França, Setembro de 2010.
Ela não presta!
O alarme do meu celular tocou pela terceira vez, estiquei o meu braço até a cabeceira ao lado da minha cama e desativei. Naquela manhã de verão, embora não estivesse tão quente como no Brasil, às 7 horas, a temperatura girava em torno de 20 graus.
Peguei os óculos e olhei a tela do meu blackberry. Tinha quatro meses que iniciei a residência no Hospital Saint-Mary em Lyon e, até aquele momento, Nicky não respondia às minhas mensagens ou retornava as minhas ligações.
Joguei o celular na cama e puxei o cobertor. Meu pau estava duro e latejava, isso acontecia sempre que eu sonhava com ela. Era impossível esquecer de como ela estava apertada e quente na primeira vez em que fizemos amor.
Levantei da cama e fui direto para o banheiro, não tive outra alternativa, me aliviei embaixo da água morna que caía sobre as minhas costas. Não conseguia parar de pensar n
No meio da escuridão, um homem emaciado caminhava por um imenso corredor. Os pés descalços batiam contra o piso, os olhos expressivos procuravam uma saída daquele lugar frio e vazio. O ruído de risadas infantis ecoava pelo breu, Alexander girou os calcanhares e correu para o outro lado. Precisava encontrar a família. — Acorda, papai! — A voz infantil ecoou. — Alex! — berrou. — Onde você está? — Estamos esperando você, pai — respondeu Rodolpho. — Je t'aime, papa! — declarou Marcelly. Alexander virou a cabeça para o outro lado. — Onde vocês estão? Um pequeno facho de luz mostrava uma saída, havia alguém em meio a escuridão. A mulh
Alguns meses se passaram, o amor que sentia pelos filhos possibilitou que Nicole enfrentasse cada dia com a cabeça erguida. Procurou ocupar a mente no trabalho e tentou ser forte todas as vezes que pensou em desistir. Nicole arrumava os documentos sobre a mesa e encerrava mais uma reunião exaustiva. Embora estivesse habituada e agisse com naturalidade na empresa, que outrora era administrada pela família Bittencourt, a jovem de boa aparência não se deixava intimidar. Aprendeu muita coisa durante o pouco tempo em que administrou a empresa ao lado de Alexander e de seu pai. Nicole deu algumas instruções à gerente administrativa e liberou a verba necessária para compra dos novos respiradores e equipamentos para o projeto social "Médicos do Bem". — Isto é tudo? — Fechou a pasta após assinar alguns documentos e
Nicole ouvia o som do choro abafado, abraçou o esposo que desmoronava em lágrimas. O impulso e o desejo de ajudar a aliviar a dor queimavam em seu coração.— Estou aqui, Alexander!Segurou o rosto dele e olhou-o nos olhos.— Passaremos por isso juntos! — Deu um abraço afetuoso.— Eu não tenho mais serventia — lamentou.— Nunca mais diga isso! — Ficou agarrada ao pescoço dele. — Eu senti sua falta todos os dias. Teve horas que pensei que ia enlouquecer sem você.Os dedos magros correram pela maçã saliente do rosto viçoso de Nicole. Alexander segurou-lhe a mão e a puxou-a para dentro dos braços, encorajou Nicole a deitar ao seu lado na cama e beijou-lhe o topo da cabeça após sentir o aroma delicioso que exalava dos cabelos macios. Os dedos se perderam nos cabelos de Nicole.— Por que você demorou? Lembrei do que aconteceu ontem e fiquei desesperado.Nicole elevou o torso e fitou o rosto combalido.— Isso aconteceu há sete meses. — Sibilou.— O que h
Alex foi o primeiro a correr em direção ao pai. Subiu na cama rapidamente e se agarrou ao pescoço de Alexander. — Não corram — Ricardo advertiu os netos. — Venham cá! Alexander acenou para Marcelly e Rodolpho que seguiram sem pressa em direção a cama. Abraçou cada um deles depois que Ricardo os colocou ao seu lado na cama. Os filhos traziam um certo conforto. Após passarem algum tempo conversando com o pai, os gêmeos falaram sobre o filme “Batman x Superman” enquanto Marcelly pendurava os balões ao lado da cama com o auxílio de Nicole. — Onde está o amorzinho do papai? Um sorriso rápido passou por seus lábios ao ver Jullie. — El
Os olhos amendoados fixaram o rosto com barba por fazer. Os dedos moveram o pingente do colar por trinta segundos. Nicole olhou para a mesinha ao lado da cama enquanto lambia os lábios curvos. — Nicky, você sabe o que está fazendo? Ela não respondeu, esticou o braço direito e inclinou o corpo de um jeito que os bicos dos seios roçaram contra a pele dele. Esticou-se para alcançar o barbeador e sentou logo que pegou o utensílio. — Você nunca teve uma enfermeira que cuidasse de você? — Questionou com uma voz calma conforme deslizava as três lâminas no sentido do crescimento dos pelos. — Fica quieto! As mãos delicadas faziam movimentos leves pelas laterais em direção aos lábios. Nicole se inclinou mais um pouco e suspirou. Engoliu o gemido logo que sentiu o hálito morno
Logo após deixar os filhos na escola, Nicole seguiu para o trabalho. Dirigia um veículo branco de baixo consumo e com um certo conforto. Apesar da retenção no trânsito, ela chegou rápido ao estacionamento do imponente prédio do Hospital São Miguel. O telefone tocou enquanto manobrava o carro na antiga vaga de Alexander. Assim que desligou o motor, pegou o BlackBerry. — Acabei de chegar! — Ela revirou os olhos quando ele disse algo sobre tomar cuidado e não esquecer de dar a seta antes de frear. — Eu sei dirigir, Alexander! — retrucou com uma voz gentil. Nos meses em que o marido esteve em coma, ela tirou habilitação. Já que dividia o tempo e a atenção entre o trabalho e os filhos, optou por um veículo que oferecesse um bom espaço interno para ela e as crianças. — O s
Vê-la tão próxima de David trazia pensamentos negativos, Alexander acreditava que não era capaz de manter o relacionamento ou realizar tarefas para ajudar a família naquelas condições. O silêncio se estendia entre os dois, ele ajeitou os óculos e arrumou a coluna no encosto da cadeira de rodas. — Por que você está com tanta raiva? — Nicole cruzou os braços. — Toda essa hostilidade para se manter no controle não vai te levar a lugar algum. Nicole pegou a bolsa que estava em cima da mesa, parou em frente a cadeira de Alexander e encarou os olhos de uma cor azul-cobalto. — Você vai me punir com o silêncio? — Ela insistiu; todavia, ele a ignorou. Nicole girou os calcanhares, porém a mão comprida segurou-a pelo braço direito. O quintal do imóvel de Jenny e Lana era coberto por gramas verdes bem aparadas. O sofá de balanço em estrutura metálica com estofado bege estava pendurado em duas correntes na varanda da casa. A base neutra da decoração se misturava a alguns toques de cor, sem exageros. Jenny sentou-se no sofá em formato de L na sala de estar e deixou que as crianças olhassem o nenê de pele caramelo. Afastou a mão de Jullie quando a menina quase encostou na moleira do bebê. — Você quer um irmãozinho? — Alexander falou com a filha. Pegou a menina no colo e gargalhou quando Jullie disse que sim. — Claro que não! — retrucou Nicole. Afundou no sofá e ajeitou os cabelos de Marcelly. — Ela ainda é bebê! — E vocês? Último capítuloCapítulo 7