CAPÍTULO 03

Sabia que eu não tinha como ajudá-los, pois não possuía uma loba. Então, naquele momento, algo despertou em minha mente e fiz exatamente o que me orientaram a fazer. Corri como se minha vida dependesse disso e pediria ajuda assim que chegasse na alcateia.

Sentia os músculos das pernas chegando ao seu limite, mas não diminuí meu ritmo. Graças ao bullying que sofria de um grupo restrito de lobos, havia desenvolvido uma resistência maior para correr. Meu desespero era pensar que talvez fosse tarde demais para minha família, mas eu não desistiria de tentar.

Sentia raiva por não ter uma loba. Tinha certeza de que, se a tivesse, conseguiria chegar mais rápido até nossos guerreiros.

Assim que entrei em nossos limites, comecei a gritar. Rapidamente, alguns guerreiros se aproximaram para verificar o que estava acontecendo. Ainda recuperando o fôlego, tentei explicar rapidamente o que houve. Eles soaram o alerta e saíram em disparada para o local que indiquei.

Eu estava tremendo devido a todo o esforço que fiz e ao medo de que o pior tivesse acontecido com minha família. Uma picape com mais homens e com o beta seguiu em direção ao local onde o carro de minha família havia ficado.

Rapidamente, luna Callie, alfa Joseph e Martín apareceram ao meu lado, enquanto eu olhava fixamente para a entrada de nossa alcateia. Tinha certeza de que o alfa e sua família já sabiam o que havia acontecido.

Eles eram lobos e possuíam o que chamavam de elo mental, uma forma de se comunicar mentalmente com a alcateia. Eu era a única pessoa dali que não tinha essa vantagem, então me sentia no escuro e sem informações.

— Quer entrar comigo e tomar um chá, criança? Você pode esperar lá dentro de nossa casa. — A luna ofereceu, mas neguei. Estava nervosa demais para isso.

— Como isso aconteceu? Você não viu quem atacou sua família? — Martín perguntou, me encarando, e mais uma vez eu neguei.

Os primeiros guerreiros chegaram e estava ansiosa pela informação que eles poderiam fornecer. No entanto, um deles apenas olhou para o alfa e fez um leve aceno de cabeça em negação. O que aquilo significava? Eles não encontraram o local exato? Como lobos não conseguiram farejar?

Preparei-me para voltar até o local onde tudo havia acontecido, mas a picape que havia partido com outros guerreiros retornou, seguida pelo carro da minha família. Senti um enorme alívio, mas logo passou ao perceber que quem dirigi o carro não era ninguém da minha família, mas sim outro guerreiro de nossa alcateia.

O beta desceu da picape e, nesse momento, senti os braços da luna Callie, mãe do Martín, me abraçarem. O que tudo aquilo significava? Olhei para cada um deles tentando entender, porque nada parecia claro para mim.

— Querida, sentimos muito! — Ela disse, me abraçando ainda mais forte.

Olhei o rosto do alfa Joseph e percebi que sua expressão era de dor. No entanto, não entendia o motivo.

— O que aconteceu? Onde está minha família? — Perguntei, ficando ainda mais desesperada.

— Chegamos tarde demais até eles, garota. Sinto muito! — Beta Elijah disse.

— O que você quer dizer com isso? Como “tarde demais”? Corri o mais rápido que pude até aqui e nem demorou tanto. — Continuei encarando-o.

O cheiro espesso de sangue encheu minhas narinas antes mesmo de eu ver os corpos. O ar estava impregnado com um gosto metálico, denso, quase sufocante, e meu estômago deu um nó.

Nesse momento, observei outros guerreiros retirando da parte traseira da picape o corpo da minha família e de outra pessoa que não sabia quem era. Meus olhos, frenéticos, procuravam algum sinal de vida, qualquer movimento… mas só havia a morte.

Corri até o corpo do meu irmão. Seu rosto estava pálido, seu peito imobilizado. Toquei sua pele fria e o frio do sangue em minhas mãos me disse a verdade que eu recusava aceitar. Caí de joelhos, sacudindo o corpo inerte do meu irmão.

— Acorda! — Gritei, minha voz rachando. — Por favor… — Mas o frio do sangue em minhas mãos me dizia o que eu não queria acreditar.

Eles se foram. Senti braços fortes me segurando e puxando-me para longe dali. Gritei desesperada, não aceitando aquilo. Caí no chão e o peso do mundo parecia me esmagar. O som do meu próprio choro ecoava no vazio. E então, só havia o silêncio… e a escuridão.

Eu já não conseguia mais enxergar, nem escutar, e muito menos sentir qualquer coisa. Se ao menos eu tivesse minha loba… eu poderia ter corrido mais rápido, poderia ter sentido o perigo antes. Talvez pudesse tê-los salvado. A culpa me esmagava, sufocando-me, e, por um momento, desejei ter sido eu no lugar deles.  

šœ

Ouvi as risadas assim que desci do ônibus vindo da faculdade. Sei que eles estavam lá me esperando, mas não por um bom motivo. Isso já estava virando rotina e comecei a desejar não fazer parte daquela alcateia.

Passei por eles e todos se calaram, sei estarem aguando apenas por mim para que a diversão, pelo menos para eles, começasse.

— Preparada para correr esquisita? — Kathy perguntou próxima de mim.

— Por que você não me deixa em paz? — Retruquei.

— Temos uma surpresa especial para você hoje. — James completou.

— Como vamos te deixar em paz se você é a parte divertida do nosso dia? — Black, o mais cruel depois da Kathy, perguntou próximo ao meu ouvido.

— Você não tem vergonha de serem cruéis? — Perguntei, mas sei que não fazia diferença alguma para eles.

A frase “surpresa especial” fez meu coração pular uma batida. O que eles planejavam hoje? Minha mente corria com possibilidades sombrias, e o pânico começou a apertar meu peito. Olhei ao redor, tentando calcular uma rota de fuga, mas sabia que era inútil. Eles sempre me encontravam, como predadores caçando sua presa.

Assim que entrei na floresta, não esperei nem os comandos que sei que viriam e comecei a correr. Corri desesperadamente. Em um certo momento, minhas pernas começaram a doer e algumas vezes pensei que o fôlego acabaria.

Sentia o suor escorrer pelo meu rosto e em minhas costas. Meus cabelos ruivos e cacheados grudavam no meu rosto e eu tentava afastá-los. Parei um pouco para respirar, mas logo vi que um deles se aproximava pela lateral, então tive que desviar meu caminho e continuar correndo.

Eles estavam cada vez mais próximos e eu tentava olhar para verificar minha distância, e isso foi tudo que eles precisavam. No meu próximo passo, eu não sentir mais o chão, porque eu havia caído em um buraco que chegava a me cobrir e estava totalmente suja com lama.

No lugar dos rosnados, escutava agora risadas. Quando olhei para cima, todos estavam lá, inclusive Martín, como sempre, observando de longe. Martín, o filho do alfa, aquele que deveria me proteger, permanecia em silêncio.

Seus olhos fixos em mim, mas sua boca nunca proferia uma palavra de defesa. Havia uma tensão em seu olhar, como se ele quisesse dizer algo, mas fosse impedido por algo maior… ou talvez, ele simplesmente não se importasse.

— Voltamos para te buscar amanhã, esquisita. — Kathy disse aos risos.

— Espero que você goste da noite estrelada por ser o cardápio de hoje. — Black disse.

Eu tentava desesperadamente sair daquele buraco, mas quanto mais eu me esforçava, mais fundo o buraco ficava, enquanto o ar me faltava. Aquela sensação de sufocamento começou a me deixar desesperada. Até que abri os olhos e a luz fraca do meu quarto me cegou. Havia finalmente despertado do pesadelo. Eu estava no meu quarto e nem sabia como havia chegado ali. 

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App