Quando finalmente Emanuele consegue abrir os olhos, Johnny não está mais lá.Mas Joshua, sim.A primeira coisa que ela nota é o estado do homem. Ele parece limpo e não muito pálido. Mas a camisa social está quase que completamente destruída. A pele parece lisa e sem nenhuma cicatriz, o que por si só já era um milagre. Ele estar VIVO era um milagre.A moça tenta abrir a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas Joshua se aproxima de seu leito e diz:“Ssssh. Não se esforce. Você está muito debilitada.”E ela estava, mesmo. Não apenas fisicamente, mas na alma.O homem de pele cor de ébano sentou-se ao lado dela e lhe fez um carinho com o dorso da mão. A moça não resistiu ao toque, apenas o encarou.“Eu soube que você tentou me salvar.”Ela faz um sinal positivo com a cabeça.Joshua pousa um beijo delicado em sua testa.“Você poderia ter morrido, Emanuele.”O antigo colega de quarto da garota se esforça o máximo que pode, mas não consegue conter as lágrimas de emoção. Sua voz fica
A legista e perita forense nunca gostou muito de estar frente a frente com os criminosos que conseguia encontrar. Christina, inclusive, havia optado por seguir carreira fora dos holofotes justamente por isso, para ficar nos bastidores e não ter que lidar com os olhos repletos de insanidade, ódio e maldade dos vários sanguinários existentes por aí.No entanto, naquela tarde, ela fez uma exceção. Não por vontade própria, mas porque o delegado, do alto de sua autoridade incontestável e amizade ligeiramente duvidosa, fez questão que a mulher testemunhasse o pequeno interrogatório que estava prestes a acontecer.Claro que ela não estaria presente dentro da sala de vidro, como era chamada o pequeno cômodo estéril onde os acusados eram interrogados. Como foram as digitais da garota a serem encontradas tanto no corpo quanto na arma do crime, era óbvio que seu depoimento deveria ser documentado e gravado.A irmã da acusada, a tal de Emanuele, não poderia estar presente ainda. Christina não hav
Emanuele olha fixamente para os olhos de Joshua. Nenhum dos dois tenta conter o choro, ou sequer disfarçá-lo. Não havia motivos para tal. Afinal, ambos já tinham provado o que realmente sentiam um pelo outro; o quão profundo era aquele amor que os envolvia.O moço havia feito um pedido tão simples. Ele apenas queria uma confirmação verbal de que sim, aquela mulher o aceitaria ao seu lado. E não apenas como uma aventura ou passatempo, mas sim para algo duradouro, respeitoso e cativante.Emanuele confiava em Joshua. Mas também não conseguia deixar de lado todas as preocupações, estresse, traumas. E não queria vê-lo desistindo dela, se arrependendo daquela decisão caso as coisas dessem muito errado.Era duro admitir aquilo para si mesma, mas a moça sabia que, apesar de triste, ela conseguiria lidar relativamente bem com seu término recente. Johnny era um rapaz compreensivo, e depois de algum tempo, ambos conseguiriam ser bons amigos. Pelo menos era o desejo dela.Mas Emanuele não saberia
Emanuele sabia que o processo de sair do hospital em segurança e ver o que o delegado queria seria meticuloso, isso para não dizer chato. Primeiramente, porque a moça não estava recuperada o suficiente, por razões óbvias, e o médico responsável por ela relutou muito a princípio. Joshua também não estava nada feliz com aquilo, e até mesmo disse que se Crimson quisesse, ele mesmo poderia ir até eles para dar o recado tão importante.Um dos agentes explicou, parecendo bem menos agressivo do que da última vez que Emanuele os viu, que o delegado ficou sabendo do incêndio terrível apenas naquela manhã, mas que não teve tempo para averiguar pessoalmente se ela estava bem. A diretoria do hospital informou a Crimson assim que ela e Joshua chegaram no estabelecimento, já que até então, ela estava sob investigação.“Acredite em mim quando digo que é extremamente importante que você venha conosco, assim como seu advogado.”Tudo foi orquestrado de forma mais confusa do que os policiais queriam, m
O julgamento aconteceu um pouco longe dali, no tribunal local. Aparentemente, devido a toda repercussão do caso, uma grande parte da cidade estava do lado de fora da enorme construção palacial. Foi necessária uma grande barreira de policiais para reforçar a segurança e evitar uma possível invasão.É claro que o grupo de velhinhas estava lá. Elas criaram cartazes com o rosto de Emanuele tingido por um enorme “X” vermelho, e gritavam a plenos pulmões. Outros estavam ali para meramente saciar a curiosidade, saber o que aconteceria.A transmissão de todo o caso seria por áudio, divulgada numa plataforma específica. Então, além de marcarem presença, a multidão também sintonizava no canal indicado.Dentro do ambiente, aguardando a presença do juiz, estavam Emanuele, Matthew, Joshua, todos os amigos dela, incluindo Johnny (que ainda não haviam se falado após o terrível incidente), Alexandra e mais algumas outras pessoas. Crimson surgiu por uma das muitas portas que davam para o júri propria
O julgamento foi uma das coisas mais tensas que Emanuele já havia presenciado em toda a sua vida. Ela sempre via nos livros o como a mocinha se destacava ao brilhar pela autenticidade, respeito e óbvio carisma, mas aquilo era vida real. Na vida real, coisas ruins aconteciam com pessoas boas, e não havia sequer um padrão a ser examinado. O caos reinava.O juiz deveria ter sessenta anos, mas era extremamente bem conservado. Seus olhos eram sérios, mas não ameaçadores, e os cabelos brancos eram lisos e jogados para trás. Assim que ele subiu para a tribuna, tudo começou.Tudo foi bastante complexo para Emanuele, que não entendia direito os termos técnicos nem o prosseguimento das etapas. Foi Matthew que, na maioria das vezes, explicava a ela o que estava acontecendo.Na hora das testemunhas contra a moça falarem, a primeira a se levantar foi a mulher de cabelos curtos de meia-idade; a mesma que falou com Emanuele no dia do protesto e parecia ser a mais empenhada em acabar com sua vida. De
Crimson respira fundo e começa a brincar com as próprias mãos. Ele tinha deixado aquilo por último, é claro, mas não sabia bem o porquê. De uma forma ou de outra, Emanuele seria inocentada. Então para quê expor a verdadeira culpada?Nem mesmo o próprio delegado entendia. Sua amiga, a legista, não compareceu ao júri, mas assim que tudo estava se encaminhando para o tribunal, a loura não o poupou de um comentário que ele particularmente queria muito discordar: “você gosta mesmo de atenção.”Crimson queria sim, ter certo destaque naquele caso; isso nem sequer podia negar. Afinal de contas, já estava no fim de sua carreira. Talvez fosse a última vez em que o velho ativamente participaria de um julgamento. Tudo o que ele queria era aposentar o distintivo e curtir sua aposentadoria em paz.Aquela garota, Emanuele, desde sempre se mostrou assertiva e pronta para defender aquilo o que acreditava. Ela poderia ter todos os motivos do mundo para surtar e se transformar no monstro que todos dizia
A voz de Crown ecoa por todas as paredes do tribunal.“Eu declaro Emanuele Parker inocente de todas as acusações…”Emanuele simplesmente para de escutar o resto da sentença. As palavras do juiz simplesmente desaparecem, como se jamais tivessem existido.A moça consegue ver com clareza o enorme sorriso de Matthew ao seu lado, assim como a evidente comemoração de seus amigos. Ela vê Joshua obviamente emocionado, encarando-a profundamente. Ela também vê Alexandra, apesar de mais contida, obviamente feliz com o resultado.Emanuele também vê as mulheres idosas armando uma careta. Algumas apontam com o dedo para Sarah, que permanece em silêncio, e outras cruzam os braços. Mas nenhuma faz menção de parecer arrependida depois das terríveis acusações que fizeram, assim como a perseguição e difamação.Os sons ao seu redor, no entanto, tinham todos desaparecido. Aquele bolsão de silêncio tomou conta de tudo, como se alguém propositalmente deixasse a sua vida no modo “mudo.”Finalmente estava tud