— Samuel, que surpresa! — A Janete disse ao me ver parado na porta, ela também parece confusa com minha visita repentina, isso significa que a Jules não está aqui. — Desculpe aparecer assim de repente… — Que isso, você é de casa — me interrompe — pode aparecer sempre que quiser, afinal somos uma família agora — disse, me fazendo entrar. — Aceita um café ou chá? A Maria acabou de fazer um bolo com um recheio dos deuses. — Não, obrigado.— A Jules não veio com você? — Questionou, olhando-me e parece preocupada. Então é isso, ela também não está aqui e pelo jeito nem apareceu. Olho no relógio e já são quase 18h, já está escurecendo e até agora nada de notícias, mesmo olhando nas câmeras de segurança do trânsito não conseguiram descobrir qual caminho ela tomou. Essa falta de informação está me deixando muito nervoso, com ódio, para ser mais exato, mas quando eu colocar as mãos na Jules, ela vai me pagar caro. Ah, se vai. — Então, a que devo a honra da visita? Não me diga que a Jules
— É sempre assim, né! Vocês ricos, acham que tudo é questão de dinheiro. — Não foi só o dinheiro, a Jules também pagou a pena que a justiça determinou. — Hahaha — solto uma gargalhada, quando ouço sua resposta irritada — E você acha que pintar alguns muros e distribuir marmitex é o suficiente, enquanto a minha irmã quase morreu e ficou com sequelas pelo resto da vida? Eu acho que não. — E você acha que é só isso? — Questionou, encarando-me. O desespero e a preocupação nos seus olhos é visível. — Vocês se acham no direito de vir aqui e fazer toda essa cena, inventar um casamento e isso só porque acharam que a minha filha não sofreu também? Que ela não pagou o suficiente? Você não sabe de nada! Ela balança a cabeça de um lado para o outro e pega o telefone discando os números freneticamente. — Não adianta ligar para ela, ela não levou telefone. — Digo e ela joga o aparelho de lado, cobrindo o rosto com as mãos — Você não sabe onde ela pode estar? Um lugar que ela gosta de ir quand
Eu continuei de pé. Ela olha para mim e é diferente de todas as outras vezes em que nos encontramos, antes ela me olhava com admiração e esperança, mas agora, eu só vejo decepção e raiva. — Vocês acham, VOCÊ, acha que a minha filha teve uma vida confortável e tranquila depois de ter feito aquela merda toda, mas ela não teve. Samuel, eu não vou ser hipócrita e falar que a Jules sofreu tanto quanto a sua irmã, eu sei que as dores não podem ser comparadas, mas isso não significa que minha filha não tenha sofrido. — Ela respira fundo e depois continua: — depois do julgamento, aquele que você participou, a Jules foi condenada, juntamente com as amigas, mas como você bem sabe, a Jules pegou a pena mais pesada…— Pesada, seeei... — a interrompi, sarcástico. — Tudo bem você não concordar com a decisão da justiça, se fosse eu no seu lugar também acharia qualquer penalidade pouco demais, mas essa é a lei, foi assim que o juiz decidiu. Continuando… depois do julgamento a Jules foi prestar os s
— Eu já disse que não estou comparando, eu sei que sua irmã sofreu mais, mas a Jules também sofreu, Samuel. Ela tem crise de pânico, tem crises de ansiedade e depressão, e sofre de insônia, ela já chegou a ficar quase uma semana sem dormir. Ela nesse momento deve estar péssima, e só Deus sabe o que ela pode fazer. Eu não estou isentando ela dos erros que cometeu, mas ela se arrependeu e muito. O pai dela morreu sem conversar com ela e isso é uma dor que ela sempre vai carregar. Sabe qual foi a última coisa que o Marcos falou para a Jules antes do acidente de carro que o matou? Ele disse que ela é um fracasso como filha e que desejava nunca ter sido pai, que preferia ser ela a que caiu, do que ter uma filha tão burra e sem prestígio, uma filha que destruiu a vida de toda a família. A Jules pode parecer bem e andar sorrindo, ter tudo no lugar, mas isso é só uma capa, enquanto por dentro, o psicológico dela é todo ferrado. Até aquele dia a Jules era feliz e sorria, depois daquele aciden
Eu fiquei aguardando na sala e ele sobiu as escadas. Depois de vinte minutos, que quase me enlouqueceram. Que demora do caralho! Eles finalmente apareceram. Ela está com uma cara de quem foi tirada de um sono bem turbulento, acho que a bebedeira também não teve boas consequências para ela.— Você quer falar comigo? — perguntou, enquanto se senta no sofá à minha frente.— Sim, é para isso que estou aqui — respondi, sem muita simpatia, ou melhor, nenhuma simpatia. Já esgotei todo o meu estoque de paciência.— Vou deixar vocês conversarem — o Léo disse, lançando um olhar de aviso para a mulher, que revira os olhos em resposta. — Bebe alguma coisa, Samuel? — Não, obrigado. Não vou demorar — digo e ele só faz um gesto com a cabeça, saindo em seguida.— Então, diz aí, a que devo o prazer da visita? — questiona, irônica.— Você e a Jules se conhecem há anos, certo? — É. Por quê?— Você sabe onde ela gosta de ficar? Um lugar importante para ela? Assim que ouve minha pergunta, ela arqueia a
— Está em casa? — Ele pergunta e parece digitar, ele ainda está na empresa.— Não, estou indo para casa agora. Eu fui na casa do Léo tentar conseguir informações com a Marina, mas ela também não sabe de nada. — Bufei, desanimado e enfurecido também. Eu odeio ficar no escuro com algo.— Porra! Mas a Jules também não ajuda com essa reserva toda. Eu nunca vi ninguém tão reservada a ponto de nem a própria família saber dos gostos dela.— É uma porra mesmo — bati no volante depois de estacionar o carro. — Vou ir ver como a Sarah está, assim que tiver informações me avise.— Claro, cara, vai lá.Eu saí do carro e fui em direção ao elevador, dei de cara com a Verônica que está indo até lá também.— Samuel, oi — disse, abraçando-me — eu estou indo na sua casa só agora. Fiquei feliz ao saber que a Sarah já chegou, estava morrendo de saudades.— Ela também está de você — respondi, enquanto desvio do beijo que ela tentou me dar.— O que foi? — Questionou, decepcionada.— Nada demais, só vamos pa
JULES MONTEZ Eu saí daquele apartamento com meu peito doendo tanto que ficou difícil até de respirar. As lembranças de tudo que eu fiz, das atitudes cruéis da Jules Montreal, que eu tentei enterrar por tanto tempo, pesam tanto na minha consciência que eu só quero fugir de perto dela, da pessoa que destruí. Eu ansiei tanto ter aquela garota na minha frente, mas eu também tive medo, muito medo de ficar frente a frente com o mal que eu causei. Eu desci até a portaria e corri, atravessando a rua, fui andando sem rumo e nem me incomodei com os olhares estranhos por eu estar só de pijama. Meu nariz começou a sangrar e a dor de cabeça foi ficando cada vez mais insuportável.— Ei moça, você está passando mal, tem que ir para o hospital — um homem de uniforme disse, segurando meu braço — vem, tem uma UPA logo ali à frente, eu te ajudo a chegar lá — ele me puxa na direção que falou, mas eu recuso, puxando meu braço de volta.— Me deixe!— Moça, seu nariz tá sangrando — pega minha mão, que est
Viro-me devagar, parece que estou em câmera lenta, é como nos filmes de suspense quando tem aquele momento de tensão onde só conseguimos ouvir as batidas do coração. Mas eu não vou mostrar meu real estado, ele já teve muito do meu sofrimento por hoje, aliás, não só por hoje, ele vem me fazendo sofrer desde o início. — Como você me achou aqui? — Perguntei, forçando uma calma que nem de longe eu tenho.Saio do abraço do Edu sob os olhos atentos dele, a pressão dos seus lábios e o olhar assassino mostram que ele está com muita raiva, e eu não sei o porquê, já que quem foi enganada esse tempo todo fui eu e não ele. — Como eu te achei aqui? — repete a minha pergunta entredentes — É sério isso, Jules? — Vocês não acham melhor ir conversar em outro lugar? As crianças ainda estão aqui — O Edu chama a nossa atenção. O Samuel olha para ele, depois olha de volta para mim e vai passando o olhar pelas crianças ao nosso redor, ele faz um movimento de cabeça e eu não consigo decifrar sua express