Nicole ouvia o som do choro abafado, abraçou o esposo que desmoronava em lágrimas. O impulso e o desejo de ajudar a aliviar a dor queimavam em seu coração.
— Estou aqui, Alexander! Segurou o rosto dele e olhou-o nos olhos.— Passaremos por isso juntos! — Deu um abraço afetuoso.— Eu não tenho mais serventia — lamentou.— Nunca mais diga isso! — Ficou agarrada ao pescoço dele. — Eu senti sua falta todos os dias. Teve horas que pensei que ia enlouquecer sem você.Os dedos magros correram pela maçã saliente do rosto viçoso de Nicole. Alexander segurou-lhe a mão e a puxou-a para dentro dos braços, encorajou Nicole a deitar ao seu lado na cama e beijou-lhe o topo da cabeça após sentir o aroma delicioso que exalava dos cabelos macios. Os dedos se perderam nos cabelos de Nicole.— Por que você demorou? Lembrei do que aconteceu ontem e fiquei desesperado.Nicole elevou o torso e fitou o rosto combalido.— Isso aconteceu há sete meses. — Sibilou.— O que houve com a Josephine? — A mandíbula tencionou.Alexander se remexeu na cama e colocou uma das mãos na testa, tentava encontrar a cicatriz por onde a bala atravessou, se inquietou.― Ela foi presa! A família dela veio ao Brasil e contratou bons advogados. Alegaram que Josephine sofria de distúrbios psiquiátricos. Ela está sob um intenso tratamento médico em um hospício.Por mais estranho que pareça, a notícia não o satisfez, os olhos claros perderam o foco depois de olhar para a luz que pendia acima deles, queria ajudar Josephine, mas não a ponto de sacrificar a vida da sua família. Envolveu o corpo de Nicole e a pressionou contra o peito, de alguma forma o coração parecia mais tranquilo por saber que ela e seus filhos estavam em segurança, não que a prisão de Josephine o deixasse satisfeito, mas porque nunca mais ninguém poderia machucá-los. — Eu soube que você está se esforçando à frente dos negócios — desviou a conversa. — Meu pai comentou que você se revelou uma imponente diretora-executiva.— Doutor Ricardo te contou todas as novidades? — Não!Passou os dedos na minúscula cicatriz e negou com a cabeça.— Depois que ele falou que a amante dele está grávida de gêmeos, eu dei a conversa por encerrada. — Alexander, o seu pai tem direito de ser feliz. Além disso, a Danielle não é amante, é esposa do doutor Ricardo.— Nicky, eu não quero falar disso. Meu pai já tinha um caso com Danielle quando comecei a administrar a empresa.— E sua mãe vendeu a mansão e está fazendo um tour pela Europa com o instrutor de Pilates dela. — Os olhos amendoados mergulhavam nele. — Eles estavam infelizes no casamento de aparências. Você passou por isso com a Josephiné e sabe como é horrível. Nicole respirou fundo e atravessou os dedos pelos fios descabelados de Alexander.— Os médicos conversaram com você?— Recebi a visita de cinco especialistas e fiz alguns exames.Levou a mão à testa como se estivesse forçando para lembrar. — Conversei com fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e neurologista, que me levou para tomografia. Duas enfermeiras queriam me dar banho.— Não brinca com isso!Ela tentou se afastar, mas ele a prendeu. Tocou o canto dos lábios de Nicole. O olhar ciumento provava que ela ainda o amava.— Todos estão impressionados com a minha recuperação. Dizem que sou um desses raros milagres. Só tem um problema! — Alexander assumiu a máscara desagradável. — Talvez eu não consiga te satisfazer — disse com uma carranca de dissabor. — Se você não quiser mais…— Hey, não diga besteiras! — silenciou os lábios dele com o indicador. — Amo tanto você!Os lábios carnudos de Alexander puxaram a parte inferior e sugava os lábios de Nicole com leveza. Escorregou a língua para dentro da boca úmida e macia. As mãos se enrolaram nos cabelos da nuca, inclinava a cabeça dela para trás dando maior intensidade ao beijo. Deu um beijo leve e esperou até que Nicole abrisse os olhos.— Eu não sei se conseguirei ser tão ativo como antes. Ajeitou a cabeça nos braços. Puxou-a para debaixo do lençol branco.— Você ainda não sabe! Podemos dar um jeito.— Eu quero voltar para casa! — resmungou no intuito de cortar a conversa.Não estava preparado para tocar naquele assunto delicado, o receio de perder a esposa ainda assolava Alexander.— Tenha paciência! — pediu a voz suave. — Em poucos dias você receberá alta, em breve vamos para casa.Alguns desenhos e rabiscos em papel-cartão enfeitavam a parede do quarto, além das flores na cômoda branca, tinha um pequeno cartaz com mensagens dos filhos.— Estou com saudades dos meus filhos.— Daqui a pouco eles vão entrar para te ver.— E quanto a Marcelly? — Adotei ela!Nicole botou uma mecha atrás da orelha e olhou nos olhos claros, na esperança de encontrar aprovação. Os avós maternos abriram mão da guarda dela e o meu pai já tem muito trabalho com a Heloísa, então me pediu para cuidar da minha sobrinha como se fosse minha filha.— Você tem um coração bom! — Roçou o nariz contra o dela.Ele a perscrutou com uma sobrancelha levantada e um sorriso torto, parecia não acreditar no que ouviu. Aquela mulher era como um anjo enviado dos céus para a sua vida.— Quero ver os meus filhos.— Eles já vêm, estão na sala de espera com seu pai.Nicole acariciou a covinha no meio do queixo de Alexander.— Eu acho que a Jullie será médica, ela adora ficar na ala pediátrica com o doutor Kim.— Por que a minha filha está passeando com o David? — Cerrou os olhos e lutou contra a ira.— Por favor, Alexander! A Jullie sempre vinha te visitar e pedia para você acordar. — Nicole o confrontou. — A nossa filha tem sopro no coração, mas felizmente ela está saudável, graças aos cuidados do doutor Kim.— Só espero que ele não esteja se aproveitando disso para encantar você — reclamou, a voz grave.— Não tem motivos para ter ciúmes dele.— E quanto ao Alex e o Rodolpho? — Ele ignorou o que ela disse sobre o pediatra.— Estão tão altos e espertos quanto você aos oito anos. — Nicole esboçou um sorriso. — Eles ajudaram a Marcelly a se adaptar à nossa família e cuidam da irmã na escola.— Quero ver os meus filhos!Nicole colocou a mão sobre os ombros dele com ternura.— Pedirei para chamá-los.Logo que Nicole firmou os pés no chão, ela andou até a porta e pediu que a enfermeira procurasse Ricardo. Não demorou muito até que as crianças apareceram no quarto.Alex foi o primeiro a correr em direção ao pai. Subiu na cama rapidamente e se agarrou ao pescoço de Alexander. — Não corram — Ricardo advertiu os netos. — Venham cá! Alexander acenou para Marcelly e Rodolpho que seguiram sem pressa em direção a cama. Abraçou cada um deles depois que Ricardo os colocou ao seu lado na cama. Os filhos traziam um certo conforto. Após passarem algum tempo conversando com o pai, os gêmeos falaram sobre o filme “Batman x Superman” enquanto Marcelly pendurava os balões ao lado da cama com o auxílio de Nicole. — Onde está o amorzinho do papai? Um sorriso rápido passou por seus lábios ao ver Jullie. — El
Os olhos amendoados fixaram o rosto com barba por fazer. Os dedos moveram o pingente do colar por trinta segundos. Nicole olhou para a mesinha ao lado da cama enquanto lambia os lábios curvos. — Nicky, você sabe o que está fazendo? Ela não respondeu, esticou o braço direito e inclinou o corpo de um jeito que os bicos dos seios roçaram contra a pele dele. Esticou-se para alcançar o barbeador e sentou logo que pegou o utensílio. — Você nunca teve uma enfermeira que cuidasse de você? — Questionou com uma voz calma conforme deslizava as três lâminas no sentido do crescimento dos pelos. — Fica quieto! As mãos delicadas faziam movimentos leves pelas laterais em direção aos lábios. Nicole se inclinou mais um pouco e suspirou. Engoliu o gemido logo que sentiu o hálito morno
Logo após deixar os filhos na escola, Nicole seguiu para o trabalho. Dirigia um veículo branco de baixo consumo e com um certo conforto. Apesar da retenção no trânsito, ela chegou rápido ao estacionamento do imponente prédio do Hospital São Miguel. O telefone tocou enquanto manobrava o carro na antiga vaga de Alexander. Assim que desligou o motor, pegou o BlackBerry. — Acabei de chegar! — Ela revirou os olhos quando ele disse algo sobre tomar cuidado e não esquecer de dar a seta antes de frear. — Eu sei dirigir, Alexander! — retrucou com uma voz gentil. Nos meses em que o marido esteve em coma, ela tirou habilitação. Já que dividia o tempo e a atenção entre o trabalho e os filhos, optou por um veículo que oferecesse um bom espaço interno para ela e as crianças. — O s
Vê-la tão próxima de David trazia pensamentos negativos, Alexander acreditava que não era capaz de manter o relacionamento ou realizar tarefas para ajudar a família naquelas condições. O silêncio se estendia entre os dois, ele ajeitou os óculos e arrumou a coluna no encosto da cadeira de rodas. — Por que você está com tanta raiva? — Nicole cruzou os braços. — Toda essa hostilidade para se manter no controle não vai te levar a lugar algum. Nicole pegou a bolsa que estava em cima da mesa, parou em frente a cadeira de Alexander e encarou os olhos de uma cor azul-cobalto. — Você vai me punir com o silêncio? — Ela insistiu; todavia, ele a ignorou. Nicole girou os calcanhares, porém a mão comprida segurou-a pelo braço direito. O quintal do imóvel de Jenny e Lana era coberto por gramas verdes bem aparadas. O sofá de balanço em estrutura metálica com estofado bege estava pendurado em duas correntes na varanda da casa. A base neutra da decoração se misturava a alguns toques de cor, sem exageros. Jenny sentou-se no sofá em formato de L na sala de estar e deixou que as crianças olhassem o nenê de pele caramelo. Afastou a mão de Jullie quando a menina quase encostou na moleira do bebê. — Você quer um irmãozinho? — Alexander falou com a filha. Pegou a menina no colo e gargalhou quando Jullie disse que sim. — Claro que não! — retrucou Nicole. Afundou no sofá e ajeitou os cabelos de Marcelly. — Ela ainda é bebê! — E vocês? Mais tarde, Nicole atravessou o corredor depois de colocar Jullie e Marcelly para dormir. Caminhou até o quarto dos gêmeos e cobriu os filhos antes de desligar a luz do abajur e sair. Perdida em seus devaneios, ela abriu a porta e encostou contra a madeira fria ao bater. Olhou para a luz acesa do banheiro e fechou os olhos. Lembrou-se com desgosto da forma como Claire se referiu ao marido. Nicole saiu do transe e abriu os olhos, parecia zangada consigo mesma. Não entendia por que agia daquela forma, precisava manter a postura e a capacidade de raciocinar. Tirou a bermuda e seguiu até o banheiro. Pequenas ondas se formaram na água assim que Alexander ajeitou as costas na banheira. Os olhos claros deleitavam-se com a visão da mulher usando uma calcinha de renda preta e uma camiseta branca. <Capítulo 7
Capítulo 8
Nos primeiros dias da reabilitação, Alexander se esforçava nos treinos. Após o alongamento dos membros superiores, ele moveu a musculatura do tronco com o auxílio da fisioterapeuta. Algumas vezes, sentiu dores no início dos exercícios de decúbito, rolava e movimentava o corpo para cima e para baixo. A parte mais complicada era a transferência do peso do corpo; entretanto, ele se esforçava nas atividades sempre que Nicole estava presente. — Você consegue! — Encorajou a voz mansa. No fundo, o coração dela estava aflito. Por um instante, Nicole se mexeu, pensou em correr para ajudá-lo, mas Claire fez que não com a cabeça. — Continue, amor! — Incentivou com um sorriso. — Logo você vai dirigir o seu carro. Ele segurou o metal frio da cadeira e elevou o torso enquanto supo
À noite, Nicole levou as filhas para outro andar da casa e deixou que Alex e Rodolpho subissem com o pai pelo elevador adaptado para cadeirante. Depois de colocar as filhas para dormir, ela espiou pela porta do quarto dos gêmeos. O pai dedicado contava mais uma história dos super-heróis favoritos dos filhos. Eram quase onze horas da noite e Nicole já estava deitada de barriga para cima, olhava para o teto e pensava sobre como conversaria com Alexander sobre Marcelly. Não podia tapear a filha como fazia nos primeiros meses em que a menina sentiu falta da mãe biológica. Levantou a cabeça logo que a porta se abriu e afundou no travesseiro, em seguida. Imersa em seus pensamentos, vasculhou um jeito de convencer o esposo a deixar Marcelly visitar a mãe. Alexander p