan, que, embora parecesse meio perdido na conversa, sorria e concordava com tudo que ela dizia. Era... confortável demais para algo que não era real.Isso me assustava.Ainda assim, não consegui conter o sorriso. Ver eles depois de um dia cansativo me trazia uma luz, uma felicidade que nem sei explicar direito. Era como se existisse um fio invisível me puxando para perto deles. Um laço antigo.— Oi, meus amores — falei, e Nina imediat
Juan Carlos HernándezA semana passou rápido, e quando percebi, já era sexta-feira. Desde que o cirurgião Martins voltou das férias, ele tem tentado assumir todas as cirurgias, como se fosse o único médico capacitado do hospital. Além disso, sua arrogância quase me tira do sério. Estou à beira da loucura com esse cara.Tive que levar ao hospital os papéis do cartório, o que para meus chefes foi uma verdadeira carta branca para me sobrecarregarem com plantões. Afinal, para eles, agora eu sou "casado", mesmo que isso esteja longe de ser verdade.Após uma cirurgia bem-sucedida, me vi preso em mais um plantão noturno. Liguei para o colégio e, em seguida, para Rosa. Falando nela, parece que ela está quase namorando aquele cara. Ou pelo menos eu acho, já que ele a convida para sair o tempo todo. Não posso dizer que estou confortável com isso, mas não há nada que eu possa fazer. No fim das contas, a nossa união estável não passa de um papel – um que meu advogado sabe exatamente como usar par