A Verdade Sai

Então, vamos recapitular rapidamente aqui: eu, Liah Stevens, 18 anos, estudante bolsista e futura cientista (ou pelo menos era esse o plano), agora sou oficialmente esposa no papel de Bryan O’Connor, empresário milionário e pai da minha melhor amiga, Samantha. Só que, detalhe: ele não sabia disso até uns quinze minutos atrás, quando me encontrou saindo do hospital com a filha dele, Stacie, no colo, e a enfermeira decidiu que era uma ótima ideia me chamar de “Sra. O’Connor” em voz alta.

Agora estou no carro dele. Tipo, no carro dele mesmo. E vou te contar: é o carro mais caro em que já sentei. Estofado de couro, cheiro de novo e provavelmente mais tecnologia do que meu computador. Stacie está no banco de trás, cochilando depois de todo o drama do hospital, e eu estou sentada na frente, parecendo uma criança que foi pega colando na prova. Bryan está me encarando no banco de frente para mim e o chofer dirige em silêncio, mas você sabe quando o silêncio grita? Pois é.

— Você não vai nem perguntar? — eu arrisco, depois de alguns minutos.

Ele me lança um olhar rápido.

— Vou. Quando chegarmos em casa.

Tá bom, então. Ele não é do tipo que perde a pose. Respiro fundo e tento não pirar.

A casa dele é tudo o que você espera de um homem milionário. Um casarão gigantesco com um jardim impecável e uma porta tão grande que parece saída de um castelo. Quando entramos, Samantha aparece correndo da sala, com os olhos arregalados.

— O que aconteceu? Stacie tá bem? — ela pergunta, ignorando completamente o fato de que o pai dela e eu estamos dividindo o mesmo espaço pela primeira vez.

— Ela tá bem, só levou alguns pontos — respondo, tentando soar calma.

Bryan entrega Stacie para Samantha e vira-se para mim.

— Você, comigo. Agora.

Sério, é como se eu tivesse sido convocada para o tribunal supremo dos adultos. Ele me conduz até um escritório enorme, com uma estante cheia de livros que parecem nunca ter sido lidos, uma mesa gigantesca e uma cadeira de couro que provavelmente custa mais do que todo o meu salário bolsista de um ano.

Ele aponta para a cadeira na frente da mesa.

— Senta.

Obedeço, porque, bem, o que mais eu poderia fazer? Ele se senta do outro lado da mesa, me observa por alguns segundos, e finalmente quebra o silêncio:

— Tá, agora você vai me explicar que história é essa de casamento.

Minha garganta seca na hora. Ótimo. Agora é o momento de justificar o plano mais absurdo que já saiu da minha cabeça.

— Ok, escuta — começo, tentando soar confiante. — Eu sei que isso parece... estranho.

Ele arqueia uma sobrancelha.

— Estranho? Garota, eu estou casado com alguém que ainda faz trabalho de matemática no ensino médio. Estranho é pouco.

Ai, ótimo. Sarcasmo. Isso vai ser fácil (não).

— Samantha me pediu ajuda — explico, gesticulando como uma doida. — Ela estava desesperada porque você estava entrevistando um monte de mulheres que odiavam crianças e só queriam o seu dinheiro. Então, eu pensei: por que não eu?

Ele franze o cenho.

— Você pensou por que não eu? — ele repete, incrédulo.

— É, tipo... eu gosto da Samantha, gosto das suas filhas, e achei que seria uma solução temporária. Sabe, até ela fazer dezoito e poder cuidar das irmãs.

Bryan passa a mão pelo rosto, claramente tentando processar o absurdo da situação.

— Temporária? — ele pergunta, com a voz mais baixa, mas ainda carregada de tensão. — Liah, isso não é um jogo. Você se deu conta do que fez?

— Sim. Eu me casei no papel para proteger suas filhas.

— Você é uma criança! — ele dispara, levantando da cadeira. — E, com todo respeito, não há nada temporário em um casamento no meu mundo. Meu pai já deve estar planejando a festa de boas-vindas da "nova nora".

Ah, o pai dele. O tal avô controlador que está por trás de tudo isso.

— É exatamente por isso que eu fiz isso! — digo, agora me levantando também. — Seu pai está forçando você a casar com qualquer mulher que apareça, sem nem se importar com o que é melhor para as suas filhas. Eu só quis ajudar, tá bom?

Bryan respira fundo, claramente tentando não perder a paciência.

— Tá. Vou resolver isso. Você está liberada dessa loucura.

— Como assim, “liberada”? — pergunto, confusa.

— Vamos assinar os papéis de divórcio assim que possível. Não vou ficar casado com alguém que ainda nem terminou o ensino médio.

Ok, confesso que essa doeu um pouco. Mas, ao mesmo tempo, entendo o lado dele.

— E as suas filhas? — pergunto. — E a Samantha?

— Eu dou um jeito.

— Você disse isso antes, e olha onde estamos.

Ele me encara, claramente sem paciência, mas também sem um bom argumento.

— Liah, isso é insustentável. Você não tem idade pra assumir esse tipo de responsabilidade.

— Eu tenho idade pra entender o que está em jogo — respondo, cruzando os braços.

Ele balança a cabeça, frustrado.

— Meu pai me deu dois anos, no máximo, pra... — ele para, hesitando.

— Pra quê? — pergunto, desconfiada.

Ele solta um suspiro longo, como se aquilo fosse doloroso de dizer.

— Pra ter outro filho.

Eu pisquei. Uma. Duas vezes.

— Espera aí — digo, segurando uma risada nervosa. — Você tá dizendo que seu pai quer que você tenha um filho homem pra manter a tradição da família, e que você acha que isso é motivo pra me tirar da jogada?

Bryan me encara, exausto.

— Liah, você quer mesmo ter um filho enquanto ainda está estudando no ensino médio?

Ok, vou ser honesta: essa pergunta me pega de surpresa. Ele tem um ponto. Um ponto gigantesco, brilhante, e impossível de ignorar. Mas isso não significa que vou desistir.

— Não, claro que não — respondo, tentando recuperar minha postura. — Mas eu também não vou deixar Samantha e as meninas passarem por isso sozinhas.

Ele me observa por um momento, como se estivesse tentando entender se eu era corajosa ou completamente maluca. Provavelmente um pouco dos dois.

— Você não faz ideia no que está se metendo — ele diz, finalmente.

— Talvez não — respondo, dando de ombros. — Mas você também não.

E é isso. Não sei se saí daquela conversa vitoriosa ou completamente derrotada, mas uma coisa é certa: essa história ainda está longe de acabar.

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