Queria poder dizer que não fiquei ansiosa com o convite do meu ex-namorado, mas acontece que fiquei, e muito. A ansiedade foi tanta que só naquela noite, fiz duas tortas de morangos.
Sara me ligou para perguntar como tinha sido no consultório e acabei contando sobre tudo, e que talvez eu estivesse mais animada do que deveria.
— Vocês deveriam mesmo resolver — ela disse do outro lado da linha enquanto eu esperava a massa das tortas assarem. — Tudo bem que você fez sua escolha, mas sinceramente, parece que não conseguiram amar outra pessoa como se amavam.
— Sara, estamos falando de conversar, e não de voltar a namorar — me encostei na bancada.
— Sei, sei — riu um pouco. — Então me explica por que está tão ansiosa!
Revirei os olhos e caminhei até a sala, onde me espalhei no sofá. Legolas estava entretido em desfiar meu tapete sem graça, mas achei fofo vê-lo brincando.
— Queria a oportunidade de dizer que ele tinha razão — falei percebendo que não fazia sentido. O nosso relacionamento havia acabado há 5 anos, então tecnicamente eu não lhe devia nenhuma explicação.
— Tudo bem! Expliquem-se, se beijem e durmam juntos para matar a saudade! — fechei os olhos enquanto ela gargalhava do outro lado.
— Você está muito engraçadinha hoje! — murmurei sem conseguir rir. — Acho que somos pessoas diferentes agora.
Sara continuou gargalhando e me senti patética, porque minhas ações indicavam que eu queria mesmo voltar com meu ex-namorado. Na verdade, o Kevin era dono da maioria das minhas boas lembranças, e talvez eu só não tivesse mais nada a me apegar.
— Eu acho, que os dois bobos solteirões, estão encontrando a mesma desculpa para se verem — ela continuou rindo. Sara era boba na maior parte do tempo. — Ele não fica muito atrás. Está sendo fechado, mas ontem ouvi uma conversinha dele com o Jacob. Kevin voltou para cá depois de te levar ao metrô.
— Você estava espionando?
— Eu não! — se apressou em dizer. — Foi sem querer.
Sorri um pouco quando Legolas ficou girando no tapete e colocando a barriga para cima. Levantei e fui para a cozinha pensando em preparar a cobertura e recheio das tortas. Coloquei o celular no viva-voz e o deixei sobre a bancada enquanto distrairia minhas mãos com alguma coisa.
— Não quer saber o que ele disse? — Sara insistiu me fazendo apoiar os braços na bancada.
— Pensei que fosse amiga dele — ri nervosa.
Balancei a cabeça e resolvi pegar os ingredientes para dispersar aquilo da minha cabeça. Peguei o creme de leite na geladeira para fazer um chantilly.
— Exatamente! Estou fazendo tudo pela amizade — gargalhou e sorri olhando para o celular. — Eles beberam ontem achando que eu já tinha ido dormir... A conversa foi sobre você — levantei as sobrancelhas com uma vasilha de alumínio na mão.
— Sara, olha.... — gaguejei nervosa. — Não sei se devo saber sobre isso.
— Como se você fosse uma garotinha de 15 anos! — debochou do outro lado. — Acorda, Wendy, os 30 está batendo na porta, e talvez... o Kevin tenha batido umas para você — abri a boca e o barulho da vasilha caindo no chão me deu um susto. — Segura as panelas, amiga!
Abaixei para pegar e meu coração estava muito acelerado, provavelmente pelo susto, certo? Resolvi trocar a vasilha de alumínio por uma de plástico só por precaução.
— Se o Jacob souber que você estava escutando a conversa deles, não ficaria chateado? — perguntei arrumando as coisas sobre a bancada.
Sara tinha razão, por que uma mulher com quase 30 anos estaria tão nervosa?
— Escutei por acaso — Sara disse enquanto eu derramava o creme de leite na vasilha. — Ele parecia perturbado com alguma coisa. Você, no caso.
— Eu? Não conversamos quase nada ontem e nem hoje.
— Kevin demorou muito para se relacionar com outra garota depois que você foi embora — parei no meio da cozinha e fiquei olhando para o celular. Eu tinha medo de saber que tipo de estrago havia deixado quando me mudei. — Ele ficou muito mal. E as suas tentativas com outras não deram muito certo. Toda vez que eu tinha notícias suas, ele ficava mal humorado e parava de falar comigo por semanas.
— Ele me odeia — murmurei suspirando.
— Talvez não odeie tanto! A conversa de ontem... Eu não vou entrar em muitos detalhes, mas parece que te ver o deixou nostálgico, embora eu pense nisso como saudades.
— Sabe, você só está me deixando ainda mais nervosa para amanhã — ri pegando a batedeira no armário. — Vai ser difícil conversar sobre tudo isso.
— Você o conhece. Sinto em lhe contar, mas seu ex-namorado continua a mesma pessoa — Sara espirrou.
— Saúde! — falei e sorri com sua risada.
— Obrigada! Mas Wendy, você não gosta mais dele ou sente um pouquinho de saudade?
Espremi os olhos em direção ao celular. Eu não tinha certeza sobre aquilo. Tudo que vivi com ele foi maravilhoso, mas eu voltei sabendo que não seria possível pegar tudo de volta.
— Não sei bem — respondi segurando os equipamentos, esquecendo que eu estava fazendo a cobertura das tortas. — O Kevin também não parece sentir minha falta. Acho que ele quer apenas resolver tudo, para que o clima entre nós não fique pesado.
— Tá! Então o ajude a parar de ter lembranças de vocês na cama — Sara soltou uma risadinha e abaixei a cabeça envergonhada. — Ele que disse! Está perturbado, porque tudo está se projetando em seus sonhos e quando ele te encara... Espera! Parece que estou narrando uma novela — continuou rindo.
Montei a batedeira sobre a bancada e me aproximei do celular lembrando da reação do Kevin ao me ver em seu consultório. Ele nem olhou para mim direito, e quando fez foi por mero profissionalismo.
— Ele pediu para conversar — falei dando uma olhada no Legolas, que estava muito quietinho na sala. — Ah não!
Corri para a sala em ver meu tapete estraçalhado. O cachorro me encarou com a cara mais lavada e ainda por cima balançou o rabo.
— Seu safado! — resmunguei, mas ele continuou animado. — Está de castigo!
Prendi o Legolas na área de serviço e voltei para a cozinha lembrando que tinha que apagar o fogo. Meu Deus, que bagunça fiquei por um convite!
— Parece que você está nervosa — Sara disse enquanto eu apagava o forno. — Anda tendo sonhos eróticos também?
— Na verdade, não.
Peguei minhas luvas e retirei as massas do forno, as colocando em cima do fogão. Suspirei e estalei os dedos. O chantilly.
— Não vou mentir que queria vê-los juntos outra vez — Sara disse. — Mas sei que precisam de mais tempo. Vou continuar torcendo!
— Sei que vai — resmunguei e ela gargalhou.
Fiquei calada quando ouvi a voz do Jacob.
— Wendy, preciso desligar — Sara falou. — Conversaremos melhor depois, ok? E vou querer saber tudo do jantar!
— Nossa, você é muito romântica! — acabei rindo. — Nos falamos depois.
Ela finalizou a chamada depois de rir. Continuei olhando para o nada até acordar. Apesar de ter saído de Massan, minha mente ainda estava uma completa confusão, e agora tinha uma nova pauta: Kevin.
Fiz o chantilly sem me concentrar em nada. A Sara me deixou ainda mais nervosa e preocupada. Terminei minha receita totalmente distraída, o que não rendeu uma cara boa às minhas tortas, que ficaram distorcidas. No final das contas as guardei na geladeira sem experimentar.
Tirei Legolas da área de serviço depois de limpar a bagunça do tapete, e ainda tive que limpar as sujeiras que ele deixou perto do cesto de roupas sujas.
— Vamos assistir TV? — perguntei vendo que já passava da meia noite.
Legolas apenas deitou-se encostado no sofá e suspirei percebendo que ele já tinha gastado suas energias.
Liguei a TV e me joguei no sofá querendo me distrair. Resolvi navegar pela internet e escolher algum filme. Meu coração bateu mais forte em me deparar com a capa do filme My PS Partner nas sugestoes de filmes. Legal, um filme +18, e justamente aquele filme.
✴✴✴
(Lembrança)
Kevin ficou com medo de me tocar depois da terceira tentativa. Eu fiquei um pouco assustada, por que parecia tão difícil fazer sexo? Mas os dois apavorados apenas ficaram apavorados. Talvez estivéssemos indo rápido demais, talvez estivéssemos tentando errado, nenhum de nós havia chegado perto de fazer aquilo até nos conhecermos. Só sei que doeu mais do que imaginei, e desistimos em todas as tentativas.
Minha vontade de ficar com ele não diminuiu, mas acabamos nos afastando um pouco naqueles dias. Eu sabia que não era culpa de ninguém, mas ele assumiu tudo e achou que a solução seria se distanciar.
Fui para a casa dele naquela noite querendo conversar e ver se ao menos ele esquecia aquela besteira de que era culpa dele. Então assim que saí da aula, corri em casa para tomar um banho, e empacotei a torta de chocolate que tinha feito na noite anterior.
— Wendy, o que está fazendo aqui? — Kevin perguntou parecendo surpreso quando abriu a porta. — Eu ia te ligar!
— Resolvi vir! — sorri me aproximando para beijá-lo, mas ele apenas selou nossos lábios. Inflei as bochechas um pouco chateada e me afastei. — Vamos conversar.
— Agora? — levantou as sobrancelhas.
— É — estreitei meus olhos desconfiada. — Você está ocupado?
— Não — abaixou a cabeça e passou a mão na nuca.
Olhei em volta. Que estranho, nenhum sinal do pai dele, ou a voz alta de sua mãe.
— Trouxe essa torta para você e seus pais — ergui o pacote e ele pegou tocando nossos dedos sem querer. — Eles estão bem?
— Estão — respondeu olhando para trás. — É que... Na verdade, estou sozinho. Meus pais... É... Hoje é o aniversário de casamento e vão passar a noite fora.
Acabei rindo imaginando o quanto eles ainda eram animados. Meus pais nem comemoravam direito, quem dirá passar a noite fora.
— Que inusitado! — falei ainda rindo, mas logo fiquei séria. — E você nem me chamou!
— Eu não quis que ficasse achando que eu queria forçar a barra — virou o rosto e suspirei.
— Você está sendo um bobão, sabia? — passei por ele e entrei na casa.
Kevin demorou um pouco para vir atrás de mim. Ele colocou a torta na mesa da cozinha e ficou me observando da porta. Sentei no sofá e esperei até que ele resolvesse se juntar a mim.
— A aula foi boa? — se aproximou sentando na poltrona.
Pressionei os lábios. Tudo bem que ele queria ser sensível, mas era injusto comigo pensar que eu não queria tê-lo perto. Parecia que ele estava estragando os nossos 10 meses de namoro.
— Olha aqui, Kevin! — reclamei e o garoto levantou as sobrancelhas. — Você está sendo muito egoísta!
— Wendy...
— Me deixe falar! — interrompi chateada. — Entendo que você está perdido, mas eu também, ok? Te ver se afastando está me deixando muito triste — respirei fundo sentindo as lágrimas se formarem em meus olhos. — Pensei que pudéssemos passar por isso juntos, mas estou começando a achar que você vai pular fora.
— Hey! — Kevin levantou da poltrona e se sentou ao meu lado. — Wendy, não é nada disso!
— Vai encontrar uma garota que faça isso mais fácil? — perguntei já chorando.
Ele me encarou magoado, mas logo me puxou para um abraço e alisou meu cabelo. Pude ouvir seu coração acelerado.
— Eu estou com medo de te machucar — murmurou depois de beijar meu cabelo. — Desculpe!
— Mas você está indo embora! — reclamei empurrando seu peito.
— Não — tocou meu rosto. — Wendy, eu não quero outra garota. Fiquei assustado. Sinto muito! — abaixou a cabeça. — Pensei que quisesse um tempo longe de mim.
— Idiota! — murmurei e ele sorriu nervoso.
— Vamos passar por isso juntos — me abraçou outra vez. — Eu te amo!
Conversamos um pouco e depois de discutir e discutir, Kevin me calou com um beijo. O beijo que ele não me deu há dias. E depois de alguns segundos parecia que nunca tínhamos brigado.
Liguei a TV enquanto comíamos torta e cruzei as pernas no sofá. Ele se sentou colado em mim e ficou me cutucando enquanto passava os canais.
— Não tem nada interessante passando — comentou distraído em bagunças meus cachos.
— E aqueles filmes? — apontei para alguns DVDs sobre a mesinha de centro.
— Meu pai que alugou.
— Podemos assistir?
— Acho que sim. Pode escolher!
Peguei um filme aleatório pela capa. Parecia um romance e era coreano. Parecia legal. My PS Partner.
— Que homem bonito! — comentei ao ver o ator.
— É? — Kevin fez uma careta de deboche e tentou tomar um controle da minha mão.
Coloquei a torta na mesa de centro com medo de derrubar e sujar o sofá verde da mãe dele. Kevin me fez cócegas na tentativa de pegar o controle e acabamos rindo e trocando um ou dois beijos.
Paramos de fazer bagunça quando uma cena quente se projetou na tela. O corpo da personagem estava praticamente todo exposto, e que seios! O rapaz também estava nu. Eu não costumava assistir filmes com cenas tão... Claras, se assim posso dizer.
Kevin encolheu as pernas para cima do sofá e sugou os lábios. Eu pisquei com medo de ver e ao mesmo tempo curiosa. Certo, fiquei um pouco agitada com aquilo e engoli seco.
Nós dois suspiramos quando a cena mudou. Acabei rindo nervosa.
— Devemos assistir outra coisa? — Kevin perguntou com a voz rouca, o que era um sinal de que ele estava nervoso.
— O gosto do seu pai é bem interessante — afastei o controle dele, divertida com a situação. — Ou foi você que alugou, hein?
— Não fui eu.
Olhamos de repente para a TV quando escutamos gemidos. Kevin soltou um suspiro. Era uma cena diferente, nada era explícito, mas me abalou novamente.
— Vamos tirar isso! — se aproximou tentando tomar o controle outra vez.
Ri um pouco esticando meu braço para longe dele. Kevin puxou minhas pernas sobre o sofá reduzindo nossa distância e subiu em mim puxando meu braço. Ele tirou o controle de minhas mãos, mas eu estava mais concentrada na cena que se formou, com seu corpo encaixado entre minhas pernas e seu rosto próximo aos meus seios.
A atriz gemia pela TV, mas meu coração estava acelerado por outro motivo. Kevin ficou me encarando pálido. Estava quente antes, e ficou ainda mais o sentindo tão perto.
Ele me beijou bem devagar. Fechei os olhos tocando sua nuca. Ficamos ansiosos muito rápido e aquela vez fiquei muito mais excitada do que nas anteriores. Tomei um susto quando ele se afastou de repente parecendo desnorteado. Sentei no sofá e Kevin colocou a mão entre suas pernas.
— Vamos tentar de novo! — pedi engatinhando até ele. Meu coração estava batendo tão forte.
— Melhor não — murmurou abaixando a cabeça.
— Sério? — me aproximei mais vendo sua aflição. — Eu quero muito!
Kevin me encarou com os olhos arregalados. Seu cabelo estava muito bagunçado por causa da bagunça de segundos atrás.
— Wendy... — falou me encarando nos olhos.
— Vamos para seu quarto? — pedi subindo em seu colo. Ele prendeu a respiração. — Vamos?
Concordou com a cabeça e sorri tentando acalmar a nós dois.
Aquele foi o dia da nossa primeira vez. Eu consegui suportar a dor inicial e Kevin me levou ao meu ápice em pouco tempo. Acabou sendo mais simples do que em nossos pesadelos, e depois de ouvir sua risada gostosa quando acabou, ele me abraçou e ficamos juntos por um bom tempo conversando.
Ainda naquela noite terminamos de assistir o filme.
✴✴✴
— Ah tá! Obrigada Deus da Coincidência! — passei a mão entre os cabelos ainda encarando a capa do filme, carregada de memórias.
Desliguei a TV e resolvi que seria melhor dormir. Legolas me seguiu até o quarto e se enrolou no outro tapete, que eu deveria me despedir em breve.
Mas quando deitei, fiquei encarando o teto escuro e lembrando de algumas coisas.
Tudo que vivi de melhor foi com aquele homem.
Ele não apareceu. Kevin me enviou uma mensagem em cima da hora avisando que havia surgido um problema na clínica. Apenas respondi um ok e debrucei meus braços sobre a mesa do restaurante.Eu tinha basicamente passado a noite em claro e ansiei por todo o dia encontrá-lo, mas ele não podia ir. Recebi uma mensagem curta e sem sugestão para outro dia. Talvez ele realmente estivesse ocupado.Não comi no restaurante, pedi para viagem, preferia ir para casa e dividir minha refeição com o Legolas.Mas passeando pelas ruas até chegar ao meu carro me deparei com um cartaz que chamou minha atenção. Voltei para a confeitaria e arregalei os olhos em ler: Precisa-se de assistente. Era um lugar pequeno, mas uma lâmpada se acendeu dentro de mim.Vinha pensando em começar meu próprio negócio. Iria criar uma conta nas redes sociais e promover meu tr
A vida é diferente quando você faz o que gosta. Eu tinha um bom emprego em Massan. Meu salário era ótimo, não tinha dívidas, meu apartamento era espaçoso, meus casacos e bolsas eram caros, e os homens se interessavam por uma advogada que sempre andava por aí de salto alto. Mas minha vida era diferente, e eu não via mais graça em nada daquilo. Meu novo emprego em compensação aparentava ser uma terrível bagunça. Nada de salto altos, e muito menos roupa de
Atravessamos a rua em silêncio. Kevin parecia nervoso, daquele jeito que ele transparecia desconforto e me deixava ainda mais ansiosa.Eu não sabia bem o que esperar daquilo. Se abríssemos a caixa do nosso passado seria possível sentir tudo novamente? Eu estava com medo. Não queria ter terminado, mas tudo acabou, e querendo ou não, a culpa era minha. Na verdade, ele premeditou aquilo, fui avisada, ele me conhecia melhor do que eu. Passei na casa dos meus pais no sábado à tarde, como mamãe pediu. Eu estava tendo dias estranhos. Não conseguia parar de pensar na conversa que havia tido com o Kevin. Tínhamos combinado de sair, só não sabia bem se era um encontro, e sinceramente, esperava muito que fosse.Mamãe tinha feito um lanche para aquela tarde, eu estranhei como ela estava gentil, e me perguntou de forma empolgada como estava no trabalho. Papai não disse muito, ele continuou mexendo em seu notebook, e apenas aceitou meu abraço quando cheguei.— Por que eu sinto que a senhora está planejando algo? — perguntei, já sentada, observando ela encher uma xícara de café para mim.Mamãe riu um pouco e apoiou o rosto sobre a mão me analisando. Tomei um gole do café, desconfiada.— Fico feliz que esteja indo bem no trabalho! — disse enchendo umaOito
— Você é advogada? — Daniel perguntou depois de jogar a massa de pão que ele estava sovando na mesma bancada que eu estava usando para bater a massa da minha torta. Sorri um pouco enquanto despejava a massa numa assadeira pequena e redonda. Era engraçado lembrar sobre meu diploma de Direito, e que atuei como uma advogada por cinco anos. Eu não era gestora ou nada tão grandioso, mas participava de uma equipe extremamente responsável, e até resolvi alguns casos sozinha. — Sim, tenho um diploma — respondi sem querer parecer arrogante. Coloquei a assadeira no forno e fui recolher os ingredientes para a próxima etapa. Fingi não ter visto o Daniel me seguindo com os olhos. Deveria ser legal ter uma novidade no trabalho, e provavelmente ele só estava interessado por isso. Se ele soubesse a confusão e caos que eu era, sairia correndo. Talvez eu devesse me apresentar melhor. Daniel era um rapaz bonito, jovem, talvez fosse interessante. Mas eu me sentia presa a
(Lembrança)Conheci Kevin quando a louca da Sara se apaixonou pelo Jacob. Eu entrei confiante na universidade para cursar Direito, como meus pais desejaram. Me incomodava muito em ver minha amiga sofrendo de amores por um cara que ela nunca havia conversado na vida.Num festival que ocorreu no campus para arrecadação de dinheiro, os cursos elaboraram barracas de diversas coisas legais. Eu arrastei a Sara e ficamos seguindo o Jacob por todo evento. Mas acontece que ele estava com o chato do Kevin, o qual cruzou os braços assim que eu disse o primeiro "oi". Nossa, fui dormir naquele dia irritadíssima com a arrogância daquele garoto. O idiota era branquelo, magricela, tinha uma falha na sobrancelha, e enormes orelhas pontudas. Ridículo.Nem eu mesma acreditei quanto tempo perdi no meu primeiro semestre caçoando dele. Engraçado que nos víamos o tempo inteiro, na cantina
Saudades. Estava morrendo de saudades. Estava definhando em saudades.Minha vida voltou a fazer sentido quando Kevin me abraçou. Trocamos beijos, carícias íntimas, e abraços profundos. Eu sabia que estava sentindo falta de alguma coisa todo o tempo, mas como adulta responsável pelas suas escolhas, eu precisava fingir que não sabia o que era. Mas naquele momento constatei, de forma que eu não podia negar a mim mesma e a ninguém, que era ele, que eu sentia falta de nós.Durante minha adolescência não acreditava muito em romances tão duradouros, em amor de verdade. Quando terminei com Kevin, acreditei que superaria e em algum momento tudo não passaria de uma lembrança. E apesar de suportar bem, não tinha superado completamente.— Wendy... — Kevin riu nervoso tocando minha cintura com as duas mãos.Eu fingi não ter escutado e
(Lembrança)Eu havia me apaixonado pelo orelhudo irritante. Tentei odiá-lo, mas quando estava de frente para ele, meu coração desmanchava. Eu não sabia mais o que fazer para tirar as visões de nossos beijos de mentira da minha cabeça. Droga, Wendy! Com tantos homens por aí, foi querer logo esse?— Ele nunca vai olhar para mim! — Sara reclamou quando nos deparamos com os dois amigos na fila do cinema.Engoli seco querendo tirar os olhos do Kevin, mas ele estava tão bonito com o cabelo partido ao lado, e uma jaqueta jeans. O garoto adorava acessórios, e sempre estava usando alguma pulseira ou colar.— Você deveria falar com o Jacob — falei tentando não parecer embasbacada. — Ele é tão legal!— A gente nem consegue conversar! — ela suspirou. — Se ele pelo menos ele me irritasse como