CAPÍTULO 01

AISHA 

DOIS ANOS ANTES

No dia que deveria ser o mais importante da minha vida, acordei sem a menor ideia de que tudo mudaria para sempre. Hoje era o dia que todo jovem membro da matilha ansiava que chegasse: o dia do seu décimo sexto aniversário, o dia da transformação.

Como lobos, somos ensinados desde muito novos que este seria o dia mais especial de nossas vidas após o nascimento. Era o dia em que nosso lobo se revelaria em sua forma natural. Nosso corpo passaria pela tão esperada transformação. Nossa primeira transformação. Alguns conseguem sentir o seu lobo muito antes disso acontecer, mas eu não tive essa sorte.

Meu pai me explicava constantemente que nosso animal habitaria nossa mente. Seriam dois seres, dividindo o mesmo corpo e compartilhando a mesma mente, e ambos viveriam em harmonia. Eu conseguiria sentir seus sentimentos, assim como minha loba também sentiria os meus.

O dia que deveria ser o mais especial na minha vida se tornou meu tormento. Toda a alcateia estava reunida na clareira, no centro da floresta, cercada de árvores ancestrais e totalmente distante da humanidade.

Todos os aniversariantes daquele mês estavam diante do alfa. Era dele que partiria a ordem da transformação. Meu coração martelava contra as costelas, a antecipação queimando como brasas sob a pele, enquanto o medo sussurrava no fundo da minha mente.

O alfa começou a proclamar as transformações, chamando cada lobo pela ordem cronológica de nascimento. Um por um, eles se aproximavam e então o ar se enchia com o som arrepiante de ossos se quebrando.

Eu observava, hipnotizada e ansiosa, enquanto seus corpos eram tomados por espasmos violentos. Seus dedos se alongando, onde antes tinham unhas, agora possuíam garras. As juntas se esticavam e, com estalos audíveis, seus ossos quebravam e se reconfiguravam em novas formas.

Cada lobo caía de joelhos, os olhos brilhando com uma luz primal, antes de explodirem em suas formas lupinas. Minha respiração estava presa na garganta enquanto assistia. Cada nova transformação era como uma faca cravada no meu peito, me lembrando do que eu ainda não tinha.

Enquanto eu observava ansiosamente, esperando minha vez, perguntava-me porque eu fui uma das últimas a nascer naquele mês, dezesseis anos atrás. A cada nome chamado, a esperança gritava que eu seria a próxima. Mas o medo… o medo rastejava, sussurrando que algo dentro de mim estava errado.

Um aperto no peito começou a surgir, misturado com uma sensação de angústia. Onde estava minha loba? Por que ela não havia se revelado ainda para mim?

Quando o alfa chegou em minha vez, eu estava tomada de emoções. Meu coração batia descompassado de euforia, enquanto o medo habitava minha mente.

— Aisha Davis, transforme-se! — Ordenou o Alfa Joseph, mas não houve nenhum sinal de que isso aconteceria.

— Não consigo! — Minha voz saiu mais alta do que eu queria, carregada de pânico. — Não sinto minha loba. Nada…

Meus pais ali próximos me olharam, seus olhos contendo um medo que eles não queriam me mostrar.

— Alfa, podemos aguardar até o final da celebração? — Meu pai perguntou e nosso alfa apenas deu um aceno de cabeça, permitindo, sem entender o que poderia estar acontecendo.

Quando finalmente todos haviam se transformado, exceto eu, a decepção foi avassaladora. Um silêncio constrangedor pareceu pairar sobre a clareira, enquanto todos olhavam para mim, alguns com surpresa e outros com certo desprezo.

Eu podia sentir os olhares de pena e escárnio sobre mim, como se minha falta de transformação fosse um sinal de fraqueza ou inferioridade, me fazendo sentir diferente de todos.

Os comentários começaram a surgir, sussurros maldosos e risadinhas que cortavam como facas afiadas. Eu era a única loba da minha idade que ainda não despertara sua loba interior.

Me tornaria alvo de piadas cruéis e bullying por parte dos outros membros da matilha, disso não tinha nenhuma dúvida. Era como se eu fosse uma aberração, uma falha no sistema, e aquilo doía profundamente. Ainda assim, eu tentei manter a cabeça erguida e não demonstrar o quanto aqueles sussurros e olhares me afetavam.

No entanto, por dentro, a dor e a humilhação eram insuportáveis. Aquilo não era o que eu esperava para o meu décimo sexto aniversário, o dia que deveria ter sido o mais especial da minha vida e que agora se transformara em um verdadeiro pesadelo.

Dia após dia, eu dependia constantemente da ajuda do meu irmão para me defender. Collin era meu único apoio contra as maldades que os outros lobos da minha idade infligiam a mim, os mesmos lobos que se transformaram naquele dia.

Fiz com que Collin me prometesse que não contaria nada aos nossos pais. Já bastava ser motivo de piada para muitos. Não queria me tornar motivo de pena para minha própria família. Mesmo sem minha loba, eu tentaria encontrar uma forma de sobreviver, evitá-los ou de me defender de todos eles.

Meu pai, após aquele dia, tentou me consolar, dizendo que isso poderia acontecer. Mas vi a troca de olhares entre a minha mãe e ele. Algo em seus olhos me fez hesitar. Era mais do que preocupação. Era medo… talvez até culpa. O que eles estavam escondendo de mim?

Eu precisava descobrir a verdade, entender por que minha transformação não aconteceu. Talvez houvesse algo errado comigo, ou talvez houvesse uma explicação que ninguém queria me dar. Mas uma coisa era certa: eu não desistiria. Continuaria procurando respostas, não importava o quanto isso me custasse.

Se minha loba estava esperando o momento certo para se mostrar, então eu também esperaria. Mas faria isso lutando por respostas. Porque, de uma coisa, eu tinha total certeza: eu não era fraca. E o mundo ainda veria isso.

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