Por Isabella Melo
Depois de um dia cansativo na minha boutique, avisei a Marcio que estava indo para o hospital ver minha avó e ele disse que segurava as pontas e me pediu para dar um beijo na minha avó, agradeci a ele pela a ajuda e fui para o hospital onde minha avózinha está internada, durante o trajeto por que não sei comecei a lembrar de um livro da Carina Rissi que amo muito.
Cheguei ao hospital, fantasiando novamente sobre viagens no tempo e imaginei como seria fazer uma viagem dessas. Resolvi deixar essas coisas de lado e entrei no hospital Vanessa, assim que me avista, me cumprimenta e, como sou presença assídua no hospital, ela já deixa o meu crachá preparado.
— Dona Hilda estava contando para as enfermeiras que finalmente a netinha dela a visitará hoje.
— Nossa! Ela fala como se eu não estivesse aqui todos os dias.
Vanessa ri, e eu sigo o meu caminho para o quarto 509, e lá está a minha avó, que se tornou meu tudo. Dói ver aquela mulher ativa nesse estado. Aproximo-me da cama e pego sua mão, e ela continua de olhos fechados. Maldito câncer.
Após um breve conversa em espanhol com minha avó, ela sorriu mesmo estando bem debilitada devido a sua doença, levei uma nova criação da minha boutique para ela experimentar e minha avó ficou muito feliz por isso.
— Ah, minha filha, eu...
Minha avó interrompeu o que estava falando e começou a tossir sem parar. Peguei uma espécie de bacia e fiz carinho em suas costas até que ela vomitou. Assim que ela terminou, peguei a toalha, mergulhei na água e passei por sua boca e rosto. Olhei para o conteúdo da bacia e vi placas de sangue. Respirei fundo, porque eu sabia que isso significava que o câncer estava mais avançado. Evitei chorar em sua frente. Voltei ao banheiro, joguei água no meu próprio rosto e me obriguei a sorrir. Minha avó ficaria muito triste se me visse chorando e derrotada.
— Minha filha, eu estou nas últimas e não a quero deixar sozinha. — Ela diz após mais um excesso de tosse.
— A senhora não está morrendo. Eu sei que irá sair dessa.
— Não se engane, meu amor. Eu sinto que a minha vida está por um fio. Não sei quanto tempo ainda me resta, mas gostaria de ver um sorriso verdadeiro de felicidade em seu rosto antes que eu vá.
— Eu vou ficar feliz se a senhora estiver bem. Agora pare de falar e descanse um pouco.
— Você precisa encontrar alguém que a faça feliz.
— Vó, no estado em que meu espírito se encontra, só amarei novamente se um Ian Clarke aparecer em minha frente. E como sabemos que isso é mera ficção, então estou bem do jeito que estou.
— Minha filha, as palavras têm poder.
— Ah! Sim, Vó. Eu desejei, agora vai aparecer um cara igual a um de meus personagens favoritos. — Não quis rir, mas acabei gargalhando e, em troca, recebendo um olhar reprovador da minha avó.
— Tudo que te aconteceu te deixou tão cética. — Ela passa as mãos trêmulas por meu rosto.
Minha vozinha estava com um semblante triste, então resolvi parar de fazer minhas famosas piadas. Preciso controlar o meu humor negro na presença dela.
— Eu não sou cética. Sou realista e pé no chão. Descanse, abuelita. À noite voltarei para dormir com a senhora.
— Meu bem, essa noite quero ficar sozinha, se não se importar. — Ela diz enquanto se ajeita na cama.
— Por que a senhora não me quer por perto?
— Eu quero que descanse na sua cama, filha, e não em uma cadeira dura de hospital.
— Então, já que não me quer aqui à noite, irei ficar ao seu lado até que durma.
Dei um beijo em sua testa e fiquei até que ela pegasse no sono. Assim que percebo que ela realmente dormiu, dou-lhe um beijo na testa, fazendo uma oração silenciosa para que ela se recupere. Termino minha oração, dou mais um beijo nela e saio de seu quarto à procura do doutor. Preciso saber dele se conseguiu algum novo método ou medicamento para a condição de vovó, mas a notícia que recebi deixou-me sem chão e com muita falta de ar. Saí do hospital a passadas largas, ignorei até os gritos de Vanessa quando passei pela recepção, entrei em meu carro e dirigi sem rumo. Acabei parando em uma praça — nem sei como cheguei lá —, estacionei o carro, saí e sentei em um dos bancos, sem me importar com as pessoas que me olhavam por conta das lágrimas. Abaixei minha cabeça e comecei a repassar toda a conversa com o doutor Luiz.
— Boa tarde! Doutor Luiz, gostaria que o senhor me atualizasse sobre o estado de saúde da minha avó.
— O estado da senhora Hilda é grave, Isabella. Não te darei falsas esperanças. Sua avó tem no máximo uma semana de vida.
— Como assim, doutor? E o tratamento? Não há nada que possamos fazer?
— Não está funcionando. Já tentamos outros medicamentos e métodos, mas infelizmente o câncer já tomou 97% do pulmão. É um milagre que sua avó ainda esteja viva.
— Não há milagre nenhum em minha vida. Nada nunca dura, nada nunca dá certo para mim. Obrigada por tudo que o senhor fez pela minha avó. — Viro-me e deixo as lágrimas rolarem livremente. Não me importo com nada e nem com ninguém.
— Isabella! — O doutor grita. Parei de andar e me virei para olhá-lo.
— Se tivesse qualquer outro tratamento ou qualquer outra coisa que eu pudesse fazer, eu o faria.
Dou-lhe um sorriso fraco e cá estou na praça. As lágrimas grossas e pesadas rolam livremente por meu rosto. Respiro fundo, vou até o carro e pego um de meus livros favoritos. Retorno para o banco e começo a ler, a fim de viajar na história de Ian e Sofia, na tentativa de esquecer um pouco da minha dor.
Ouço um burburinho ao longe e me concentro ainda mais na história do livro que estou lendo. Não demora muito o burburinho se intensifica. Muito a contragosto, retiro os olhos da minha leitura e começo a olhar a cena inusitada. Um cara com roupas de época está discutindo com os policiais que o detinham. “É apenas um maluco” pensei comigo mesma. O homem vira, nossos olhos se encontram, e fica impossível desviar o olhar. De repente eu tinha a sensação de já ter visto aquele par de olhos verdes esmeralda em algum lugar. Ele me encara incrédulo, e o jeito que ele olha me incomoda de alguma forma. Lágrimas começam a escorrer por seu rosto; ele se solta dos policiais e rapidamente corre e se j**a aos meus pés.
— Oh, céus! É verdade, você está... você está viva. — O homem estranho começa a chorar e abraça minhas pernas.
Olho para o cara e tenho vontade de rir. É lastimável que apesar de muito bonito seja louco.
— Até onde eu saiba estou viva sim, mas, como você achou que estivesse morta, creio que está me confundindo com outra pessoa. — Digo ao homem enquanto tento — sem sucesso — me soltar.
— Nunca poderia esquecer seus olhos cor de mel, e esta pele que tanto admiro.
— Olha, moço, você está me assustando. — Vejo os policiais vindo em nossa direção e agradeço aos céus por isso. Cara maluco.
— Você se lembrará de mim, minha doce e única Isabella. — Quando o homem diz meu nome, algo se acendeu em meu coração.
— Como você sabe meu nome? — Meu coração se acelera, e o que ele diz logo a seguir me pega desprevenida.
— Nunca esqueceria o nome de minha amada esposa.
Por Ricardo Stefan Mais um dia sem minha adorável e valente esposa. Pergunto-me porque o bom Deus não me levou em seu lugar. Ela estava feliz e conseguindo mudar a mente de nossa atrasada sociedade. Como sinto falta de sua maravilhosa pele amendoada. Travamos grandes batalhas por nosso amor e não há nada do que eu me arrependa, nem mesmo de ter aberto mão de meu título de nobreza por Isabella. O choro de nossa filha tira-me de meus devaneios. Pego a pequena Abgail em meus braços, e ela se aninha em meu peito e logo seu choro cessa, dando lugar a pequenos soluços. Nossa pequena “Abby”, como dizia Isabella, herdou os traços de sua mãe e a cor da pele também. Já seus olhos são expressivos e verdes como esmeraldas, iguais aos meus, e seus cabelos pretos me lembram ondas do mar. Abro o relicário de minha falecida esposa e lá está retratada a nossa família antes dela ser retirada de nós. Olho para Abby e prometo a mim mesmo que cuidarei dela com afinco. Ouço leves batidas na porta
Acordo na manhã seguinte com a cabeça latejando. Olho para o vidro âmbar vazio à minha frente e decido que não beberei por um bom tempo. Abgail acorda a plenos pulmões, e sei bem do que se trata. Embora eu tenha contratado a senhora Prado para cuidar de Abby, nesses últimos meses decidi eu mesmo cuidar dela. Olho-me no espelho e percebo que também preciso de cuidados urgentemente. Ouço batidas, dou permissão e vejo o meu mordomo ali parado a me olhar. — Senhor Stefan, quer que mande os criados preparem seu banho? — Ele diz, me olhando com tristeza. — Por favor, Freitas. Obrigado. — Ele dá a ordem e retorna. — Senhor Stefan, perdoe-me a intromissão, mas lhe conheço antes de ser um mancebo. Sei que a senhora Stefan está a fazer falta, mas o senhor precisa ter forças para se levantar e cuidar de si. A criança Abgail e a senhorita Elizabeth necessitam do senhor. — Eu juro que estou tentando, mas, cá entre nós, estou falhando miseravelmente. — Então creio que o sen
Por Isabella Melo Começo a gargalhar. Como pode o cara achar que é meu marido? Será que ele fugiu de algum hospício? — Olha, moço, eu não sou sua esposa. — Digo abafando a risada. — Jamais me enganaria. Conheço você mais do que a mim mesmo. Se você deixar, eu te explicarei. — Ele me olha com expectativa. Dou uma bufada e o olho, e assim que nossos olhos se encontram, me sinto atraída. — Como você se chama? — Pergunto, não conseguindo quebrar o contato visual. — Ricardo Stefan. — Ele diz e beija as costas da minha mão. Por que sinto o meu corpo se agitar? Nem sei de onde esse cara surgiu, mas já conseguiu mexer comigo. Sinto a mesma coisa que senti com Cadu. Meu juízo está deturpado mesmo. Os policiais se aproximam com cara de poucos amigos. — Moça, conhece esse meliante? — Um deles perguntou. — Sim, senhor. Ele é meu amigo, porém bebeu um pouco além da conta noite passada. — Nem sei porque respondi isso. Agora me sinto meio que responsável por ele.
Também saio, travo o carro e empurro a porta da lanchonete, mas antes que entremos, ele me dá o braço, como os cavalheiros antigamente, e acabo aceitando. Já dentro do BK, Ricardo ficou assustado com as mesas e cadeiras de plástico duras. E quando ele viu as luzes então? Ficou completamente doido querendo que eu explicasse como funciona a tecnologia, e lá fui eu tentar lembrar dos meus tempos de física para explicar para ele. Vou fazer o pedido dos lanches enquanto o deixo sentado e assustado. Nossa, ele deve ter batido a cabeça feio. Peço os lanches e, assim que eles são anotados, volto para a minha mesa. Olho para Ricardo, e ele continua assustado. — Então, me fale de você? — Ele me encara por uns instantes e começa. — Eu sou Ricardo Stefan. Acabo de completar 30 anos. — Vou fazer 30 anos logo, logo. Me fala uma coisa, onde está a sua família? — Antes que ele possa me responder, os nossos lanches chegam, e ele fica espantado olhando para os embrulhos e para o
Ele fala com tanta admiração de sua esposa, e acabo compreendendo o motivo que o fez ficar louco e meio que me identifiquei com, pois depois que Cadu me deixou eu também beirei a loucura. Perder a pessoa que se ama não é fácil, e talvez ele não tenha pessoas que o ajudem a passar pelo momento de luto. Nesse momento sinto imensa compaixão por ele. Começo a perguntar sobre sua esposa, e ele me conta que ela lutava por direitos feministas. — Ela não lutava só pelo direito feminino, mas também pela liberdade de sua raça. — Raça? — Agora ele me deixou confusa. — Sim. Ela era você, quer dizer, se parecia exatamente como você. — Olhei para minha pele, se ela era como eu, ela era… Virei bruscamente para ele, e o carro acabou dando um solavanco. O motorista de trás me xingou, pois quase bateu em meu carro. Retribuí o xingamento e coloquei a mão para fora, lhe mostrando o dedo do meio. Ricardo me olhou com repúdio, e antes que ele pudesse dizer algo idiota o lembrei dos direitos f
Por Ricardo Stefan Bem que a velha senhora avisou-me sobre a diferença desse século. Depois que Isabella mostrou-me sua residência e seus inventos, ela levou-me para meus aposentos, e pelo menos aqui é um território conhecido por mim. Reconheço a cama, a mesa de cabeceira e o guarda-roupas, porém sinto falta da banheira e do lugar onde se faz certas necessidades. Ela deve manter um quarto dentro de sua propriedade para tais. Isabella retorna com algumas vestimentas mais apropriadas para esse século e me entrega, vasculho as peças de roupas e como não vejo a peça que procuro, resolvo perguntar mesmo com a face afogueada. — Desculpe-me por aborrecê-la, mas gostaria de saber se você tem ceroulas. — Ela ri de mim, e franzo o cenho, pois não entendo o motivo do escárnio. Assim que ela vê meu desconforto, para de rir. — Não queria rir da sua cara, Rick, é que não existem mais ceroulas, elas foram substituídas pelas cuecas. — Ela tenta segurar o riso enquanto me entrega um pacote
Isabella Melo Pensei que seria complicado conviver com outra pessoa, mas na verdade até que tem sido bem divertido. Ricardo se mostrou alguém bem prestativo e amigável. Ele fez amizade com Márcio, Luíza e Bernardo, e até minha avó passou a gostar dele. Por falar nela, dona Hilda está bem melhor. Até os médicos se surpreenderam com sua melhora. Nesta semana Ricardo foi para o hospital e leu para ela todos os dias, e ainda tem me ajudado com a boutique, que aumentou a freguesia feminina depois de sua chegada. Fico incomodada com o tanto de mulher que baba em cima dele. Não é que eu esteja com ciúmes, afinal, nos tornamos amigos. Ele fala tanto de sua família que tenho vontade de conhecer Abby e Elizabeth. Quanto mais ele fala de sua pequenina, mais eu tenho vontade de conhecê-la. Ricardo me contou o que sua irmã passou nas mãos de um idiota. Gostaria que ela pudesse viver aqui, onde as pessoas não se importam se você é virgem ou não. Todas as suas histórias parecem interessa
— Bom dia, cavalheiro! Creio que ainda não fomos apresentados. — Seu rosto está fechado, e isso me diverte. — Rick, esse é o Lucas, um cliente antigo, e, Lucas, esse é Ricardo, um amigo que está hospedado na minha casa. — O apresento, ainda de bom humor. — Ah, você é o cara que está com amnésia. Muito prazer, Rick, estava convidando sua amiga para dar uma ida ao cinema. Que tal você ajudar o amigão? Lucas estica a mão, vejo Rick apertar com força desnecessária e reviro os olhos. — Ricardo para o senhor, já que não somos próximos, e creio que a dama terá que recusar, pois ela havia marcado um compromisso comigo. O semblante de Lucas cai, e eu fico estarrecida. É sério que estou vendo Ricardo com ciúmes? Não sei porquê, mas a vontade de rir é enorme. Porém me contenho assim que vejo a cara de poucos amigos de Ricardo e Lucas, deixo os dois de lado e atendo dona Fran, que é uma cliente assídua e muito bondosa. Assim que Ricardo a cumprimentou ganhou sua admiração, e