Saudades de casa

Informei sentando-me na poltrona, mamãe descobriu que está gravida recentemente, ela está arrasada, não estava nos planos dela novamente engravidar. Rafael nasceu saudável, hoje com 5anos, ele é um menino sapeca, o filhinho da mamãe.

— Imagino querida, como você está?

— Exausta, mãe, só vou sair depois das 10H da noite.

Comentei, nunca pensei que estar longe da família seria tão doloroso, eu sinto falta dela, mesmo que nos falemos todos os dias, eu sinto a falta dela. Mamãe é companheira e compreensiva, em diversos momentos conturbados por conta da minha rebeldia ela apoiou-me depois de dar-me uma bronca. Sem falar de todas as vezes que fiquei de castigo.

— Comeu alguma coisa?

Mamãe questionou, infelizmente, não tive tempo para comer.

— Estou tomando chocolate quente, depois como algo, como estão meus irmãos?

— Estão bem, tire um final de semana para visitar a família.

— Depois da próxima semana.

Anuncio.

— Perfeito, vou mandar um jatinho para te buscar, tenho que ir, seus irmãos estão brigando de novo.

Brigando? Mamãe encerou a chamada antes que eu questione sobre as brigas deles. Jantei o mais rápido que pude e sai para verificar meus pacientes, quando o médico de plantão chegou, eu fui ao hotel e capotei.

— Sua vadia.

Emily, coloquei o telefone em viva voz enquanto eu terminava de me vestir.

— Este final de semana estarei aí. Tenho tanta coisa para te contar.

Ela disse animada, abro meu porta joias, escolho um par de brincos de diamantes, ela precisa terminar de escolher meu apartamento, não aguento mais o hotel.

— Sobre o apartamento?

Eu questionei.

— Relaxa, você só precisa ver, aprovar e assinar documentos de compra.

Finalmente.

— Perfeito. Eu preciso ligar para minha mãe.

— Bjs, até breve.

Quando ela encerrou a chamada, liguei para minha mãe.

— Bom dia querida.

Mamãe disse.

— Bom dia mãe, estou indo ao trabalho.

Anunciei.

— Que tenha um ótimo dia querida, hum, Emily avisou que estaria aí na sexta-feira, vou preparar alguns biscoitos e bolos para você.

— Obrigada mãe, estava com saudades da sua comida.

— Quando eu tiver tempo, eu prometo que irei até aí para cozinhar para você.

— Aguardo você, por favor passe o telefone para seu marido.

A linha ficou muda por alguns segundos.

— Oi filha, como está?

Papai questionou.

— Muito bem, preciso de dinheiro para concluir a compra de um apartamento.

— Irei transferir ainda hoje. Como vai o trabalho.

— Bem, graças a Deus, muito cansativo.

— Quando vem nos visitar?

— Muito em breve, pai.

— Vejo você em breve.

Encerei a ligação, peguei minhas coisas e caminhei em direção a porta, tirei o cartão e fui ao hospital. Quando cheguei no hospital, a primeira coisa foi eu fiz, foi comer, em seguida fui verificar os pacientes que deram entrada ontem, depois voltei para receber meus pacientes diários.

— Bom dia doutora.

Disse Leticia cumprimentando-me.

— Bom dia, senhorita Leticia, o que tem para me hoje?

— Os pais da paciente do quarto 376, desejam falar com a doutora.

Ela informou-me.

Ela retirou-se da sala e em seguida eu vi uma criança sendo trazida às pressas ao meu consultório, a criança está chorando desesperadamente.

— Doutora, ela caiu.

Coloquei luvas imediatamente, e olhei seu ferimento e quase caí em gargalhada, eu me lembro deles quando caí da bicicleta, papai parecia esse pai, desesperado para caralho sem saber o que fazer. Preparei uma dose de anestesia, quando ela viu agulha ficou mais desesperada.

— Você quer doce ou chocolate? Eu dou doces para princesas que não choram.

Eu guardei a seringa preparada do lado e fui levar os potes de doce e chocolate. Ela olhou-me com desconfiança depois limpou as lagrimas.

— Eu posso pegar?

Ela olhou para os ursos.

— Escolha um urso, ele é todo seu.

— Sério?

— Claro que sim.

— Castanho, eu quero o castanho.

Enquanto ela olhava para o urso, eu injetei a anestesia em sua perna rapidamente, a senhorita Leticia veio com os resultados. Tirei a luva para segurar o urso e lhe entregar.

— Muito obrigada doutora.

Ela agradeceu.

— Disponha querida, eu preciso cuidar dessas feridas.

— Está bem.

Ela respondeu, enquanto ela brinca com o urso, eu me concentrei em cuidar do seu ferimento e verificar se não há fraturas.

— Muito obrigada doutora.

— Disponha, eu quero ver você em uma semana menina.

Entreguei a receita para seus pais, ela sorriu, abro o pote de doce e entreguei-a.

— Eu gosto de princesas corajosas.

Passei a mão nos seus cabelos caramelos.

— Obrigada doutora, Tchau.

Acenei para ela despedindo-me. Quando os pais saíram, peço a senhorita Leticia que chame os pais da menina internada ontem.

— Bom dia doutora.

Eles disseram, Leticia surpreendeu-me entregando-me os resultados de exames de sangue de teste de sífilis deles.

— Bom dia.

Eu disse olhando para o prontuário de exames deles.

— Vocês tem sífilis.

Anunciei, que bom que eles decidiram fazer exame de sífilis, assim a criança não será constantemente exposta a doença.

— Eu sabia, você estava me traindo, claro, ainda me chamava de louca e paranoica.

— Eu posso ter pegado de você.

— Eu? Sua esposa, mãe dos seus filhos? É sério que não vai admitir seus erros.

Eu bato a mesa encerando essa discussão em meu consultório.

— Meu consultório não é palco dos vossos problemas conjugais.

Eu disse tentando manter a calma.

— Desculpa doutora.

— Explique-me porque vossa filha está com desnutrição?

Como uma mãe não notou isso?

— Ela não aceitava comer, por mais que eu tentasse.

— Porque não marcou uma consulta de imediato? Uma criança precisa dos nutrientes para sobreviver.

— Eu vou ficar de olho, eu juro.

— Vou encaminhá-los para a psicologia, terapia em casal.

Eles olharam-me em protesto.

— Eu não vou submeter uma criança a vossa crise ridícula, ou vão, ou chamo o conselho titular para avaliar vosso caso.

Algo me diz que eu verei a cara deles por muito tempo, eles são um casal problemático que desconta todas as suas frustações aos seus filhos. Não vou permitir que eles sejam mais expostos nessa confusão da vida deles.

— Nós aceitamos fazer terapia.

Eu escrevi uma recomendação. Quando eles saíram, uma criança entrou correndo no meu consultório, quando fiquei de pé, eu sorri, é o Filipe, meu primeiro paciente, ele está fazendo quimioterapia depois de termos descoberto câncer nos pulmões.

— Oi príncipe.

— Doutora Chloe, a médica disse que eu estou melhorando.

Ele pulou em meus braços.

— Doutora.

Disse Leticia entregando-me os exames recentes dele, ele realmente está progredindo, se continuar neste ritmo, logo, logo seus pulmões estarão saudáveis.

— Parabéns, quer chocolate quente?

Eu questionei.

— Simmm.

— Então, vamos fazer esse chocolate.

Eu disse indo para copa, aqueci o chocolate quente que preparei pela manhã, cortei uma fatia de bolo de cenoura. Enquanto ele comia, conversa com seus pais.

— Estou feliz que o medicamento esteja fazendo efeitos, vou receitar pomada para aquelas manchas e medicamento para controlar febre e possíveis enjoos.

Afirmei.

— Doutora, o hospital não tem medicamentos, temos recorrido a farmácia de fora e são muito caros.

O hospital não tem medicamentos? Porque ninguém nunca diz nada.

— Não tem medicamentos? Tem certeza?

— Sim, na farmácia da pediatria e geral.

Eu fui levar minha carteira, rapidamente, fiz um cheque porque não ando com muito dinheiro vivo na carteira, não sei quanto está medicamento nas farmácias de fora, terei que arriscar que 10mil dólares cubra com todas as despesas dele.

— Comprem os medicamentos, em breve o hospital estará abastecido.

Estendi a mão para entregar o cheque.

— Nós não podemos aceitar, a doutora faz muito por nós.

— Aceitem por favor, ele está indo muito bem, não quero que ele passe necessidades, por favor, eu tenho muito dinheiro, não se preocupe comigo.

— Tem certeza, a doutora não vai passar fome?

— Eu juro, não tenham medo de pedir, eu posso ajudar.

Olhei para o garoto comendo enquanto assiste desenhos, ele vai sair dessa.

— Ele é um garoto especial.

Ele é meu primeiro paciente quando me instalei neste hospital.

— Muito obrigada doutora.

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