Já eram oito horas da noite e Valentina continuava empolgada digitando o relatório; aquele estudo renderia um saving considerável para a empresa e ela seria, com certeza, muito bem recompensada.
Seu celular tocou e ela o olhou de relance, sem a intenção de atendê-lo. "Maria" piscava na tela, enquanto o aparelho vibrava.
"Que droga, esqueci o jantar!", pensou, e em seguida atendeu a ligação.
- Oi amor, tudo bem? Sim, sim, eu ainda tô na empresa, mas logo saio. Não, é claro que não esqueci nosso jantar de aniversário. Me dá uma meia hora e te pego aí. Beijos. Também te amo.
Embora tivesse pedido meia hora de espera, levou mais uma hora para terminar o documento. Conhecia sua namorada; o atraso lhe custaria, no máximo, uns dez minutos escutando uma lição de moral e tudo estaria resolvido.
Finalizado o relatório, desligou o notebook e guardou rapidamente suas coisas. Ficou surpresa ao perceber que estava praticamente só na empresa; na realidade aquilo era bem compreensível, afinal, quem ficaria no trabalho numa sexta à noite?
Desceu pelo elevador até o subsolo 3 onde ficava o estacionamento. Chegando lá, viu que ainda havia alguns carros.
"Tem gente mais workaholic que eu!" – pensou, e um breve sorriso lhe surgiu.
Não lembrava onde estacionara o carro, então acionou o controle do alarme e as luzes do automóvel piscaram: estava do outro lado do estacionamento.
Começou a caminhar o mais rápido que seu salto 15 permitia. Uma das coisas que mais gostava na Dollar S.I. era que a única regra relacionada a roupas era se vestir bem. Não havia proibições para saias curtas, blusas decotadas ou salto agulha, contanto que o conjunto não estivesse vulgar. Desta forma, foi arrumada de modo a poder sair do trabalho e ir diretamente para o jantar.
Ela e Maria comemorariam três anos de namoro. Só elas sabiam o quanto sofreram com a rejeição da família, com a discriminação no trabalho e com o preconceito da sociedade. Venceram a tudo, cada vez mais unidas e felizes.
Enquanto caminhava, perdida em seus pensamentos, Valentina não viu um objeto no chão e tropeçou nele. Ela pára e olha o objeto: um rádio antigo.
- Mas... quem deixou essa porcaria aqui? Eu poderia ter quebrado o pé!
Enquanto massageia o tornozelo ela olha para o lado e vê que não está sozinha. Do outro lado do estacionamento alguém a observa.
O observador era incrivelmente – e horripilantemente – alto. Podia-se dizer que era anormal, mas não foi isso que a assustou: ele estava usando uma máscara, uma estranha máscara que imitava uma cabeça humana – só que sem os olhos.
Um frio percorreu-lhe a espinha e ela não pensou muito: começou a correr. Uma pessoa poderia ter muitos motivos para estar no estacionamento, mas nenhum bom motivo para estar mascarado.
Valentina correu o máximo que pode e quando chegou próximo ao carro acreditou que estava salva. Porém, foi atingida com força na cabeça e imediatamente caiu. Tonta, não conseguiu se levantar. Só conseguiu ver os sapatos pretos com solado vermelho de seu perseguidor.
O mascarado ergueu os braços dela e os amarrou com uma corda; amarrou os pés também. Agarrou nos cabelos de Valentina e começou a arrastá-la, como se fosse um animal abatido.
Com a cabeça doendo loucamente, Valentina só conseguiu sussurar:
- Por favor, não me machuque mais.
O mascarado parou. Soltou os cabelos de Valentina e se virou para olhá-la.
Ela repetiria o pedido, mas não houve tempo: o mascarado desferiu-lhe outro golpe, e tudo virou escuridão.
_____________________________________________________________________
Enquanto isso, em um restaurante há cinco quadras dali, Johnny e Wanda combinam animadamente os detalhes da surpresa que fariam para Alice.
Ao chegar em casa, Alice tomou um banho e logo esparramou-se no sofá. O dia de trabalho havia sido intenso e ela estava satisfeita por ele ter acabado. Se serviu da comida que sua mãe havia preparado para o jantar e após comer juntou-se à ela e seu pai na sala, para assistir a novela.Alice sabia que príncipes encantados não existiam, mas não podia negar que seu relacionamento com Johnny era digno de um belo filme de romance. Além de amá-lo demais, sentia que era imensamente correspondida. Johnny demonstrava no dia-a-dia seu sentimento por ela, preocupando-se com sua saúde, bem estar e todo tipo de realização pessoal e profissional. Parecia que eles se conheciam desde sempre, desde outra vida.Entretanto, algumas coisa precisavam ser melhoradas; Johnny visitava frequentemente a família de Alice, mas não podia-se dizer o mesmo dela. Apesar dos pais de Johnny sempre a tratar
Haviam cerca de trinta pessoas no estacionamento da Dollar S.I., aglomeradas em volta do elevador. Metade eram policiais fardados; alguns sem farda, mesmo assim podia-se reconhecer que eram investigadores, pois olhavam tudo minuciosamente, tiravam fotos e faziam anotações. Os que sobravam eram funcionários da empresa.Ver aquela cena fez o coração de Johnny acelerar.- Céus Wanda! Olha quanta gente! Que desgraça aconteceu agora?- Calma Johnny, calma, já vamos descobrir os detalhes.Ao ultrapassar a fita zebrada que isolava o local, Johnny foi abordado.- Ei senhor, não pode entrar aqui. É a cena de um crime.- Eu sou o dono da empresa, John Dollar.- Tem algum documento de identificação?Johnny perdeu a paciência. Tirou a carteira do bolso e colocou na mão do policial.- Tá aqui ó, pega minha carteira. Todos os
O dia havia sido péssimo, e Johnny estava exausto.Tudo que desejava era tomar um banho e assistir algum filme na TV; gostaria de dormir, mas sabia que depois de tudo que presenciara, não ia ser tão fácil.Entrou em seu quarto e jogou a blusa na cama. Ia entrar no banheiro, mas percebeu que não estava sozinho: duas pessoas estavam lá, esperando por ele.- Garotos, vocês aqui? O que estão fazendo no meu quarto? E... por que estavam no escuro?Betinho e Willy continuaram com as expressões sérias.- Não queríamos te assustar. – respondeu Willy, e Johnny balançou a cabeça, tentando expressar que aquilo não fazia o menor sentido.- É o seguinte Johnnão - Betinho levantou da cadeira – você sabe que a gente gosta muito de você e da tia Alice né?- Sei sim. Nós também gostamos muito
Ao chegar no hospital, Johnny encontrou Wanda conversando com um médico. Enquanto ela estava tensa, ele aparentava estar extremamente calmo. "Médicos estão mais acostumados com isso", pensou. Imediatamente se integrou a conversa.- Boa noite doutor...?- Marcelo. Marcelo Casevalli. E você é?- John Dollar. A Valentina trabalho comigo.- Ah sim, sim. Já ouvi falar.- E então doutor, como ela está?- Bem, como eu estava explicando para a Wanda, ela ainda requer muitos cuidados, mas está reagindo muito bem.- Ela está consciente?- Sim. Fica um pouco confusa ao falar de algumas coisas, mas é compreensível.- Compreensível até demais, se pensarmos na violência do caso. – O comentário partiu de uma quarta pessoa que, apesar de ter aparecido de surpresa, logo foi reconhecido por Johnny: era Allan, o chefe dos inv
- Saibam que não quero que ninguém se sinta obrigado a estar aqui. A ajuda que estou pedindo não tem absolutamente nada a ver com o trabalho de vocês, então, caso sintam-se desconfortáveis, podem ficar fora dessa; eu entenderei.Jhonny marcou aquela reunião tão logo saiu do hospital, onde havia conversado com Valentina. Ele sabia que a polícia estava investigando o crime, mas queria conduzir sua própria investigação. Alice não pôde estar presente; com Johnny dedicado aos desdobramentos do crime ocorrido na Dollar S.I., havia sobrado para ela resolver absolutamente tudo sobre o casamento deles, que se realizaria dali uma semana. Apesar de ser por um bom motivo, ele se sentia desfalcado sem ela.- Eu ia participar disso mesmo que você não quisesse. – respondeu Wanda.Johnny lhe retribuiu com um sorriso.- Por que será que isso não
Quando Johnny e Wanda chegaram na Dollar SI Allan já os aguardava.- Olá Allan. Vamos subir até a minha sala. Enquanto isso a Wanda vai levantar as informações sobre o funcionário. Qual o nome dele?Allan parecia desconfortável em passar a informação.- Eu vou passar o nome, mas enxerguem isso como um voto de confiança, ok? Só estou seguindo esse caminho porque sei que é o mais rápido para pegarmos esse desgraçado.Johnny sabia que o problema do detetive era com ele; odiava a ideia de ser considerado suspeito, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito, a não ser colaborar em tudo que a policia solicitasse.- Eu entendo Allan, sei que é difícil confiar em mim, afinal você mal me conhece, mas vou cooperar em tudo que precisarem.- É o mínimo que espero de você, considerando que o crime oc
- Moldes de silicone. – concluiu Ed – Alguém deve ter tirado as digitais do Davi, enquanto ele estava vivo logicamente, num molde de silicone, e deve ter feito algum tipo de luva com elas.Como o horário de expediente já havia acabado, Johnny, Allan e Wanda haviam achado Ed já em seu apartamento.O local era pequeno e com móveis simples, mas repleto de itens tecnológicos, que eram a verdadeira paixão de Ed.- Molde de silicone? Isso me parece muito surreal! – rebateu Wanda, com cara de desdém.- Na verdade é mais comum do que vocês imaginam. Nunca ouviram falar em servidores públicos que registram o ponto de colegas, usando moldes de silicone? No núcleo privado isso acontece também.- Bem, mas se eles estão usando esse tipo de método, alguma câmera de vocês deve ter pego ele registrando o ponto no relógio.
O silêncio imperava entre os três. Em menos de 48 horas da investigação do crime cometido com a Valentina, Johnny, Wanda e Allan repetiram o mesmo roteiro: conversar com a polícia, conversar com os médicos, conversar com a polícia, conversar com testemunhas, conversar com a família, conversar com a vítima, e por fim conversar novamente com a polícia. Sentiam-se derrotados.- Eu não acredito que isso está acontecendo Wanda, não acredito. Em que momento as coisas começaram a ficar tão ruins e eu não percebi?- Calma Johnny, a gente vai resolver isso...Johnny parou de andar de um lado para o outro e olhou para Wanda.- Resolver? Resolver como? Como é que a gente vai resolver a situação dele?Wanda abaixou a cabeça e suspirou. Sabia que Johnny estava nervoso, senão nunca falaria assim com ela. E não podia nega