Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.
SEIS MESES ANTES | ROMA/ITÁLIA
LUCIEN GIORDANNO
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Estou em busca de um depósito para estabelecer minha fábrica de queijos, passei o dia entrando e saindo de lojas minúsculas que não atende o que desejo. Estressado por mais um dia sem êxito, sai da quinta visita do dia com um desânimo muito grande desejando loucamente nem ir a última.
— Preciso encontrar o quanto antes um lugar, de preferência com dois andares, assim colocarei minha fábrica no de cima e a loja no de baixo. — alisei meu rosto devido ao cansaço — Estou a 4 dias longe de casa e se voltar agora não faço a menor ideia de quando poderei vir ao centro de Roma novamente.
Primeiro que seis horas e meia de viagem não é algo fácil e segundo que, quando estou em casa me recuso a deixar meus filhos e minha fábrica, que graças a virgem Maria vem crescendo no mercado e prevejo meu selo DOP cada vez mais perto. Possuo um selo IGP, a pouco mais de um ano e com isso as vendas triplicaram, e se o DOP vier, o céu é o limite.
Desde que o número da minha produção aumentou, gerando uma renda considerável, venho idealizando deixar Monza para trás, a pequena província que chamei de lar durante tantos anos. Não foi uma decisão fácil, só que com os negócios aumentando gradativamente exige uma localidade melhor, pois a cada dia consigo clientes novos, e Roma é a metrópole que preciso no momento, pois tem cerca de 40% dos meus clientes perdendo somente para Florença com 58% das minhas vendas.
— Até procuraria por lá, mas quero algo próximo aos meus pais, assim eles veem as crianças. — murmurei caminhando.
Depois de alguns minutos entrei em uma rua mais estreita, enquanto deixo meus pensamentos seguirem firme nas coisas da loja.
Mesmo que tenha uma quantia que nunca imaginei possuir em minha conta, ainda não é o suficiente para comprar um prédio de dois ou três andares nesta cidade. Todos que vi, excede o valor que possuo em mãos, mas para o que desejo fazer, na verdade, boa parte do que planejei, um ou dois andares daria, entretanto nada me agrada.
Visitas frustrantes e desanimadoras vem me fazendo considerar essa mudança, porém não sou do tipo de parar no meio do caminho. Puxei o ar com exagero deixando claro minha inquietação.
— Tenho que encontrar o lugar certo o mais rápido possível. Odeio ficar longe dos meus filhos. — grunhi pensando no meu caçula — Ultimamente vem tendo crises que muito me preocupa. Que a virgem Maria cuide do Bento e que não tenha uma dessas, na minha ausência.
Enquanto caminho pelas ruas históricas de Roma, minha mente se inunda com meus filhos e na última que deixou os três bem abalados, porque eles tentaram de tudo para segurar o irmão, mas foi em vão.
— Se voltar agora pra casa levarei mais um ou dois meses para conseguir retornar a procura de um lugar. — exclamei alisando meu rosto — Nenhum dos meus funcionários cuidará da maturação como eu.
Estou com saudades dos meninos, tento me distrair, ocupar minha mente com a busca por um lugar adequado, mas a lembrança daqueles rostinhos sorridentes quando estão comigo invade meus pensamentos e me deixa com um vazio inquietante.
Olhei para o endereço em meu celular para localizar a última visita do dia. A rua não é movimentada, mas dá para fazer o que desejo.
— Só as vendas que tenho aqui em Roma vão suprir qualquer estabelecimento que eu tenha. — murmurei voltando a caminhar.
Mais a frente achei o lugar. Encontro-me em frente a um prédio antigo que parece promissor. Os tijolos desgastados pelo tempo e a arquitetura imponente me fazem imaginar o potencial do lugar e como ficará bonito se caso consiga a locação.
— Que seja esse! — respirei fundo tentando reunir coragem para entrar — Caso não, voltarei para casa amanhã no primeiro horário.
Adentro do prédio e sou recebido pelo corretor com um olhar assustado.
— Boa tarde, Lucien Giordanno? — concordei — Já ia te ligar para avisar da minha chegada.
— Poderia me mostrar o lugar, estou ansioso? — concordou.
— Aqui ao lado tem uma pequena loja, venha. — sai do corredor e fui para um cômodo realmente pequeno e nem que eu quisesse conseguiria acoplar um pequeno restaurante aqui — Não fiquei triste, vamos ao local que será sua nova fábrica.
Gostei do otimismo e o segui desejando seja esse o lugar ideal.
Voltamos para o corredor onde estávamos e me convidou para seguirmos adiante até o fim dele. Uma escada de pedra se revelou atrás de uma porta que nos leva direto a um porão escuro e bem úmido. Mesmo com a pouca luminosidade vejo que antigos barris de vinho estão empilhados ao fundo repletos de teia de aranha.
Olhei de encontro a única claridade que vem de uma uma pequena janela. Corri meus olhos em busca de outra, mas só tem essa e quando a luz foi ligada observei cada canto com minúcia.
Tentei visualizar minha fábrica de queijos aqui, mas senti que ainda não era esse o lugar.
Expliquei a ele que a umidade não seria bom para os tipos de queijo que produzo e que a loja no andar de cima não é bem o lugar que desejo. Me ofereceu uma visita em outro prédio amanhã me prometendo o lugar ideal. Fiquei na dúvida, mas a localidade mencionada me deixou ansioso e aceitei.
— Então é isso Lucine — apertei sua mão e juntos saímos do lugar —, nos vemos amanhã.
Assim que entrou em seu carro voltei a caminhar para onde deixei o meu. No caminho meu telefone tocou, vi ser Vanuza e desanimado atendi levando ao ouvido.
— Lucien, vira para casa quando? Bento está insuportável.
— Insuportável? Sério que usou essa palavra para descrever o comportamento do nosso filho? — grunhiu por meu questionamento.
— Sabe que não entendo nada que esse garoto diz, sem falar naquela cachorra que não larga nem por um segundo. Vou colocar esse bicho no porão.
Cogitei parar e entrar em mais uma discussão, mas estou tão cansado disso que segui meu caminho até meu carro tentando não reclamar pelo jeito que fala do nosso filho.
— Virá para casa quando? — tornou a questionar.
— Ainda tenho algumas coisas para resolver aqui, Vanuza. — começou a gritar dizendo várias asneiras me deixando tonto — Deixe-me conversar com ele.
Escutei berrar seu nome me deixando agoniado.
— Para com isso, a casa é pequena, é só chamar por ele.
— Vem cá, larga esse bicho aí e vem falar com seu pai! — não demorou muito para escutar sua respiração ofegante.
— Filho, respire devagar. — pedi e não obedeceu — Eu te amo tanto, e saber que estar desse jeito me deixa triste. Vamos lá… por favor, respire devagar.
— Pa-pa-pa… — grunhiu por não conseguir falar — amo!
— Eu sei, eu também te amo muito. Agora conta pro pai, seus irmão estão bem? — perguntei, porque gosto de incentivá-lo a falar.
— Si-si-sim! — Vanuza resmungou alguma coisa e não faço ideia do que seja.
— Papai está procurando um lugar para morarmos perto da vovó e do vovô. Não tem como ir para casa agora, tudo bem?
— Tá! — sua respiração ofegante não me agrada muito.
— Guarda um segredo só nosso, não conte a mamãe, pode ser?
— Si-si-si… si-sim!
— Pede a Inácio para ir contigo, ele é bem corajoso, leva a Buuh para a fábrica e coloca na sala do papai. — pedi e não disse que faria — Pode fazer isso por mim?
— Ta-ta-ta bem! E-e-eu… te-te-te amo. — fiquei feliz de conseguir acalmá-lo mesmo estando longe.
— Dá o telefone a sua mãe e esconde a Buuh, vai! — com dificuldade me pediu benção — Deus te abençoe e a virgem Maria também.
Estava prestes a desligar quando a voz alterada da Vanuze berrou em meu ouvido.
— Virá ou não? — disse que não — O que faz em Roma que não vem para casa há tantos dias?
— Resolvendo umas coisas. Tenho que desligar, vou para casa dos meus pais.
— Virá, amanhã?
— Por que essa curiosidade toda? A gente não tem nada a tanto tempo que desconheço esse questionamento. — ela ficou calada — Diga?
— Saudades, faz 4 dias que não vem para casa, meu amor. — estranhei o carinho forçado — Vem amanhã!
— Tenho que desligar. — finalizei e entrei no carro.
Com uma leve dor de cabeça que se tornou algo corriqueiro.
— Preciso de um banho, lidar com a Vanuza é sufocante demais. — soquei meu volante — Esse casamento só existe por causa dos meus pais e suas conservações, estou no limite e falta pouco para acabar de vez com essa situação!
TU TE TORNAS ETERNAMENTEprisioneiro daquilo que não resolve!LUCIEN GIORDANNO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈O caminho até a casa deles foi longo devido ao trânsito e passei boa parte dele firmando minha fé em pedir à virgem Maria para cuidar do Bento e a Deus para que encontrasse uma boa loja.Quando cheguei meu pai estava varrendo em frente à mercearia e sorri pela lembrança nostálgica desse lugar. Vim para cá ainda na infância e varria essa frente junto a ele todas as manhãs.Buzinei me anunciando e com um olhar curioso se aproximou me levando a abaixar o vidro.— Pela cara não conseguiu nada! — neguei com a cabeça — Vem pra cá, use os fundo para fazer sua fabricada, ragazzo.— Não, quero algo meu, sai de casa a tantos anos, não será agora que tenho filhos que mudarei isso.— Pera lá! Não tem isso aqui não Lucien, assim você me ofende!— Pai, você e a mama me deram uma boa educação e por isso não voltarei para casa. Sei cuidar da minha família, meus filhos são tudo para mim e não quero dar a
Alguns minutos podem ficar na sua cabeça por horas.TEMPOS ATUAIS | FLORENÇA/ITÁLIASUZAN MATTIAZZO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈Os plantões noturnos são sempre os melhores, o número de parto muitas das vezes superam o do turno da manhã e nessa madrugada realizei um que foi intenso, triste e de alguma forma feliz, também.Infelizmente perdi a mamãe, mas a Alicia é linda e a coisa mais adorável do mundo.— Doutora! — segui a voz que me chamava e vi o Dr. Fongaro, parado na porta atrás de mim — Não cansa de ficar aqui.— Nunca… — confirmei voltando a admirar a pequena Alicia — Veja essa mãozinha, olha esse narizinho.Ele se aproximou de nós e mesmo quase em cima de mim me deixando desconfortável, não queria sair de onde estava, por Alicia estar segura meu dedo.— Lindas… — revirei os olhos para suas piadinhas — Vem, dará sete da manhã e pelo que sua residente mencionou está aqui desde quando a bebê veio para cá, doutora.— Ela se chama Alicia… — esclareci com rudez — Estou no Plantão até às 18h
Já parou pra pensar no quanto cresceu desde o evento que você achou que acabaria contigo?SUZAN MATTIAZZO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈Consegui fazer minha alimentação e me deitei no meu sofazinho que sufoquei o Lorenzo para colocar aqui no meu consultório dizendo que era para a comodidade das minhas mamães e o sacana comprou um pequeno de dois lugares, porém confortável que sempre que posso me deitou da forma que dá só para tirar um cochilo.— Uma hora, preciso de uma horinha de sono, assim posso voltar para a Alicia. — encostei meus olhos.O toque suave na minha porta me despertou, me sentei e pedi que entrasse achando ser a Alice ou Maria.— Sabia! — Lorenzo me apontou seu dedo grande — Tem um dormitório aqui ao lado, porque não deita lá!— Não gosto dos colchões, são duros, a roupa de cama é horrível e algumas médicas são porcas, minha cama estava suja de menstruação, Lorenzo! — compartilhei abertamente — Tentei dormir com a Valéria, mas ela tem um mal-dormido terrível!— Tem que falar com
O que é para ser, tem muita força. UNIVERSITY HOSPITAL MEYER | 11:40SUZAN MATTIAZZO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈Lorenzo está quase me expulsando, porque saí ontem às dezoito e hoje cheguei aqui às oito da manhã. Expliquei que tenho meus pré-natais do dia, mas que sairei cedo. — Menti obviamente, mas ele não precisa saber disso.Só saio daqui amanhã e será direto para Trento. — Doutora, bom dia! — retribui a saudação vindo do Dr. Fongaro — Acabei de vir do berçário, pensei que te encontraria lá.— Estou à espera do meu último pré-natal do dia, em que posso ajudar?— Ia te chamar para um café. — formulei o discurso de recusa em minha cabeça e quando ia pronunciar tive um chamado.Doutora Mattiazzo, por favor, compareça à entrada norte. Doutor Mattiazzo, por favor, compareça à entrada norte. Paciente em trabalho de parto chegando em dois minutos. Repetindo: Doutora Mattiazzo, por favor, compareça à entrada norte.— Ficará para a próxima. — me deu um sorriso triste — Te procuro, pode deixar.—
Somos longas histórias cobertas de pequenos detalhes.SUZAN MATTIAZZO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈Fui em direção ao meu consultório e saí dos meus devaneios com o futuro pai dos meus filhos quando meu telefone tocou. Depois de confirmar ser dona Denise levei ao ouvido.— Oi, mãe, sua benção! Como a senhora está e a nonna?— Estou bem, a mama também e você? Como foi seu dia no hospital? — digo, que maravilhoso e faço um resumo do parto recém-feito — Nossa, que lindo.— Foi incrível! Agora me conta, como está o pai?— Todos bem, seu tio Ton está aqui, veio contar que Teodoro falou de uma mocinha chamada Carmelita, chamou a pobre de carne de pescoço, acho que deve ser magrinha, né, filha?Gargalhei do apelido sabendo que meu primo é bem capaz de ter apelidado a mulher desse jeito por ser chata e um sorriso nostálgico me veio aos lábios.— Teo está em Trento? — perguntei para saber se o verei na festa.— Não, mas liga todos os dias, sabe como ele é com o pai, esse velho cabeça dura! — fiquei ouvi
VOCÊ SENTE ALGOINTUIÇÃO É ALGO FODA, A CONFIRMAÇÃO DO QUE VOCÊ JÁ SABIA!E LOGO DEPOIS VEMSUZAN MATTIAZZO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈Enquanto continuo a estrada, considero a possibilidade de ter uma conversa direta com Lucien sobre a insistência de minha mãe. Embora a ideia de fingir um relacionamento de mentira pareça um tanto absurda, talvez seja a única maneira de para com essa situação.Veremos como será esses dias na vila, tudo vai depender da insistência dela e se não parar mesmo dizendo que gosto do Thomás vou ligar para o Lucien, ele deve sofrer a mesma pressão que eu. Sei do que dona Denise e a Valquiria são capazes, elas tentaram o mesmo com o Ninho e Val.Meus pensamentos se focaram nela, que coitada, precisa arrumar uma mulher que curta o mesmo que ela e não essas curiosas que ficam somente recendo. Me senti mal com isso. Valéria deve sofrer muito por ser a única fonte de carinho nesses casos que vem vindo no Hospital.— Ou não, do jeito que ele é, bem capaz de adora ser a ativ
Não volte pro pouco só porque você tá impaciente demais pra esperar por algo melhor.Leia novamente.SUZAN MATTIAZZO◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈Chegamos ao fundo da vila, próximo a casa do meu tio temos nossa adega, onde tia Nena coordena a sangria. Olhei para tudo à minha volta lembrando que dei meu primeiro beijo perto dos tonéis do tio Ton.— Suh, meu Deus, olha como está linda minha sogra! — sai dos meus devaneios com minha tia Marieta que veio nos receber.— Todos os meus netos são lindos. Bom dia Mari, trouxe bolo! — minha avó comunicou apontando para a cesta nos braços da Terê.— Não precisava, mas obrigada minha sogra. — as duas se abraçaram — Vem, Teo está na chamada de vídeo lá dentro, vamos entrando.— Meu ragazzo lindo, logo me dará bisnetos, vem Terê! — começamos a rir da sua animação e faltou pouco correr.— Sua benção, tia. — me abençoou antes de me dar um abraço forte — Vamos, quero ver meu primo.Entrei e Camillo estava segurando o ipad na mão sentado ao lado do meu tio. —
Talvez o amor não deva ser encontrado, mas construído. SUZAN MATTIAZZO ◈ ━━━━━━ ◈ ━━━━━━ ◈ A ansiedade e curiosidade para saber como ele é, me deixou nervosa e com medo que desligasse atendi. — Desculpa a demora, fui acender a luz. Menti na cara dura me cobrindo, porque meu baby doll é de alcinha e estou sem sutiã. Olhei a tela preta e fiquei curiosa para saber o porquê de não ver seu rosto. — Deveria ligar a luz, não consigo te ver direto. — Só um segundo. — escutei um barulho e o teto apareceu logo em seguida, mas ele não e fiquei esperando — Voltei! Segurei minha boca fechada para a figura emoldurada pela tela do meu celular. Lucien é lindo! Meus olhos não piscavam com a tamanha beleza desse homem. A camisa preta realça ainda mais seus cabelos ruivos e sua pele cheia de sarnas lhe dão a marca de um legítimo ruivo. Seus lábios são grossos e rosados e a cor dos seus olhos se assemelham a um castanho alaranjado. Meu Deus, não era de se esperar menos, ele é gêmeo da Valéria e