Haviam cerca de trinta pessoas no estacionamento da Dollar S.I., aglomeradas em volta do elevador. Metade eram policiais fardados; alguns sem farda, mesmo assim podia-se reconhecer que eram investigadores, pois olhavam tudo minuciosamente, tiravam fotos e faziam anotações. Os que sobravam eram funcionários da empresa.
Ver aquela cena fez o coração de Johnny acelerar.
- Céus Wanda! Olha quanta gente! Que desgraça aconteceu agora?
- Calma Johnny, calma, já vamos descobrir os detalhes.
Ao ultrapassar a fita zebrada que isolava o local, Johnny foi abordado.
- Ei senhor, não pode entrar aqui. É a cena de um crime.
- Eu sou o dono da empresa, John Dollar.
- Tem algum documento de identificação?
Johnny perdeu a paciência. Tirou a carteira do bolso e colocou na mão do policial.
- Tá aqui ó, pega minha carteira. Todos os meus documentos estão aí. – Passou pelo policial e continuou caminhando – Se precisar das minhas digitais, devem estar aí também.
- O senhor não pode falar assim comigo... senhor... senhor... volte aqui...
Wanda, que vinha logo atrás do chefe, deu um sorriso amarelo para o policial.
- Desculpa sr. Policial, ele está muito nervoso. Dá um descontinho, ok?
O policial olhou com cara de superioridade, mas com o ego profundamente ferido.
- Eu vou deixar passar dessa vez, mas na próxima, não me importa nem que ele seja o Dalai Lama, ele vai se ver comigo.
- Claro, claro. Agradeço muito a compreensão.
Wanda apertou o braço do policial e, sentindo os músculos dele, abriu um sorriso maroto.
- Você é forte, hein?
O policial retribuiu o sorriso.
- Eu malho, né?
Wanda se lembrou do porquê estava ali, e voltou correndo a seguir Johnny; entretanto, ele já estava bem adiantado, parado em frente ao elevador.
Conforme Wanda foi se aproximando, começou a perceber que o caso era mais doentio do que imaginava: havia rastros de sangue no chão, evidenciando que alguém havia sido arrastado. A imagem no elevador, entretanto, embrulhou-lhe o estômago; haviam marcas de sangue nas paredes em formato de cruz, e uma poça de sangue no chão.
Ela se aproximou de Johnny, que conversava com um homem, que posteriormente ela veio a saber que era o chefe dos investigadores.
- Realmente é tudo muito estranho, sr. Johnny. Não foi roubado nada. Pelo que pudemos entender até o momento, ela foi atingida na cabeça e arrastada até o elevador. Acreditamos que ela foi golpeada quando estava próximo ao carro, porque achamos um sapato dela caído lá, mas o sangue só aparece na metade do caminho. Provavelmente ela foi golpeada mais de uma vez.
- E onde será que ele estava pretendendo levar ela? E porque desistiu e deixou ela no elevador?
- Ele não queria leva-la a lugar nenhum; o objetivo era deixa-la no elevador mesmo.
- Deixar ela no elevador? Mas porquê?
- Bem... o porquê nós ainda não sabemos, mas sabemos que ele fez tudo – ou quase tudo – como havia planejado.
- E por que vocês têm tanta certeza disso?
- Porque ela foi encontrada pendurada por uma corrente, de ponta cabeça, dentro do elevador. Ele deve ter tido muito trabalho pra fazer isso.
- Minha nossa! – exclamou Wanda – Mas esse cara é louco!
- Com certeza. – a expressão do investigador deixava muito clara a gravidade da situação. – Não há dúvidas de que estamos lidando com um psicopata.
- E vocês já sabem se ela sofreu mais algum tipo de agressão, fora a pancada na cabeça?
- Ela estava muito ensanguentada, conseguimos ver alguns cortes pelo corpo, mas ainda é cedo para dizer quantas lesões havia e com o que foram feitas.
- E você acham que houve algum tipo de ... abuso?
- Você quer saber se ela sofreu algum tipo de abuso sexual? Nós acreditamos que não, sr. Johnny. Apesar da roupa dela estar amassada e um pouco rasgada, não faltava nenhuma peça de roupa. Mas certeza nós só teremos após o laudo do médico.
Wanda olhou para Johnny, cujo olhar mirava ao longe. Ela achou que ele podia estar em estado de choque, mas então ele voltou a falar.
- E vocês sabem como ela está? Me disseram que ela foi encaminhada para o hospital.
- O corpo está bem machucado, mas o preocupante é a cabeça. Pelo jeito o cara não poupou forças na hora de bater nela.
Johnny pediria para Wanda ligar para o hospital, mas antes que pudesse fazê-lo, está já estava ao telefone. Assim que desligou, voltou a se juntar aos dois.
- Então Johnny, ela está estável, mas o caso dela ainda é grave. Ela tem cortes em várias partes do corpo, mas o pior é a lesão na cabeça.
O investigador e Johnny se entreolharam, e o primeiro assentiu com a cabeça como se falasse "viu o que eu disse?".
- Ela vai precisar passar por uma cirurgia. Pelo que entendi vão precisar drenar o excesso de sangue que está fazendo pressão no cérebro. Alguma coisa assim.
Johnny colocou as mãos na cabeça.
- Caramba Wanda... alguém já avisou a família dela?
- Alguém aqui da empresa avisou a pessoa que ela tinha indicado em seu cadastro... acho que é a namorada dela. – informou o investigador.
- Ok, ok. – Johnny se virou para Wanda e se aproximou. – Wanda, tome todas as medidas possíveis e impossíveis para garantir que ela e a família dela recebam todo o suporte necessário. Chame os melhores especialistas, se achar que precisa. Não quero você concentrada em mais nada, entendeu? Quero dedicação 100% para a...
Johnny parou por um instante, pois percebeu que não sabia de quem estavam falando.
- Como é o nome dela?
- Valentina, Johnny. Do setor financeiro. Era uma excelente funcionária.
- Era não, é. E continuará sendo.
Essa era a maior preocupação dele: a recuperação de Valentina. A segunda era descobrir e prender o maluco que havia feito tudo aquilo.
Esse pensamento o fez estremecer; não faziam ideia de quem se tratava o psicopata. Olhou para o lado e viu um funcionário da empresa – do setor de vigilância – olhando para a cena do crime.
Se deu conta que o psicopata podia estar, neste exato momento, circulando livre entre eles.
_____________________________________________________________________________
O dia havia sido péssimo, e Johnny estava exausto.Tudo que desejava era tomar um banho e assistir algum filme na TV; gostaria de dormir, mas sabia que depois de tudo que presenciara, não ia ser tão fácil.Entrou em seu quarto e jogou a blusa na cama. Ia entrar no banheiro, mas percebeu que não estava sozinho: duas pessoas estavam lá, esperando por ele.- Garotos, vocês aqui? O que estão fazendo no meu quarto? E... por que estavam no escuro?Betinho e Willy continuaram com as expressões sérias.- Não queríamos te assustar. – respondeu Willy, e Johnny balançou a cabeça, tentando expressar que aquilo não fazia o menor sentido.- É o seguinte Johnnão - Betinho levantou da cadeira – você sabe que a gente gosta muito de você e da tia Alice né?- Sei sim. Nós também gostamos muito
Ao chegar no hospital, Johnny encontrou Wanda conversando com um médico. Enquanto ela estava tensa, ele aparentava estar extremamente calmo. "Médicos estão mais acostumados com isso", pensou. Imediatamente se integrou a conversa.- Boa noite doutor...?- Marcelo. Marcelo Casevalli. E você é?- John Dollar. A Valentina trabalho comigo.- Ah sim, sim. Já ouvi falar.- E então doutor, como ela está?- Bem, como eu estava explicando para a Wanda, ela ainda requer muitos cuidados, mas está reagindo muito bem.- Ela está consciente?- Sim. Fica um pouco confusa ao falar de algumas coisas, mas é compreensível.- Compreensível até demais, se pensarmos na violência do caso. – O comentário partiu de uma quarta pessoa que, apesar de ter aparecido de surpresa, logo foi reconhecido por Johnny: era Allan, o chefe dos inv
- Saibam que não quero que ninguém se sinta obrigado a estar aqui. A ajuda que estou pedindo não tem absolutamente nada a ver com o trabalho de vocês, então, caso sintam-se desconfortáveis, podem ficar fora dessa; eu entenderei.Jhonny marcou aquela reunião tão logo saiu do hospital, onde havia conversado com Valentina. Ele sabia que a polícia estava investigando o crime, mas queria conduzir sua própria investigação. Alice não pôde estar presente; com Johnny dedicado aos desdobramentos do crime ocorrido na Dollar S.I., havia sobrado para ela resolver absolutamente tudo sobre o casamento deles, que se realizaria dali uma semana. Apesar de ser por um bom motivo, ele se sentia desfalcado sem ela.- Eu ia participar disso mesmo que você não quisesse. – respondeu Wanda.Johnny lhe retribuiu com um sorriso.- Por que será que isso não
Quando Johnny e Wanda chegaram na Dollar SI Allan já os aguardava.- Olá Allan. Vamos subir até a minha sala. Enquanto isso a Wanda vai levantar as informações sobre o funcionário. Qual o nome dele?Allan parecia desconfortável em passar a informação.- Eu vou passar o nome, mas enxerguem isso como um voto de confiança, ok? Só estou seguindo esse caminho porque sei que é o mais rápido para pegarmos esse desgraçado.Johnny sabia que o problema do detetive era com ele; odiava a ideia de ser considerado suspeito, mas não havia nada que pudesse fazer a respeito, a não ser colaborar em tudo que a policia solicitasse.- Eu entendo Allan, sei que é difícil confiar em mim, afinal você mal me conhece, mas vou cooperar em tudo que precisarem.- É o mínimo que espero de você, considerando que o crime oc
- Moldes de silicone. – concluiu Ed – Alguém deve ter tirado as digitais do Davi, enquanto ele estava vivo logicamente, num molde de silicone, e deve ter feito algum tipo de luva com elas.Como o horário de expediente já havia acabado, Johnny, Allan e Wanda haviam achado Ed já em seu apartamento.O local era pequeno e com móveis simples, mas repleto de itens tecnológicos, que eram a verdadeira paixão de Ed.- Molde de silicone? Isso me parece muito surreal! – rebateu Wanda, com cara de desdém.- Na verdade é mais comum do que vocês imaginam. Nunca ouviram falar em servidores públicos que registram o ponto de colegas, usando moldes de silicone? No núcleo privado isso acontece também.- Bem, mas se eles estão usando esse tipo de método, alguma câmera de vocês deve ter pego ele registrando o ponto no relógio.
O silêncio imperava entre os três. Em menos de 48 horas da investigação do crime cometido com a Valentina, Johnny, Wanda e Allan repetiram o mesmo roteiro: conversar com a polícia, conversar com os médicos, conversar com a polícia, conversar com testemunhas, conversar com a família, conversar com a vítima, e por fim conversar novamente com a polícia. Sentiam-se derrotados.- Eu não acredito que isso está acontecendo Wanda, não acredito. Em que momento as coisas começaram a ficar tão ruins e eu não percebi?- Calma Johnny, a gente vai resolver isso...Johnny parou de andar de um lado para o outro e olhou para Wanda.- Resolver? Resolver como? Como é que a gente vai resolver a situação dele?Wanda abaixou a cabeça e suspirou. Sabia que Johnny estava nervoso, senão nunca falaria assim com ela. E não podia nega
Wanda sentiu a pressão cair e precisou se sentar.Os convidados ficaram confusos, sem saber se comemoravam a chegada da Alice ou perguntavam sobre o Johnny.Foi quando uma dupla apareceu correndo, empurrando as pessoas que estavam em torno da Alice, e gritando:- Tia Alice!!!Betinho e Willy a abraçaram e quase foram todos para o chão.- Cara tia, finalmente vocês voltaram, achei que cêis tinham abandonado nóis.- Que ideia Betinho, a gente está morrendo de saudades de vocês!- Esperamos presentes! - disse Willy, mostrando um sorriso entre as bochechas rosadas.- Quê isso Willão, não é hora de falar disso não... eles acabaram de voltar... a gente nem se importa com isso - Betinho chegou perto de Willy e sussurrou – vamos esperar pra perguntar depois da festa, senão esse monte de convidado zóiudo vai querer também.
- A gente é demais...- Ié ié ié ié...- Ninguém pode superar...- Ié ié ié ié...- É o Willy e o Betinho...- Tinho inho inho...- Que chegaram pra pirar!!!- Rar rar rar rar...Quem via a dupla de meninos dançando na pista – num estilo muito próprio – e cantando uma música totalmente diferente da que estava sendo tocada pelo DJ, certamente pensava que eram idiotas ou estavam sob efeito de alguma substância.Porém, o que movia aqueles dois era somente alegria. E um pouquinho de falta de bom senso também.Precisou o DJ parar de tocar e ir embora para eles sossegarem um pouco.Exaustos e suados, aproveitaram que Alice estava sozinha pegando uma bebida e se aproximaram dela para conversar.- Bela festa! Deve ter custado uma nota. – falou Willy.- Olha Will, para