Emanuele está feliz, ou o mais feliz que consegue se sentir, ao notar que toda a confusão que se seguiu assim que Johnny chegou no próprio apartamento teve fim.Não que houvesse sido fácil acalmar os ânimos. Foi Crimson que foi crucial ao conversar com os outros dois homens, talvez usando de uma autoridade que não lhe competia, mas mesmo assim muito bem-vinda.Johnny não havia trocado uma palavra com Emanuele, e até mesmo agora, reunidos com Amanda, Amora e Johnny, o rapaz evitava olhar diretamente nos olhos dela. O delegado já tinha voltado aos seus afazeres.O apartamento das gêmeas era espaçoso e confortável, mas a ansiedade e angústia de Emanuele fazia com que as paredes parecessem mais apertadas e ameaçadoras. Já passavam das oito horas da noite.Joshua carregava um semblante preocupado, mas a moça não sabia dizer se era devido a situação estressante em que ela se encontrava, ou culpa por, mais uma vez, deixar Emanuele numa saia justa se tratando de seu namorado. Assim como Johnn
Joshua fica extremamente quieto, mas a expressão em seu rosto é mais do que suficiente para que todos saibam o que se passa em sua mente: choque, dor e uma enxurrada de dúvidas.Johnny abre a boca para tentar contestar, dizer que aquilo é um absurdo e não faz droga de sentido nenhum, mas a seriedade no rosto de Amanda, Amora e Andrew - principalmente Andrew - o faz cair num silêncio de morte.Mas Emanuele não consegue processar aquilo tudo calada. Suas mãos tremem tanto que ela tem a impressão que pode desmaiar a qualquer segundo."... O que foi que você disse?"As gêmeas e Andrew apenas lançam um olhar de compaixão para a moça, que explode:"O que foi que você disse, caramba?!"Fazendo um gesto apaziguador com as mãos, o rapaz tenta manter a calma ao explicar tudo:"O nome da sua mãe é Margareth, não é? Margareth Barbara Parker."O olhar arregalado e repleto de fúria e medo ao mesmo tempo foi confirmação suficiente. O rapaz continua:"O ex-médico que nos atendeu, como eu já disse, er
Emanuele não sabe por quanto tempo ficou dentro daquele inferno interminável.Tudo o que a moça sabia era que, por mais que tentasse escapar, por mais que tentasse correr daquela terrível realidade, não conseguia.Ela conseguia ouvir as pessoas ao redor, assim como enxergar o que acontecia. Mas sua mente estava longe, observando de forma confusa e reticente. As mãos de Johnny estavam em seu rosto, e ao lado dele, Joshua conversava de forma agitada com as gêmeas e Andrew.Quanto mais a verdade era dita, quanto mais terrível se tornava a história; mais ela queria se afundar num poço escuro e gritar mais e mais alto.Emanuele nunca soube o que era amor materno. Todo o afeto que estava conseguindo de forma natural, não só de Joshua e Johnny, mas também dos amigos que estavam fazendo de tudo para ajudá-la, lhe era muito estranho, apesar de bem vindo.Mesmo sabendo que tudo aquilo relatado correspondia à realidade, e não a uma justificativa perfeita e ao mesmo tempo mirabolante, Emanuele se
Crimson já tinha visto, e lidado, claro, com muitos criminosos.A maioria deles não se abalava em ser visto com maus olhos. Eles eram o que eram e pronto. Não tentavam se esconder atrás de um véu de desculpas ou justificativas pífias.Haviam também os dissimulados. Homens e mulheres que juravam, choravam, chantageavam e gritavam aos quatro ventos que eram inocentes. Esses eram os que o delegado mais odiava. O outro grupo de criminosos, ao menos, não fugiam das consequências dos próprios atos.Emanuele não parecia se encaixar em nenhum desses. Apesar de ser a principal suspeita do crime hediondo, as digitais encontradas não eram as da garota. O próprio Crimson resolveu testemunhar pessoalmente a análise do perito forense, e apesar de não entender como, não podia ficar contra a falta de evidências.Aquela mulher no vídeo era idêntica a Emanuele. Ou seja, o mistério começava a ficar ainda mais complicado de entender.Há três dias atrás, o homem que se dizia o antigo colega de quarto de E
A primeira coisa que Johhny percebe, atordoado pelo barulho e pelo tremor, é que talvez ele e Emanuele estejam testemunhando um terremoto; e um dos piores. Então, em seguida, o cheiro de fumaça toma conta das narinas do rapaz. Um incêndio… Não, uma explosão.Enquanto a mente de Johhny tenta a todo custo se restabelecer e raciocinar rapidamente, Emanuele tosse. A janela do quarto estava aberta, e foi por lá que a moça resolveu ver o que estava acontecendo.O cenário lá embaixo era de caos. Por aquele ângulo, era óbvio que algo terrível estava acontecendo no térreo, pois era de lá que as nuvens pretas carregadas de um fedor tóxico vinham. Algumas pessoas que estavam passando no momento corriam, outras usavam seus celulares para ligar para os bombeiros.A incidência de crimes daquele lugar era mínima; muito menos os de alta periculosidade. Será que a explosão foi causada por uma falha elétrica? Algum problema na distribuição do gás?Johhny abriu o gaveteiro ao lado da cama e tirou duas m
A sirene berrante do caminhão de bombeiros faz com que a fuga de Johnny seja ainda mais alucinante.As escadas de incêndio são facilmente localizadas pelo rapaz, que com agilidade e velocidade acima do normal (graças ao treinamento intensivo de artes marciais que fazia desde os doze anos), as desce até o térreo. Por sorte, ele consegue chegar em lugar ainda não atingido pelo fogo, nos fundos da construção.Parte dele sabia que tinha sido errado, muito errado, deixar para trás a namorada. Na verdade, “errado” era eufemismo. Aquilo era imperdoável. Mas mesmo agora, com o arrependimento latente em cada centímetro da pele, Johnny não conseguiu engolir o orgulho.Enquanto o mesmo dava a volta no prédio, ouvindo o pandemônio tomar conta de todo o quarteirão, o rapaz imaginava se Emanuele sequer olharia em sua cara quando tudo aquilo acabasse.Joshua era um homem alto, forte e valente. Se fosse um personagem de livro infantil, provavelmente seria como Hércules ou o Super Homem. Qualquer um c
Emanuele sabia que estava morrendo.O corpo foi o primeiro a dar os sinais, e numa velocidade no mínimo alarmante: pulmões que não conseguiam mais puxar o ar, narinas ardendo devido à quantidade intoxicante de fumaça, pernas cada vez mais bambas, mãos trêmulas e sem força, olhos embaçados e lacrimejantes e, por último mais não menos assustador, o coração que batia cada vez mais fraco e devagar.Ela estava caída bem à frente da porta de Joshua. Em algum momento entre socar a estrutura de madeira e parar para tomar fôlego, seu corpo simplesmente desfaleceu. Emanuele tentou se levantar. Uma, duas, três vezes. Afinal de contas, tudo o que a impedia de salvar Joshua era aquela maldita barreira infernal. Se fosse um homem, provavelmente bateria com o ombro naquela porta, soltando-as das dobradiças e entraria na casa. Uma letargia incomum, como o sono forçado de uma anestesia ou a inconsciência lenta do desmaio, toma conta de sua mente.O som das sirenes, gritos e demais pânico vai ficando
No começo, Emanuele não sabe se está sonhando ou se realmente morreu.Bom, com certeza há uma luz branca por toda a parte. Os sons ao seu redor são confusos, vozes e barulhos desconexos que não fazem sentido. A primeira coisa coerente que ela ouve é um aviso delicado, porém firme: “Dez minutos. Mais nenhum segundo além disso.”Um murmúrio de aprovação soa logo depois, e então, silêncio.Emanuele quer abrir os olhos, mas as pálpebras estão seriamente pesadas. Além disso, os pulmões estão em frangalhos; mas funcionando, o que poderia indicar que ela estava viva e sendo atendida em um hospital… Ou morta, esperando julgamento no purgatório. Talvez até mesmo no próprio inferno.Os sentidos da moça vão ficando cada vez mais presentes. A audição finalmente volta ao normal, ou o mais perto disso que consegue, e ela claramente percebe que alguém está se aproximando dela.O senso de equilíbrio de Emanuele é o próximo que volta a funcionar, e a garota tem entendimento o suficiente para absorver