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TU TE TORNAS ETERNAMENTE

prisioneiro daquilo que não resolve!

LUCIEN GIORDANNO

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O caminho até a casa deles foi longo devido ao trânsito e passei boa parte dele firmando minha fé em pedir à virgem Maria para cuidar do Bento e a Deus para que encontrasse uma boa loja.

Quando cheguei meu pai estava varrendo em frente à mercearia e sorri pela lembrança nostálgica desse lugar. Vim para cá ainda na infância e varria essa frente junto a ele todas as manhãs.

Buzinei me anunciando e com um olhar curioso se aproximou me levando a abaixar o vidro.

— Pela cara não conseguiu nada! — neguei com a cabeça — Vem pra cá, use os fundo para fazer sua fabricada, ragazzo.

— Não, quero algo meu, sai de casa a tantos anos, não será agora que tenho filhos que mudarei isso.

— Pera lá! Não tem isso aqui não Lucien, assim você me ofende!

— Pai, você e a mama me deram uma boa educação e por isso não voltarei para casa. Sei cuidar da minha família, meus filhos são tudo para mim e não quero dar a eles o exemplo de que se não conseguir nas primeiras tentativas tenho que voltar correndo para seus pais! O caminho não é fácil e se eu fizer isso justo agora eles desistiram sempre no primeiro empecilho — ele se afastou e abriu a garagem para mim.

Estacionei e não demorou a aparecer perto do meu carro.

— Quando as coisas apertaram vocês dois não voltaram para casa do meu nonno e naquele momento entendi que momentos difíceis são necessários. — comuniquei saindo do carro e indo lhe dar um abraço.

— Meu filhos…

— E mulher, não esqueça da Vanuza. — respirei profundamente — Não faça assim.

— Não temos nada a anos, ela é a mãe dos meus filhos. — vi que minhas palavras não lhe agradaram muito — Não me olhe desse jeito, não existe amor faz tempo, os meninos farão sete anos em breve e tudo que ouço e a Vanuza gritando com eles, e a situação chega a ser pior com Bento e o senhor sabe disso.

— Não entendo, no casamento fizeram lindos votos o que mudou.

— Não sei, fiz de tudo para não perder minha esposa, mas em algum momento era só eu por nós dois. Você tem a maior sorte do mundo de ter a dona Valquíria como esposa. Vi nosso barco fura e você rema e ela tira a água com o balde. No meu caso percebi que remar sozinha cansa e antes que o barco afunde e leve meus filhos para o fundo escuro de um mar emocional colocarei eles e a bu nas costas e vou nadar até a beira da praia, afinal. — comuniquei seguindo para a cozinha encontrando minha mãe de orelha em pé e sei que escutou nossa conversa — Bença, mãe!

— Deus te abençoe e a virgem Maria também. — beijou meu peito me abraçando como dava — senta, tem ravioli.

— Estou sem fome, tomarei um banho. — segui sem dar a chance de ter os dois me dizendo que casamento é para a vida toda.

No pequeno banheiro passei quase uma hora debaixo da água quente tentando não desistir de vir de vez para Roma, amo Monza, meus filhos tem uma boa escola, tenho uma casa boa, pequena, porém boa e a minha fábrica a poucos passos de casa.

A lembrança me fez recordar que tenho que voltar à produção.

— Logo chegara os galões de leite e se pudesse compraria algumas vacas, ovelhas e búfalas. — sorri com a hipótese — Minha casa é pequena, mas o terreno é vasto e pega dois quarteirões inteiros, posso dividir e ter meus rebanhos e tornar minha micro empresa em algo grande que gerará mais emprego.

Deixei a água quente cair sobre minha cabeça idealizando um nível de produção totalmente centrado dentro dos meus cuidados. Divaguei por mais alguns minutos até seguir para o jantar que foi em silêncio, o que me levou a pensar na ligação com a Vanuza!

— Merda! Tenho que ir para casa. — murmurei.

— Falou comigo? — neguei para minha mãe — Que cara é essa?

— Tenho que dar uma saída, não me esperem. — me levantei e meu pai segurou meu braço — tenho que ir?

— Para onde? — disse que casa — Porque isso agora?

— Saudades dos meus filhos.

— Chegará de madrugada, fiquei e vá, pela minha! — neguei — Porque essa teimosia?

— Tenho que ir, não ligue para Vanuza ou as crianças, quero fazer uma surpresa e preparar um café da manhã para minha família.

— Tome, leve esses pães e frutas. — disse que não precisava — faça isso ou nem sairá de casa.

— Ok, me dê isso aqui, tenho que ir agora que cheguei lá às três da manhã, farei tudo com carinho, estou morrendo de saudades dos meus filhos. — minha mãe tentou me convencer a ir amanhã, mas disse que iria hoje que eles não poderiam me impedir.

Entrei no carro, abasteci e não demorou muito para estar seguindo para casa.

— Vanuza está aprontando alguma coisa, nosso casamento é um pé de guerra sem fim, desde que as crianças nasceram. — preocupado com a Buuh acelerei assim que entrei na rodovia — Se ela fizer alguma maldade com essa cachorra Bento ficará arrasado. 

Minha preocupação com essa cachorra e meu filho está me deixando inquieto e preciso chegar a tempo de procurar por ela, pois sei que fez alguma maldade com a bichinha.

— Essa mulher está fazendo alguma coisa, espero que não esteja batendo no Bento de novo. — senti minha pele formigar só com a lembrança. 

Depois de uma longa viagem, finalmente estou de volta em casa. O receio dela ter batido no bento ou feito o que prometeu com a Buuh, me deixou preocupado.

Deixei meu carro na entrada de modo a não fazer barulho e entrei sorrateiramente em nossa casa, tentando não ser anunciado. A escuridão me envolve enquanto subo as escadas. Meu coração está acelerado, uma mistura de ansiedade e temor me envolveu. Abri a porta do quarto das crianças e os três dormem juntos na cama do Bento.

— Merda! Cadê a Buuh? — entrei e com duvida se estava ou não com eles me aproximei — Benicio?

Alisei os cabelos do meu filho que estava na ponta quase caindo e quando seus olhos vermelhos me encontraram sabia que algo tinha acontecido.

— Papai! — pedi que não falasse alto.

— Cadê a Buuh? — disse que não sabe — O que aconteceu?

— Mamãe brigou com o Bento e o Inácio por tentar esconder…

— Bateu? — fez que sim.

— A gente cuidou do Bento… — sua voz de choro me deixou péssimo — estamos de castigo e Bento ficou dizendo que era culpa dele, ele ficou daquele jeito… abraçamos para não se machucar, mas se machucou igual da outra vez… eu tentei papai, Inácio também.

— Vocês foram incríveis, estou orgulhoso — beijei a cabeça dele —, volte a dormir, amanhã você tem aula. — cobri os três e sai do quarto. 

Ia atrás da Buuh, mas um barulho familiar chamou minha atenção e fui ao meu quarto. Empurrei levemente a porta deixando-a entreaberta e meus olhos são recebidos por uma cena que me deixa congelado.

Permaneço ali somente tempo o suficiente para constatar que é Tenório, um dos meus funcionários. O choque me paralisa por um momento, incapaz de processar o que meus olhos estão testemunhando.

Observo-os por mais alguns segundos, esperando que tudo seja apenas uma imaginação da minha cabeça.

Silenciosamente, dou meia-volta, desço e me sento no sofá sem fazer um som sequer. A madrugada passou comigo idealizando uma maneira de ficar com meus filhos e mandar essa mulher para fora da minha vida, casa e tudo que me cerca.

— Se desejava antes o fim desse casamento, agora mesmo que não aturarei mais essa situação. — o dia estava clareando quando os três desceram arrumados para irem para a escola.

O ônibus passa às seis e quarenta e meu relógio marca as seis em ponto. Mirei meus filhos e o rosto do Bento possui uns vergões vermelhos, devido suas crises e em silêncio vieram me abraçar.

— Bom dia, queria conversar com vocês — os três se amontoaram em meu colo — saibam que meu amor por cada um não tem limites e por hora não sei ao certo como será, mas o casamento acabou e provavelmente sua mãe dará um jeito de fazer alguma loucura. Saibam que será por pouco tempo, em breve vocês voltaram para casa. 

— Não! — o grito do Bento me fez abraçar os três com força.

— Prometo que será por pouco tempo, confia no pai. — beijei a cabeça dos três — Vocês sabem que não quebro uma promessa. — me levantei e fui com eles para a cozinha. 

Fiz o café deles e nada dos dois lá em cima desceram e prefiro assim. Bento volta e meia chora e sei que é saudades da Buuh.

— Vou procurar a Buuh, quando chegarem ela estará aqui.

Bento agradeceu à sua maneira e os irmãos deram a ele um abraço apertado desse que tem o poder de trazer o sorriso, mesmo breve, ao meu caçula.

Depois do café tomado e dos dentes escovados vi caminharem sentindo ao portão e logo tomaram o ônibus da escola. Voltei para o sofá na espera de que eles desçam e não demorou muito para isso acontecer, deixando ambos em choque.

— Lucie, você… — sem palavras ela parou onde estava — O que faz aqui?

— Tenorio, pode ir, ou juro que alguém será morto aqui! — empurrou Vanuza do caminho e saiu apressado — Está demitido! 

Calmo pronunciei cada palavra ponderando minha vontade de matar esse miserável.

— O que faz aqui? — questionou em um fio de voz — A que horas chegou? Olha, ele veio trocar…

— Cala a boca! Não precisa mentir, eu sei que estavam fodendo na minha casa, em cima da minha cama e só desejo saber onde está a Buuh! — tentou se aproximar — Não faz isso! Não faz ideia de como estou fervendo de ódio, então não se aproxima.

Mesmo que não tivesse pensando em descontar a traição agressivamente, não desejo que se aproxime de mim.

— O que acontecerá com a gente? — sua pergunta saiu em um tom de desespero — Agora tem o tanta queria, não é? Um grande motivo para me expulsar daqui, mas saiba que levarei meus filhos comigo.

A raiva queima em meu peito enquanto a imagem vista a horas atrás ainda está fresca em minha mente, mas não consigo conter minha indignação.

— Seus filhos? Tem mesmo a capacidade de cuidá-los sozinha? Acordará cedo para fazer o café ou dar banho antes do jantar? — ironizei — Pegue suas coisas, aqui você não fica mais um minuto sequer. 

Olhei o relógio sabendo que logo os empregados chegaram para a produção de queijo. 

— Tem uma hora, nada mais que isso! — fiquei de pé e fui pro meu quarto.

O cheiro de sexo ainda era novael e sem paciencia comecei a desmontar a cama. A janela do meu quarto é grande e bem espaçosa, calculei se passaria meu colchão por ela e mesmo na dúvida lancei com toda força que tenho e para minha felicidade passou e caiu lá embaixo fazendo um enorme estrondo. O resto da cama foi logo em seguida.

Virei-me para sair do quarto e encontrei Vanuza assustada com a mãe no peito me olhando desesperada.

— Pegue suas coisas ou elas farão companhia a grande fogueira  que farei com a cama, a decisão é sua. — tentei passar e me segurou — Não encoste em mim, você fede a outro homem!

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