— Algum problema? — Perguntei.
— Não, nenhum problema. Eu estou sozinho aqui, ao menos, por enquanto. Minha mãe e o resto da família estão em Nova Iorque, não gostam muito do Brasil — sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos. — Por quê? — Oi? — Perguntou. Ele pareceu meio distante agora. — Por que sua família não gosta do Brasil? — Fiz minha pergunta novamente. — É muito violento aqui. Eles não querem nem mesmo visitar. — Que pena — falei, sinceramente. — Realmente é uma pena. Eu tomei mais uma taça de vinho e senti minha cabeça começar a rodar, fazia tempo que não bebia álcool e acabei exagerando. — Eu acho que preciso ir ao banheiro — disse, enquanto me levantava. Eu tentei me manter ereta, mas falhei miseravelmente — me desculpe! — pedi, totalmente constrangida, pois tive que me apoiar nele para não cair de cara no chão. — Sem problemas — Sorriu, me estendendo a mão — eu ajudo você. O vinho em excesso já está fazendo efeito. —Disse, com um sorriso divertido. Eu só queria um buraco para me enfiar dentro depois do comentário dele. Que vexame. Eu agradeci, tentei recusar a ajuda, mas ele insistiu e eu acabei aceitando, estava mesmo um pouco tonta e os saltos não estavam ajudando nada no meu equilíbrio. Da próxima vez eu não deixo a Marina escolher nada para mim, não mesmo. — Obrigada pela ajuda — Falei, assim que saí do banheiro. — Foi um prazer! — Ele respondeu, com seu belo sorriso. — Nossa, que vexame o meu, né? Eu não bebo assim sempre, quero dizer, eu… — tentei diminuir minha vergonha, porém acabei piorando ainda mais. — Tudo bem, foi divertido. Então, vamos voltar para a festa? — Perguntou, me estendendo sua mão. Sabe, quando sentimos aquele frio na barriga e parece que tem uma corrente elétrica subindo e percorrendo o corpo inteiro? Foi assim que eu me senti. Eu não sei o que esse homem me causou e só com um simples toque, fazia muito tempo que não sentia isso e, quando digo muito tempo, é muito tempo mesmo. Depois de tudo que me aconteceu no passado e o Edu me deixou, eu nunca mais fui a mesma, até tentei seguir em frente e me relacionar com alguns caras, mas não deu, eu não senti nada, mesmo quando eram bonitos e chamavam a atenção, eu não senti nada perto do que estou sentindo agora, essa atração, essa química que tem, pelo menos da minha parte. Nós caminhamos pelo extenso corredor até chegar de volta ao grande salão, assim que passamos pela porta avistei a minha mãe, que aproximou-se assim que nos viu. — Vejo que você arrumou uma companhia, minha querida — disse, medindo o homem ao meu lado de cima a baixo, depois ela ainda piscou para mim de forma sugestiva. A minha mãe quer me matar* de vergonha. — Oi mãe, esse é o Samuel Miller, acabei de conhecê-lo — respondi, forçando um sorriso. Claro, eu também torci interiormente para minha mãe ler nas entrelinhas e perceber que estou pedindo para ela não falar nada vergonhoso, ou que passe a ideia que estou desesperada por um macho. — Acabou de conhecer, é? — Piscou novamente e ainda completou com um: — Seei… safadinhos! — Certo, preciso encontrar uma ponte para me jogar, a senhora Janete Montez, acabou de aumentar o meu vexame. — Não liga para as besteiras que minha mãe diz, ela alucina às vezes — fiz uma careta divertida, na tentativa de descontrair e deixar esse momento menos vexatório. — Tudo bem, eu não ligo e até achei ela divertida — sorriu. Nós conversamos mais alguns minutos, porém fomos interrompidos, chegaram alguns amigos de negócios dele e ele foi atendê-los. Tirando os momentos vergonhosos que passei, minha noite foi maravilhosa, e isso foi uma novidade, pois fazia tempo que não me divertia assim. E aquele homem não saiu da minha cabeça, passei boa parte do tempo pensando nele. — Bom dia, minha filha! — Minha mãe disse assim que me sentei para tomar meu café da manhã — e o gato, como ficaram? Marcaram um jantar? Eu olhei para ela e minha vontade era xingar ou esganar, mas me contive, afinal ela é minha mãe, respirei fundo e apenas a olhei de cara feia. — Mãe, a senhora sabia que quase me matou de vergonha. — Por quê? Ah, fica calma, minha querida, pelo sorriso dele, ele gostou da ideia — disse, empolgada. Desisto, essa aí é um caso perdido — Samuel Miller, que chique você está! — Disse o nome dele com um brilho nos olhos. Eu apenas dei risada dos delírios da minha mãe, ela já estava imaginando até o meu noivado com o homem, se bem que não seria nada *mal ter um noivo gostoso daquele, claro, isso se eu estivesse procurando um, mas não estou, meu foco é outro. Quarenta minutos depois, eu entrei pela porta da empresa. Hoje teremos uma reunião para tentar resolver alguns problemas inesperados com um contrato que assinei meses atrás, pior é que mesmo que não estejamos em crise, ainda, os acionistas estão me pressionando, aqueles abutres estão torcendo para eu cair. — Bom dia, senhorita Montez — o homem de meia idade disse. — Bom dia, senhor Durval. Então, me diga que vai conseguir finalizar o projeto do prédio residencial e do ginásio. — falei, pegando a pasta de documentos que ele me entregou. — Eu sinto muito, sinto muito mesmo, mas eu acabei de declarar falência —disse, envergonhado. — Como é que é?! — Perguntei nervosa — como assim declarou falência? O senhor tem noção de quantos milhões foram investidos naquele projeto? Senhor Durval, o que eu vou fazer para explicar aos investidores que eles não vão receber pelo que pagaram? Esse homem só pode estar de brincadeira com minha cara. Depois de meio ano de espera, milhões de reais investidos ele vem dizer que não pode concluir?! Como vou explicar isso para os investidores? Ou melhor, como vou cobrir os gastos disso? Só pode ser um pesadelo. — Eu sinto muito, senhorita, eu tentei reverter a situação, mas não consegui. — Senhor Durval, eu entendo, sério, eu entendo, mas eu não posso ter prejuízo, entende? Eu não tenho caixa para cobrir tudo que foi investido nesse projeto, eu não posso arcar com isso! — Falei, deixando evidente o meu desespero, e o homem apenas abaixou a cabeça. — Que droga! — Gritei, depois que o homem saiu. Agora é que aqueles abutres dos acionistas vão pedir minha cabeça mesmo. Eu peguei o telefone e chamei a Camila até minha sala. — Sim, senhorita Jules — ela entrou depois de bater à porta. — Camila, marque uma reunião com todos os acionistas para amanhã, por favor. — Sim, senhorita. — Camila, eu já disse que não precisa dessa formalidade, por favor, me chama apenas de Jules, ok? — Ok. — sorriu. Agora é tudo ou nada, vamos ver o que vão decidir. Mas, uma coisa é certa, eles não vão me tirar da presidência da minha empresa, não mesmo!SAMUEL ADAMS Durante minha conversa com aquela mulher, eu tive que usar muito autocontrole para não pegá-la pelo pescoço e extravasar todo ódio que sinto por ela, principalmente quando a vi sorrir tão animada. Felizmente eu tenho um autocontrole excelente, consigo seguir com meu plano perfeitamente. Mas, uma coisa é certa, eu vou ter o maior prazer em arrancar aquele sorriso do rosto dela e vou fazer isso lentamente, da forma mais dolorosa possível.— Então como foi tudo lá? — Daniel perguntou assim que entrei em minha sala. — Normal — respondi, girando a cadeira de um lado para o outro. — Normal, como assim normal? — Encarou-me, desconfiado. — É exatamente isso, foi normal, nada demais — dei de ombros. — Pode ir abrindo essa boca e me conta tudo, quero saber os detalhes desse encontro. — Disse, sentando-se na cadeira à frente da minha mesa. — Contar o que, cara?— Começa me dizendo o que achou da mulher, ela é tão bonita pessoalmente quanto é nas fotos? — Ela é bonita, mas n
JULES MONTEZ — É. Nos encontramos de novo, Samuel Miller — Respondi, com um sorriso. O homem na minha frente é a imagem da perfeição e elegância. Ele também estava sorrindo e me olhava de um jeito que fez todos os pêlos do meu corpo arrepiarem e, pela leve mudança em sua expressão, ele notou isso. — Então, já fez muitos negócios? Como é a sensação de estar em casa novamente? — Perguntei casualmente para tentar disfarçar o meu estado. Uma coisa é certa, esse homem me faz perder um pouco o equilíbrio. — Sim, fiz excelentes negócios. E você, Jules Montez, também está fazendo bons negócios recentemente? — Novamente ele disse meu nome daquele jeito…. Sei lá, é um jeito diferente, meio frio. Balancei minha cabeça, tirando esses pensamentos da mente, esse deve ser o jeito dele falar. Um homem que se estabeleceu nos Estados Unidos, é normal ele agir como as pessoas de lá, frias, meio distantes. Só estou sendo boba. — Algum problema? — Ele perguntou quando me viu calada e encarando-o.
— Jules, o cara é o homem do momento, é óbvio que está no centro das atenções e todos viram que assim que ele entrou aqui ele ficou olhando para você e depois chegou perto. Na festa também foi do mesmo jeito, é óbvio que ele gostou. Já você, eu te conheço muito bem e é visível sua cara de boba quando fala dele, ou quando está com ele. Eu estou tão feliz por você! — Ela comemorou.— Calma lá, Marina, não vamos colocar muita expectativa nisso — falei ao pensar em todos os problemas que tenho.— Por que não? Jules, você merece ser feliz, para de ficar enterrada em um passado que já foi. Esse homem é um deus grego, bilionário e como se tudo isso não fosse suficiente, ele também está caidinho por você. Aproveite, mulher! — Disse, com aquele jeito empolgado dela. — Como eu disse, não vamos criar muitas expectativas. Nós não sabemos se ele está realmente interessado, esse jeito dele conversar comigo pode ser algo natural dele, deve usar com todos. Marina, eu não preciso de mais frustração n
•Dez anos antes•JULES MONTEZ — Sarah Adams, espera aí coisinha ridícula. Você está fugindo da gente? — Falei, rindo. A garota era tão irritante que eu não a suportava.— Jules, eu não quero brigar, por favor, me deixe ir! — Ela disse com a voz chorosa, fazendo-me rir ainda mais. — Fala sério, garota! Você pode parar com essa ceninha de garota ofendida, eu odeio isso! — Gritei, pegando seus cabelos. — Ai! — Ela gritou. — Eu sei muito bem que você está tentando se aproximar do Edu, o que você acha? Que ele vai olhar para você? Não seja ridícula! Olha só esse cabelo, que horror. E essa pele horrorosa! — A levei até o banheiro, arrastando-a pelos cabelos.— O que vocês estão fazendo? — Ela reclamou, enquanto nós tiramos suas roupas — para, por favor, parem com isso! — Continuou gritando, desesperada, e eu lhe dei um tapa. Assistir ao seu desespero me encheu de satisfação. Eu nunca gostei da nerd filha da puta*, ela ficava se fazendo de santinha, mas por baixo dos panos ficava
JULES MONTEZ— Anda, levanta dessa cama, hoje é a inauguração da nova loja da Santorine vinhos e você vai! — Ela puxou minhas cobertas. — Por favor, mamãe! Eu não quero ir! — Reclamei, mas foi em vão. — Eu não estou afim de sair e também estou sem ânimo até para levantar desta cama. Quero dormir mais, aliás, eu nem dormi ainda — murmurei, bocejando. — Jules, você não precisa ficar presa ao passado pelo resto da vida, isso já acabou — minha mãe acariciou minha cabeça.— Mãe, eu estou tentando, mas eu simplesmente não consigo parar de sonhar com isso! — Falei, pensando nos pesadelos que me atormentam. — Você precisa apagar aquele maldito vídeo e parar de olhar aquilo. Jules, você só faz isso para se torturar, você gosta de ter insônia, de ter pesadelos, ter crise de pânico, do contrário você não ficaria olhando aquela porcaria até hoje! Dez anos, dez anos já passaram, Jules! Está na hora de seguir em frente e perdoar a si mesma. Nós pagamos uma indenização milionária para a famí