O dia havia sido péssimo, e Johnny estava exausto.
Tudo que desejava era tomar um banho e assistir algum filme na TV; gostaria de dormir, mas sabia que depois de tudo que presenciara, não ia ser tão fácil.
Entrou em seu quarto e jogou a blusa na cama. Ia entrar no banheiro, mas percebeu que não estava sozinho: duas pessoas estavam lá, esperando por ele.
- Garotos, vocês aqui? O que estão fazendo no meu quarto? E... por que estavam no escuro?
Betinho e Willy continuaram com as expressões sérias.
- Não queríamos te assustar. – respondeu Willy, e Johnny balançou a cabeça, tentando expressar que aquilo não fazia o menor sentido.
- É o seguinte Johnnão - Betinho levantou da cadeira – você sabe que a gente gosta muito de você e da tia Alice né?
- Sei sim. Nós também gostamos muito de vocês.
- Então, agora que vocês vão juntar os trapos...
- Não se diz juntar os trapos – interrompeu Willy – se diz se amasiar...
- Ah tá... então, como vocês vão...
- Garotos, só uma correção: Alice e eu não vamos nem juntar os trapos, nem nos amasiar. Nós vamos casar, entenderam?
Betinho revirou os olhos.
- Ok, ok, tio Johnny, eu sei que pessoas na sua idade gostam desses formalimentos...
- Formalidades?
- É, é, tanto faz. O negócio é o seguinte: a gente quer te fazer um pedido.
Johnny franziu a testa, preocupado.
- Claro meninos, se estiver ao meu alcance.
Os dois se abraçaram sorridentes, e Betinho falou:
- Nós queremos ficar de DJ's no seu casamento.
Johnny se sentou na cama.
- Ok... deixa eu ver se eu entendi... vocês querem escolher as músicas que vão tocar no casamento, é isso?
Os dois responderam juntos:
- ISSO!
- Entendi... tudo bem, podemos ver isso. Mas vamos combinar o seguinte: vocês pensam em um repertório, mas Alice e eu temos que aprovar.
Willy se virou para Betinho
- Eu avisei.
- A gente já esperava por isso tio Johnny. Na realidade, nós passamos o dia pensando nisso e... tcham tcham tcham... nós temos uma prévia pra te mostrar.
Johnny respirou, aliviado.
- Que bom... que bom... e quando vão querer me mostrar?
- Agora. – respondeu Betinho, enquanto mostrava em sua mão um pen drive. – Senta aí e relaxa.
Eles ligaram o pen drive no computador de Johnny e, enquanto Betinho fazia as explicações, Willy selecionava as músicas.
- A primeira música escolhida foi para a entrada da noiva.
- Na minha entrada não vai ter música?
Betinho fez cara de desdém.
- Lógico que vai, mas daí toca uma da igreja mesmo. Ninguém liga pro noivo mesmo né?
A contragosto, Johnny foi obrigado a concordar.
- Toca aí a música da noiva Willy...
Tocou uma versão instrumental de "Ave Maria". Johnny ficou surpreendido.
- Começaram bem, garotos. Ótima escolha. Acho que Alice vai adorar.
- Você está falando com os melhores. – respondeu Betinho, e Johnny deu uma gargalhada.
- Ok, vamos continuar...
- A próxima é para a hora da troca de votos.
Tocou uma versão instrumental de "Eu sei que vou te amar", para nova surpresa de Johnny, que acenou com a cabeça, mostrando aprovação.
- A próxima é para a hora do "Você aceita Johnny blábláblá Dollar como seu marido?". Sabe? A hora do "SIM"?
- Sei sim Betinho... pode prosseguir.
Começou a tocar uma música nada convencional:
"Se quiser jogar, vem
Mas tem que arriscar, vem
Vai ser sim ou não, ou não
Ou não, não (ou não)".
Johnny olhou incrédulo para os dois.
- Isso é... é...
- ANITTA! – exclamou Betinho – Tá super em alta tio.
- Eu imagino Betinho, mas acho que a gente poderia deixar essa música pra festa, não é? Não acho muito apropriado para a igreja.
- Hummm... ok. Cancela Anitta na igreja. Vamos para a próxima. Música pra hora do beijo.
"Quer, que eu faça um café?
Ou faça minha vida se encaixar na sua?
Aqui mesmo na rua
Era pra ser agora
Quando é pra acontecer
Tem dia, lugar e tem hora"
- Isso é?
- Luan Santana, tio.
- Hum... Eu não curto muito, mas sei que a Alice gosta, e a música me pareceu boa, então essa aí tá aprovada.
- Ainda bem. Música romântica não é nosso forte.
- Mas vocês foram muito bem na escolha das primeiras Betinho.
Betinho deu de ombros.
- É que foi minha mãe que escolheu. Enfim, vamos agora pra música que vai tocar na hora que o Padre m****r parar o beijo.
"Que bonito!
Que bonito, hein!
Que cena mais linda, será que eu estou atrapalhando o casalzinho aí?
Que lixo...
Cê tá de brincadeira..."
- EPA EPA EPA... – Johnny se levantou – Eu acho que essa não vai rolar não.
Willy olhou para Betinho.
- Eu avisei.
- Tá bom, tá bom. Vamos direto pras músicas da festa então.
- Eu acho melhor.
Johnny passou então cerca de 3 horas escutando as sugestões dos garotos, o que lhe rendeu boas risadas e, o melhor, o fez esquecer por uns momentos do maníaco que rondava a Dollar SI.
Porém, na hora de deitar, a imagem do elevador cheio de sangue voltou a assombrá-lo.
Dormiu, mas sua mente não descansou.
Sonhou que estava na igreja, em seu casamento com Alice, quando de repente um homem gigante, usando uma máscara, aparecia na porta da igreja. Ele estava com uma faca de açougueiro na mão, e começou a caminhar em direção a Alice. Johnny tentou puxá-la, mas como é típico dos sonhos, não conseguiu se mover.
O homem caminhou até Alice e deferiu-lhe um golpe no abdome. Johnny tenta gritar, mas a voz não sai. Enquanto o sangue de Alice escorre pelo vestido, ele escuta um som.
Bip-bip-bip.
Johnny abre os olhos e vê o teto do quarto. Agradece por tudo não ter passado de um sonho.
Porém, o bipe continua.
Bip-bip-bip.
Johnny olha para o lado, e vê seu celular piscando.
Uma nova mensagem.
Uma nova mensagem de Wanda.
"Venha para o hospital. Valentina acordou".
Ao chegar no hospital, Johnny encontrou Wanda conversando com um médico. Enquanto ela estava tensa, ele aparentava estar extremamente calmo. "Médicos estão mais acostumados com isso", pensou. Imediatamente se integrou a conversa.- Boa noite doutor...?- Marcelo. Marcelo Casevalli. E você é?- John Dollar. A Valentina trabalho comigo.- Ah sim, sim. Já ouvi falar.- E então doutor, como ela está?- Bem, como eu estava explicando para a Wanda, ela ainda requer muitos cuidados, mas está reagindo muito bem.- Ela está consciente?- Sim. Fica um pouco confusa ao falar de algumas coisas, mas é compreensível.- Compreensível até demais, se pensarmos na violência do caso. – O comentário partiu de uma quarta pessoa que, apesar de ter aparecido de surpresa, logo foi reconhecido por Johnny: era Allan, o chefe dos inv
- Saibam que não quero que ninguém se sinta obrigado a estar aqui. A ajuda que estou pedindo não tem absolutamente nada a ver com o trabalho de vocês, então, caso sintam-se desconfortáveis, podem ficar fora dessa; eu entenderei.Jhonny marcou aquela reunião tão logo saiu do hospital, onde havia conversado com Valentina. Ele sabia que a polícia estava investigando o crime, mas queria conduzir sua própria investigação. Alice não pôde estar presente; com Johnny dedicado aos desdobramentos do crime ocorrido na Dollar S.I., havia sobrado para ela resolver absolutamente tudo sobre o casamento deles, que se realizaria dali uma semana. Apesar de ser por um bom motivo, ele se sentia desfalcado sem ela.- Eu ia participar disso mesmo que você não quisesse. – respondeu Wanda.Johnny lhe retribuiu com um sorriso.- Por que será que isso não
Quando Johnny e Wanda chegaram na Dollar SI Allan já os aguardava.- Olá Allan. Vamos subir até a minha sala. Enquanto isso a Wanda vai levantar as informações sobre o funcionário. Qual o nome dele?Allan parecia desconfortável em passar a informação.- Eu vou passar o nome, mas enxerguem isso como um voto de confiança, ok? Só estou seguindo esse caminho porque sei que é o mais rápido para pegarmos esse desgraçado.Johnny sabia que o problema do detetive era com ele; odiava a ideia de ser considerado suspeito, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito, a não ser colaborar em tudo que a policia solicitasse.- Eu entendo Allan, sei que é difícil confiar em mim, afinal você mal me conhece, mas vou cooperar em tudo que precisarem.- É o mínimo que espero de você, considerando que o crime oc
- Moldes de silicone. – concluiu Ed – Alguém deve ter tirado as digitais do Davi, enquanto ele estava vivo logicamente, num molde de silicone, e deve ter feito algum tipo de luva com elas.Como o horário de expediente já havia acabado, Johnny, Allan e Wanda haviam achado Ed já em seu apartamento.O local era pequeno e com móveis simples, mas repleto de itens tecnológicos, que eram a verdadeira paixão de Ed.- Molde de silicone? Isso me parece muito surreal! – rebateu Wanda, com cara de desdém.- Na verdade é mais comum do que vocês imaginam. Nunca ouviram falar em servidores públicos que registram o ponto de colegas, usando moldes de silicone? No núcleo privado isso acontece também.- Bem, mas se eles estão usando esse tipo de método, alguma câmera de vocês deve ter pego ele registrando o ponto no relógio.
O silêncio imperava entre os três. Em menos de 48 horas da investigação do crime cometido com a Valentina, Johnny, Wanda e Allan repetiram o mesmo roteiro: conversar com a polícia, conversar com os médicos, conversar com a polícia, conversar com testemunhas, conversar com a família, conversar com a vítima, e por fim conversar novamente com a polícia. Sentiam-se derrotados.- Eu não acredito que isso está acontecendo Wanda, não acredito. Em que momento as coisas começaram a ficar tão ruins e eu não percebi?- Calma Johnny, a gente vai resolver isso...Johnny parou de andar de um lado para o outro e olhou para Wanda.- Resolver? Resolver como? Como é que a gente vai resolver a situação dele?Wanda abaixou a cabeça e suspirou. Sabia que Johnny estava nervoso, senão nunca falaria assim com ela. E não podia nega
Wanda sentiu a pressão cair e precisou se sentar.Os convidados ficaram confusos, sem saber se comemoravam a chegada da Alice ou perguntavam sobre o Johnny.Foi quando uma dupla apareceu correndo, empurrando as pessoas que estavam em torno da Alice, e gritando:- Tia Alice!!!Betinho e Willy a abraçaram e quase foram todos para o chão.- Cara tia, finalmente vocês voltaram, achei que cêis tinham abandonado nóis.- Que ideia Betinho, a gente está morrendo de saudades de vocês!- Esperamos presentes! - disse Willy, mostrando um sorriso entre as bochechas rosadas.- Quê isso Willão, não é hora de falar disso não... eles acabaram de voltar... a gente nem se importa com isso - Betinho chegou perto de Willy e sussurrou – vamos esperar pra perguntar depois da festa, senão esse monte de convidado zóiudo vai querer também.
- A gente é demais...- Ié ié ié ié...- Ninguém pode superar...- Ié ié ié ié...- É o Willy e o Betinho...- Tinho inho inho...- Que chegaram pra pirar!!!- Rar rar rar rar...Quem via a dupla de meninos dançando na pista – num estilo muito próprio – e cantando uma música totalmente diferente da que estava sendo tocada pelo DJ, certamente pensava que eram idiotas ou estavam sob efeito de alguma substância.Porém, o que movia aqueles dois era somente alegria. E um pouquinho de falta de bom senso também.Precisou o DJ parar de tocar e ir embora para eles sossegarem um pouco.Exaustos e suados, aproveitaram que Alice estava sozinha pegando uma bebida e se aproximaram dela para conversar.- Bela festa! Deve ter custado uma nota. – falou Willy.- Olha Will, para
- Bem, vou deixar vocês conversarem. Aposto que serão bons amigos. Podemos é dar uma nome pra turma de vocês, hein... Que tal “Gangue dos Amigões”?Diante da cara de reprovação dos cinco, Alice escondeu o sorriso e se retirou.- Que bom revê-los. – Disse Ernesto – Eu poderia dizer que o tempo fez bem para vocês, mas eu estaria mentindo. Apesar que, vocêgordinho,ficoumenos assustadorsem aquela pança albina aparecendo.Willy enrubesceu.- Ê maluco, cê acha que tá falando com quem, hein? Willy não é gordo não tá, ele só tá meio inchado...Willy arregalou os olhos e se virou para Betinho.- Betinho...- Calma aí Willy, deixa eu falar com esse maluco. O Willy tá inchado, mas não é inchaço de gordura n