Os olhos amendoados fixaram o rosto com barba por fazer. Os dedos moveram o pingente do colar por trinta segundos. Nicole olhou para a mesinha ao lado da cama enquanto lambia os lábios curvos.
— Nicky, você sabe o que está fazendo?
Ela não respondeu, esticou o braço direito e inclinou o corpo de um jeito que os bicos dos seios roçaram contra a pele dele. Esticou-se para alcançar o barbeador e sentou logo que pegou o utensílio.
— Você nunca teve uma enfermeira que cuidasse de você? — Questionou com uma voz calma conforme deslizava as três lâminas no sentido do crescimento dos pelos. — Fica quieto!
As mãos delicadas faziam movimentos leves pelas laterais em direção aos lábios. Nicole se inclinou mais um pouco e suspirou. Engoliu o gemido logo que sentiu o hálito morno
Logo após deixar os filhos na escola, Nicole seguiu para o trabalho. Dirigia um veículo branco de baixo consumo e com um certo conforto. Apesar da retenção no trânsito, ela chegou rápido ao estacionamento do imponente prédio do Hospital São Miguel. O telefone tocou enquanto manobrava o carro na antiga vaga de Alexander. Assim que desligou o motor, pegou o BlackBerry. — Acabei de chegar! — Ela revirou os olhos quando ele disse algo sobre tomar cuidado e não esquecer de dar a seta antes de frear. — Eu sei dirigir, Alexander! — retrucou com uma voz gentil. Nos meses em que o marido esteve em coma, ela tirou habilitação. Já que dividia o tempo e a atenção entre o trabalho e os filhos, optou por um veículo que oferecesse um bom espaço interno para ela e as crianças. — O s
Vê-la tão próxima de David trazia pensamentos negativos, Alexander acreditava que não era capaz de manter o relacionamento ou realizar tarefas para ajudar a família naquelas condições. O silêncio se estendia entre os dois, ele ajeitou os óculos e arrumou a coluna no encosto da cadeira de rodas. — Por que você está com tanta raiva? — Nicole cruzou os braços. — Toda essa hostilidade para se manter no controle não vai te levar a lugar algum. Nicole pegou a bolsa que estava em cima da mesa, parou em frente a cadeira de Alexander e encarou os olhos de uma cor azul-cobalto. — Você vai me punir com o silêncio? — Ela insistiu; todavia, ele a ignorou. Nicole girou os calcanhares, porém a mão comprida segurou-a pelo braço direito. O quintal do imóvel de Jenny e Lana era coberto por gramas verdes bem aparadas. O sofá de balanço em estrutura metálica com estofado bege estava pendurado em duas correntes na varanda da casa. A base neutra da decoração se misturava a alguns toques de cor, sem exageros. Jenny sentou-se no sofá em formato de L na sala de estar e deixou que as crianças olhassem o nenê de pele caramelo. Afastou a mão de Jullie quando a menina quase encostou na moleira do bebê. — Você quer um irmãozinho? — Alexander falou com a filha. Pegou a menina no colo e gargalhou quando Jullie disse que sim. — Claro que não! — retrucou Nicole. Afundou no sofá e ajeitou os cabelos de Marcelly. — Ela ainda é bebê! — E vocês? Mais tarde, Nicole atravessou o corredor depois de colocar Jullie e Marcelly para dormir. Caminhou até o quarto dos gêmeos e cobriu os filhos antes de desligar a luz do abajur e sair. Perdida em seus devaneios, ela abriu a porta e encostou contra a madeira fria ao bater. Olhou para a luz acesa do banheiro e fechou os olhos. Lembrou-se com desgosto da forma como Claire se referiu ao marido. Nicole saiu do transe e abriu os olhos, parecia zangada consigo mesma. Não entendia por que agia daquela forma, precisava manter a postura e a capacidade de raciocinar. Tirou a bermuda e seguiu até o banheiro. Pequenas ondas se formaram na água assim que Alexander ajeitou as costas na banheira. Os olhos claros deleitavam-se com a visão da mulher usando uma calcinha de renda preta e uma camiseta branca. <Capítulo 7
Capítulo 8
Nos primeiros dias da reabilitação, Alexander se esforçava nos treinos. Após o alongamento dos membros superiores, ele moveu a musculatura do tronco com o auxílio da fisioterapeuta. Algumas vezes, sentiu dores no início dos exercícios de decúbito, rolava e movimentava o corpo para cima e para baixo. A parte mais complicada era a transferência do peso do corpo; entretanto, ele se esforçava nas atividades sempre que Nicole estava presente. — Você consegue! — Encorajou a voz mansa. No fundo, o coração dela estava aflito. Por um instante, Nicole se mexeu, pensou em correr para ajudá-lo, mas Claire fez que não com a cabeça. — Continue, amor! — Incentivou com um sorriso. — Logo você vai dirigir o seu carro. Ele segurou o metal frio da cadeira e elevou o torso enquanto supo
À noite, Nicole levou as filhas para outro andar da casa e deixou que Alex e Rodolpho subissem com o pai pelo elevador adaptado para cadeirante. Depois de colocar as filhas para dormir, ela espiou pela porta do quarto dos gêmeos. O pai dedicado contava mais uma história dos super-heróis favoritos dos filhos. Eram quase onze horas da noite e Nicole já estava deitada de barriga para cima, olhava para o teto e pensava sobre como conversaria com Alexander sobre Marcelly. Não podia tapear a filha como fazia nos primeiros meses em que a menina sentiu falta da mãe biológica. Levantou a cabeça logo que a porta se abriu e afundou no travesseiro, em seguida. Imersa em seus pensamentos, vasculhou um jeito de convencer o esposo a deixar Marcelly visitar a mãe. Alexander p
Durante a festa, o homem com o cabelo grisalho chegou em companhia de uma bela morena que alargou o sorriso logo que avistou Alexander. Henry acenou para a Nicole e cumprimentou Ricardo com uma mesura. Encaminhou-se até o canto da sala onde a filha estava sentada próxima ao genro. — Oi! — Nicole pôs-se de pé. — Onde está a madame Heloísa? — Ela teve uma crise e precisou ser medicada — respondeu Henry. — Heloísa ainda estava dormindo quando eu saí. Então, eu convidei a Dra. Werneck para me acompanhar, espero que não se importe. Nicole olhou para Claire que conversava com Ricardo e forçou-se a sorrir para esconder a raiva. — E como você está, Alexander? — Henry fitou a carranca do genro. — A doutora Werneck comentou que vo
Todos os convidados cantaram parabéns a você em volta da menina com cachos dourados. Marcelly parecia ter esquecido a falta que sentia da mãe biológica. Nicole beijou as bochechas avermelhadas da filha que estava em seu colo. — Agora apague as velinhas e faça um pedido! A menina fechou os olhos e soprou, mas a vela não apagou. Fez o pedido novamente, desta vez, soprou um pouco mais forte do que antes e apagou a chama. — Eu pedi para ver a maman — disse o sotaque infantil. Alexander e Nicole trocaram olhares. Ela colocou a menina no chão e cortou o bolo em fatias enquanto Lana distribuía nos pratinhos descartáveis de cor rosa. Meia hora depois, Nicole pediu para que a governa