Johnny avisou a Joshua, mais de uma vez naquela tarde, que sua paciência estava por um fio. Ou seja, propositalmente ele ignorou as advertências do rapaz, fosse por ignorância ou até mesmo arrogância.Tudo o que ele queria fazer era socar o rosto do homem, gritar umas verdades na cara dele, segurar na mão da namorada e sair do apartamento de Alexandra.Mas Emanuele estava frágil demais, abalada demais. E uma briga num momento como aquele poderia colocar tudo a perder.Respirando fundo, o homem que perdeu sua melhor amiga no passado, mas estava agora tentando se redimir com a chance que o destino lhe enviou, diz o mais calmamente possível:"Joshua, acho que isso é ultrapassar todos os limites."Ele o ignora. Johnny insiste:"Nessa situação, com tudo o que está acontecendo, você ainda acha que pressionar Emanuele é uma boa ideia? Você está sendo egoísta, para dizer o mínimo."Talvez ainda houvesse algum resquício de consciência no cérebro tomado pela paixão de Joshua, já que os olhos de
Andrew toca a campainha do apartamento das gêmeas, e quase cai para trás quando Amanda grita cheia de raiva na voz:"Vá embora daqui!!!!"O rapaz responde:"Eita, mas qual é a necessidade dessa agressividade? Foi por causa do pudim de pão que eu comi sem avisar?! Eu posso pagar por aquele pudim!"O som do molho de chaves e a tranca sendo aberta interrompe o pequeno drama do garota piadista. Amanda franze o cenho ao abrir apenas uma pequena fresta da porta."Entra logo."Depois de dar um puxão no braço dele, Andrew finalmente está do lado de dentro. Amora está sentada na poltrona mexendo no laptop enquanto Amanda tranca a porta mais uma vez."É sério, viu, gente?" Ele diz. "Não vou pagar apenas pelo pudim de pão, mas também pelas uvas, pelo cacho de bananas, pelo suco de laranja, pelo bolo de-""Calado, Andrew. Isso não tem nada a ver com as coisas que você come.""Não?""Não." Amora murmura enquanto continua concentrada no que está fazendo. "Até porque nós sabemos há anos que é você."
Joshua não era um canalha.Não que alguém tivesse sequer chegado perto de dizer aquilo a ele, mas sua mente implacável o tempo todo deixava implícito que sim, ele era.Emanuele ficou sob sua hospedagem durante um certo tempo. Ele quase tirou a virgindade da moça, e só se conteve porque pensou nas consequências, no que aquilo poderia trazer tanto para ela quanto para ele.E agora que a moça de pele bronzeada e olhos cintilantes estava de fato namorando, tudo o que Joshua queria era se assegurar de que o sentimento dela ainda existia.Sim, era canalhice. E das grandes. Mas o que ele poderia fazer a respeito?Enquanto Joshua encarava a moça, do lado de fora do quarto mas ainda perto da porta, o mesmo pensava que talvez aquele último ato de estupidez, deliberadamente ficar longe de Emanuele, houvesse sido o principal motivo para que ela escolhesse aceitar o pedido de namoro de Johnny.Qualquer homem mais honrado teria imediatamente desistido de mais alguma tentativa, respeitando a escolha
Alexandra não pareceu irritada ou zangada ao adentrar o corredor e dizer em voz alta:"Ninguém vai bater em ninguém aqui. Já tive estresse o suficiente para um dia só."A autoridade da voz dela é inegável e irresistível. Johnny imediatamente se desculpa, mas olha feio para Joshua, que coloca as mãos nos bolsos inocentemente.Emanuele respira fundo e entra no quarto. Havia poucas roupas para serem arrumadas. Era tão estranho ter que fazer as malas de novo... Joshua aproveita a deixa para sair. Ele se despede de todos com um breve gesto do queixo. O olhar do homem é profundo, e é óbvio que ele ainda tinha muitas coisas para dizer.Johnny começa a ajudar a garota com as malas e diz:"Acho que ele não vai mesmo te deixar em paz.""Alguma hora ele desiste.""Se ele não desistiu até agora, mesmo depois de tudo o que ouviu de você, não vai fazê-lo tão cedo."Ela não queria concordar, mas também não tinha coragem de discordar. Joshua estava extremamente determinado a conquistá-la, e Emanuele
A recepcionista do hospital está cada vez mais entediada. As poucas mães que ainda se davam ao trabalho de escolher aquela maternidade para terem seus filhos, ou seja, um bando de loucas, estavam em sua maioria em casa ou esperando receber alta.Não era preciso dizer também que os poucos parentes que visitavam as novas mamães mal ficavam no horário total de visita, preferindo ir embora meia hora antes.Ninguém gostava de estar lá, aquilo era fato. Nem mesmo os funcionários. Cochichos aqui e ali sempre falavam sobre os escândalos envolvendo o nome de médicos, enfermeiros e até mesmo os profissionais do alto escalão; empresários ricos e soberbos que lavavam dinheiro a torto e a direito. Todos em Laketown sabiam. Era impossível não saber.O nome daquele estabelecimento estava sujo, e não havia campanha possível que pudesse limpar aquela mancha enorme dentro dos corredores brancos e limpos. Nem mesmo depois de jurarem de pés juntos que todos os corruptos envolvidos já tinham sido presos
A última semana voou como o vento, e Emanuele não sabia se isso era bom ou ruim.Ela agora estava sentada à mesa de madeira feita às pressas de escrivaninha no quarto de Johnny, lendo cuidadosamente o e-mail educado, porém formal, que dizia muitas coisas; dentre delas que a moça estava demitida.Passando a mão entre as madeixas agora tingidas de preto, Emanuele suspirou pesadamente.Sua liberdade de ir e vir, sua casa e agora seu trabalho. Mesmo depois de morta, a mãe dela continuava sendo a fonte de todos os problemas.Ela tentou chorar de tristeza e revolta. Mas tantas lágrimas foram derramadas nos últimos dias que, agora, o reservatório estava vazio.Como se o próprio destino estivesse roteirizando os acontecimentos, o celular da garota começou a vibrar com a chegada de uma mensagem de texto.Emanuele sequer chegou perto de checar o celular.Ao invés disso, a mesma se esgueirou até a janela, tomando cuidado para não deixar o próprio rosto muito exposto. Qual tinha sido a última vez
Emanuele faz o possível para manter a expressão neutra e a fisionomia plácida, mas é muito mais fácil falar do que fazer. Sentados à mesa da cozinha, estão não apenas Crimson, mas também Joshua, como se o universo inteiro resolvesse conspirar contra a garota.Enquanto a morena faz um rápido café, seu antigo colega de quarto comenta da forma mais casual possível:"Gostei da nova cor do cabelo. Resolveu voltar à cor natural?"Embora ela não quisesse admitir, era bom ouvir a voz dele e contar com o seu apoio naquele momento tão difícil. O sorriso que Emanuele abre é sincero ao responder:"Na verdade, meu cabelo não é preto, e sim castanho escuro. Mas sim, quis dar uma mudada no visual e ficar o mais casual possível.""Entendo. Pretende voltar a pintar de vermelho um dia? Eu gostava muito de ver seu cabelo daquela cor."O elogio não parece uma tentativa de sedução ou flerte. Mais uma vez ela sorri, virando de costas para ele enquanto continua preparando as coisas."Não sei. Eu também gos
A princípio, Emanuele acha que não ouviu direito as palavras do delegado. Então ela se inclina para a frente, ergue uma das sobrancelhas e abre a boca para perguntar:"O quê?"Joshua também parece bastante abismado, embora permaneça num silêncio estratégico.Crimson entrelaça os dedos ligeiramente enrugados e coça o cabelo grisalho antes de esclarecer:"É por isso que vim aqui. Apenas para avisá-la de que, embora as coisas estejam realmente preocupantes para o seu lado, nós estamos de fato progredindo na investigação.""Já sabem que não sou eu? Eu já fui inocentada?!""Eu não posso inocentar você, Emanuele. Apenas um juiz pode fazer isso. E sobre o que descobrimos, tudo o que posso adiantar é que a chance de ter sido você é... Inconclusiva."A garota de pele cor de mel quase grita de frustração."Então é isso? Você está me dizendo que sou inocente, ao mesmo tempo que não pode me definir dessa forma ainda?""Estou dizendo que, apesar das suspeitas caírem sobre você, a análise forense e