A legista e perita forense nunca gostou muito de estar frente a frente com os criminosos que conseguia encontrar. Christina, inclusive, havia optado por seguir carreira fora dos holofotes justamente por isso, para ficar nos bastidores e não ter que lidar com os olhos repletos de insanidade, ódio e maldade dos vários sanguinários existentes por aí.No entanto, naquela tarde, ela fez uma exceção. Não por vontade própria, mas porque o delegado, do alto de sua autoridade incontestável e amizade ligeiramente duvidosa, fez questão que a mulher testemunhasse o pequeno interrogatório que estava prestes a acontecer.Claro que ela não estaria presente dentro da sala de vidro, como era chamada o pequeno cômodo estéril onde os acusados eram interrogados. Como foram as digitais da garota a serem encontradas tanto no corpo quanto na arma do crime, era óbvio que seu depoimento deveria ser documentado e gravado.A irmã da acusada, a tal de Emanuele, não poderia estar presente ainda. Christina não hav
Emanuele olha fixamente para os olhos de Joshua. Nenhum dos dois tenta conter o choro, ou sequer disfarçá-lo. Não havia motivos para tal. Afinal, ambos já tinham provado o que realmente sentiam um pelo outro; o quão profundo era aquele amor que os envolvia.O moço havia feito um pedido tão simples. Ele apenas queria uma confirmação verbal de que sim, aquela mulher o aceitaria ao seu lado. E não apenas como uma aventura ou passatempo, mas sim para algo duradouro, respeitoso e cativante.Emanuele confiava em Joshua. Mas também não conseguia deixar de lado todas as preocupações, estresse, traumas. E não queria vê-lo desistindo dela, se arrependendo daquela decisão caso as coisas dessem muito errado.Era duro admitir aquilo para si mesma, mas a moça sabia que, apesar de triste, ela conseguiria lidar relativamente bem com seu término recente. Johnny era um rapaz compreensivo, e depois de algum tempo, ambos conseguiriam ser bons amigos. Pelo menos era o desejo dela.Mas Emanuele não saberia
Emanuele sabia que o processo de sair do hospital em segurança e ver o que o delegado queria seria meticuloso, isso para não dizer chato. Primeiramente, porque a moça não estava recuperada o suficiente, por razões óbvias, e o médico responsável por ela relutou muito a princípio. Joshua também não estava nada feliz com aquilo, e até mesmo disse que se Crimson quisesse, ele mesmo poderia ir até eles para dar o recado tão importante.Um dos agentes explicou, parecendo bem menos agressivo do que da última vez que Emanuele os viu, que o delegado ficou sabendo do incêndio terrível apenas naquela manhã, mas que não teve tempo para averiguar pessoalmente se ela estava bem. A diretoria do hospital informou a Crimson assim que ela e Joshua chegaram no estabelecimento, já que até então, ela estava sob investigação.“Acredite em mim quando digo que é extremamente importante que você venha conosco, assim como seu advogado.”Tudo foi orquestrado de forma mais confusa do que os policiais queriam, m
O julgamento aconteceu um pouco longe dali, no tribunal local. Aparentemente, devido a toda repercussão do caso, uma grande parte da cidade estava do lado de fora da enorme construção palacial. Foi necessária uma grande barreira de policiais para reforçar a segurança e evitar uma possível invasão.É claro que o grupo de velhinhas estava lá. Elas criaram cartazes com o rosto de Emanuele tingido por um enorme “X” vermelho, e gritavam a plenos pulmões. Outros estavam ali para meramente saciar a curiosidade, saber o que aconteceria.A transmissão de todo o caso seria por áudio, divulgada numa plataforma específica. Então, além de marcarem presença, a multidão também sintonizava no canal indicado.Dentro do ambiente, aguardando a presença do juiz, estavam Emanuele, Matthew, Joshua, todos os amigos dela, incluindo Johnny (que ainda não haviam se falado após o terrível incidente), Alexandra e mais algumas outras pessoas. Crimson surgiu por uma das muitas portas que davam para o júri propria
O julgamento foi uma das coisas mais tensas que Emanuele já havia presenciado em toda a sua vida. Ela sempre via nos livros o como a mocinha se destacava ao brilhar pela autenticidade, respeito e óbvio carisma, mas aquilo era vida real. Na vida real, coisas ruins aconteciam com pessoas boas, e não havia sequer um padrão a ser examinado. O caos reinava.O juiz deveria ter sessenta anos, mas era extremamente bem conservado. Seus olhos eram sérios, mas não ameaçadores, e os cabelos brancos eram lisos e jogados para trás. Assim que ele subiu para a tribuna, tudo começou.Tudo foi bastante complexo para Emanuele, que não entendia direito os termos técnicos nem o prosseguimento das etapas. Foi Matthew que, na maioria das vezes, explicava a ela o que estava acontecendo.Na hora das testemunhas contra a moça falarem, a primeira a se levantar foi a mulher de cabelos curtos de meia-idade; a mesma que falou com Emanuele no dia do protesto e parecia ser a mais empenhada em acabar com sua vida. De
Crimson respira fundo e começa a brincar com as próprias mãos. Ele tinha deixado aquilo por último, é claro, mas não sabia bem o porquê. De uma forma ou de outra, Emanuele seria inocentada. Então para quê expor a verdadeira culpada?Nem mesmo o próprio delegado entendia. Sua amiga, a legista, não compareceu ao júri, mas assim que tudo estava se encaminhando para o tribunal, a loura não o poupou de um comentário que ele particularmente queria muito discordar: “você gosta mesmo de atenção.”Crimson queria sim, ter certo destaque naquele caso; isso nem sequer podia negar. Afinal de contas, já estava no fim de sua carreira. Talvez fosse a última vez em que o velho ativamente participaria de um julgamento. Tudo o que ele queria era aposentar o distintivo e curtir sua aposentadoria em paz.Aquela garota, Emanuele, desde sempre se mostrou assertiva e pronta para defender aquilo o que acreditava. Ela poderia ter todos os motivos do mundo para surtar e se transformar no monstro que todos dizia
A voz de Crown ecoa por todas as paredes do tribunal.“Eu declaro Emanuele Parker inocente de todas as acusações…”Emanuele simplesmente para de escutar o resto da sentença. As palavras do juiz simplesmente desaparecem, como se jamais tivessem existido.A moça consegue ver com clareza o enorme sorriso de Matthew ao seu lado, assim como a evidente comemoração de seus amigos. Ela vê Joshua obviamente emocionado, encarando-a profundamente. Ela também vê Alexandra, apesar de mais contida, obviamente feliz com o resultado.Emanuele também vê as mulheres idosas armando uma careta. Algumas apontam com o dedo para Sarah, que permanece em silêncio, e outras cruzam os braços. Mas nenhuma faz menção de parecer arrependida depois das terríveis acusações que fizeram, assim como a perseguição e difamação.Os sons ao seu redor, no entanto, tinham todos desaparecido. Aquele bolsão de silêncio tomou conta de tudo, como se alguém propositalmente deixasse a sua vida no modo “mudo.”Finalmente estava tud
Emanuele sabia que todas as suas dúvidas não seriam sanadas. Ela sabia que não iria conseguir as informações que tanto a instiga: quem eram as pessoas que adotaram sua irmã, como foi crescer com eles, quando foi que ela descobriu ter uma gêmea perdida no mundo. Mas Sarah é inacreditavelmente receptiva. Ela não parece orgulhosa de ter feito aquilo, mas também não parece arrependida. “Eu descobri o endereço da sua mãe há alguns meses atrás”, ela conta. Emanuele não deixa de reparar que Sarah diz ‘sua’, mas não ‘nossa' mãe. “E então me planejei. Pensei em cada detalhe… Ou quase.”“Como descobriu o endereço?”“Banco de dados.”Emanuele ergue uma das sobrancelhas, perplexa. Sua gêmea responde:“Banco de dados da polícia.”Ou seja, Sarah tinha contatos específicos para ter acesso a uma informação sigilosa daquelas. Será que os pais adotivos da moça eram policiais?“Você… Sabia que Margareth tinha outra filha?”A garota olha para baixo.“Sim. Descobri no dia em que li os dados dela.”Ela