SAMUEL ADAMS — Que cara é essa, cara? Algum novo problema? — Daniel pergunta assim que entro no escritório. — Não. Pelo menos por enquanto não, e espero que não tenha. — Suspiro profundamente — Eu avisei aquele velho desgraçado para medir as palavras ao falar com a Jules — falei, deixando claro o motivo da minha expressão irritada. Eu não gostei dessa decisão da Jules de ir falar com o pai, ela sabe que ele não presta, nunca prestou e só fez mal à ela e a mãe, não tem necessidade dela adicionar sal na ferida, porque é exatamente isso que essa conversa será, mas eu sei que ela precisa disso para seguir em frente. — Fica calmo, a Jules vai ficar bem. Ela evoluiu muito nesses últimos acontecimentos, está mais forte e vai sobreviver a esse encontro. — É, você tem razão, ela realmente está mais forte, e está mostrando isso. — Além do mais, eu duvido muito que o velho vá tentar alguma gracinha, ele sabe com quem está lidando. — Espero que sim, mas por precaução, eu falei para o Estevã
— Fazer o que exatamente? — pergunto, fazendo-a suspirar irritada. — Você não está ouvindo esses dois? Eles estão falando em bater!— Bom, eles me bateram, prenderam você, uma mulher grávida, fora todos os outros crimes que aquele desgraçado cometeu — dou de ombros. — Isso quer dizer que você não vai fazer nada? — Jules, você viu que tipo de lixo ele é. Nós duas fomos deixadas para trás, fomos abandonadas à própria sorte, e ele ainda colocou você nos negócios sujos dele, por que você quer protegê-lo? — Janete fala um tanto irritada. — Eu não quero protegê-lo, apenas acho que a senhora está exagerando nesse pedido. Mãe, nós não somos criminosos. — Isso não é ser um criminoso, é apenas obter uma justiça mais justa, na cadeia ele não irá sofrer nada, então que faça isso aqui! — diz, virando-se e indo até o Estevão. — Ela não vai me ouvir, não é mesmo? — a Jules me pergunta, sua expressão não é nada boa. — Não, não vai. Não se preocupe, o Estevão vai cuidar bem dela. Quanto à surra
— Veremos… — digo, enquanto envio uma mensagem, mandando prepararem o depósito oeste para soltar os pitbulls. — Sabe, Marcos, eu sempre acreditei que a Jules era uma pessoa ruim, e ela teve atitudes que me levaram a acreditar nisso, mas você, um maldito pedaço de merda, sem o mínimo de humanidade, fez a caveira da sua própria filha, pode não ter o seu sangue, mas você a criou como filha! — Minha voz chega a falhar, tamanha é a minha raiva desse homem. — Estou realmente impressionado com aquela idiota, no final, ela não foi tão inútil, conseguiu usar bem aquele corpo — diz com um sorriso debochado. — Soube sim, ela é ótima. Mas não é só o corpo, ela é excepcional, ela conseguiu fazer a empresa entrar no mercado internacional e hoje é uma das parceiras da Bishop Corporation — ele arregala os olhos de surpresa e descrença, mas volta ao normal, ao encarando-o.— Foi você quem fez isso, não ela. — Mas foi por ela que eu fiz. A Jules soube me conquistar, ela mostrou força e determinação
— Ele não vai aguentar, já está se tremendo todo, e os cães nem chegaram perto dele ainda — o Estevão diz rindo, enquanto o Marcos se mantém encostado na grade. — Vamos dar um pouquinho de crédito a ele, afinal, ele se foi bem esperto se passando por morto todos esses anos — respondi irônico. O homem está quase borrando as calças de tanto medo.— Vocês dois seus desgraçados, eu vou matar vocês quando eu sair daqui — ele diz com a voz tremida, fazendo eu e o Estevão rir. — A afirmação correta seria: se você sair daí, você pode tentar revidar, mas não será possível realizar seu desejo — digo rindo, o que o faz olhar-me com um misto de ódio e medo, o que me diverte bastante. — Você não tem chance, claro, milagres podem acontecer, mas eu duvido muito que Deus queira salvar uma escória como você, portanto, acostume-se com a sua derrota. Olha só, o Gorila está vindo te recepcionar — apontei para o cão, que se aproxima lentamente, encarando o homem, que agora se agarra nas grades numa tent
— Não, ou melhor, ela disse que tinha um casamento para ir, mas não queria, e só estava indo porque a mãe dela praticamente a obrigou. A Marina está cada dia mais estranha e a situação com o Léo está cada dia pior — suspira preocupada e eu a abraço. — Não se preocupe, se nós dois estamos juntos e bem agora, eu acredito que eles vão se entender também. — Eu espero, porque a minha amiga está sofrendo muito. Assim que chegamos ao aeroporto, já estão todos lá nos esperando. — Desculpem o atraso, eu tentei me arrumar mais rápido, mas não consegui — a Jules se adiantou, desculpando-se. — Não precisa se preocupar, nós também demoramos bastante, e chegar no horário hoje foi uma exceção. — Minha mãe respondeu, abraçando-a. Eu fico parado, olhando feito um bobo a interação delas, isso, com certeza, é um resultado melhor do que o esperado para tudo o que aconteceu. — O piloto já está pronto para partir, vamos? — O Edu avisou, depois de olhar o telefone. Mesmo sob os protestos da Sara, ele
JULES MONTEZ As coisas estão em paz agora, eu estou me adaptando bem às mudanças que aconteceram em minha vida nos últimos dias. Infelizmente nem todos tiveram mudanças boas. O Marcos foi surrado pelo Estêvão, lá naquela cela improvisada, e depois de uma semana acabou morrendo. Não sei os detalhes de como sua morte aconteceu, mas sei que o Samuel e o Estêvão tem o dedo nisso. Eu sei que o Marcos teve apenas o que merecia, seja lá o que ele passou antes da sua morte, ele deve ter feito pior com suas vítimas, é o olho por olho, dente por dente, que falam, mas eu senti quando soube. Claro que não foi doloroso como anos atrás, em sua falsa morte, mas ainda sim, eu fiquei triste, só que dessa vez também fiquei aliviada. Pode ser errado sentir alívio com o fim de alguém, mas nesse caso esse alguém já tinha colocado um fim na própria vida, então isso só se concretizou de verdade. Agora finalmente eu posso seguir meu caminho sem nenhuma culpa relacionada a ele. Esse é mais um ciclo que se
— Eu também desejo que você seja feliz, Edu. Você já falou com a Sara? — Eu estou tentando, mas ela não facilita muito para mim — sorri irônico — Ela acha que a condição dela é um empecilho para o meu sentimento. Jules, você me conhece e sabe que eu jamais ficaria com uma pessoa por pena, eu realmente gosto dela e há anos, mas ela simplesmente não acredita em mim. — Você lembra da nossa conversa sobre encontrar um tratamento para ela? — confirma, balançando a cabeça — Então, eu achei, nós só temos que conversar com ela. — Mas qual de nós vai fazer isso? — Arqueia a sobrancelha. — Bom,isso tudo começou comigo, nada mais justo que eu ter essa conversa, né! — Falei tentando mostrar confiança, mas a verdade é que eu estou apreensiva, minhas mãos gelam só de pensar no quanto será tenso esse diálogo. Convencer a pessoa, a quem você machucou, de ir para uma mesa de cirurgia, correr novos riscos, passar novas dores, e tudo isso sem uma certeza de cura? É... Eu preciso ter muita coragem pa
— Samuel, por ela ter feito você mudar de ideia, eu achei que ela fosse um pouco mais desenvolta, mas ela nem mesmo consegue responder — faz um estalo com a língua, com certeza, para deixar explícito seu desgosto. — Dá um desconto para ela, padrinho, ela está grávida e passou por muitas coisas nesses últimos dias — o Daniel diz, me deixando um pouquinho mais aliviada. Um alívio que durou só até as próximas palavras do homem, que continua parado na minha frente, avaliando-me. — Pelo menos o Samuel não hesitou em dar um fim àquele verme metido a bandido, ele virou mesmo comida de cachorro foi? — não consegui segurar um murmúrio de surpresa. O homem ri olhando minha expressão — Não me diga que você não sabia? Samuel, você não falou a verdade com a sua esposa — diz, enfatizando a última palavra com uma ironia que me deixa ainda pior do já estava. Já estou me arrependendo de ter vindo, e eu nem cheguei direito. — É claro que ela sabe a verdade, todos sabem. Jules, esse é o Jason Bishop,