— Orgulhoso — repete lentamente a palavra — Eu poderia estar orgulhoso, se a sua atitude de usar a boceta para garantir o sucesso da empresa tivesse sido tomada naquela época… lembra? — completou, fazendo-me lembrar mais uma vez aquele velho nojento, meu estômago contrai e eu sinto o gosto amargo do vômito que tenta sair, mas eu o seguro, não vou ser fraca na frente dele, de novo não. — Aí é que está a diferença, papai, eu não usei somente a boceta, eu realmente me apaixonei — minha voz sai arrastada ao pronunciar essa palavra, é nojento fazer isso na frente dele. — Mesmo? — Ri, um riso desdenhoso, que me causa as mesmas sensações de anos atrás — Então foi por amor, que bonitinho. Ele olha para mim e em seguida para minha mãe. Não tem nada ali, nenhum sentimento, nenhuma simpatia sequer por nós duas que um dia ele chamou de família. Como ele pode ser tão seco? Como nós duas podemos ser tão cegas a ponto de amar esse homem por tantos anos? — Sabe, Marcos, eu só queria entender o po
— Para de falar, Marcos, seu desgraçado! — Minha mãe avança em sua direção, mas é parada pelo Estevão. — Você quer continuar escondendo a verdade dela? Você não é nada melhor do que eu — ele ri, se divertindo com desespero da minha mãe. — De que verdade vocês estão falando? — Pergunto. Uma pressão já se forma no meu peito, tenho certeza que não vou gostar disso. — A verdade é que nós não temos o mesmo sangue, filhinha — fala a última palavra com ironia e satisfação, uma satisfação que me dói muito. — Como? — Minha voz saiu arrastada quando o questionei. — Marcos, seu filho da puta, não continua com isso! — Minha mãe grita, ainda mais desesperada, mas ele só sorri e continua. — A verdade é que você não é a minha filha, Jules, eu só registrei você, mas não temos o mesmo sangue — as palavras dele caem como uma bomba na minha cabeça, fazendo-me perder as forças por um breve momento, minha mãe me ampara, enquanto ele ri apreciando a cena. — Quando eu comecei a namorar a Janete, ela j
SAMUEL ADAMS — Que cara é essa, cara? Algum novo problema? — Daniel pergunta assim que entro no escritório. — Não. Pelo menos por enquanto não, e espero que não tenha. — Suspiro profundamente — Eu avisei aquele velho desgraçado para medir as palavras ao falar com a Jules — falei, deixando claro o motivo da minha expressão irritada. Eu não gostei dessa decisão da Jules de ir falar com o pai, ela sabe que ele não presta, nunca prestou e só fez mal à ela e a mãe, não tem necessidade dela adicionar sal na ferida, porque é exatamente isso que essa conversa será, mas eu sei que ela precisa disso para seguir em frente. — Fica calmo, a Jules vai ficar bem. Ela evoluiu muito nesses últimos acontecimentos, está mais forte e vai sobreviver a esse encontro. — É, você tem razão, ela realmente está mais forte, e está mostrando isso. — Além do mais, eu duvido muito que o velho vá tentar alguma gracinha, ele sabe com quem está lidando. — Espero que sim, mas por precaução, eu falei para o Estevã
— Fazer o que exatamente? — pergunto, fazendo-a suspirar irritada. — Você não está ouvindo esses dois? Eles estão falando em bater!— Bom, eles me bateram, prenderam você, uma mulher grávida, fora todos os outros crimes que aquele desgraçado cometeu — dou de ombros. — Isso quer dizer que você não vai fazer nada? — Jules, você viu que tipo de lixo ele é. Nós duas fomos deixadas para trás, fomos abandonadas à própria sorte, e ele ainda colocou você nos negócios sujos dele, por que você quer protegê-lo? — Janete fala um tanto irritada. — Eu não quero protegê-lo, apenas acho que a senhora está exagerando nesse pedido. Mãe, nós não somos criminosos. — Isso não é ser um criminoso, é apenas obter uma justiça mais justa, na cadeia ele não irá sofrer nada, então que faça isso aqui! — diz, virando-se e indo até o Estevão. — Ela não vai me ouvir, não é mesmo? — a Jules me pergunta, sua expressão não é nada boa. — Não, não vai. Não se preocupe, o Estevão vai cuidar bem dela. Quanto à surra
— Veremos… — digo, enquanto envio uma mensagem, mandando prepararem o depósito oeste para soltar os pitbulls. — Sabe, Marcos, eu sempre acreditei que a Jules era uma pessoa ruim, e ela teve atitudes que me levaram a acreditar nisso, mas você, um maldito pedaço de merda, sem o mínimo de humanidade, fez a caveira da sua própria filha, pode não ter o seu sangue, mas você a criou como filha! — Minha voz chega a falhar, tamanha é a minha raiva desse homem. — Estou realmente impressionado com aquela idiota, no final, ela não foi tão inútil, conseguiu usar bem aquele corpo — diz com um sorriso debochado. — Soube sim, ela é ótima. Mas não é só o corpo, ela é excepcional, ela conseguiu fazer a empresa entrar no mercado internacional e hoje é uma das parceiras da Bishop Corporation — ele arregala os olhos de surpresa e descrença, mas volta ao normal, ao encarando-o.— Foi você quem fez isso, não ela. — Mas foi por ela que eu fiz. A Jules soube me conquistar, ela mostrou força e determinação
— Ele não vai aguentar, já está se tremendo todo, e os cães nem chegaram perto dele ainda — o Estevão diz rindo, enquanto o Marcos se mantém encostado na grade. — Vamos dar um pouquinho de crédito a ele, afinal, ele se foi bem esperto se passando por morto todos esses anos — respondi irônico. O homem está quase borrando as calças de tanto medo.— Vocês dois seus desgraçados, eu vou matar vocês quando eu sair daqui — ele diz com a voz tremida, fazendo eu e o Estevão rir. — A afirmação correta seria: se você sair daí, você pode tentar revidar, mas não será possível realizar seu desejo — digo rindo, o que o faz olhar-me com um misto de ódio e medo, o que me diverte bastante. — Você não tem chance, claro, milagres podem acontecer, mas eu duvido muito que Deus queira salvar uma escória como você, portanto, acostume-se com a sua derrota. Olha só, o Gorila está vindo te recepcionar — apontei para o cão, que se aproxima lentamente, encarando o homem, que agora se agarra nas grades numa tent
— Não, ou melhor, ela disse que tinha um casamento para ir, mas não queria, e só estava indo porque a mãe dela praticamente a obrigou. A Marina está cada dia mais estranha e a situação com o Léo está cada dia pior — suspira preocupada e eu a abraço. — Não se preocupe, se nós dois estamos juntos e bem agora, eu acredito que eles vão se entender também. — Eu espero, porque a minha amiga está sofrendo muito. Assim que chegamos ao aeroporto, já estão todos lá nos esperando. — Desculpem o atraso, eu tentei me arrumar mais rápido, mas não consegui — a Jules se adiantou, desculpando-se. — Não precisa se preocupar, nós também demoramos bastante, e chegar no horário hoje foi uma exceção. — Minha mãe respondeu, abraçando-a. Eu fico parado, olhando feito um bobo a interação delas, isso, com certeza, é um resultado melhor do que o esperado para tudo o que aconteceu. — O piloto já está pronto para partir, vamos? — O Edu avisou, depois de olhar o telefone. Mesmo sob os protestos da Sara, ele
JULES MONTEZ As coisas estão em paz agora, eu estou me adaptando bem às mudanças que aconteceram em minha vida nos últimos dias. Infelizmente nem todos tiveram mudanças boas. O Marcos foi surrado pelo Estêvão, lá naquela cela improvisada, e depois de uma semana acabou morrendo. Não sei os detalhes de como sua morte aconteceu, mas sei que o Samuel e o Estêvão tem o dedo nisso. Eu sei que o Marcos teve apenas o que merecia, seja lá o que ele passou antes da sua morte, ele deve ter feito pior com suas vítimas, é o olho por olho, dente por dente, que falam, mas eu senti quando soube. Claro que não foi doloroso como anos atrás, em sua falsa morte, mas ainda sim, eu fiquei triste, só que dessa vez também fiquei aliviada. Pode ser errado sentir alívio com o fim de alguém, mas nesse caso esse alguém já tinha colocado um fim na própria vida, então isso só se concretizou de verdade. Agora finalmente eu posso seguir meu caminho sem nenhuma culpa relacionada a ele. Esse é mais um ciclo que se