Capítulo V

ANOS ATRÁS

Tempo... era tudo o que precisava ultimamente e o que não estava tendo.

As aulas do cursinho, junto com o começo das aulas na escola e todo estresse de "o que eu vou cursar na faculdade", estavam acabando comigo. Então me desculpem todos, mas eu iria ter um bom momento esse final de semana.

Há meses eu não ia a uma festa, mas hoje tinha decidido ir. Com meus pais fora da cidade e Fernando na faculdade tudo ficava mais fácil. Eu estava no último ano da escola finalmente e merecia um pouco de diversão.

Eu estava dançando no meio da sala na casa de John, tentando extravasar toda a energia acumulada e acabar com todo o estresse que vinha me consumindo.

— Olha só, eu vou ficar com Maicon essa noite, então o Vitor é todo seu. — Bete gritou, para ser ouvida por cima da música alta me pegando de surpresa.

Os meninos vinham trazendo bebidas e olhando para Vitor ele não era alguém que me chamava a atenção, mas não era de se jogar fora. Eu ainda estava obcecada com o deus grego vulgo Marcos, mas precisava acabar com isso, garotos da minha idade que me achavam desejável e linda eram como Vitor, Marcos estava ocupado de mais com as garotas da faculdade.

Enquanto eu dançava e bebia não pensei em mais nada, só sentia toda a energia da música e me deixei levar bebendo tudo o que me davam.

Até que Vitor pegou minha mão e começou a me puxar escada acima, eu não fazia ideia para onde estávamos indo, mas Bete ao menos estava junto.

A música no segundo andar estava bem mais baixa, só comecei a ter mais noção do que estávamos fazendo ali quando vi vários casais se pegando e com certeza transando nos quartos.

Eu não estava indo realmente fazer isso com Vitor, ele poderia ser até gatinho e eu adoraria beijá-lo para distrair a cabeça, mas não ia perder a virgindade em uma festa qualquer, com um garoto por quem eu não sentia nada.

Mesmo tendo passado meses atolada em estudos eu ainda pensava em Marcos e naquele nosso quase beijo.

— Ei gatinha, vem aqui. — Vitor disse me trazendo de volta a realidade e me prendendo entre seu corpo e a parede.

Ele tomou meus lábios de forma desesperada, suas mãos seguraram minha cintura e Vitor me apertou, mas ao invés de causar qualquer sensação de desejo, ele estava me causando era incômodo.

Seus lábios forçavam sobre os meus e sua língua estava descontrolada, girando dentro da minha boca com desespero.

— Vitor... não... — tentei falar com ele enfiando a língua na minha boca antes que eu conseguisse formar uma frase com nexo. Suas mãos pareciam estar em todo lugar enquanto eu tentava empurrá-lo. — Não! — eu gritei, quando consegui arrancar meus lábios do aperto dos seus.

— Qual é, você vai gostar gatinha. — ele falou, vindo novamente sobre mim sua mão tomou meu seio em um aperto dolorido e porra eu choraminguei.

Olhei em volta desesperada, procurando qualquer pessoa que pudesse me socorrer. Ele mordeu meu pescoço e esse foi o fim eu ia gritar quando sua boca voltou sobre a minha e sua mão desceu por minha coxa, tentando subir meu vestido por mais que eu lutasse contra.

— Se você encostar mais um dedo nela eu vou ter de arrebentar sua cara. — Soou a voz grossa que eu não tinha ouvido há semanas. Vitor se afastou devagar e com tédio nos olhos, mas ele não seria estúpido de brigar com Marcos, que era o dobro do seu tamanho, então simplesmente se afastou.

— Marcos, qual é? Ela queria se divertir.

— Ela não vai se divertir! Vamos embora agroa, Emily. — Lá estava ele novamente agindo como irmão protetor e aquilo me embrulhou o estômago, ele não estava com ciúmes de mim, só queria manter qualquer garoto longe assim como fazia com Bianca.

— Eu vou esperar pela Bete. — resmunguei, cruzando meus braços.

Eu iria fazer uma cena se preciso, por mais grata que eu estivesse dele ter me livrado dos beijos horríveis de John, ele não ia me deixar com cara de criança que é arrastada pelos adultos das festas.

Qual é, eu já tinha dezoito, ele não podia continuar me tratando assim.

— Argh. Carlos da conta de tirar a maluca daqui? — ele perguntou para seu amigo.

Melhor amigo na verdade, Carlos era o cowboy da cidade. Ele morava em uma fazenda nas redondezas e insistia em se vestir como um cowboy, com aqueles chapéus e calças apertadas, sem falar nas botas.

— Agora mesmo. — Carlos, com seus quase dois metros de altura, emburacou no banheiro que Bete tinha entrado e saiu de lá com ela sobre os ombros aos gritos.

Quanto tempo eles estavam nos observando para saber onde ela tinha se enfiado?

— E então? Vai querer sair daquele jeito ou vêm numa boa? — Ele não estava brincando quanto a me carregar, Marcos já havia feito isso quando me meti em uma briga no final do ano passado.

Passei por ele batendo os pés e corri para fora da casa. Antes que conseguisse correr para longe ele me alcançou e pegou minha mão me levando até sua velha picape.

Respirei fundo com mais raiva ainda quando ele ligou o carro e começou a dirigir para minha casa.

Encarei a paisagem enquanto me contorcia de vontade de gritar com ele, se Bianca estivesse aqui ela o convenceria a me deixar ficar até o final da festa, mais porque diabos ela tinha que estar com a mãe justo nesse fim de semana!

— Você tem que parar com isso. — comecei, tentando manter minha voz baixa.

— E você deveria estar em casa. — ele murmurou, com sua voz de pai aparecendo. — O que acha que seus pais estariam pensando se soubessem o que estava fazendo? É óbvio que eles não estão na cidade ou você estaria em casa como uma boa menina.

— Pro inferno você com essa história de boa menina. Eu não sou como Bianca! — eu já estava gritando, ele conseguia me tirar do sério em dois minutos, no bom ou no mal sentido.

— Nem como Elizabete! — ele gritou de volta. — Realmente não sei como vocês podem ser amigas, ela não te faz bem.

— E você? Porque não para de dar uma de bom moço? Sua irmã não está aqui então não precisa manter as aparências! — gritei de volta, ele não iria ofender Bete sem olhar para o próprio umbigo.

— De que merda você está falando? — Ele estava irritado, mas no segundo seguinte seu semblante mudou de raiva para constrangido. Foi aí que fiquei confusa por inteiro. — Eu não cuido de você por aparência ou para parecer bom para minha irmã, pelo amor de Deus Emy!

— Eu sei o que vai dizer, que me vê como sua irmã e estou cansada disso. Não sou sua irmã Marcos, então supera isso! — Ele respirou fundo tentando manter a calma enquanto parava na entrada da minha casa, mas antes que ele estacionasse eu pulei da picape. — Posso querer não ser uma boa menina em alguns dias. — falei e corri para dentro de casa.

O que eu não esperava era que ele viesse atrás de mim e entrasse comigo em casa. Marcos nunca tinha entrado na minha casa, nem mesmo quando mamãe o chamava para almoçar, ele sempre inventava algum compromisso.

— Você não queria bancar a garota má com John. — ele me desafiou erguendo uma sobrancelha.

— Não sabe de nada. Já estou em casa guarda costas, pode ir!

Mas ele tirou a jaqueta e se jogou no sofá, se sentindo muito a vontade e mostrando que não iria a lugar nenhum.

— Se você não se importar eu vou ficar. — Eu estanquei assim que ele terminou a frase. Universo! Que brincadeira é essa agora? — Vamos conversar sobre John e o que você pretendia fazer com ele.

Eu não podia continuar com isso, foi o que percebi. Ele ficaria todo à vontade enquanto eu estaria lá calculando cada passo, cada coisa que ia falar, para não parecer infantil perto dele.

Emily você precisa dar um basta nisso!

— Não Marcos! Você não pode ficar aqui! — exclamei, pulando para longe dele. — Eu não aguento mais isso, a gente precisa de espaço. É isso! — Eu parecia uma verdadeira maluca gritando coisas sem sentido e abanando as mãos no ar. Ele se levantou ficando cada vez mais próximo de mim.

— Quer ser uma garota má, Emy? — a voz baixa soava sexy e enviava uma onda de calor por meu corpo, enquanto ele continuava a se aproximar e eu a recuar.

— Você não escutou nada do que disse? Espaço...— eu sussurrei, até que ele pegou minhas mãos e me puxou.

— Eu não consigo ficar longe de você. Por mais que eu queira não consigo. — meus olhos se arregalaram com aquelas palavras. — Então não Emy, não posso te dar espaço.

A primeira vez que ele ficou tão perto de mim foi quando me beijou na testa, mas hoje não parecia que ia apenas beijar minha testa como sempre fazia.

E ele fez, simplesmente grudou seus lábios nos meu, me deixando ali com a cabeça rodando. Isso estava errado de tantas formas e mesmo assim eu queria mais.

Assim que ele ergueu a mão para segurar meu rosto eu me segurei em seu tronco, para garantir que ele não fugiria.

Seus lábios passeavam macios e firmes sobre os meus, degustando sem pressa, sua língua pediu passagem atraindo a minha em uma dança sensual, Marcos parecia fazer amor comigo com aquele beijo. Eu estava mais ferrada do que já estive qualquer dia!

— Você não pode fazer isso e... depois fingir que nada aconteceu. — murmurei contra seus lábios me lembrando das suas loucuras. Eu não conseguiria esquecer aquilo.

— Nem se eu quisesse. — sussurrou, e voltou a me beijar. Sua língua brincava com a minha, ele sugou meu lábio inferior com os seus e eu gemi contra sua boca.

As mãos adentraram meu cabelo e ele os puxou me fazendo inclinar ainda mais o pescoço. Os beijos foram ficando cada vez mais exigentes e afobados, até que acabamos caindo no sofá. Mas mesmo que ele tivesse fama de badboy eu sabia que podia confiar nele.

— Tudo bem para você se continuarmos assim? — ele perguntou seu corpo pairando sobre o meu, seguro pelos cotovelos no estofado.

Ele me encarou com tanta sinceridade nos olhos, e eu poderia até estar errada, mas dava para ver que ele sentia algo por mim.

Então eu percebi que estava realmente apaixonada por Marcos Almeida. Acenei que sim com a cabeça e o puxei para mim, enlaçando minhas pernas em volta do seu quadril.

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