DIAS ATUAIS
Com o coração apertado, eu contava os dias para o momento em que minha loba finalmente apareceria e me levaria ao meu companheiro, aquele destinado pela Deusa. Mas dois anos de espera e silêncio me fizeram duvidar.
Coincidentemente, a coroação do novo alfa seria no mesmo dia em que eu completaria aniversário. Meu décimo oitavo aniversário. A idade em que normalmente nosso lobo ouviria o chamado de nosso companheiro. Aquele destinado pela Deusa da Lua a completar nossa alma.
No entanto, todos afirmavam que para isso acontecer, eu precisava ter uma loba, afinal, o evento era exatamente uma caçada pelo seu companheiro, com todos transformados em seus lobos. Se seu companheiro pertencesse àquela alcateia, algo que não possuía garantias, seu lobo levaria você até ele, através da linha invisível que existia entre vocês, e dessa forma ambos se conectariam.
Desde aquele fatídico dia, dois anos atrás, a dúvida me corroía. E se eu nunca encontrasse meu companheiro? E se minha loba nunca aparecesse? Às vezes, eu me perguntava se a Deusa tinha me esquecido ou, pior, me rejeitado.
Tinha que confessar que não perdi a esperança de conhecer quem seria meu companheiro e torcia para que ele me salvasse do inferno em que minha vida havia se tornado desde o momento em que minha loba não se revelou.
Eu orava à Deusa constantemente para que ela me presenteasse com essa dádiva, mesmo ainda sem possuir minha loba. Desejava veementemente que ele fosse um lobo de outra alcateia, bem distante desta onde eu vivo, e que jamais eu precisasse voltar para este lugar. Aravelle não era um lugar ruim. Ruim eram a maioria dos jovens que viviam aqui.
Minha mãe era a única costureira profissional em nossa alcateia. Com tantas encomendas devido ao evento de coroação do novo alfa, ela decidiu ir até o centro urbano comprar mais tecidos.
Para mim, isso era como passear no shopping, e eu adorava esse tipo de programa. Muitas vezes passávamos o dia inteiro entrando e saindo de lojas, até que minha mãe conseguisse comprar tudo o que desejava.
Meu pai nos acompanhava para ajudá-la com as sacolas, que, devo admitir, não eram poucas. Quando as compras terminavam, eu me sentia realizada, uma tarde inteira sem sofrer nenhum tipo de perseguição ou bullying.
Enviei uma mensagem com uma foto minha diante da vitrine de cosméticos Jazz para Maitê, uma garota humana com quem havia feito de forma improvável uma amizade. Ela sempre elogiava esses produtos dessa marca.
“Não posso acreditar que você foi sem mim”
“Minha mãe precisou vir até o centro para adquirir algumas mercadorias, e eu a acompanhei”
Meus pais não sabiam dessa minha amizade, afinal, havia um decreto que nos proibia de tal laço. Poderíamos conviver pacificamente, mas nunca criar laços com humanos, exceto se esse humano fosse nosso companheiro.
Precisávamos a todo custo manter sigilo sobre o que éramos. Ter uma amizade com uma humana era arriscar a revelação desse segredo. Afinal, lobos eram muito voláteis. Em um acesso de raiva, a transformação poderia ocorrer e tudo seria revelado.
Nesse dia, Maitê estava se programando para ir à boate Night Club. Haveria um show de uma banda de que ela gostava muito. E, mais uma vez, me convidou para ir com ela. No entanto, a única boate que eu poderia frequentar, os humanos, eram proibidos.
Mais uma vez me desculpei e disse que ficaria para uma próxima, mesmo sabendo que essa próxima nunca existiria. Meus pais jamais permitiriam que eu fosse para uma boate de humanos, acompanhada por uma amiga que eles nem sabiam que eu tinha.
Quando estávamos voltando, meu irmão pegou uma carona conosco, afinal, a empresa onde ele trabalhava ficava no caminho de volta para nossa casa. Não tinha do que reclamar da minha família. Tinha pais amorosos e um irmão que sempre me protegia quando podia, e não foram poucas às vezes.
A viagem de volta para casa era longa. Tínhamos um percurso grande pela frente e metade de uma floresta para cruzar. Mas, ao adentrarmos a mesma, o pneu estourou e o silêncio naquela área parecia ainda mais pesado.
Havia algo de errado, algo que eu não conseguia nomear. Antes que eu pudesse dizer algo, um grito rompeu o silêncio, reverberando pela floresta densa. Era um som agudo, que fazia o sangue gelar e a respiração parar. A escuridão ao redor parecia ganhar vida, como se sombras invisíveis estivessem nos espreitando.
Nesse momento, todos nós observamos em nosso entorno. Mesmo não sendo uma loba, um frio percorreu minha espinha, deixando-me totalmente arrepiada. Meu pai e meu irmão prepararam-se para descer.
— Vocês estão loucos? Nós não sabemos o que está acontecendo. — Falei desesperada.
— Exatamente por isso que precisamos descer, Aisha. Pode ser algum dos lobos de nossa alcateia precisando de ajuda. — Meu irmão tentou se justificar.
— Fiquem no carro e não abram as portas, nós iremos verificar o que está acontecendo. — Meu pai deu a ordem a mim e à minha mãe.
Eles desceram e meu coração ficou apertado. Como estava escuro e eu não possuía as habilidades de um lobo, não conseguia enxergar muita coisa a certas distâncias. Mas sei que esse não era o caso deles.
Minha mãe parecia apreensiva no banco da frente e acompanhava, sem nem ao menos piscar, os passos do meu pai e de meu irmão ao adentrarem a floresta. Parecia que quando estávamos nervosas, os minutos se tornavam horas e eu já estava quase descendo do carro para ir atrás deles.
Sei que são lobos. A força e a velocidade que eles possuíam eram bem maiores que a de um humano normal, sua visão e olfato bem mais apurados, mas era imprudente sair dessa forma sem saber o que se encontrava naquela floresta, especialmente com os gritos que escutamos. Alguém estava realmente desesperado.
Era sufocante... a impotência de não ser capaz de fazer nada. Se ao menos minha loba tivesse aparecido, se ao menos eu pudesse ser como eles. Mas tudo o que eu tinha era a escuridão, o medo e a incapacidade de fazer algo além de esperar.
Meus pais não sabiam mais o que explicar. Passei um período desconfiada de que eles me escondiam algo, mas após um tempo, acreditei que eles seriam incapazes de ocultar informações tão importantes de mim.
Quando coloquei a mão para abrir o carro e descer, escutamos barulhos vindo da direção que eles seguiram. Tentei enxergar no meio daquele breu, mas não conseguia ver muita coisa. No entanto, de repente, escutamos os gritos do meu irmão.
— Corram… Saiam do carro e corram! — Ouvimos Collin gritar.
— É o Collin, Aisha. Ele parece precisar de ajuda. Faça o que seu irmão disse. Desça do carro e corra para a alcateia o mais rápido que você puder. Vou ajudá-los.
— Mas, mamãe… — Tentei argumentar.
— Corra, Aisha, corra! — A voz da minha mãe falhou por um instante, antes de endurecer. Seus olhos encontraram os meus, cheios de uma dor que ela tentava esconder. — Eu te amo. Agora vai. Vai!
Ela desceu do carro, já em meio à transformação, e desapareceu na escuridão da floresta. As palavras da minha mãe ecoavam na minha mente enquanto eu lutava contra o pânico que crescia. Correr. Fugir. Sobreviver.
Mas algo me puxava para trás. O som de um rosnado familiar, seguido por um grito que congelou minha alma: o grito do meu irmão. Eu sabia que deveria correr, mas meus pés estavam presos ao chão, como se algo invisível me ancorasse ali, incapaz de deixar minha família para trás.
Sabia que eu não tinha como ajudá-los, pois não possuía uma loba. Então, naquele momento, algo despertou em minha mente e fiz exatamente o que me orientaram a fazer. Corri como se minha vida dependesse disso e pediria ajuda assim que chegasse na alcateia.Sentia os músculos das pernas chegando ao seu limite, mas não diminuí meu ritmo. Graças ao bullying que sofria de um grupo restrito de lobos, havia desenvolvido uma resistência maior para correr. Meu desespero era pensar que talvez fosse tarde demais para minha família, mas eu não desistiria de tentar.Sentia raiva por não ter uma loba. Tinha certeza de que, se a tivesse, conseguiria chegar mais rápido até nossos guerreiros.Assim que entrei em nossos limites, comecei a gritar. Rapidamente, alguns guerreiros se aproximaram para verificar o que estava acontecendo. Ainda recuperando o fôlego, tentei explicar rapidamente o que houve. Eles soaram o alerta e saíram em disparada para o local que indiquei.Eu estava tremendo devido a todo o
Os dias que se seguiram foram um borrão de dor e silêncio. Eu não comia, não falava... apenas sobrevivia. As risadas e o barulho da alcateia ao redor pareciam de outro mundo, um mundo que eu não conseguia mais alcançar. Não havia mais nada em mim. Apenas o vazio.Nesses dois últimos anos, desde os meus dezesseis, havia sido a piada para a grande maioria de minha matilha. No começo, eu me incomodava com os comentários e me sentia envergonhada. Depois, quando eles perceberam que eu não ligava mais, começaram a fazer maldades, e quando percebi, era humilhada constantemente.Me perguntava o que aconteceria agora, após enterrar as únicas pessoas que realmente se preocupavam comigo. No entanto, não tinha resposta para isso.Imaginei que, após toda a tragédia que aconteceu com minha família, a caçada e a festa em celebração ao novo alfa, que estava programada para o dia de meu aniversário, pelo menos iria ser adiada. Ninguém sabia ao certo o que matou meus pais e meu irmão.Se comentava que
Mais um mês se passou sem que eu sequer cruzasse com Martín. Se já não bastasse perder minha família, agora também perdi o companheiro que Selene me enviou. A dor só não era mais profunda pelo fato de não possuir uma loba, mas a raiva que sentia pela insensibilidade dele era maior que a dor.Martín nunca fez nada diretamente contra mim, mas sempre estava ao lado dos amigos nas vezes que me maltrataram, me amedrontaram e me fizeram correr desesperada pela floresta. Ele não proferia uma única palavra diante do bullying que seu grupo fazia comigo.E por ele ser conivente com os amigos, eu acreditava que ele era tão culpado quanto os outros. Tantos lobos na face da Terra e a Deusa tinha que entrelaçar meu destino justo com esse? Eu não podia acreditar nisso. Durante esse tempo, nenhuma explicação me foi dada sobre o que havia matado minha família. Parecia que, para todos, nada tinha acontecido. Após o enterro, era como se minha família não tivesse existido, e a única pessoa que ainda sen
Assim que cheguei lá, Maitê já me esperava ansiosa em frente à boate. Peguei um band-aid em minha bolsa e coloquei naqueles dois ferimentos em meu braço. Quando minha amiga me viu descer do carro, correu para me abraçar e, mesmo eu tentando disfarçar, ela percebeu que eu havia chorado.— Não fica assim, amiga. Tenho certeza de que o maior desejo da sua família era que você fosse feliz. Eles não gostariam de te ver triste. — Ela disse, consolando-me, acreditando que eu estava assim devido à minha família.— Sei disso, Maitê.Não podia contar a verdade a ela sem ter que explicar o que significava o laço de companheiros, sem mencionar o que eu era, mesmo sendo uma loba defeituosa. Então, apenas a deixei acreditar no que ela pensava ser o motivo. Adentrei a boate com determinação, disfarçando a tristeza que ainda pesava no peito.A música alta e pulsante, as luzes coloridas dançando ao ritmo da batida, tudo isso me surpreendeu pelo fato de nunca ter estado em uma boate antes e acabou me e
Enquanto conversávamos na mesa de Kiron, a atmosfera ao redor parecia mais leve e vibrante. Os olhares curiosos dos amigos dele logo se transformaram em sorrisos acolhedores quando começamos a interagir.Maitê, sempre extrovertida, logo se juntou à conversa, fazendo todos rirem com suas histórias engraçadas sobre algumas de nossas aventuras juntas.Eu me sentia estranhamente à vontade ao lado de Kiron, como se o conhecesse há muito mais tempo do que apenas algumas músicas de boate. Seu jeito confiante e atencioso era cativante, e eu me pegava cada vez mais interessada em conhecê-lo melhor.Conversamos sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. Ele se aproximou mais e, por um momento, nossas conversas eram trocadas ao pé do ouvido, aproveitando a companhia um do outro e o clima descontraído da noite.Kiron mostrou-se genuinamente interessado em minha vida, fazendo perguntas que iam além da superficialidade das conversas de boate. No entanto, eu evitava as perguntas mais pessoais que não p
Ele afastou meus cabelos e beijou a lateral do meu pescoço, repetindo o gesto do lado oposto. Fechei meus olhos e suspirei com aquele contato, era muito bom. Ele tirou a taça da minha mão e a colocou no centro ali próximo, fazendo-me virar para ele. Voltamos a nos encarar e, em seguida, seus lábios envolveram os meus.Achei que ele tinha entendido meu recado quando me mantive em silêncio, eu não desejava falar sobre o futuro, eu queria viver apenas o momento.Seus beijos, que começaram lentos, agora estavam mais profundos, até mesmo necessitados. Ele colou seu corpo ao meu e logo estava pressionada contra aquela parede de vidro.Seu beijo desceu novamente pelo meu pescoço, enquanto sua mão subia até meus seios, fazendo-me gemer involuntariamente. Sua outra mão segurou minha bunda, puxando-me mais para ele, enquanto eu me entregava totalmente ao momento.— Você é irresistível para mim. Tenho que confessar que não aceitaria perder você para ninguém. — Kiron disse, suas mãos percorrendo
A sensação de vulnerabilidade misturada ao desejo me fez ofegar. Por um segundo, o quarto pareceu ficar em silêncio absoluto, como se o mundo ao nosso redor tivesse parado, e o único som fosse o de minha respiração entrecortada.Kiron não se mexeu de imediato. Ele simplesmente permaneceu ali, seus olhos intensos me observando com atenção. Sentindo a leve tensão que surgira, ele afastou a mão, deslizando-a gentilmente pela minha perna até alcançar meu joelho. Seu toque era tão suave que parecia acalmar o nervosismo que havia começado a crescer dentro de mim.— Está tudo bem. — Ele murmurou, sua voz rouca e carregada de cuidado. — Não precisamos continuar. Quero que você se sinta segura, Aisha.Mesmo enquanto o desejo me consumia, uma parte de mim ainda estava incerta. Mas, ao olhar para Kiron, seus olhos repletos de cuidado e devoção, soube que queria confiar nele. Meu corpo ansiava por ele, mesmo que meu coração ainda estivesse se ajustando à intensidade da experiência.Não era medo q
Cada movimento me levava para mais longe de tudo que eu conhecia. Era uma experiência completamente nova, que me fazia questionar não apenas meu corpo, mas também minhas emoções.Kiron investia em mim de forma quase animalesca, fazendo-me gemer e me levando ao limite novamente. Quanto mais ele percebia que eu me aproximava desse momento, mais rápido seus movimentos se tornavam. Seu corpo colou-se ao meu, mas seus movimentos não cessaram.— Consegue sentir isso, doce Aisha? Consegue sentir o quanto estou rendido a você? Você é totalmente minha. Apenas minha.Kiron dizia com a voz afetada pelos movimentos enquanto arremetia contra mim. Sua boca lambia o lóbulo da minha orelha e logo em seguida meu pescoço. Quando chegou na curva para alcançar meu ombro, ele mordeu levemente e fui novamente jogada no limbo.Ele arremeteu mais uma vez, grunhindo como um animal, os movimentos totalmente descontrolados, mostrando que também foi demais para ele, que também alcançou o seu prazer.— Argh — ros