Cozinhando Problemas

Se você me dissesse há quatro meses que eu estaria em um casamento improvisado com o pai da minha melhor amiga, amamentando um bebê que nem é meu e resolvendo problemas de adulto com um empresário milionário, eu teria rido na sua cara. Mas, adivinha só? Aqui estou eu.

Era final de semana e, pela primeira vez desde que toda essa bagunça começou, eu não tinha escola pra me distrair. O que significa que o drama agora tinha espaço livre pra se instalar.

Samantha tinha saído com o pessoal do clube de teatro do colégio, e a babá, coitada, parecia tão exausta que Bryan a mandou pra casa mais cedo. O que deixou ele, eu e Sophie sozinhos naquela mansão gigante – estava lá apenas para dar uma força, pela falta da babá e estava sendo paga, então tranquilamente gastaria meu domingo com isso.

— Você quer jantar o quê? — ele perguntou, aparecendo na sala onde eu estava tentando entreter Sophie com um tapete de atividades (que, sinceramente, era mais interessante pra mim do que pra ela).

— Não sei, o que você sabe fazer? — perguntei, já suspeitando que a resposta seria algo como “reservas em um restaurante caro”.

Ele me olhou com aquela cara de "você tá falando sério?" e respondeu:

— Fazer? Eu não cozinho.

— Óbvio. — Revirei os olhos, já prevendo que essa noite ia ser um desastre. — Tá bom, deixa comigo.

Eu me levantei, ajustando Sophie no meu colo, e fui em direção à cozinha. Cozinhar não era exatamente meu ponto forte, mas, convenhamos, qualquer coisa é melhor do que passar fome.

Deixa eu contar uma coisa sobre a cozinha dessa casa: é ENORME. Tipo, tão grande que parece que tem mais utensílios do que moradores. Mas tamanho não significa eficiência, porque, depois de abrir umas quinze gavetas, eu ainda não tinha encontrado o básico: uma panela.

— Você realmente vive aqui? — perguntei, quando Bryan apareceu na porta com Sophie no carrinho.

— Eu não passo muito tempo na cozinha — ele respondeu, encostando-se ao batente com aquele tom que só pessoas ricas conseguem ter.

Finalmente achei uma panela, o que me deixou triunfante. Até olhar para os ingredientes na despensa.

— Vocês não têm comida de verdade? Só tem coisas tipo... trufas e massa artesanal com nomes em italiano.

— Isso não é comida de verdade?

— Não, isso é coisa de gente que assiste programas gourmet e nunca cozinha de verdade.

Ele deu de ombros, sem parecer minimamente ofendido.

— Então, o que você vai fazer?

— Milagre. — Suspirei, pegando uma caixa de macarrão (a única coisa que reconheci) e tentando me lembrar de como minha mãe fazia molho.

Enquanto eu cortava cebolas com uma faca que parecia saída de um comercial de TV, Bryan ficou por ali, observando. Era estranho, porque ele geralmente tinha essa vibe de "tô ocupado demais pra isso", mas, naquela noite, parecia relaxado.

— Você parece confortável aqui — ele comentou, do nada.

— É porque tô fingindo que não tô apavorada — respondi, rindo.

— Apavorada com o quê?

Olhei pra ele, parando de cortar a cebola.

— Com tudo isso, Sr. O'Connor. Tipo, isso aqui não é normal, sabe? Eu deveria estar preocupada com provas e, sei lá, crushes da escola. Não tentando salvar um bebê de fome ou convencer um diretor de que eu tenho uma família estável.

Ele ficou quieto, como se estivesse processando minhas palavras.

— Você se colocou nessa situação por causa das minhas filhas — ele disse, finalmente. — Isso é... admirável.

Fiquei tão surpresa com o elogio que quase cortei o dedo.

— Obrigada, eu acho? — respondi, meio sem jeito.

Uma Reviravolta no Jantar

A comida tava quase pronta (e, modéstia à parte, cheirava incrível) quando Sophie começou a chorar. Bryan a pegou no colo, mas ela não parecia interessada no colo dele. Só queria mamar.

— Quer ajuda? — perguntei, já limpando as mãos.

— Não, você tá ocupada. Eu resolvo.

Eu observei enquanto ele tentava acalmá-la, balançando e sussurrando coisas baixinho, mas nada funcionava. Sophie tava com fome, e era isso.

Finalmente, ele olhou pra mim, com aquele olhar de derrota que eu já conhecia bem.

— Tá bom, você pode ajudar?

Peguei Sophie e me sentei no sofá da cozinha (sim, a cozinha tem um sofá, porque essa casa é um exagero). Enquanto ela mamava, Bryan ficou por perto, claramente tentando não parecer desconfortável.

— Isso ainda é muito estranho pra você, né? — perguntei, rindo.

— Bastante. — Ele suspirou. — Mas também me deixa... aliviado. Saber que ela tá bem.

Não sei por quê, mas aquilo me deixou meio emocionada.

— Eu só quero ajudar — respondi, mais séria do que esperava.

Bryan assentiu, e, pela primeira vez desde que nos conhecemos, parecia que ele realmente entendia.

Depois de Sophie dormir, finalmente conseguimos jantar. O macarrão tava longe de ser gourmet, mas ninguém reclamou. Bryan até elogiou, o que quase me fez derrubar o garfo de surpresa.

— Isso tá bom de verdade. Você devia cozinhar mais vezes.

— Haha, engraçadinho.

Depois do jantar, ele foi colocar Sophie no berço, e eu fiquei na sala, olhando pro teto e pensando em como as coisas tinham mudado tão rápido.

Quando ele voltou, parecia menos tenso, mais... humano.

— Obrigado por hoje — ele disse, meio sem jeito.

— Só hoje? — brinquei, e ele riu.

E foi isso. Uma noite simples, mas que, de alguma forma, nos aproximou. Talvez porque, pela primeira vez, parecia que éramos uma equipe.

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