Por Isabella MeloDepois de um dia cansativo na minha boutique, avisei a Marcio que estava indo para o hospital ver minha avó e ele disse que segurava as pontas e me pediu para dar um beijo na minha avó, agradeci a ele pela a ajuda e fui para o hospital onde minha avózinha está internada, durante o trajeto por que não sei comecei a lembrar de um livro da Carina Rissi que amo muito. Cheguei ao hospital, fantasiando novamente sobre viagens no tempo e imaginei como seria fazer uma viagem dessas. Resolvi deixar essas coisas de lado e entrei no hospital Vanessa, assim que me avista, me cumprimenta e, como sou presença assídua no hospital, ela já deixa o meu crachá preparado. — Dona Hilda estava contando para as enfermeiras que finalmente a netinha dela a visitará hoje. — Nossa! Ela fala como se eu não estivesse aqui todos os dias. Vanessa ri, e eu sigo o meu caminho para o quarto 509, e lá está a minha avó, que se tornou meu tudo. Dói ver aquela mulher ativa nesse estado. Apro
Por Ricardo Stefan Mais um dia sem minha adorável e valente esposa. Pergunto-me porque o bom Deus não me levou em seu lugar. Ela estava feliz e conseguindo mudar a mente de nossa atrasada sociedade. Como sinto falta de sua maravilhosa pele amendoada. Travamos grandes batalhas por nosso amor e não há nada do que eu me arrependa, nem mesmo de ter aberto mão de meu título de nobreza por Isabella. O choro de nossa filha tira-me de meus devaneios. Pego a pequena Abgail em meus braços, e ela se aninha em meu peito e logo seu choro cessa, dando lugar a pequenos soluços. Nossa pequena “Abby”, como dizia Isabella, herdou os traços de sua mãe e a cor da pele também. Já seus olhos são expressivos e verdes como esmeraldas, iguais aos meus, e seus cabelos pretos me lembram ondas do mar. Abro o relicário de minha falecida esposa e lá está retratada a nossa família antes dela ser retirada de nós. Olho para Abby e prometo a mim mesmo que cuidarei dela com afinco. Ouço leves batidas na porta
Acordo na manhã seguinte com a cabeça latejando. Olho para o vidro âmbar vazio à minha frente e decido que não beberei por um bom tempo. Abgail acorda a plenos pulmões, e sei bem do que se trata. Embora eu tenha contratado a senhora Prado para cuidar de Abby, nesses últimos meses decidi eu mesmo cuidar dela. Olho-me no espelho e percebo que também preciso de cuidados urgentemente. Ouço batidas, dou permissão e vejo o meu mordomo ali parado a me olhar. — Senhor Stefan, quer que mande os criados preparem seu banho? — Ele diz, me olhando com tristeza. — Por favor, Freitas. Obrigado. — Ele dá a ordem e retorna. — Senhor Stefan, perdoe-me a intromissão, mas lhe conheço antes de ser um mancebo. Sei que a senhora Stefan está a fazer falta, mas o senhor precisa ter forças para se levantar e cuidar de si. A criança Abgail e a senhorita Elizabeth necessitam do senhor. — Eu juro que estou tentando, mas, cá entre nós, estou falhando miseravelmente. — Então creio que o sen
Por Isabella Melo Começo a gargalhar. Como pode o cara achar que é meu marido? Será que ele fugiu de algum hospício? — Olha, moço, eu não sou sua esposa. — Digo abafando a risada. — Jamais me enganaria. Conheço você mais do que a mim mesmo. Se você deixar, eu te explicarei. — Ele me olha com expectativa. Dou uma bufada e o olho, e assim que nossos olhos se encontram, me sinto atraída. — Como você se chama? — Pergunto, não conseguindo quebrar o contato visual. — Ricardo Stefan. — Ele diz e beija as costas da minha mão. Por que sinto o meu corpo se agitar? Nem sei de onde esse cara surgiu, mas já conseguiu mexer comigo. Sinto a mesma coisa que senti com Cadu. Meu juízo está deturpado mesmo. Os policiais se aproximam com cara de poucos amigos. — Moça, conhece esse meliante? — Um deles perguntou. — Sim, senhor. Ele é meu amigo, porém bebeu um pouco além da conta noite passada. — Nem sei porque respondi isso. Agora me sinto meio que responsável por ele.
Também saio, travo o carro e empurro a porta da lanchonete, mas antes que entremos, ele me dá o braço, como os cavalheiros antigamente, e acabo aceitando. Já dentro do BK, Ricardo ficou assustado com as mesas e cadeiras de plástico duras. E quando ele viu as luzes então? Ficou completamente doido querendo que eu explicasse como funciona a tecnologia, e lá fui eu tentar lembrar dos meus tempos de física para explicar para ele. Vou fazer o pedido dos lanches enquanto o deixo sentado e assustado. Nossa, ele deve ter batido a cabeça feio. Peço os lanches e, assim que eles são anotados, volto para a minha mesa. Olho para Ricardo, e ele continua assustado. — Então, me fale de você? — Ele me encara por uns instantes e começa. — Eu sou Ricardo Stefan. Acabo de completar 30 anos. — Vou fazer 30 anos logo, logo. Me fala uma coisa, onde está a sua família? — Antes que ele possa me responder, os nossos lanches chegam, e ele fica espantado olhando para os embrulhos e para o
Ele fala com tanta admiração de sua esposa, e acabo compreendendo o motivo que o fez ficar louco e meio que me identifiquei com, pois depois que Cadu me deixou eu também beirei a loucura. Perder a pessoa que se ama não é fácil, e talvez ele não tenha pessoas que o ajudem a passar pelo momento de luto. Nesse momento sinto imensa compaixão por ele. Começo a perguntar sobre sua esposa, e ele me conta que ela lutava por direitos feministas. — Ela não lutava só pelo direito feminino, mas também pela liberdade de sua raça. — Raça? — Agora ele me deixou confusa. — Sim. Ela era você, quer dizer, se parecia exatamente como você. — Olhei para minha pele, se ela era como eu, ela era… Virei bruscamente para ele, e o carro acabou dando um solavanco. O motorista de trás me xingou, pois quase bateu em meu carro. Retribuí o xingamento e coloquei a mão para fora, lhe mostrando o dedo do meio. Ricardo me olhou com repúdio, e antes que ele pudesse dizer algo idiota o lembrei dos direitos f
Por Ricardo Stefan Bem que a velha senhora avisou-me sobre a diferença desse século. Depois que Isabella mostrou-me sua residência e seus inventos, ela levou-me para meus aposentos, e pelo menos aqui é um território conhecido por mim. Reconheço a cama, a mesa de cabeceira e o guarda-roupas, porém sinto falta da banheira e do lugar onde se faz certas necessidades. Ela deve manter um quarto dentro de sua propriedade para tais. Isabella retorna com algumas vestimentas mais apropriadas para esse século e me entrega, vasculho as peças de roupas e como não vejo a peça que procuro, resolvo perguntar mesmo com a face afogueada. — Desculpe-me por aborrecê-la, mas gostaria de saber se você tem ceroulas. — Ela ri de mim, e franzo o cenho, pois não entendo o motivo do escárnio. Assim que ela vê meu desconforto, para de rir. — Não queria rir da sua cara, Rick, é que não existem mais ceroulas, elas foram substituídas pelas cuecas. — Ela tenta segurar o riso enquanto me entrega um pacote
Isabella Melo Pensei que seria complicado conviver com outra pessoa, mas na verdade até que tem sido bem divertido. Ricardo se mostrou alguém bem prestativo e amigável. Ele fez amizade com Márcio, Luíza e Bernardo, e até minha avó passou a gostar dele. Por falar nela, dona Hilda está bem melhor. Até os médicos se surpreenderam com sua melhora. Nesta semana Ricardo foi para o hospital e leu para ela todos os dias, e ainda tem me ajudado com a boutique, que aumentou a freguesia feminina depois de sua chegada. Fico incomodada com o tanto de mulher que baba em cima dele. Não é que eu esteja com ciúmes, afinal, nos tornamos amigos. Ele fala tanto de sua família que tenho vontade de conhecer Abby e Elizabeth. Quanto mais ele fala de sua pequenina, mais eu tenho vontade de conhecê-la. Ricardo me contou o que sua irmã passou nas mãos de um idiota. Gostaria que ela pudesse viver aqui, onde as pessoas não se importam se você é virgem ou não. Todas as suas histórias parecem interessa