Pietra Santini Depois da festa, todos começaram a voltar para suas casas. A noite tinha sido mágica, cheia de amor e celebração, mas agora o silêncio do campo trazia uma calma bem-vinda. O chalé ficava em uma região montanhosa, rodeada por árvores altas e flores silvestres que preenchiam o ar com um perfume suave. Malena se ofereceu para levar Augusto de volta ao apartamento, insistindo que era o momento de nos concentrarmos um no outro. — Divirtam-se. E não se preocupem com o Augusto, ele está comigo. Aproveitem como se o mundo fosse só de vocês hoje. — Sua voz era doce, mas cheia de determinação, enquanto carregava nosso pequeno, que dormia profundamente em seus braços. Assim que ficamos sozinhos, a magia do lugar pareceu nos envolver. O chalé era acolhedor, com paredes de madeira rústica e janelas grandes que deixavam a luz da lua entrar. Uma lareira acesa aquecia o ambiente, e pétalas de rosas estavam espalhadas pelo chão e pela cama de dossel no centro do quarto. O aroma das
Pietra Santini O dia estava perfeito. O sol brilhava alto no céu, iluminando cada canto da chácara com um calor agradável. O som das risadas infantis ecoava pela piscina, misturado ao barulho da água sendo espirrada e ao estalar da carne na churrasqueira. Era o tipo de dia que ficava gravado na memória, repleto de simplicidade e amor.Augusto, agora com seus 15 anos, assumia o papel de irmão mais velho como se tivesse nascido para isso. Ele estava na piscina com Luna, sua irmãzinha de 5 anos, segurando-a nos ombros enquanto ela gritava:— Mais rápido, Augusto! Eu quero ganhar da Mirella!Mirella, de 14 anos, nadava ao lado, tentando alcançar os dois.— Vamos ver se vocês são bons mesmo! — ela desafiou, rindo e tentando derrubá-lo.Na borda, Lucas, de apenas 4 anos, batia palmas entusiasmado.— Vai, Luna! Vai, Mirella! Todo mundo é bom!Perto da churrasqueira, Adônis estava ao lado de Luke e seu pai, Alberto, todos cercados pelo aroma delicioso da carne assando. Alberto, já grisalho,
Augusto Santini Hart As férias na chácara eram uma tradição na minha família desde que eu me entendo por gente. Desde bebê, passei todos os Natais e verões aqui, cercado por meus avós Malena e Alberto, minha mãe Pietra, meu pai Adônis, minha irmã Luna e minha melhor amiga Mirella e seu irmão mais novo Lucas. Agora, que somos mais velhos, os churrascos, as partidas de futebol e os mergulhos na piscina continuam sendo os pontos altos dessas férias. Mas este ano, algo estava diferente.Eu tinha 19 anos agora, e Mirella, minha melhor amiga de sempre, tinha 18. Ela era praticamente uma irmã pra mim, e crescemos juntos, dividindo segredos, risadas e até algumas lágrimas. Mas o que começou como uma amizade profunda e leal se transformou em algo mais nos últimos meses. Passávamos tanto tempo juntos que não havia como ignorar a atração crescente que estava entre nós.Naquele dia, enquanto meu pai,Luke e meu avô acendiam o fogo para o churrasco e as crianças brincavam na piscina, nós três,mamã
Adônis Hart Sério isso? Uma reunião em pleno domingo de manhã? Senhor Conrado não podia ao menos esperar até depois do almoço? Tem dias que eu me pergunto se ele faz essas coisas só pra provar que manda em todo mundo.Saio da casa em que moro com meus pais, que na prática é um anexo para empregados na mansão dos Santini. Trabalhar para eles é um destino que já estava traçado desde que eu era moleque. Cresci sendo treinado para isso — técnicas de defesa, condução, segurança particular. Meu pai é segurança pessoal do senhor Conrado há anos, e desde pequeno ele deixou claro que um dia eu seguiria o mesmo caminho. O que eu não esperava era começar antes dos trinta.Enquanto caminho para o escritório, passo pela cozinha e cumprimento minha mãe, que já está ocupada organizando o café da manhã de todo mundo, inclusive o nosso. Dou um beijo rápido no rosto dela, e ela sorri antes de voltar ao trabalho. Minha mãe é daquelas que sabe tudo sobre a casa e a família Santini, afinal, ela trabalha
Pietra Santini — Bom dia, Maleninha — cumprimento ao entrar na cozinha, depositando um beijo em sua bochecha enquanto ela termina de organizar o café da manhã.— Bom dia, querida. Vai sair hoje, mesmo sendo domingo? — pergunta com aquele tom carinhoso que só ela tem.— Ensaio extra de balé. Tem uma apresentação infantil chegando, e minha professora me escalou para ajudar as meninas — explico, suspirando, já sentindo o cansaço antecipado.— Você não para mesmo, hein? — ela sorri, com aquele ar gentil que parece um abraço silencioso. — Pelo menos se alimente direito, Pietra. Você anda comendo tão pouco ultimamente.— Ah, você sabe como é, Malena. Tenho que manter a forma — digo, sem graça, desviando o olhar.A verdade é que o balé nunca exigiu tanto de mim. A pressão para ser impecável não vem das aulas, nem das apresentações, mas sim do meu pai. Ele é o tipo de homem que vê uma mulher apenas como um reflexo de aparência, como se nossas conquistas fossem irrelevantes diante de uma cint
Pietra Santini Acordei com o corpo pesado, a sensação de exaustão me consumindo. Ontem as meninas no balé pareciam ter uma fonte infinita de energia, enquanto a minha já estava no limite. Ainda assim, eu não tinha escolha. A vida, com todas as suas exigências, não me dava tempo para parar.— Bom dia, Malena — digo, entrando na cozinha e me sentando à mesa.— Bom dia, querida. Sente-se e tome seu café — ela responde, já colocando um prato à minha frente.Enquanto pegava uma tigela de iogurte com granola e morangos, decidi perguntar algo que já sabia a resposta.— Meu pai está em casa?Malena suspira, o rosto expressando o mesmo pesar de sempre.— Não, meu amor. Ele viajou ontem, pouco depois de você chegar.— Certo — respondo, tentando soar indiferente, mas a sensação familiar de abandono lateja no fundo.Terminei meu café sem pressa. Não estava com muita fome, para variar. Hoje era dia de aula de alemão, e eu mal conseguia reunir energia para me arrastar até lá.Caminhei até o carro,
Pietra SantiniEnquanto o garfo vai da minha mão até a boca, noto o olhar de Alana. Ela não disfarça nem um pouco. Adônis está sentado do outro lado da mesa, alheio — ou fingindo estar alheio —, e ela o devora com os olhos como se ele fosse um banquete. É irritante.— Para de encarar o Adônis desse jeito — resmungo, tentando manter a voz baixa. — Deixa o cara comer em paz.Alana solta uma risada que me faz revirar os olhos antes mesmo de ouvir a resposta.— Não dá, amiga. O cara é um pedaço de mal caminho. Se você não quiser, eu quero.— Nem se eu quisesse — murmuro, cruzando os braços. — Ele é grosso e parece que tem algum problema comigo.— Será que vocês não já se conheciam? — Alana pergunta, inclinando a cabeça como se tentasse montar um quebra-cabeça. — Sei lá, brigaram na infância ou coisa assim?— Tenho certeza que não. Apesar de morarmos no mesmo terreno, eu quase não o via. Acho que... observava ele de longe às vezes, mas nada demais.— Então ele só não foi com a sua cara mes
Pietra Santini Ao abrir a porta de casa, fui recebida pelo som abafado de vozes na cozinha. Malena e Adônis conversavam em tom baixo, como se compartilhassem segredos. O contraste entre a seriedade habitual de Adônis e o sorriso sutil de Malena me surpreendeu. Era raro vê-lo assim, com traços tão humanos.Meu coração pesou. Talvez por inveja. Talvez pela saudade de algo que nunca tive. A ausência de minha mãe parecia ainda mais cruel em momentos como esse, em que uma interação simples me lembrava do vazio que carregava. Se ela estivesse aqui, tudo seria diferente. Talvez fôssemos uma família de verdade, e hoje, em vez de lidar com as sombras de um passado que não vivi, estaríamos comemorando seu aniversário.Tentei ignorar a dor enquanto caminhava até a cozinha.— Malena, estou com febre hoje, tudo bem? — perguntei, a frase carregada de um significado que só ela entenderia.Ela levantou os olhos para mim, preocupada.— Querida, tem certeza? Ele pode desconfiar. — A preocupação na voz