..... DIA SEGUINTE .....
Como nada consegue mudar as prioridades do Raul, decidi aproveitar o sábado para passear com o Pietro. Desta forma, ele não se chatearia tanto com o pai desperdiçando um lindo dia, enquanto fica enfiado no escritório.Saímos de casa às 10h.Curtimos o dia no ‘shopping’, indo às lojas, comendo no McDonald's na hora do almoço e depois fomos ao cinema por insistência do Pietro para assistir um novo filme em cartaz.Enquanto eu esperava na fila para comprar os ingressos, vi estar em cartaz um filme que eu assisti muito na minha juventude: um amor para recordar. Acho graça no título ao me lembrar que o meu casamento está próximo a isso, momentos para recordar porque a realidade é desencorajante.— Mãe, nós podemos levar um balde grande de pipoca para assistir ao filme? — Pietro perguntou-me, afastando a minha atenção dos pensamentos.— É claro. — respondo.— E refrigerante?— Mas a minha dieta proíbe refrigerante. — digo na brincadeira.— É só hoje. — Pietro faz um biquinho.— Está bem, vamos comprar o refrigerante também. — concordo.— Se pode refrigerante, então uns chocolates não fariam mal... — ele diz persuasivo.Rio.— Deste jeito eu saio totalmente da dieta. — afirmo.— Mãe, você saiu da dieta quando devorou aquele lanche feliz. — Pietro argumenta, me deixando surpresa.— Pietro! — exclamo envergonhada.— E não se esqueça das batatas, você comeu até as minhas. — ele acrescenta, risonho.— Tudo bem. — levanto as mãos em rendição — Você já disse o suficiente, vamos levar os chocolates também.— Ebá! — Pietro comemora.Para um garoto de oito anos, o Pietro está muito esperto...— Sair com você me tira o foco da academia. — reclamo, quando compro os ingressos e vamos comprar guloseimas para assistir ao filme.— Se o papai estivesse aqui eu faria o mesmo com ele. — Pietro fala alegre.— Devia mesmo, não é justo só eu ganhar uns quilos a mais. — faço uma careta.— Mas mamãe, você não está engordando. Está linda como sempre. — Pietro elogia.Por essa eu não esperava.— Que lindo, meu amor. — acaricio o seu cabelo — Você é um doce, ganhou o meu coração!O garotinho abraça a minha cintura e então diz, maroto:— Se eu ganhei o seu coração, quer dizer, que posso pedir uns doces Fini também?Com certeza, o Pietro está muito esperto para a idade dele. Vendo proveito em tudo.......Quando retornamos do ‘shopping’, descobri que o Raul mal saiu do escritório. Ele estava do mesmo jeito que o deixei antes de sair de casa mais cedo, exceto pela embalagem de restaurante que estava ao seu lado.O Pietro perguntou se podia sair para andar de bicicleta, eu concordei. O garoto conseguiu convencer o pai a sair do escritório e acompanha-lo no passeio.O meu filho tem um poder de persuasão incrível, primeiro ao me convencer a comprar besteiras no cinema e agora, ao pai deixar o trabalho de lado.Para o jantar em família — aliás, o primeiro da semana, pois os demais dias o Raul nunca estava em casa — preparo um salmão com risoto de parmesão e de sobremesa banoffe. Admito que gosto de cozinhar, sempre que posso me arrisco em novas receitas e na maioria das vezes, o resultado é divino.— Isso está uma delícia, amor. — Raul elogia ao repetir a sobremesa pela segunda vez.— Está mesmo. — Pietro concorda, se lambuzando com o doce.— Fico feliz com isso. — sorrio em agradecimento.— Pai, nós podemos assistir um filme? — Pietro pergunta, com o olhar suplicante.— Eu sinto muito, filho. Teremos que deixar para outro dia, eu ainda não terminei o trabalho e ficará tarde. — Raul responde.Meu olhar é incrédulo para o homem.— Além disso, você me disse que assistiu um filme no cinema hoje. — Raul completa.— É que tem um filme na TV que vai passar e eu queria assistir. — Pietro diz entristecido.— Deixamos para outro dia. — Raul dá a sua última palavra.Fecho as mãos em punho......Esperei até o último momento para ver se o Raul não mudaria de ideia, mas ele teve sim, a audácia de colocar o Pietro na cama e voltar ao seu muquifo, chamado escritório.O relógio marca 00:15 e nenhum sinal do meu esposo na cama, incomodada, levanto-me e marcho em direção ao escritório.A porta já se encontra aberta, dando visão do Raul sentado de frente para o notebook, com um pequeno monte de papéis ao lado, dedicando toda a sua atenção para o seu maldito trabalho.— Raul! — exclamo exasperada.— Desculpe, amor... — ele murmura, sem tirar os olhos da tela — Já estou terminando e logo vou me deitar.— Terminando? — indago — Você devia ter dado uma pausa horas atrás.— Eu não posso deixar pela metade, Laura. — Raul argumenta — Volte para cama.— Eu pensei que teríamos ao menos um tempo para conversar. — reclamo.— Qual o assunto?"Seriam muitos, já faz muito tempo que você não me pergunta como foi o meu dia." — este é o pensamento em minha mente.— Amanhã terá um almoço em família na casa dos meus pais. — digo por fim.Agora, Raul volta a sua atenção total para mim.— Por que isso? — ele indaga.— O nome já diz. — dou de ombros — É para fazermos uma refeição na comunhão da família.— Os almoços na casa da sua mãe acontece uma vez por mês, o último foi há duas semanas. — Raul lembra.Contenho-me de revirar os olhos.O Raul diz como se fosse a coisa mais difícil a se fazer, almoçar com a minha família.— Acontecerá algo especial amanhã. — conto — O Luís irá levar a nova namorada para conhecer a família. Fazemos parte, por isso nossa presença é requisitada.— O Luís já teve mais de três "novas namoradas" apenas este ano. — Raul diz com indiferença — Qual a dificuldade de vocês entenderem que ele só faz isso para ter passe livre na casa, para poder transar com a moça.Hesito por um momento, com a resposta do meu esposo. Logo em seguida, recomponho me e digo firmemente:— Seja qual for o motivo do Luís não sossegar, isso não irá me convencer ao contrário, Raul. — contesto — Nós iremos a este almoço.— Vão o Pietro e você, Laura, eu tenho trabalho para amanhã. — Raul fala, voltando a sua atenção novamente ao notebook.Fico irada com as suas palavras, respiro fundo e digo friamente:— Não me importa mais que horas você vai se deitar, Raul. É melhor acabar esses contratos para poder ir conosco a este almoço, ou teremos sérios problemas.Dou as costas e saio do escritório, fechando a porta com força, fazendo a parede e o batente estremecer. Nem espero a resposta do Raul, creio que ele irá tomar a decisão certa, já que não brinquei com a minha ameaça...... DIA SEGUINTE .....— Raul, querido, você se serviu com a farofa? — a minha mãe se aproxima de nós, apoiando as mãos no ombro do Raul — Fiz especialmente para você.— Foi a primeira coisa que peguei, Sandra. Está deliciosa como sempre, obrigada. — Raul responde num elogio.Como podem ver, o Raul agiu de maneira sensata e está me acompanhando neste almoço em família. Que bom ele ser um homem sábio nas decisões, caso contrário seria agora um homem morto.— Fiquem à vontade, logo, o Luís e a namorada irão chegar. — a minha fala e se afasta.É notório como a minha mãe ama o Raul, sempre procura tratá-lo bem.— Viu só, filho? — Raul se dirige ao Pietro que está sentado ao seu lado — A segunda coisa melhor ao se casar com uma boa esposa, é ter uma boa sogra. — Espero que quando eu me casar eu também tenha uma boa sogra, pai. — Pietro diz.— Ei! Você é muito novo para falar de casar e muito menos de sogra. — reclamo num tom brincalhão.— Eu vou ser como você, mamãe. — o Pietro fala.—
..... MAIS TARDEDurante o trajeto para casa, no carro, o Raul não disse sequer uma palavra. Era notório o clima tenso e a mandíbula travada que denunciava a sua raiva.Não forcei uma conversa com ele, é melhor conversarmos quando a poeira baixar. Cedo ou tarde, o Raul irá vir reclamar do almoço em família; quando o Raul se retirou, a minha mãe com a Taciane começaram a chamar a atenção dos rapazes por suas palavras rudes.Enquanto me acompanhava até o portão, a minha mãe me contou o que houve. Fiquei chateada com o nível que os meus irmãos chegaram desta vez, em provocação ao Raul. Uma das qualidades que o Raul tem é a paciência, não é fácil tirá-lo do sério; sei o quanto ele se segurou para não ter uma reação agressiva contra os meus irmãos.Ao chegarmos em casa, o Raul foi direto para o escritório, sem mencionar palavras alguma."Ainda não é o momento de conversar." — concluí.Mantive-me entretida com o Pietro, assistindo aos programas na TV em meu quarto. Acabei que peguei no son
..... DIA SEGUINTE .....Quando eu era mais jovem, odiava rotina e fazia de tudo para evitá-la. No entanto, após me tornar mãe, precisei me adaptar a isso.Todas as manhãs, tomamos o café da manhã juntos como uma família unida deve fazer. Não preciso nem dizer que assim como o Raul é o último a sair do trabalho, ele também é o primeiro a entrar; com isso, eu fico com a responsabilidade de levar o Pietro na escola.Sempre vou com a minha roupa de academia, pois, ao deixar o meu filho na escola, vou direto para lá. Mesmo com o dia sempre atarefado, priorizo a minha saúde e bem-estar.Após concluir o meu treino matinal, volto para casa e me apronto para o trabalho.Se formos recapitular, na minha última conversa com o Raul — a qual não foi nada agradável — ele deixou claro que eu deveria parar de trabalhar, até mesmo sugeriu que eu pedisse a conta caso o meu pai — o qual é o meu patrão — insistisse em fazer a minha cabeça para não seguir com
..... ALGUNS DIAS DEPOIS .....FLASHBACK ON— Está confortável? — pergunto ao Pietro, quando ele se deita na cama.Na casa dos meus pais, iremos ficar no quarto de hóspedes — por tempo indeterminado.— Sim. — ele responde.O seu olhar vai de canto em canto pelo cômodo, observo a sua atitude até que pergunto:— Quer perguntar algo? — Iremos ficar muito tempo aqui? — a sua atenção é voltada para mim.Mordo o lábio inferior.— Não tenho certeza. — respondo.Enquanto eu arrumava os nossos pertences nas malas, apenas disse ao Pietro que iríamos ficar por aqui enquanto o Raul e eu não resolvemos alguns problemas, mas sem muitos detalhes.— Eu gosto de dormir no meu quarto e na minha cama. — ele murmura.— Eu sei. — continuo — Mas poderá dormir comigo. Você não gosta? — sorrio.— Gosto. — ele sorri.— Então, eu volto daqui a pouco para me deitar, está bem? — aviso.
..... MAIS TARDE .....LAURA ONAo anoitecer, uma garoa começou a cair e trouxe um ar refrescante após um dia de temperatura alta. Eu gosto de escutar o som que a chuva faz do lado de fora, isso me relaxa, e nestas ocasiões tenho o hábito de preparar um chá — nos primeiros anos de casados, o Raul e eu tínhamos o hábito de nos sentarmos na varanda de casa para apreciar a chuva. Bom, desta vez não é diferente — apenas pelo Raul não estar aqui. Vou para a cozinha e coloca a chaleira no fogo. A casa está tão silenciosa, com os meus pais já em seu quarto e o Pietro adormecido.Quando o chá está pronto, puxo uma cadeira da mesa de jantar e me sento acompanhada da xícara cheia da bebida. O tempo de solitude é satisfatório após um dia de trabalho, mas também traz pensamentos que me deixam ociosa...Raul.Como ele está? Será que sente falta da minha presença na casa? Nos últimos dias não houve nenhum contato entre nós, admito que isso me deixou triste. A sensação que tenho é que este "tempo
RAUL ON— Para onde nós vamos, pai? — Pietro pergunta, no banco de trás do carro.— Vamos passar em casa para deixar a sua mala e iremos ao pesqueiro, o que acha? — continuo — Podemos almoçar e depois vamos pescar, como você gosta.— Faz tempo que não vamos ao pesqueiro. — Pietro afirma.— É mesmo. — concordo.A minha atenção é na direção do volante, as ruas estão bem movimentadas hoje.— E você não vai trabalhar? — o garoto pergunta.Paro o carro no semáforo que acaba de ficar vermelho e me inclino no banco, para poder ver o Pietro:— Tenho alguns afazeres sim, mas decidi deixar para depois. — pausa rápida — Quero passar um tempo com o meu filho, eu estava morrendo de saudades.Posso ver um sorriso se formar no rosto do Pietro.— Podemos pescar no tanque que ficam os peixes maiores? — o meu filho pergunta, agora animado — Quero que a minha foto esteja daquele mural que fica na entrada do pesqueiro.— É claro, vamos alugar um molinete para pegar estes peixões. — afirmo.Volto a me end
ALGUNS DIAS DEPOIS — (SEXTA-FEIRA)LAURA ON— Eu disse que você estava precisando disso. — Joyce dá um cutucão em mim, sentada ao meu lado na mesa do bar.— Quem não gosta de cerveja numa sexta-feira, após uma longa e exaustiva semana, Joyce? — dou de ombros.— Mas o seu caso é diferente. — Luana entra na conversa, ela é uma amiga da Joyce a qual planejou este rolê de mulheres.O local escolhido foi num bar na saída da cidade, bem movimentado e com muita bebida e música. Não faz muito tempo que chegamos, passei pegar a Joyce em sua casa e aqui, fui apresenta a Luana, a Francine e a Paula.— Você contou para elas? — o meu olhar vai para a Joyce.— Ué! O que tem? — a mulher ao meu lado, indaga.— Não precisa sair por aí, expondo a minha vida. — reclamo.Talvez a vinda ao bar apenas me deixe mais estressada.— Não interprete mal, Laura. — a Francine, a qual aparenta ser a mais velha do grupo, diz — Nós que perguntamos a seu respeito para a Joyce.— Gostaríamos de saber com quem estamos l
RAUL ON— Então como combinamos, amanhã irei vir ao anoitecer para te buscar, ok filhão? — lembro ao Pietro.Apertei a campainha da casa dos pais da Laura, a qual tem sido o seu lar nas últimas semanas, enquanto isso esperamos alguém atender.— Tá bom, pai. — Pietro responde, segurando as alças de sua mochila ansiosamente, por conta da saudade da mãe.Eu até havia cogitado a ideia do Pietro vir após as aulas ver a Laura, durante a semana, mas pela longa distância de nossas casas, não pude fazer isso.Logo, o portão é aberto e o meu sogro, Ronaldo, aparece.— Olha só quem temos aqui! — Ronaldo sorri ao ver o neto.— Vovô! — Pietro o abraça.— E aí, garotão? Pronto para me enfrentar novamente num jogo de bola? — Ronaldo pergunta, animado com a presença do neto.Desde que conheci o Ronaldo — da época em que vim pedir a autorização dele para namorar a Laura — não pensei que veria este homem ir de um pai super protetor e mal-humorado para um vô liberal e amoroso. Os netos têm este poder so