Mais um mês se passou sem que eu sequer cruzasse com Martín. Se já não bastasse perder minha família, agora também perdi o companheiro que Selene me enviou. A dor só não era mais profunda pelo fato de não possuir uma loba, mas a raiva que sentia pela insensibilidade dele era maior que a dor.
Martín nunca fez nada diretamente contra mim, mas sempre estava ao lado dos amigos nas vezes que me maltrataram, me amedrontaram e me fizeram correr desesperada pela floresta. Ele não proferia uma única palavra diante do bullying que seu grupo fazia comigo.
E por ele ser conivente com os amigos, eu acreditava que ele era tão culpado quanto os outros. Tantos lobos na face da Terra e a Deusa tinha que entrelaçar meu destino justo com esse? Eu não podia acreditar nisso.
Durante esse tempo, nenhuma explicação me foi dada sobre o que havia matado minha família. Parecia que, para todos, nada tinha acontecido. Após o enterro, era como se minha família não tivesse existido, e a única pessoa que ainda sentia falta deles era eu.
No entanto, estava cansada de tudo isso. Cansada da minha vida, cansada de me esconder, cansada dessa alcateia. Estava determinada a esquecer todas as dores que havia enfrentado durante esses meses infernais.
A rejeição de Martín King, o alfa da minha alcateia, ainda ecoava na minha mente, mas recusava-me a deixar que isso me definisse. Com meus dezoito anos recém-completados, eu precisava superar o luto e decidi celebrar como qualquer jovem humana faria, já que eu não possuía uma loba. Iria aceitar o convite de minha amiga para ir à boate.
Tinha certeza de que minha família desejaria que eu fosse feliz, que comemorasse essa data, e se eles estivessem vivos, aceitariam que meu irmão me levasse a um lugar assim para festejar. Decidi exatamente fazer tudo aquilo que faria se eles estivessem aqui. Já que não possuía a loba, faria a lagarta virar borboleta.
Peguei o carro que era do meu pai, o cartão com todo o dinheiro de minha família e seguir para a cidade. No caminho, liguei para a Maitê, que ficou animadíssima com minha decisão. Passamos em um salão de beleza, manicure, compramos produtos de beleza e finalmente entramos em uma loja de roupas, nossa última parada.
Minha amiga fez questão de pagar pelo vestido, dizendo ser seu presente de aniversário para mim. Insistiu para que eu fosse para seu apartamento para sairmos de lá para a boate, mas eu disse precisar desse momento comigo mesma, e ela respeitou minha decisão, apenas me fazendo prometer que não desistiria dos nossos planos.
Quando entrei em casa com todas aquelas sacolas, esperei escutar a voz da minha mãe como sempre acontecia, mas o silêncio me recebeu. Percebi minha realidade e isso me fez decidir aceitar o convite de Maitê para passar um tempo com ela.
Fui até meu quarto e arrumei uma mala com coisas de que possivelmente precisaria. Como Martín não me fez fazer o juramento de lealdade, não precisava dar satisfações a ele. Tinha certeza de que ele não sentiria minha falta, e por um momento fiquei feliz com isso. Poderia ter a vida que sempre imaginei quando não conseguir minha loba.
Quando estava definitivamente pronta, olhei-me no espelho. Não pude acreditar que aquela pessoa que me olhando de volta era realmente eu. Eu não parecia mais a vítima que todos pisoteavam. Talvez, só talvez, estivesse pronta para ser outra coisa. Para encontrar uma nova vida, uma nova versão de mim mesma. Eu era uma sobrevivente, e isso precisava ser suficiente.
O vestido preto justo que estava usando realçava minhas curvas e destacava meus leves cachos ruivos de uma maneira que nunca imaginaria.
Meus olhos estavam marcados, como a Maitê havia me ensinado, e isso me conferiu um ar de sensualidade incrível. Eu realmente parecia outra mulher, e estava feliz com essa nova aparência.
Aquela noite prometia ser diferente de todas as outras que já tinha vivido. Saí de casa com uma mistura de excitação e nervosismo borbulhando dentro de mim. No entanto, antes de poder chegar até meu carro, cruzei com aquele grupo que sempre conseguia deixar um gosto amargo em minha boca.
Percebi os olhares surpresas de todos eles. A raiva, principalmente, borbulhando em Kathy. Se aquela loba pudesse, arrancaria cada pedaço de meu corpo com seus próprios dentes. Mas o que me surpreendeu foi ver Martín abraçado a ela.
— Veja quem encontramos… — James disse, analisando-me dos pés à cabeça como se olhasse uma vitrine.
— Tenho que confessar que a morte da sua família te fez bem. Você parece mais gostosa agora, mesmo sendo uma loba defeituosa. — Black disse, inescrupulosamente, circulando-me e observando-me como se fosse um pedaço de carne.
Meu olhar fixou na cintura de Kathy, onde Martín segurava, e voltou até os olhos dele, a mágoa provavelmente estampada em meu rosto. Observei o olhar dele me analisar dos pés à cabeça, como James havia feito.
O silêncio parecia pesar sobre mim enquanto os olhos de Martín percorriam meu corpo. Por que ele ainda olhava para mim daquele jeito? O toque dele em Kathy, provavelmente sua nova companheira, machucava mais do que qualquer palavra.
— Deixem-na ir. — Foi a ordem que ele deu, e pela primeira vez observei aquele grupo olhar surpreso para ele.
— Mas, Martín… — Kathy tentou argumentar.
— Deixem-na ir. Não sou mais aquele garoto que apenas observava vocês fazerem as coisas erradas e ficava em silêncio. Agora sou o líder dessa martilha e com essa responsabilidade vêm as obrigações.
— Pelo que fiquei sabendo, ela não jurou lealdade a você. — Black desafiou.
— É verdade. Mas a família dela fazia parte dessa alcateia, assim como ela continua fazendo. Depois de tudo que ela passou, acredito que tenha motivos para ainda não ter feito isso ainda. — Ele disse, encarando-me.
— Não prestar um juramento de lealdade ao alfa é considerado uma traição, Martín. Qualquer lobo poderia fazer o mesmo. — Kathy provocou com essa descoberta.
Nesse momento, Black segurou meu braço como se tivesse descoberto aquela informação apenas naquele instante. No entanto, ele usou força e suas garras surgiram, perfurando um pouco meu braço, o que me fez gemer de dor e Martín rosnar.
— Dei a ordem para deixá-la ir! — Martín disse, soltando Kathy e avançando na direção de Black, que imediatamente me soltou.
Ele havia me rejeitado. Disse que nunca me aceitaria. Mas agora estava me protegendo? Por que ele fazia isso? A confusão era quase tão dolorosa quanto as palavras que ele proferira semanas atrás.
A raiva estava clara nos olhos dele. Mas não era apenas contra Black. Por um segundo, eu vi algo mais — arrependimento? Hesitação? Era como se Martín estivesse dividido entre o dever de líder e algo mais profundo que ele não queria admitir.
O sangue escorreu um pouco pelo meu braço. Martín olhou para aquilo e até pude sentir sua raiva. Todos parecíamos surpresos com a reação dele naquele momento, mas apenas nós dois sabíamos o motivo daquilo.
Levei minha outra mão ao ferimento e saí dali às pressas, sem nem mesmo olhar para trás. Ele me rejeitou, e nada mudaria aquilo. Mesmo agora que ele estava lidando com seu lobo. Antes, por um tempo, eu o admirava, mas após tudo o que seus amigos fizeram comigo sem qualquer intervenção dele, só conseguia sentir decepção.
Entrei no carro com meu corpo tremendo e as lágrimas turvando minha visão, mas não ficaria ali nem por mais um minuto. Já havia colocado minha mala no carro antes e isso me fez respirar aliviada. Tinha o percurso até a boate para me recuperar.
Assim que cheguei lá, Maitê já me esperava ansiosa em frente à boate. Peguei um band-aid em minha bolsa e coloquei naqueles dois ferimentos em meu braço. Quando minha amiga me viu descer do carro, correu para me abraçar e, mesmo eu tentando disfarçar, ela percebeu que eu havia chorado.— Não fica assim, amiga. Tenho certeza de que o maior desejo da sua família era que você fosse feliz. Eles não gostariam de te ver triste. — Ela disse, consolando-me, acreditando que eu estava assim devido à minha família.— Sei disso, Maitê.Não podia contar a verdade a ela sem ter que explicar o que significava o laço de companheiros, sem mencionar o que eu era, mesmo sendo uma loba defeituosa. Então, apenas a deixei acreditar no que ela pensava ser o motivo. Adentrei a boate com determinação, disfarçando a tristeza que ainda pesava no peito.A música alta e pulsante, as luzes coloridas dançando ao ritmo da batida, tudo isso me surpreendeu pelo fato de nunca ter estado em uma boate antes e acabou me e
Enquanto conversávamos na mesa de Kiron, a atmosfera ao redor parecia mais leve e vibrante. Os olhares curiosos dos amigos dele logo se transformaram em sorrisos acolhedores quando começamos a interagir.Maitê, sempre extrovertida, logo se juntou à conversa, fazendo todos rirem com suas histórias engraçadas sobre algumas de nossas aventuras juntas.Eu me sentia estranhamente à vontade ao lado de Kiron, como se o conhecesse há muito mais tempo do que apenas algumas músicas de boate. Seu jeito confiante e atencioso era cativante, e eu me pegava cada vez mais interessada em conhecê-lo melhor.Conversamos sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Ele se aproximou mais e, por um momento, nossas conversas eram trocadas ao pé do ouvido, aproveitando a companhia um do outro e o clima descontraído da noite.Kiron mostrou-se genuinamente interessado em minha vida, fazendo perguntas que iam além da superficialidade das conversas de boate. No entanto, eu evitava as perguntas mais pessoais que não p
Ele afastou meus cabelos e beijou a lateral do meu pescoço, repetindo o gesto do lado oposto. Fechei meus olhos e suspirei com aquele contato, era muito bom. Ele tirou a taça da minha mão e a colocou no centro ali próximo, fazendo-me virar para ele. Voltamos a nos encarar e, em seguida, seus lábios envolveram os meus.Achei que ele tinha entendido meu recado quando me mantive em silêncio, eu não desejava falar sobre o futuro, eu queria viver apenas o momento.Seus beijos, que começaram lentos, agora estavam mais profundos, até mesmo necessitados. Ele colou seu corpo ao meu e logo estava pressionada contra aquela parede de vidro.Seu beijo desceu novamente pelo meu pescoço, enquanto sua mão subia até meus seios, fazendo-me gemer involuntariamente. Sua outra mão segurou minha bunda, puxando-me mais para ele, enquanto eu me entregava totalmente ao momento.— Você é irresistível para mim. Tenho que confessar que não aceitaria perder você para ninguém. — Kiron disse, suas mãos percorrendo
A sensação de vulnerabilidade misturada ao desejo me fez ofegar. Por um segundo, o quarto pareceu ficar em silêncio absoluto, como se o mundo ao nosso redor tivesse parado, e o único som fosse o de minha respiração entrecortada.Kiron não se mexeu de imediato. Ele simplesmente permaneceu ali, seus olhos intensos me observando com atenção. Sentindo a leve tensão que surgira, ele afastou a mão, deslizando-a gentilmente pela minha perna até alcançar meu joelho. Seu toque era tão suave que parecia acalmar o nervosismo que havia começado a crescer dentro de mim.— Está tudo bem. — Ele murmurou, sua voz rouca e carregada de cuidado. — Não precisamos continuar. Quero que você se sinta segura, Aisha.Mesmo enquanto o desejo me consumia, uma parte de mim ainda estava incerta. Mas, ao olhar para Kiron, seus olhos repletos de cuidado e devoção, soube que queria confiar nele. Meu corpo ansiava por ele, mesmo que meu coração ainda estivesse se ajustando à intensidade da experiência.Não era medo q
Cada movimento me levava para mais longe de tudo que eu conhecia. Era uma experiência completamente nova, que me fazia questionar não apenas meu corpo, mas também minhas emoções.Kiron investia em mim de forma quase animalesca, fazendo-me gemer e me levando ao limite novamente. Quanto mais ele percebia que eu me aproximava desse momento, mais rápido seus movimentos se tornavam. Seu corpo colou-se ao meu, mas seus movimentos não cessaram.— Consegue sentir isso, doce Aisha? Consegue sentir o quanto estou rendido a você? Você é totalmente minha. Apenas minha.Kiron dizia com a voz afetada pelos movimentos enquanto arremetia contra mim. Sua boca lambia o lóbulo da minha orelha e logo em seguida meu pescoço. Quando chegou na curva para alcançar meu ombro, ele mordeu levemente e fui novamente jogada no limbo.Ele arremeteu mais uma vez, grunhindo como um animal, os movimentos totalmente descontrolados, mostrando que também foi demais para ele, que também alcançou o seu prazer.— Argh — ros
KIRONQuando meus olhos encontraram aquela marcada pela Deusa da Lua exclusivamente para mim, uma corrente elétrica percorreu meu corpo. Cada passo que ela dava ao ritmo pulsante da música me desestabilizava, enquanto a fera dentro de mim rugia, impaciente. Era como se o mundo ao nosso redor desaparecesse, e apenas nós dois existíssemos naquela boate lotada.Havia perdido as esperanças de algum dia encontrar aquela destinada a mim pela Deusa. No entanto, quando me aproximei, algo nela não fazia sentido. Seu cheiro, doce e cativante, permanecia inalterado.Era como se estivesse presa no tempo, sem jamais ter atravessado o ritual da transformação. O que isso significava? Por que a deusa me levaria até ela, se seu destino como lycan parecia incompleto? Ela de fato era uma lycan ou apenas uma humana?Isso, na verdade, não importava para mim. Ela era minha e eu precisava tê-la, precisava conhecê-la e me apresentar, não apenas minha versão humana, eu precisava apresentar meu animal a ela, e
AISHAAo deixar o hotel, uma parte de mim hesitou. Queria voltar, ficar ao lado dele, mas sabia que as complicações do meu mundo não permitiriam isso. Precisava preservar meus segredos antes que fosse tarde demais.Tive que passar na boate para pegar meu carro e, em seguida, seguir para o apartamento de Maitê. Minha amiga já havia deixado na portaria a informação de que receberia uma convidada e a placa do meu carro. Dessa forma, o porteiro apenas confirmou os dados e permitiu minha entrada.Assim que o elevador chegou ao seu andar, Maitê me aguardava na porta. Ela me analisou dos pés à cabeça, como se quisesse comprovar que eu estivesse inteira.— Você me deu um baita susto. Eu mal consegui pregar os olhos depois que cheguei em casa. — Ela voltou a me analisar. — Em compensação, você parece muito mais do que bem. — Ela me encarou.— Sim, Maitê, eu estou muito bem, obrigada! — Disse, sorrindo para ela, com minha mala na mão.— Você é louca, Aisha… como você aceitou sair com aquele hom
No dia seguinte, acordei cedo e preparei nosso café da manhã. Precisávamos correr para não nos atrasarmos na faculdade. Durante os intervalos das aulas, comecei a me inscrever em algumas entrevistas de emprego, incluindo uma para hoje depois das aulas.Assim que as aulas terminaram, encontrei Maitê e avisei-a sobre a entrevista. Aquele emprego poderia ser o primeiro passo para a vida que eu queria construir.Eles estavam oferecendo a vaga de garçonete, mas para mim não importava o cargo. Desde que fosse honesto e significasse que eu estava traçando meu próprio caminho, longe das expectativas e julgamentos da alcateia.Nunca trabalhei na área, mas estava disposta a aprender, desde que me dessem alguma oportunidade. Naquele em especial, não tinha muita esperança de ser contratada, mas participaria da seleção.Fui informada, antes mesmo de chegar ao local, que o restaurante não estaria em funcionamento naquele momento, mas que eu poderia entrar para a entrevista. Quando cheguei, em sua e