Juan Carlos Quando voltei à sala de jantar, fui recebido por uma cena que tocou meu coração. A mesa estava lindamente posta, cada detalhe preparado com tanto cuidado. Sentei-me com Nina e Rosa, mas meus olhos não conseguiam se desviar da alegria estampada no rosto da minha filha. Ela não parava de falar sobre sua nova amiga, seus olhos brilhando de entusiasmo. Meu peito se encheu de uma felicidade serena, uma alegria simples, mas profunda, ao ver minha menina tão animada.Depois que terminamos o jantar, Nina correu para assistir a um filme, e Rosa me acompanhou até a cozinha. A tensão entre nós era palpável, algo não dito pesando no ar, e eu sabia que o momento da conversa que tanto temi havia chegado.Ficamos de frente um para o outro, e eu vi nos olhos de Rosa uma mistura de emoções. Ela estava tentando se manter forte, mas eu podia sentir o turbilhão que rodopiava dentro dela.— Acho que precisamos conversar sobre a minha filha — comecei, a voz saindo mais baixa do que eu pretendi
Juan Carlos As duas saíram da cozinha, deixando para trás um silêncio cheio de significados, e eu fiquei ali, imóvel, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Lavei a louça mecanicamente, enquanto minha mente vagava em círculos, repetindo as cenas do dia. Rosa... Nina... O que tudo isso realmente significava?Quando terminei, meus passos me levaram, quase inconscientemente, até o quarto de Nina. Parei na porta e, sem querer interromper, observei as duas em um momento que parecia fora do tempo, como se ali, naquele instante, nada mais no mundo importasse.Rosa estava sentada na cama, cantando suavemente para Nina, sua voz era pura ternura, cheia de uma doçura que parecia acalmar até as tempestades mais ferozes dentro de mim.— Meu anjinho, meu anjinho... — Rosa cantava, sua voz tão delicada, tão cheia de amor, que me fez questionar como alguém poderia não se apaixonar por ela, por essa alma tão generosa.Nina, já quase entregue ao sono, murmurou com uma voz tão pequena e inoc
"Rosa"— Rosa, Rosa — ouvi gritos estridentes e pancadas na porta que faziam as paredes do meu minúsculo quarto estremecerem.Quem me vê neste quarto, onde só cabe uma cama de solteiro e eu muitas vezes tenho que ficar curvada para não bater a cabeça, já que fica debaixo da escada, pensaria que sou pobre ou vivo de favor neste lugar. Mas a verdade é que tudo nesta casa é meu, e o lugar é muito grande, tem seis quartos. Porém, minha avó não me deixa dormir no andar superior; na verdade, ela nem gosta quando fico aqui.Saí do meu cubículo com cuidado, não podia fazer barulho e não queria bater a cabeça novamente, muito menos cair.— Finalmente você acordou — minha avó falou, já toda elegante.— Desculpa, eu fui dormir um pouco mais tarde...— Só espero que não tenha ido falar com um namoradinho. Você sabe que nenhum homem vai te amar. Afinal, quem vai querer namorar uma assassina e uma deficiente? — ela falou e me empurrou, fazendo-me cair.— Vovó! — Ramona gritou de cima da escada e ve
RosaFui diretamente falar com o meu advogado e tive uma ótima notícia: finalmente consegui mudar os laudos que minha avó tinha feito, dizendo que eu não tinha capacidade de cuidar do meu próprio dinheiro.Finalmente saiu o resultado da minha pós-graduação. Eu queria estudar no México, onde morei há alguns anos e sou apaixonada, mas acho que chegou a hora de voltar para minhas raízes. Estou tentando voltar para Buenos Aires.Eu nem acreditei quando vi que consegui a vaga.— Parabéns, Rosa — disse meu professor Gabriel, com os olhos brilhando de orgulho. — Você conseguiu a vaga, e a concorrência estava acirrada.— Obrigada, professor. Nem acredito que vou voltar para a Argentina — falei, tentando conter as lágrimas de emoção que ameaçavam cair. Meu coração batia acelerado, uma mistura de excitação e alívio.— Sei que você está bem empolgada, e é muito bom te ver sorrir. Eu sei que você só fez trabalhos como estagiária, e você precisa de vivência em sala de aula. Por isso, te indiquei p
Juan CarlosEstava colocando minha filhinha para dormir.— Não esqueça o bichinho — falei, pegando o elefante de pelúcia que ela tem desde que estava na barriga. Comprei quando soube que seria pai, e a Nina adora ele. São inseparáveis.— Papito, eu não estou com sono, e também não quero viajar amanhã — ela choramingou.— Meu anjinho, o papito já te explicou várias vezes que temos que ir. O papai vai trabalhar lá agora — falei, e ela fez bico e sentou, cruzando os braços.— Mas e se a mamãezinha voltar e eu não estiver aqui? Eu sonhei com ela ontem e ela falou que não falta muito para nos encontrarmos. Por favor, papito, fica aqui, por favor — ela pediu com aqueles olhinhos lindos, e me dói vê-la assim.— Filha, já está na hora de dormir — falei, depositando um beijo na testa dela, e a deitei e a cobri.Fiquei fazendo carinho na cabeça dela até ela adormecer.Saí do quarto; a casa já está quase toda vazia. Tem apenas umas caixas e as malas. Estávamos dormindo em colchões no chão.Termi
RosaEu estava encantada com aquela menininha. Como eu podia sentir algo tão grande por um ser que eu nem conhecia direito? Seus olhos brilhavam como estrelas, e seu sorriso era uma luz em meio à minha noite.No elevador, ela segurou na minha mão e sorriu para mim, e eu sorri de volta para ela. Seu toque era quente e reconfortante, como se já nos conhecêssemos há muito tempo.— Então, Rosa, qual é o seu apartamento? — ele me perguntou com um sorriso brincalhão que fazia suas rugas de expressão ficarem ainda mais evidentes.No condomínio, há 15 andares, e apenas dois apartamentos por andar, o que torna os apartamentos espaçosos e privados, quase como pequenas casas suspensas.Saímos juntos do elevador, e ajudei-o com a Nina, que estava segurando na minha mão. Pelo visto, ela não queria me soltar, e eu também não queria me despedir deles. Porém, minha perna estava doendo demais, e eu só queria ir para o meu apartamento, tirar esta roupa e a prótese que me apertava a cada passo.— O meu
Juan Carlos HernandezÀ noite, Nina demorou a dormir, mas não mencionou a mãe. Ela estava muito empolgada e me ajudou a tirar os panos dos móveis e arrumar seu quartinho. Quando finalmente deitamos, já era de manhã, e ela nem queria dormir, queria falar com a nossa vizinha. Não sei o que essa mulher tem de tão mágico.Nina sempre foi muito tímida e não costuma falar com estranhos, mas com a vizinha, tudo fluiu tão naturalmente, como se ela tivesse superpoderes, um toque de magia. Há algo nela que eu não consigo explicar.Acabei dormindo com Nina às cinco e meia da manhã, e nós acordamos às dez. Já sabia que seria uma briga tirá-la de casa.— Papito, não quero ir para o hospital — disse, cruzando os braços e fazendo bico enquanto eu escolhia sua roupa.Ela, que vivia no hospital quando era menor, agora não gosta muito. Provavelmente não terei uma filha médica.Mas hoje nem vamos ao hospital. Tenho uma lista de coisas a fazer antes de começar a trabalhar.— Meu amorzinho, nós não vamos
Rosa FernandezEu queria tanto vir a este lugar. Quando paramos na porta, meus olhos se encheram de lágrimas. A saudade bateu forte e Juan Carlos notou minha emoção, sorriu para mim.Não sei por que os trouxe até aqui, mas quando estou com eles, sinto-me mais forte, mais segura. Mesmo com muita saudade, tenho medo de não encontrar as pessoas certas. O lugar parecia exatamente como me lembrava: a sorveteria ainda tinha o mesmo cheiro doce de baunilha e morango misturados, as cadeiras de madeira envernizada onde costumávamos sentar.Assim que entramos, confirmei meus sentimentos. Realmente deveria estar ali. Nem sabia o quanto sentia saudades até entrar naquele lugar e as lembranças me invadirem. Até o cheiro era igualzinho.— Estão prontos para experimentar o melhor sorvete de suas vidas? — disse, sorrindo.Pude ver meu avô Augustin; ele estava exatamente como me lembrava. Com seus cabelos brancos como a neve e o sorriso gentil que sempre acolhia a todos. Como não adotou meu pai legalm