Alex foi o primeiro a correr em direção ao pai. Subiu na cama rapidamente e se agarrou ao pescoço de Alexander.
— Não corram — Ricardo advertiu os netos.
— Venham cá!
Alexander acenou para Marcelly e Rodolpho que seguiram sem pressa em direção a cama. Abraçou cada um deles depois que Ricardo os colocou ao seu lado na cama. Os filhos traziam um certo conforto.
Após passarem algum tempo conversando com o pai, os gêmeos falaram sobre o filme “Batman x Superman” enquanto Marcelly pendurava os balões ao lado da cama com o auxílio de Nicole.
— Onde está o amorzinho do papai?
Um sorriso rápido passou por seus lábios ao ver Jullie.
— Ela parece com você! — Olhou da filha para Nicole.
Jullie permaneceu no colo do avô com um ursinho Pooh nas mãos e escondeu o rosto contra o ombro de Ricardo.
— Jullie, vem cá!
Nicole pegou a filha e se aproximou da cama. Entregou-a para Alexander. Tinha um sorriso bobo quando a filha entregou-lhe o ursinho.
— Como você cresceu!
Alexander abraçou-a por algum tempo.
Jullie observou com curiosidade o rosto adelgaçado do pai, apesar das visitas que fazia com os irmãos nos últimos meses, a menina tinha poucas lembranças da fisionomia do pai.
— Ajudei a cuidar de você — disse Alex.
— Eu também, pai! — Rodolpho coçou a cabeça.
— E você princesinha, sentiu a minha falta?
Alexander olhou para a menina de cachos dourados que sentou no colo de Nicole na poltrona reclinável ao lado da cama.
— Oui, papa! — Marcelly aconchegou-se aos braços da mãe.
Despertar de um longo pesadelo e acordar em um sonho não seria impossível se não fosse pela força do amor que a família emanava. O amor era o mais forte e poderoso de qualquer outra sensação que ele experimentou na vida. Um sentimento tão leal, real e verdadeiro que lhe deu a força necessária para lutar contra a escuridão total e voltar para a família.
Pouco antes do amanhecer Nicole abriu os olhos e se aconchegou nos braços que a apertaram. Havia três semanas que o esposo recebeu alta e voltou para casa. O sol entrava pela janela e atravessava as cortinas brancas. Ela se moveu bem devagar para sair da cama, porém ele a prendeu contra o corpo. Os lábios traçaram beijos pelo pescoço.
— Tenho de me arrumar.
Riu quando ele a puxou para mais perto.
— É sério, amor! Tenho que ajudar Rosa a fazer o café da manhã das crianças e me preparar para o trabalho.
— Você é a chefe, tem direito a uma folga.
— Alexander, estou há quinze dias trabalhando em casa para ficar mais perto de você, mas hoje tenho uma reunião com a equipe do projeto social.
— Aposto que o doutor amiguinho estará lá.
— Fala sério! — Encarou os olhos sombrios. — Vai continuar com esse ciúme bobo? Estou tentando administrar os negócios e as clínicas que abrimos nas comunidades.
— Que bom para você, chefe! — disse a voz sarcástica.
— Não gosto quando você fala desse jeito comigo!
Finalmente, ela se afastou de Alexander e saiu da cama. Desde que o esposo chegou em casa, ela se empenhou para cuidar de Alexander e dos filhos. Por vezes, aturava o mau-humor dele, houve dias em que Alexander não queria sair da cama.
— Você já escolheu algum enfermeiro?
— Não preciso de babá — Alexander retrucou em tom hostil
Contemplou quando Nicole removeu a camisola preta de seda. O bico da saliência no meio das mamas estava rijo. As aréolas castanhas pareciam bem maiores do que ele lembrava. Os seios firmes estavam com um aspecto inchado.
— Por que você está fazendo isso?
Ele umedeceu os lábios ao recordar de como ela se contorcia com o calor de sua língua. Não conseguia esquecer a sensação deliciosa de quando os seus corpos se moviam como se fossem um.
— Eu só vou te ajudar no banho.
— Você não precisa fazer isso — murmurou a voz masculina. — Ainda consigo mexer as mãos.
— Quero te ajudar! — Se esticou ao se espreguiçar.
O corpo curvilíneo pedia para ser tocado.
— Não preciso da sua ajuda — recusou com veemência.
Os ombros de Nicole se encolheram. Não era fácil lidar com a nova realidade do esposo, tinha dias em que ele não comia e às vezes se recusava a tomar banho.
— Você precisa se barbear.
Engoliu a vontade de revidar e seguiu até o banheiro sob olhos azuis que espiavam as carnes fartas um pouco abaixo da cintura.
Aquele era mais um dia em que Alexander tentava se adaptar à cadeira de rodas. Olhou para o objeto motorizado com estrutura de alumínio e em seguida para a luz acesa do toalete. Esticou o braço e puxou uma das rodas de maneira que a cadeira ficasse de frente para a cama.
— O que você está fazendo?
Nicole apareceu no quarto como veio ao mundo, trazia nas mãos um pote com espuma, um pincel com cabo de madeira e o barbeador.
— Eu estava ajeitando a cadeira — Alexander mentiu descaradamente.
Logo depois que organizou os utensílios sobre a cômoda de madeira maciça ao lado da cama, Nicole empurrou o peito de Alexander com as mãos.
— Nicky, para! — A voz parecia mais rouca.
Ele se agitou na cama, no entanto, ficou deitado contra o travesseiro macio. Olhou-a boquiaberto enquanto Nicole sentava com as pernas abertas sobre o seu colo.
Apesar de nos últimos dias ter ouvido coisas absurdas sobre a deficiência do marido e o quão dependente ele se tornaria dela, Nicole permanecia ao lado de Alexander.
Certo dia, ela chamou a atenção da secretária quando Annie comentou que não conseguiria ser feliz sem relação sexual. Contudo, Nicole o amava incondicionalmente. Nunca pensou em abandonar o homem que se sacrificou para proteger a família.
— Por que você insiste?
— Porque eu quero! — Tocou-lhe o rosto másculo e deslizou as mãos até o peitoral franzino. — Não se mexa! — Ela mandou. — Hoje serei sua boa enfermeira.
A brincadeira desfez a máscara carrancuda de Alexander. Pousou as mãos na cintura dela com a intenção de afastá-la, mas desistiu. Relaxou ao carinho dos beijos carinhosos e das cerdas do pincel que espalhava creme de barbear por todo o rosto.
Os olhos amendoados fixaram o rosto com barba por fazer. Os dedos moveram o pingente do colar por trinta segundos. Nicole olhou para a mesinha ao lado da cama enquanto lambia os lábios curvos. — Nicky, você sabe o que está fazendo? Ela não respondeu, esticou o braço direito e inclinou o corpo de um jeito que os bicos dos seios roçaram contra a pele dele. Esticou-se para alcançar o barbeador e sentou logo que pegou o utensílio. — Você nunca teve uma enfermeira que cuidasse de você? — Questionou com uma voz calma conforme deslizava as três lâminas no sentido do crescimento dos pelos. — Fica quieto! As mãos delicadas faziam movimentos leves pelas laterais em direção aos lábios. Nicole se inclinou mais um pouco e suspirou. Engoliu o gemido logo que sentiu o hálito morno
Logo após deixar os filhos na escola, Nicole seguiu para o trabalho. Dirigia um veículo branco de baixo consumo e com um certo conforto. Apesar da retenção no trânsito, ela chegou rápido ao estacionamento do imponente prédio do Hospital São Miguel. O telefone tocou enquanto manobrava o carro na antiga vaga de Alexander. Assim que desligou o motor, pegou o BlackBerry. — Acabei de chegar! — Ela revirou os olhos quando ele disse algo sobre tomar cuidado e não esquecer de dar a seta antes de frear. — Eu sei dirigir, Alexander! — retrucou com uma voz gentil. Nos meses em que o marido esteve em coma, ela tirou habilitação. Já que dividia o tempo e a atenção entre o trabalho e os filhos, optou por um veículo que oferecesse um bom espaço interno para ela e as crianças. — O s
Vê-la tão próxima de David trazia pensamentos negativos, Alexander acreditava que não era capaz de manter o relacionamento ou realizar tarefas para ajudar a família naquelas condições. O silêncio se estendia entre os dois, ele ajeitou os óculos e arrumou a coluna no encosto da cadeira de rodas. — Por que você está com tanta raiva? — Nicole cruzou os braços. — Toda essa hostilidade para se manter no controle não vai te levar a lugar algum. Nicole pegou a bolsa que estava em cima da mesa, parou em frente a cadeira de Alexander e encarou os olhos de uma cor azul-cobalto. — Você vai me punir com o silêncio? — Ela insistiu; todavia, ele a ignorou. Nicole girou os calcanhares, porém a mão comprida segurou-a pelo braço direito. O quintal do imóvel de Jenny e Lana era coberto por gramas verdes bem aparadas. O sofá de balanço em estrutura metálica com estofado bege estava pendurado em duas correntes na varanda da casa. A base neutra da decoração se misturava a alguns toques de cor, sem exageros. Jenny sentou-se no sofá em formato de L na sala de estar e deixou que as crianças olhassem o nenê de pele caramelo. Afastou a mão de Jullie quando a menina quase encostou na moleira do bebê. — Você quer um irmãozinho? — Alexander falou com a filha. Pegou a menina no colo e gargalhou quando Jullie disse que sim. — Claro que não! — retrucou Nicole. Afundou no sofá e ajeitou os cabelos de Marcelly. — Ela ainda é bebê! — E vocês? Mais tarde, Nicole atravessou o corredor depois de colocar Jullie e Marcelly para dormir. Caminhou até o quarto dos gêmeos e cobriu os filhos antes de desligar a luz do abajur e sair. Perdida em seus devaneios, ela abriu a porta e encostou contra a madeira fria ao bater. Olhou para a luz acesa do banheiro e fechou os olhos. Lembrou-se com desgosto da forma como Claire se referiu ao marido. Nicole saiu do transe e abriu os olhos, parecia zangada consigo mesma. Não entendia por que agia daquela forma, precisava manter a postura e a capacidade de raciocinar. Tirou a bermuda e seguiu até o banheiro. Pequenas ondas se formaram na água assim que Alexander ajeitou as costas na banheira. Os olhos claros deleitavam-se com a visão da mulher usando uma calcinha de renda preta e uma camiseta branca. <Capítulo 7
Capítulo 8
Nos primeiros dias da reabilitação, Alexander se esforçava nos treinos. Após o alongamento dos membros superiores, ele moveu a musculatura do tronco com o auxílio da fisioterapeuta. Algumas vezes, sentiu dores no início dos exercícios de decúbito, rolava e movimentava o corpo para cima e para baixo. A parte mais complicada era a transferência do peso do corpo; entretanto, ele se esforçava nas atividades sempre que Nicole estava presente. — Você consegue! — Encorajou a voz mansa. No fundo, o coração dela estava aflito. Por um instante, Nicole se mexeu, pensou em correr para ajudá-lo, mas Claire fez que não com a cabeça. — Continue, amor! — Incentivou com um sorriso. — Logo você vai dirigir o seu carro. Ele segurou o metal frio da cadeira e elevou o torso enquanto supo
À noite, Nicole levou as filhas para outro andar da casa e deixou que Alex e Rodolpho subissem com o pai pelo elevador adaptado para cadeirante. Depois de colocar as filhas para dormir, ela espiou pela porta do quarto dos gêmeos. O pai dedicado contava mais uma história dos super-heróis favoritos dos filhos. Eram quase onze horas da noite e Nicole já estava deitada de barriga para cima, olhava para o teto e pensava sobre como conversaria com Alexander sobre Marcelly. Não podia tapear a filha como fazia nos primeiros meses em que a menina sentiu falta da mãe biológica. Levantou a cabeça logo que a porta se abriu e afundou no travesseiro, em seguida. Imersa em seus pensamentos, vasculhou um jeito de convencer o esposo a deixar Marcelly visitar a mãe. Alexander p
Durante a festa, o homem com o cabelo grisalho chegou em companhia de uma bela morena que alargou o sorriso logo que avistou Alexander. Henry acenou para a Nicole e cumprimentou Ricardo com uma mesura. Encaminhou-se até o canto da sala onde a filha estava sentada próxima ao genro. — Oi! — Nicole pôs-se de pé. — Onde está a madame Heloísa? — Ela teve uma crise e precisou ser medicada — respondeu Henry. — Heloísa ainda estava dormindo quando eu saí. Então, eu convidei a Dra. Werneck para me acompanhar, espero que não se importe. Nicole olhou para Claire que conversava com Ricardo e forçou-se a sorrir para esconder a raiva. — E como você está, Alexander? — Henry fitou a carranca do genro. — A doutora Werneck comentou que vo