Minha Segunda Chance - Livro 3
Minha Segunda Chance - Livro 3
Por: KiolaFritiz
1

Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.

SEIS MESES ANTES | ROMA/ITÁLIA

LUCIEN GIORDANNO

◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈

Estou em busca de um depósito para estabelecer minha fábrica de queijos, passei o dia entrando e saindo de lojas minúsculas que não atende o que desejo. Estressado por mais um dia sem êxito, sai da quinta visita do dia com um desânimo muito grande desejando loucamente nem ir a última. 

— Preciso encontrar o quanto antes um lugar, de preferência com dois andares, assim colocarei minha fábrica no de cima e a loja no de baixo. — alisei meu rosto devido ao cansaço — Estou a 4 dias longe de casa e se voltar agora não faço a menor ideia de quando poderei vir ao centro de Roma novamente.

Primeiro que seis horas  e meia de viagem não é algo fácil e segundo que, quando estou em casa me recuso a deixar meus filhos e minha fábrica, que graças a virgem Maria vem crescendo no mercado e prevejo meu selo DOP cada vez mais perto. Possuo um selo IGP, a pouco mais de um ano e com isso as vendas triplicaram, e se o DOP vier, o céu é o limite.

Desde que o número da minha produção aumentou, gerando uma renda considerável, venho idealizando deixar Monza para trás, a pequena província que chamei de lar durante tantos anos. Não foi uma decisão fácil, só que com os negócios aumentando gradativamente exige uma localidade melhor, pois a cada dia consigo clientes novos, e Roma é a metrópole que preciso no momento, pois tem cerca de 40% dos meus clientes perdendo somente para Florença com 58% das minhas vendas. 

— Até procuraria por lá, mas quero algo próximo aos meus pais, assim eles veem as crianças. — murmurei caminhando.

Depois de alguns minutos entrei em uma rua mais estreita, enquanto deixo meus pensamentos seguirem firme nas coisas da loja.

Mesmo que tenha uma quantia que nunca imaginei possuir em minha conta, ainda não é o suficiente para comprar um prédio de dois ou três andares nesta cidade. Todos que vi, excede o valor que possuo em mãos, mas para o que desejo fazer, na verdade, boa parte do que planejei, um ou dois andares daria, entretanto nada me agrada. 

Visitas frustrantes e desanimadoras vem me fazendo considerar essa mudança, porém não sou do tipo de parar no meio do caminho. Puxei o ar com exagero deixando claro minha inquietação.

— Tenho que encontrar o lugar certo o mais rápido possível.  Odeio ficar longe dos meus filhos. — grunhi pensando no meu caçula — Ultimamente vem tendo crises que muito me preocupa. Que a virgem Maria cuide do Bento e que não tenha uma dessas, na minha ausência. 

Enquanto caminho pelas ruas históricas de Roma, minha mente se inunda com meus filhos e na última que deixou os três bem abalados, porque eles tentaram de tudo para segurar o irmão, mas foi em vão. 

— Se voltar agora pra casa levarei mais um ou dois meses para conseguir retornar a procura de um lugar. — exclamei alisando meu rosto —  Nenhum dos meus funcionários cuidará da maturação como eu. 

Estou com saudades dos meninos, tento me distrair, ocupar minha mente com a busca por um lugar adequado, mas a lembrança daqueles rostinhos sorridentes quando estão comigo invade meus pensamentos e me deixa com um vazio inquietante.

Olhei para o endereço em meu celular para localizar a última visita do dia. A rua não é movimentada, mas dá para fazer o que desejo. 

— Só as vendas que tenho aqui em Roma vão suprir qualquer estabelecimento que eu tenha. — murmurei voltando a caminhar.

Mais a frente achei o lugar. Encontro-me em frente a um prédio antigo que parece promissor. Os tijolos desgastados pelo tempo e a arquitetura imponente me fazem imaginar o potencial do lugar e como ficará bonito se caso consiga a locação. 

— Que seja esse! — respirei fundo tentando reunir coragem para entrar — Caso não, voltarei para casa amanhã no primeiro horário.

Adentro do prédio e sou recebido pelo corretor com um olhar assustado.

— Boa tarde, Lucien Giordanno? — concordei — Já ia te ligar para avisar da minha chegada.

— Poderia me mostrar o lugar, estou ansioso? — concordou.

— Aqui ao lado tem uma pequena loja, venha. — sai do corredor e fui para um cômodo realmente pequeno e nem que eu quisesse conseguiria acoplar um pequeno restaurante aqui — Não fiquei triste, vamos ao local que será sua nova fábrica.

Gostei do otimismo e o segui desejando seja esse o lugar ideal. 

Voltamos para o corredor onde estávamos e me convidou para seguirmos adiante até o fim dele. Uma escada de pedra se revelou atrás de uma porta que nos leva direto a um porão escuro e bem úmido. Mesmo com a pouca luminosidade vejo que antigos barris de vinho estão empilhados ao fundo repletos de teia de aranha. 

Olhei de encontro a única claridade que vem de uma uma pequena janela. Corri meus olhos em busca de outra, mas só tem essa e quando a luz foi ligada observei cada canto com minúcia. 

Tentei visualizar minha fábrica de queijos aqui, mas senti que ainda não era esse o lugar.

Expliquei a ele que a umidade não seria bom para os tipos de queijo que produzo e que a loja no andar de cima não é bem o lugar que desejo. Me ofereceu uma visita em outro prédio amanhã me prometendo o lugar ideal. Fiquei na dúvida, mas a localidade mencionada me deixou  ansioso e aceitei.

— Então é isso Lucine — apertei sua mão e juntos saímos do lugar —, nos vemos amanhã.

Assim que entrou em seu carro voltei a caminhar para onde deixei o meu. No caminho meu telefone tocou, vi ser Vanuza e desanimado atendi levando ao ouvido.

— Lucien, vira para casa quando? Bento está insuportável. 

— Insuportável? Sério que usou essa palavra para descrever o comportamento do nosso filho?  — grunhiu por meu questionamento.

— Sabe que não entendo nada que esse garoto diz, sem falar naquela cachorra que não larga nem por um segundo. Vou colocar esse bicho no porão.

Cogitei parar e entrar em mais uma discussão, mas estou tão cansado disso que segui meu caminho até meu carro tentando não reclamar pelo jeito que fala do nosso filho. 

— Virá para casa quando? — tornou a questionar.

— Ainda tenho algumas coisas para resolver aqui, Vanuza. — começou a gritar dizendo várias asneiras me deixando tonto — Deixe-me conversar com ele. 

Escutei berrar seu nome me deixando agoniado.

— Para com isso, a casa é pequena, é só chamar por ele.

— Vem cá, larga esse bicho aí e vem falar com seu pai! — não demorou muito para escutar sua respiração ofegante.

—  Filho, respire devagar. — pedi e não obedeceu — Eu te amo tanto, e saber que estar desse jeito me deixa triste. Vamos lá… por favor, respire devagar. 

Pa-pa-pa… — grunhiu por não conseguir falar — amo!

— Eu sei, eu também te amo muito. Agora conta pro pai, seus irmão estão bem? — perguntei, porque gosto de incentivá-lo a falar.

Si-si-sim! — Vanuza resmungou alguma coisa e não faço ideia do que seja.

— Papai está procurando um lugar para morarmos perto da vovó e do vovô. Não tem como ir para casa agora, tudo bem?

— Tá! — sua respiração ofegante não me agrada muito.

— Guarda um segredo só nosso, não conte a mamãe, pode ser?

Si-si-si… si-sim!

— Pede a Inácio para ir contigo, ele é bem corajoso, leva a Buuh para a fábrica e coloca na sala do papai. — pedi e não disse que faria — Pode fazer isso por mim?

Ta-ta-ta bem! E-e-eu… te-te-te amo. — fiquei feliz de conseguir acalmá-lo mesmo estando longe.

— Dá o telefone a sua mãe e esconde a Buuh, vai! — com dificuldade me pediu benção — Deus te abençoe e a virgem Maria também.

Estava prestes a desligar quando a voz alterada da Vanuze berrou em meu ouvido.

— Virá ou não? — disse que não — O que faz em Roma que não vem para casa há tantos dias?

— Resolvendo umas coisas. Tenho que desligar, vou para casa dos meus pais. 

— Virá, amanhã? 

— Por que essa curiosidade toda? A gente não tem nada a tanto tempo que desconheço esse questionamento. — ela ficou calada — Diga?

— Saudades, faz 4 dias que não vem para casa, meu amor. — estranhei o carinho forçado  — Vem amanhã!

— Tenho que desligar. — finalizei e entrei no carro.

Com uma leve dor de cabeça que se tornou algo corriqueiro. 

— Preciso de um banho, lidar com a Vanuza é sufocante demais. — soquei meu volante — Esse casamento só existe por causa dos meus pais e suas conservações, estou no limite e falta pouco para acabar de vez com essa situação!

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo