Quando cheguei em casa só queria ficar dentro do carro para sempre, até criar raízes ali, ou até que meus pensamentos cessassem. Mas eu tinha uma faxina inacabada para terminas, um sofá destruído para jogar fora e um pai doente para cuidar.Me arrastei sem ânimo para dentro e a imagem que encontrei me fez congelar no lugar, meu pai estava sentado no sofá de trapos assistindo televisão, milagrosamente parecia sóbrio, mas eu duvidava muito que isso fosse de verdade.— Imaginei que ainda estivesse por aqui, fiz o jantar. — ele disse, sem tirar os olhos da tela para me ver.— O senhor está se sentindo melhor? — perguntei esperançosa, se ele finalmente estivesse sóbrio poderíamos ter a conversa que estava adiando, com sorte poderíamos sair da cidade ainda esse fim de semana. — Podemos conversar agora?— Primeiro você vai comer, não quero mais ninguém morrendo por aqui. — ele murmurou, ainda focado na televisão que passava algo sobre a vida das formigas, com certeza meu pai não estava p
ANOS ATRÁSFazia dois meses que eu e Marcos ficávamos escondidos pelos cantos. Ninguém além de seu amigo Carlos, Bete e Bi sabiam o que estávamos fazendo. Eles que nos davam cobertura.Apesar de passar a maior parte do tempo juntos, às vezes saíamos sozinhos para manter a faixada. Não queríamos os comentários rondando a cidade de novo, especialmente Marcos, ele insistia que não queria chamar a atenção.— Você vai comigo na festa da Amanda. Vocês duas vão. — Bete disse incisiva, enquanto escolhia uma roupa.Ela já tinha jogado mais roupas para fora do guarda-roupa, do que eu poderia contar.— Não mesmo, sem chance. — Bi resmungou. — Eu tenho prova amanhã e já passei o sábado no lago com vocês, preciso estudar essa noite.— Posso ajudar você se qui...— Nem pensar Emily! Isso é uma estratégia para fugir de mim e correr para o Marcos! — ela rosnou como a leoa que era, já decidindo o que iria acontecer essa noite.— Ele vai estar fora da cidade hoje, então não viaje. Se quer que e
Não sei a que horas peguei no sono, depois de entrar na banheira e ficar mergulhada até o nariz por horas, fui para a cama e me joguei nela. Eu queria acabar com aquele pesadelo, não podia pensar pois não queria procurar soluções ou motivos que justificassem Marcos ter sido um cretino comigo. Se o fizesse poderia acabar entendendo e o perdoando.Era isso o que meses de terapia tinham me feito enxergar, aparentemente eu não queria quebrar o elo com Marcos, eu precisava odiá-lo, ou do contrário nada me ligaria a ele.— Já chega! — gritei comigo. — Não preciso de elo nenhum, meu ódio por ele não é infundado. — repeti, encarando o teto.Joguei as cobertas para o lado decidida a mostrar para meu pai que não desistiria dele. Já tinha perdido minha mãe, não o perderia também.Enquanto descia as escadas barulhos vindo do jardim me chamaram a atenção. Seria um milagre meu pai ter acordado sóbrio e com pique suficiente de cuidar do jardim à essa hora. Se fosse isso me dizia que ele estava melho
ANOS ATRÁSNo dia seguinte quase não consegui encarar Bete e Carlos, mas eles pareciam realmente alheios a qualquer outra coisa que não fossem eles.Os beijos e toques eram com tanta intimidade que eu me perguntava se eles já não tinham ficado antes. Marcos era tão cuidadoso ao me tocar, sempre esperando minha reação antes de continuar, já os nossos amigos pareciam se conhecer há anos, tocando o corpo um do outro com intimidade.— Vocês dois estão planejando se soltar em alguma hora? Preciso levar as meninas pra casa. — Marcos foi o primeiro a falar desde que tínhamos começado a tomar café.— Minha mãe acha que estou na casa da Bete, e os pais dela estão fora da cidade, acho que podemos ficar mais um pouco. — murmurei, me sentando hesitante no colo dele.— Tem certeza? — Seu toque em meu rosto foi tão leve e breve que quase pareceu não existir. — Não quero que se meta em problemas...— Sim, ela tem certeza cavalheiro. — Bete rosnou, interrompendo-o e se sentando finalmente. Até ela ti
Tinha mandado uma mensagem para Bi e pedi para que mandasse Carlos voltar o mais rápido possível a cidade. Claro que essa parte Bete não sabia, ela já tinha problemas de mais para lidar no momento. Nosso combinado foi que eu apenas o procuraria e marcaria um encontro entre os dois, e estaria lá para dar apoio dando certo ou não a conversa.— Espero que ele não demore, se levar mais alguns meses não conseguirei esconder a barriga. — Bete estava distraída sentada na cadeira branca de balanço, aquela cadeira era mais velha do que nós duas.Sua barriga estava dando uma leve volta, quase não se notava, especialmente com as roupas folgadas que ela usava agora.— Não vejo a hora de ser titia. Você e Fernando me dando sobrinhos de uma vez só. — Era muita felicidade, mesmo sabendo que dificilmente eu a veria se ela continuasse morando aqui, e eu torcia para que ela e Carlos se entendessem.— Vamos lá Emily, sua vez de dizer o que te tirou da cama tão cedo. Porque fugiu de casa? — pergunto
ANOS ATRÁSFazia alguns dias que as coisas tinham se acalmado um pouco para Marcos. O final do ano estava chegando e com ele minhas férias, eu queria passar o máximo de tempo com ele antes que tivesse que morar na cidade vizinha para fazer faculdade. Claro que meus pais não estavam felizes com essa decisão, sempre pensaram que seguiria os passos de Fernando e iria para São Paulo, mas entenderam que Marcos era importante demais para simplesmente deixá-lo. Respirei fundo no carro antes de saltar para fora e pegar os lanches que tinha feito com minha mãe.— Ele vai adorar a surpresa. — ela disse me encorajando.Andei hesitante até a entrada da oficina do senhor Silva, onde Marcos trabalhava. Já havia avistado ele de longe, com as calças caindo na cintura e a regata suja de graxa assim como os braços, sua cabeça estava enfiada dentro do capo do carro.— Boa tarde menina! — Silva me cumprimentou, assim que mamãe arrancou com o carro chamando a atenção de todos.— Bom dia, senhor Silva
Minha cabeça latejava, quase como se eu estivesse de ressaca, mas a dor só aumentou quando tentei me levantar, meu corpo todo estava dolorido, mas eu ouvia conversa vindo da cozinha.— Bi? — a chamei, enquanto me obrigava a atravessar o pequeno corredor até a cozinha.Os cochichos que eu tinha escutado quando levantei cessaram assim que eu falei.— Bom dia Emy. Está melhor? — ela surgiu na soleira da porta me pegando de surpresa e perguntou parecendo animada, mas seu rosto não escondeu a preocupação. O que estava acontecendo ali... Não foi difícil descobri, bastou olhar além dela, para ver Marcos no fogão me encarando. Que merda era aquela? — Desculpa, eu não pensei que fosse acordar tão cedo e ele...— Chega disso. — Ele calou Bianca de suas explicações, enquanto marchava em minha direção. — Céus, olhe só... — Marcos murmurou muito perto de mim, em seguida tocou meu rosto. Eu estava paralisada, deveria lhe dar um soco ou xingá-lo, mas só fiquei ali confusa enquanto ele segurava
ANOS ATRÁSO ano finalmente havia acabado, eu estava terminando o ensino médio e no ano que vem estaria indo para a faculdade da cidade vizinha. Não ia conseguir ver Marcos todos os dias, mas em poucos meses ele se mudaria para lá e moraríamos junto.Claro que minha mãe quase surtou, eu era nova demais para isso, precisava repensar tudo, ter uma vida, antes de decidir construir uma vida com ele. Mas, o que eu podia fazer quando o amor da minha vida chegou mais rápido que o dela?Hoje não queria pensar nisso, só queria me divertir e me entregar a Marcos. Eu não aguentava mais de vontade depois de todos aqueles meses de amassos quentes, beijos e gozar através das roupas. Eu precisava de mais.— Tem certeza disso querida? — minha mãe me questionou, quando me viu pegando uma muda de roupa extra e colocando na bolsa.O combinado era que iríamos para a casa da Bete depois da formatura, mas é claro que ela já deveria ter entendido tudo.— Tenho. Sei que é a hora mamãe! — afirmei, com a