Emanuele sabia que estava morrendo.O corpo foi o primeiro a dar os sinais, e numa velocidade no mínimo alarmante: pulmões que não conseguiam mais puxar o ar, narinas ardendo devido à quantidade intoxicante de fumaça, pernas cada vez mais bambas, mãos trêmulas e sem força, olhos embaçados e lacrimejantes e, por último mais não menos assustador, o coração que batia cada vez mais fraco e devagar.Ela estava caída bem à frente da porta de Joshua. Em algum momento entre socar a estrutura de madeira e parar para tomar fôlego, seu corpo simplesmente desfaleceu. Emanuele tentou se levantar. Uma, duas, três vezes. Afinal de contas, tudo o que a impedia de salvar Joshua era aquela maldita barreira infernal. Se fosse um homem, provavelmente bateria com o ombro naquela porta, soltando-as das dobradiças e entraria na casa. Uma letargia incomum, como o sono forçado de uma anestesia ou a inconsciência lenta do desmaio, toma conta de sua mente.O som das sirenes, gritos e demais pânico vai ficando
No começo, Emanuele não sabe se está sonhando ou se realmente morreu.Bom, com certeza há uma luz branca por toda a parte. Os sons ao seu redor são confusos, vozes e barulhos desconexos que não fazem sentido. A primeira coisa coerente que ela ouve é um aviso delicado, porém firme: “Dez minutos. Mais nenhum segundo além disso.”Um murmúrio de aprovação soa logo depois, e então, silêncio.Emanuele quer abrir os olhos, mas as pálpebras estão seriamente pesadas. Além disso, os pulmões estão em frangalhos; mas funcionando, o que poderia indicar que ela estava viva e sendo atendida em um hospital… Ou morta, esperando julgamento no purgatório. Talvez até mesmo no próprio inferno.Os sentidos da moça vão ficando cada vez mais presentes. A audição finalmente volta ao normal, ou o mais perto disso que consegue, e ela claramente percebe que alguém está se aproximando dela.O senso de equilíbrio de Emanuele é o próximo que volta a funcionar, e a garota tem entendimento o suficiente para absorver
A enfermeira briga mais uma vez com Joshua:“Por favor, senhor, você não pode sair da cama ainda. Precisamos fazer mais exames e o senhor não está estável!”“Eu estou perfeitamente bem, senhorita. E já disse que quem realmente precisa de toda essa ajuda é a-”“Sim, a moça que você salvou. Entenda, senhor, que todos nós achamos a sua participação louvável naquele salvamento, mas foi muito arriscado!”O homem se põe de pé e abotoa a camisa chamuscada pelas chamas - ou o que sobrou dela.“Eu não me importo se foi arriscado. Onde ela está? Em que quarto vocês a deixaram?”Toda aquela mordomia por parte da enfermeira não estava ajudando em nada. A ansiedade do irmão de Alexandra só iria chegar ao fim quando ele estivesse no mesmo ambiente que ela. Não; sua ansiedade só teria fim quando pudesse encostar no rosto de Emanuele, sentir por conta própria que ela estava inteira.Será que a moça estava inteira? Tirando a sujeira e a inconsciência, quando Joshua conseguiu finalmente atravessar a co
Quando finalmente Emanuele consegue abrir os olhos, Johnny não está mais lá.Mas Joshua, sim.A primeira coisa que ela nota é o estado do homem. Ele parece limpo e não muito pálido. Mas a camisa social está quase que completamente destruída. A pele parece lisa e sem nenhuma cicatriz, o que por si só já era um milagre. Ele estar VIVO era um milagre.A moça tenta abrir a boca para dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas Joshua se aproxima de seu leito e diz:“Ssssh. Não se esforce. Você está muito debilitada.”E ela estava, mesmo. Não apenas fisicamente, mas na alma.O homem de pele cor de ébano sentou-se ao lado dela e lhe fez um carinho com o dorso da mão. A moça não resistiu ao toque, apenas o encarou.“Eu soube que você tentou me salvar.”Ela faz um sinal positivo com a cabeça.Joshua pousa um beijo delicado em sua testa.“Você poderia ter morrido, Emanuele.”O antigo colega de quarto da garota se esforça o máximo que pode, mas não consegue conter as lágrimas de emoção. Sua voz fica
A legista e perita forense nunca gostou muito de estar frente a frente com os criminosos que conseguia encontrar. Christina, inclusive, havia optado por seguir carreira fora dos holofotes justamente por isso, para ficar nos bastidores e não ter que lidar com os olhos repletos de insanidade, ódio e maldade dos vários sanguinários existentes por aí.No entanto, naquela tarde, ela fez uma exceção. Não por vontade própria, mas porque o delegado, do alto de sua autoridade incontestável e amizade ligeiramente duvidosa, fez questão que a mulher testemunhasse o pequeno interrogatório que estava prestes a acontecer.Claro que ela não estaria presente dentro da sala de vidro, como era chamada o pequeno cômodo estéril onde os acusados eram interrogados. Como foram as digitais da garota a serem encontradas tanto no corpo quanto na arma do crime, era óbvio que seu depoimento deveria ser documentado e gravado.A irmã da acusada, a tal de Emanuele, não poderia estar presente ainda. Christina não hav
Emanuele olha fixamente para os olhos de Joshua. Nenhum dos dois tenta conter o choro, ou sequer disfarçá-lo. Não havia motivos para tal. Afinal, ambos já tinham provado o que realmente sentiam um pelo outro; o quão profundo era aquele amor que os envolvia.O moço havia feito um pedido tão simples. Ele apenas queria uma confirmação verbal de que sim, aquela mulher o aceitaria ao seu lado. E não apenas como uma aventura ou passatempo, mas sim para algo duradouro, respeitoso e cativante.Emanuele confiava em Joshua. Mas também não conseguia deixar de lado todas as preocupações, estresse, traumas. E não queria vê-lo desistindo dela, se arrependendo daquela decisão caso as coisas dessem muito errado.Era duro admitir aquilo para si mesma, mas a moça sabia que, apesar de triste, ela conseguiria lidar relativamente bem com seu término recente. Johnny era um rapaz compreensivo, e depois de algum tempo, ambos conseguiriam ser bons amigos. Pelo menos era o desejo dela.Mas Emanuele não saberia
Emanuele sabia que o processo de sair do hospital em segurança e ver o que o delegado queria seria meticuloso, isso para não dizer chato. Primeiramente, porque a moça não estava recuperada o suficiente, por razões óbvias, e o médico responsável por ela relutou muito a princípio. Joshua também não estava nada feliz com aquilo, e até mesmo disse que se Crimson quisesse, ele mesmo poderia ir até eles para dar o recado tão importante.Um dos agentes explicou, parecendo bem menos agressivo do que da última vez que Emanuele os viu, que o delegado ficou sabendo do incêndio terrível apenas naquela manhã, mas que não teve tempo para averiguar pessoalmente se ela estava bem. A diretoria do hospital informou a Crimson assim que ela e Joshua chegaram no estabelecimento, já que até então, ela estava sob investigação.“Acredite em mim quando digo que é extremamente importante que você venha conosco, assim como seu advogado.”Tudo foi orquestrado de forma mais confusa do que os policiais queriam, m
O julgamento aconteceu um pouco longe dali, no tribunal local. Aparentemente, devido a toda repercussão do caso, uma grande parte da cidade estava do lado de fora da enorme construção palacial. Foi necessária uma grande barreira de policiais para reforçar a segurança e evitar uma possível invasão.É claro que o grupo de velhinhas estava lá. Elas criaram cartazes com o rosto de Emanuele tingido por um enorme “X” vermelho, e gritavam a plenos pulmões. Outros estavam ali para meramente saciar a curiosidade, saber o que aconteceria.A transmissão de todo o caso seria por áudio, divulgada numa plataforma específica. Então, além de marcarem presença, a multidão também sintonizava no canal indicado.Dentro do ambiente, aguardando a presença do juiz, estavam Emanuele, Matthew, Joshua, todos os amigos dela, incluindo Johnny (que ainda não haviam se falado após o terrível incidente), Alexandra e mais algumas outras pessoas. Crimson surgiu por uma das muitas portas que davam para o júri propria