Trabalhei na padaria, mesmo que não tenha dormido na noite anterior. Eu e Kevin voltamos para casa pela madrugada e pegar no sono foi impossível para mim. Várias coisas passaram pela minha cabeça naquele dia.
Mamãe ligou infinitas vezes, mas eu estava produzindo minha própria paciência antes de ficar de frente com ela, e quando me senti pronta fui direto para minha antiga casa.
— Onde você estava? — ela reclamou assim que me viu, indignada. — Te liguei a manhã inteira!
— Onde está o papai? — passei pela porta entre os suspiros do meu cansaço.
— Ele ainda não chegou do trabalho.
Esperei que ela se acalmasse e me sentei ao seu lado, no sofá, enquanto ela assistia ao episódio de uma novela. Mamãe estava emburrada, e talvez daquela vez ela nunca me perdoasse.
— Eu não vou, tá bom? —
Eu fui tomada por um sentimento agradável durante a viagem até Veram. Kevin dirigiu tranquilamente e nossa conversa foi divertida em todo o percurso. Eu ainda não tinha um anel em meu dedo, mas eu me sentia bem, como se aquela formalidade fosse desnecessária entre nós.Veram era uma província rural, então ao longo da viagem pude contemplar as plantações e como a área ficava bonita sobre o sol da manhã. Flutuei pelos acontecimentos até me vestir de branco e encontrar Kevin me esperando no altar. Papai me acompanhou cuidadoso, e mesmo ainda discordando, mamãe compareceu ao meu casamento.Todo o momento da cerimônia foi acompanhado de um sorriso persistente em meu rosto. Eu e Kevin trocamos nossos votos, um beijo apaixonado e as alianças num dos momentos mais emocionantes da minha vida. Amei toda a cerimônia e a singela festa que resolvemos fazer ao lado dos nossos amigos e familiares. É claro que o bolo do casamento eu que fiz, mas contei com a ajuda da minha equipe de trabalho para fazer os doceVinte e oito
Paz. Meu celular finalmente estava silencioso e eu podia simplesmente navegar pelas redes sociais e jogar meus jogos bobos em paz, sem e-mails e mensagens desesperadas do escritório.Será que dá para devolver um diploma? Porque, sinceramente, eu desejava não precisar mais usar o meu.Mamãe passou por mim com a expressão de desgosto enquanto eu fuçava um aplicativo de fotos. Estava sentada no sofá da sala fazendo uma lista de compras e me perdi nas fotos de várias tortas. Já fazia uma semana desde que tinha voltado para casa, e passei de filha prodígio para tragédia em um segundo quando contei que havia largado meu emprego no escritório de advocacia.Poderia ter recomeçado em Massan, onde tudo era muito agitado e repleto de novas oportunidades, mas o sentimento lá era diferente. Eu queria conseguir me reencontrar, então retornei para o lugar onde nasci.
Sara conseguiu encontrar um apartamento legal num preço aceitável para mim. Isso que era amiga! Comecei a ter certeza de que voltar para Chaves tinha sido a melhor coisa que fiz. Ainda tinha um dinheiro guardado e estava procurando um emprego nas confeitarias da cidade. Meus pais ficaram um pouco relutantes quando falei que iria me mudar. Eu os entendia perfeitamente e por isso estava aguentando tudo sem reclamar. Se sua filha aparecesse quase com 30 anos dizendo que largou tudo e queria tentar algo extremamente arriscado? — Devíamos chamar pessoas para ajudar, sabe? — Sara disse enquanto eu empurrava o sofá marrom pela casa. Foi uma luta trazer meus móveis de Massan para a nova casa, e tive que pagar caro, mas melhor do que comprar tudo novo. Estava cogitando sinceramente vender o carro se as coisas ficassem muito complicadas. Quando voltei para casa percebi que meus pais se acostumaram a ficar sem mim, e eu me acostumei a ter meu próprio e
Mamãe gritou quando Legolas surgiu correndo e pulou nela. Eu me intrometi na confusão e me abaixei abraçando o cachorro enquanto ela se encolhia na parede.— O que é isso, Wendy? — reclamou ainda nervosa.— É meu novo inquilino — falei alisando a cabeça dele. — Legolas!— Isso é um cachorro de rua? — arregalou os olhos.— Bem, eu vou levá-lo na pet shop e no veterinário mais tarde — sorri sem graça e fiquei de pé. — Ele estava perdido ontem.— Você perdeu todos os seus parafusos! — suspirou parecendo desapontada.Dei de ombros e ri um pouco. Talvez eu tenha soltado meus parafusos e libertado a mim mesma.— E a senhora está precisando de mim? — perguntei indo para a cozinha.— Você ainda é minha filha — suspir
Queria poder dizer que não fiquei ansiosa com o convite do meu ex-namorado, mas acontece que fiquei, e muito. A ansiedade foi tanta que só naquela noite, fiz duas tortas de morangos.Sara me ligou para perguntar como tinha sido no consultório e acabei contando sobre tudo, e que talvez eu estivesse mais animada do que deveria.— Vocês deveriam mesmo resolver — ela disse do outro lado da linha enquanto eu esperava a massa das tortas assarem. — Tudo bem que você fez sua escolha, mas sinceramente, parece que não conseguiram amar outra pessoa como se amavam.— Sara, estamos falando de conversar, e não de voltar a namorar — me encostei na bancada.— Sei, sei — riu um pouco. — Então me explica por que está tão ansiosa!Revirei os olhos e caminhei até a sala, onde me espalhei no sofá. Legolas estava entretido em desf
Ele não apareceu. Kevin me enviou uma mensagem em cima da hora avisando que havia surgido um problema na clínica. Apenas respondi um ok e debrucei meus braços sobre a mesa do restaurante.Eu tinha basicamente passado a noite em claro e ansiei por todo o dia encontrá-lo, mas ele não podia ir. Recebi uma mensagem curta e sem sugestão para outro dia. Talvez ele realmente estivesse ocupado.Não comi no restaurante, pedi para viagem, preferia ir para casa e dividir minha refeição com o Legolas.Mas passeando pelas ruas até chegar ao meu carro me deparei com um cartaz que chamou minha atenção. Voltei para a confeitaria e arregalei os olhos em ler: Precisa-se de assistente. Era um lugar pequeno, mas uma lâmpada se acendeu dentro de mim.Vinha pensando em começar meu próprio negócio. Iria criar uma conta nas redes sociais e promover meu tr
A vida é diferente quando você faz o que gosta. Eu tinha um bom emprego em Massan. Meu salário era ótimo, não tinha dívidas, meu apartamento era espaçoso, meus casacos e bolsas eram caros, e os homens se interessavam por uma advogada que sempre andava por aí de salto alto. Mas minha vida era diferente, e eu não via mais graça em nada daquilo. Meu novo emprego em compensação aparentava ser uma terrível bagunça. Nada de salto altos, e muito menos roupa de