Rosely nem sequer queria pensar no que passava pela cabeça de Charlotte depois de ver aquele homem que, para piorar, amanheceu o dia sem camisa em sua casa. Havia sido uma situação tão desconcertante que até esqueceu por um momento sobre a banshee, mas logo, isso retornou aos seus pensamentos quando, subitamente, o clima mudou e uma chuva fina começou a cair, como um cortejo fúnebre.
Parecia inverno, mesmo que ainda fosse o início do outono.
– O que acontecerá hoje? – Eslen perguntou assim que a viu na sala.
– Não sei – ela respondeu, genuinamente surpresa e então, notou do que ele falava.
Os trabalhadores da fazenda pareciam agitados, vestiam roupas brancas e
Deixaram a fazenda ao cair da noite. Adentrando a floresta sombria, tendo como iluminação somente as lamparinas. Rosely fez um grande esforço para não dormir, o que, de fato, não aconteceu, principalmente depois que percebeu que um vulto passava por eles, sempre reaparecendo, e na terceira vez, conseguia ver o que realmente era.Era uma mulher, vestida num longo vestido branco, esvoaçante, assim como seus cabelos pretos como a noite.– Siga em frente! – Eslen praticamente gritou para o cocheiro, que não parava de olhar para a mulher.Algo parecia ser sussurrado pelo vento, que inicialmente não conseguiam reconhecer, mas que logo foi entendido como “me leve para casa”, em palavras sussurradas numa voz feminina.<
Enfim, a xamã aceitou encontrar Rosely.Parou em frente à mulher por longos minutos, como se pudesse ver através de seu corpo com seus olhos cinzentos e então, com um gesto, pediu que a seguisse para a sala nos fundos, atravessando antes um corredor escuro.Era um ambiente pequeno, com estantes cobrindo as paredes ao redor – cheias de livros e poções –, e ao centro, uma pequena piscina rústica, revestida de azulejos e com degraus que iam até o fundo.– Entre na piscina – sussurrou a xamã, apontando o local com seu dedo enrugado.Rosely não questionou, retirou seus sapatos e segurou o vestido de tecido negro, descendo lentamente os degraus até a &
Nada tão ruim que não possa piorar…Na manhã seguinte, Rosely acordou com a notícia de que um barco havia se chocado contra as rochas ao redor da ilha. Ergueu a cabeça, tentando enxergar o horizonte e com surpresa percebeu que realmente o farol não estava com sua costumeira luz acesa. Calçou suas botas de chuva e alcançou os homens enquanto se preparavam para subir na charrete.– Qual o plano? – perguntou, chamando a atenção deles.– A senhora fica aqui – Millan disse exasperado ao vê-la.– Penso o contrário – ela retrucou com uma expressão séria enquanto colocava as mãos na cintura. – É você quem prec
À noite, quando retornou para a fazenda, Roseley tinha em seu rosto um sorriso que não conseguia esconder. Subiu as escadas, carregando o gatinho que olhava tudo com seus grandes olhos amarelos e curiosos. Estava tão distraída com aquilo que até ignorou os constantes barulhos da casa, e teria dormido tranquilamente se não tivesse ouvido um alvoroço durante a noite.Deixou a cama, enrolando-se num robe e caminhou pelos corredores enquanto procurava pela fonte daqueles barulhos, parando num passo quando percebeu que, aos poucos, eles se transformavam em sussurros.– Você precisa ir para casa – sussurrava a voz de Charlotte, num tom de exasperação. – Vai me colocar em problemas.– Sério? – outra voz feminina perguntou em tom ofendido. – Eu preciso da sua ajuda e é isso que você t
Tendo o endereço, prepararam-se para uma nova empreitada.Contudo, durante o caminho, se deram conta de que precisavam acumular mais informação e isso, só conseguiriam consultando os arquivos na prefeitura. Ao chegarem, foram recebidos por uma senhora miúda, com expressão mal-humorada, parecia incomodada com tantas perguntas, e no fim, apenas os deixou no segundo andar, entre dezenas de prateleiras cheias de arquivos antigos e empoeirados.Começaram pelos registros de óbito, mas logo perceberam que, na verdade, os casos daquelas moças estavam nos arquivos de desaparecimento, como casos nunca solucionados.– Os corpos nunca foram encontrados – Eslen comentou enquanto seus olhos deslizavam pelas informações nos papeis amarel
Na manhã seguinte, depois daquele dia que pareceu ridiculamente longo, Rosely sentou-se na varanda, acompanhada de seu gatinho, para ler as notícias de sua terra. Por mais que estivesse longe, ainda ficava curiosa em saber como as coisas estavam se desenrolando.Contudo, o que chamou sua atenção, na verdade, foi uma notícia de um reino “amigo”, do seu, que ficava mais ao norte: o rei havia falecido e a sucessão seguia para o marido da princesa que, estranhamente, havia abdicado do trono.Foi tirada de seus devaneios quando notou Charlotte retornando da macieira, com uma cesta cheia de maçãs bem apetitosas. Observou a presença que novamente a acompanhava e se perguntou qual o motivo para ter sumido de repente.E como se res
A seu ver, aquele não era um motivo para ir àquele baile totalmente descabido.Mal colocaram os pés no salão e já se sentiu intimidada com os olhares que pareciam querer consumi-los. Era incômodo, mesmo não sendo tão grave quanto um lobisomem à solta. Sem contar os ânimos aflorando no norte, como se uma guerra civil fosse se desenrolar a qualquer momento.Foi tirada de seus devaneios ao sentir uma respiração quente rente ao seu ouvido, e então, virou-se, apenas o suficiente para encará-lo por cima do ombro.Era um alívio estar acompanhada.– Não se preocupe – ele sussurrou, e lhe lançou um curto sorriso enquanto pegava uma ta&
No fim, nem sequer descobriu o que Joshua queria com aquele baile.Na manhã seguinte, Rosely acordou ouvindo os sons como se estivessem vindo de dentro de uma caverna, baixos e abafados. Sentou-se na cama, ainda com a visão um tanto embaçada, se perguntando como havia chegado ali e quando sentiu a garganta seca, levantou-se e foi até a cozinha. Encheu um grande copo de água e enquanto bebia, ouviu passos às suas costas. Virou-se e se deparou com Charlotte e Eleonore, ambas olhando-a com um semblante misto de preocupação e alívio.– Senhora – Charlotte foi a primeira a se pronunciar. – Que bom que a senhora acordou.– Acordei? – Rosely perguntou um tanto confusa. – Por quanto tempo dormi?