A última semana voou como o vento, e Emanuele não sabia se isso era bom ou ruim.Ela agora estava sentada à mesa de madeira feita às pressas de escrivaninha no quarto de Johnny, lendo cuidadosamente o e-mail educado, porém formal, que dizia muitas coisas; dentre delas que a moça estava demitida.Passando a mão entre as madeixas agora tingidas de preto, Emanuele suspirou pesadamente.Sua liberdade de ir e vir, sua casa e agora seu trabalho. Mesmo depois de morta, a mãe dela continuava sendo a fonte de todos os problemas.Ela tentou chorar de tristeza e revolta. Mas tantas lágrimas foram derramadas nos últimos dias que, agora, o reservatório estava vazio.Como se o próprio destino estivesse roteirizando os acontecimentos, o celular da garota começou a vibrar com a chegada de uma mensagem de texto.Emanuele sequer chegou perto de checar o celular.Ao invés disso, a mesma se esgueirou até a janela, tomando cuidado para não deixar o próprio rosto muito exposto. Qual tinha sido a última vez
Emanuele faz o possível para manter a expressão neutra e a fisionomia plácida, mas é muito mais fácil falar do que fazer. Sentados à mesa da cozinha, estão não apenas Crimson, mas também Joshua, como se o universo inteiro resolvesse conspirar contra a garota.Enquanto a morena faz um rápido café, seu antigo colega de quarto comenta da forma mais casual possível:"Gostei da nova cor do cabelo. Resolveu voltar à cor natural?"Embora ela não quisesse admitir, era bom ouvir a voz dele e contar com o seu apoio naquele momento tão difícil. O sorriso que Emanuele abre é sincero ao responder:"Na verdade, meu cabelo não é preto, e sim castanho escuro. Mas sim, quis dar uma mudada no visual e ficar o mais casual possível.""Entendo. Pretende voltar a pintar de vermelho um dia? Eu gostava muito de ver seu cabelo daquela cor."O elogio não parece uma tentativa de sedução ou flerte. Mais uma vez ela sorri, virando de costas para ele enquanto continua preparando as coisas."Não sei. Eu também gos
A princípio, Emanuele acha que não ouviu direito as palavras do delegado. Então ela se inclina para a frente, ergue uma das sobrancelhas e abre a boca para perguntar:"O quê?"Joshua também parece bastante abismado, embora permaneça num silêncio estratégico.Crimson entrelaça os dedos ligeiramente enrugados e coça o cabelo grisalho antes de esclarecer:"É por isso que vim aqui. Apenas para avisá-la de que, embora as coisas estejam realmente preocupantes para o seu lado, nós estamos de fato progredindo na investigação.""Já sabem que não sou eu? Eu já fui inocentada?!""Eu não posso inocentar você, Emanuele. Apenas um juiz pode fazer isso. E sobre o que descobrimos, tudo o que posso adiantar é que a chance de ter sido você é... Inconclusiva."A garota de pele cor de mel quase grita de frustração."Então é isso? Você está me dizendo que sou inocente, ao mesmo tempo que não pode me definir dessa forma ainda?""Estou dizendo que, apesar das suspeitas caírem sobre você, a análise forense e
Emanuele está feliz, ou o mais feliz que consegue se sentir, ao notar que toda a confusão que se seguiu assim que Johnny chegou no próprio apartamento teve fim.Não que houvesse sido fácil acalmar os ânimos. Foi Crimson que foi crucial ao conversar com os outros dois homens, talvez usando de uma autoridade que não lhe competia, mas mesmo assim muito bem-vinda.Johnny não havia trocado uma palavra com Emanuele, e até mesmo agora, reunidos com Amanda, Amora e Johnny, o rapaz evitava olhar diretamente nos olhos dela. O delegado já tinha voltado aos seus afazeres.O apartamento das gêmeas era espaçoso e confortável, mas a ansiedade e angústia de Emanuele fazia com que as paredes parecessem mais apertadas e ameaçadoras. Já passavam das oito horas da noite.Joshua carregava um semblante preocupado, mas a moça não sabia dizer se era devido a situação estressante em que ela se encontrava, ou culpa por, mais uma vez, deixar Emanuele numa saia justa se tratando de seu namorado. Assim como Johnn
Joshua fica extremamente quieto, mas a expressão em seu rosto é mais do que suficiente para que todos saibam o que se passa em sua mente: choque, dor e uma enxurrada de dúvidas.Johnny abre a boca para tentar contestar, dizer que aquilo é um absurdo e não faz droga de sentido nenhum, mas a seriedade no rosto de Amanda, Amora e Andrew - principalmente Andrew - o faz cair num silêncio de morte.Mas Emanuele não consegue processar aquilo tudo calada. Suas mãos tremem tanto que ela tem a impressão que pode desmaiar a qualquer segundo."... O que foi que você disse?"As gêmeas e Andrew apenas lançam um olhar de compaixão para a moça, que explode:"O que foi que você disse, caramba?!"Fazendo um gesto apaziguador com as mãos, o rapaz tenta manter a calma ao explicar tudo:"O nome da sua mãe é Margareth, não é? Margareth Barbara Parker."O olhar arregalado e repleto de fúria e medo ao mesmo tempo foi confirmação suficiente. O rapaz continua:"O ex-médico que nos atendeu, como eu já disse, er
Emanuele não sabe por quanto tempo ficou dentro daquele inferno interminável.Tudo o que a moça sabia era que, por mais que tentasse escapar, por mais que tentasse correr daquela terrível realidade, não conseguia.Ela conseguia ouvir as pessoas ao redor, assim como enxergar o que acontecia. Mas sua mente estava longe, observando de forma confusa e reticente. As mãos de Johnny estavam em seu rosto, e ao lado dele, Joshua conversava de forma agitada com as gêmeas e Andrew.Quanto mais a verdade era dita, quanto mais terrível se tornava a história; mais ela queria se afundar num poço escuro e gritar mais e mais alto.Emanuele nunca soube o que era amor materno. Todo o afeto que estava conseguindo de forma natural, não só de Joshua e Johnny, mas também dos amigos que estavam fazendo de tudo para ajudá-la, lhe era muito estranho, apesar de bem vindo.Mesmo sabendo que tudo aquilo relatado correspondia à realidade, e não a uma justificativa perfeita e ao mesmo tempo mirabolante, Emanuele se
Crimson já tinha visto, e lidado, claro, com muitos criminosos.A maioria deles não se abalava em ser visto com maus olhos. Eles eram o que eram e pronto. Não tentavam se esconder atrás de um véu de desculpas ou justificativas pífias.Haviam também os dissimulados. Homens e mulheres que juravam, choravam, chantageavam e gritavam aos quatro ventos que eram inocentes. Esses eram os que o delegado mais odiava. O outro grupo de criminosos, ao menos, não fugiam das consequências dos próprios atos.Emanuele não parecia se encaixar em nenhum desses. Apesar de ser a principal suspeita do crime hediondo, as digitais encontradas não eram as da garota. O próprio Crimson resolveu testemunhar pessoalmente a análise do perito forense, e apesar de não entender como, não podia ficar contra a falta de evidências.Aquela mulher no vídeo era idêntica a Emanuele. Ou seja, o mistério começava a ficar ainda mais complicado de entender.Há três dias atrás, o homem que se dizia o antigo colega de quarto de E
A primeira coisa que Johhny percebe, atordoado pelo barulho e pelo tremor, é que talvez ele e Emanuele estejam testemunhando um terremoto; e um dos piores. Então, em seguida, o cheiro de fumaça toma conta das narinas do rapaz. Um incêndio… Não, uma explosão.Enquanto a mente de Johhny tenta a todo custo se restabelecer e raciocinar rapidamente, Emanuele tosse. A janela do quarto estava aberta, e foi por lá que a moça resolveu ver o que estava acontecendo.O cenário lá embaixo era de caos. Por aquele ângulo, era óbvio que algo terrível estava acontecendo no térreo, pois era de lá que as nuvens pretas carregadas de um fedor tóxico vinham. Algumas pessoas que estavam passando no momento corriam, outras usavam seus celulares para ligar para os bombeiros.A incidência de crimes daquele lugar era mínima; muito menos os de alta periculosidade. Será que a explosão foi causada por uma falha elétrica? Algum problema na distribuição do gás?Johhny abriu o gaveteiro ao lado da cama e tirou duas m